Antes de partir...
Há uns tempos li num livro que me marcou bastante chamado “In to the Wild” algo sobre a felicidade só fazer sentido quando é partilhada. O livro é agora um filme, um filme sobre um rapaz Americano de classe média alta que decide cortar o cordão umbilical com a sua familia e sociedade e partir em busca de si próprio e da suposta verdade existencial. Ė uma história verdadeira com um final triste, o rapaz percebeu demasiado tarde que a interacção com os outros seres humanos é uma parte inevitável do que somos e que, para o bem ou para o mal, uma existência em isolação, sobretudo exposta aos designíos da natureza, é uma existência com um futuro sombrio ! (ou esta é pelo menos a conclusão que eu tiro para meu próprio uso)
Faltam menos de duas semanas para a partida para uma viagem há muito sonhada – A América do Sul, onde tambem eu irei cortar de certa forma algumas amarrasl! Tudo começou há seis anos atrás, quando cheguei a Inglaterra e tive a sorte de ‘aterrar’ na casa de um Português – O Nuno, com um número invejável de carimbos no passaporte. As marcas destes carimbos estavam espalhados pelo seu pequeno apartamento em Stockwell, as paredes cheias de fotos e artefactos de sitíos remotos, cada um contando uma história e abrindo a imaginação a umas quantas outras. Numa das paredes encontrava-se também uma janela de sonhos – um mapa mundo tão 'grande' como o tamanho das viagem ali projectadas. Quantas e quantas conversas, com quanta gente de diferentes partes do mundo decorreram entre aquelas quatro paredes? Aquele mapa serviu de interlocutor silencioso a rotas de viagem, ali foram projectadas solucões para atravessar locais inatravessáveis, contextos politícos foram ali debatidos, desgarradas filosóficas... Quando se tem o mundo em plano de fundo é fácil esquecer as limitações humanas e sonhar, sonhar que se está, que se consegue e que se vai, e quando menos se espera o sonho é a realidade! Da bidimensionalidade de um papel colado na parede se materializam eventos multi-dimensionais, de dimensões de cheiros, toques, sons, cores e tudo que compõem os sentidos, e nos faz sentir previligiados por existirmos!
Já me perguntei tantas e tantas vezes o porquê desta minha necessidade do ir. Esta necessidade de viajar e integrar-me noutras realidades, de não me prender a coisas ou pessoas de forma muito fixa. Talvez venha do meu avô José que viajou pelo Brasil e África, e que era, segundo dizem aqueles que o conheceram, uma pessoa carismática, de alguma forma, à frente do seu tempo, e que nunca se conformou com a rotina previsível da vida. Talvez seja também dele que vem (embora tardio) este meu namoro com as bicicletas. O meu avô não só tinha uma paixão enorme por bicicletas como fazia corridas, acho que chegou a participar na Volta à Portugal. De onde quer que venha esta vontade de ir, ela é muito forte, e por isso eu não a posso ignorar, faz parte de quem eu sou.
Agora aqui sentada em frente ao computador, a poucos dias de iniciar a minha viagem para a América do Sul, avalio o que foi a minha vida nestes últimos anos e concluo que tudo o que fiz (sim é verdade, às vezes percorri o caminho mais longo) me traria inevitavelmente a este ponto – o ponto de partida.
Mais uma fase nova da minha vida se vai iniciar. Não só planeio percorrer as terras sul americanas a cavalo na minha burra (a minha bicicleta), mas pretendo seguir outro chamamento, esse quiçá maior, que é o de me aproximar daqueles que não têm a sorte de ter a possibilidade de escolha que eu tenho – quero abraçar um projecto voluntário e dedicar o meu tempo e a minha energia a ajudar outros, porque nesse acto vejo o verdadeiro sentido da vida! E as palavras por vezes sao difíceis de escolher, mas quando acima me refiro a ajudar os outros tão somente quero dizer partilhar, pois “ajudar” assim dito soa pretensioso e arrogante. Pretendo aprender, dar, receber e mais uma vez quebrar as redomas que se vão formando à medida que nos vamos acomodando!
Mas como dizia em cima, a felicidade que agora sinto teria porventura um gosto diferente se não a pudesse partilhar e sobretudo se não reconhecesse que houve pessoas sem as quais esta minha nova etapa nao teria sido possível:
À minha Mãe, que provavelmente preferia que eu estivesse por terras Lusas a produzir um clã de Oliveirinhas para poder dar vazão ao seu desejo de ser avó, e que me apoia incondicionalmente, nao só em força e energias enviadas como financeiramente, mesmo quando os meus sonhos me levam para longe dela, e talvez por caminhos menos convencionais.
Ao Ian, meu companheiro e amigo neste último ano de vida, que apesar de não me acompanhar nesta viagem, foi parte integrante do sonho por todo o seu apoio, paciência, ajuda nos treinos, mais ninguém me faria correr 5 quilómetros sem parar!
Ao Nuno que me vai aturar mais uma vez e com quem vou ter o prazer de partilhar mais uma viagem.
Á minha familia, por todo o seu apoio e palavras de encorajamento (Nuno, Rita e família, Teresa Guarda, Tia Isabel, Tio Orlando, Tia Gabriela, Tio Diamantino, Xanicas, Ana, Luís, André, Tio Cristovão, Primo João Santos, Tchuguinha, Anicas, Pai, Avó, pequenitos…). Aos amigos (Martinha, Pitufo, Dan, Elisabete, Anicas, Giovanna, Isabel, Miguel, Hugo) e todos aqueles que através do Hi5, Facebook, me deram apoio e incentivo e que querem fazer parte desta viagem!
E agora que só falta arrumar as trouxas, levar mais umas vacinas, trabalhar mais uns dias e fazer uma festa de despedida. Assim vos deixo com a promessa de regressar em breve, desta vez do Quito no Equador, com notícias.
Um beijo muito grande para todos e muito obrigado por existirem e fazerem parte das minhas viagens, dos meus Movimentos-Constantes!
Reino Unido, Londres 27 de Novembro 2007
Joana Oliveira
Reino Unido, Londres - Um pouco sobre mim
O Começo
O principio das minhas viagens deu-se a 22 de Julho de 1978, algures entre as 5 e as 6 da tarde, entre o interior do corpo da minha mãe, que me albergou durante 9 meses, e o exterior do resto do mundo que me albergara até ao final. Tive vários nomes durante a minha existência aquática dentro do útero: Filipa, Sancha, Sofia, Sara, mas quando eu nasci a minha mãe achou que eu tinha cara de Joana, Joana Sara. Os sobrenomes são os carimbos que contestam a minha herança genética: Santos, da minha mãe e avô paterno que nunca cheguei a conhecer, mas de quem desconfio herdar mais do que o sobrenome (a alma de viajante ?), e Prestes de um Governador das Índias ou do Brasil do tempo das Descobertas (assim gosto de pensar, também porque e um sobrenome menos comum) que ramificações mais tarde deu os frutos que compõem a àrvore familiar paterna. Oliveira, também apelido paterno. Joana Sara Santos Prestes de Oliveira, eis o meu nome e nomes são nomes, quer se goste ou não deles. Importantes por conterem os sonhos projectados em ti por quem tos atribuiu e porque permitem que saibas que se dirigem a ti quando te chamam.
Qualquer pessoa que me conheça sabe que eu me questiono frequentemente. A minha mãe, comprou-me um livro quando eu tinha três anos com respostas a 500 porquês desde o porquê das trovoadas ao porquê das ondas do mar, mas eu estava mais interessada em passar ao próximo porquê do que na resposta em si. Parece-me mais interessante o processo de descoberta do que as respostas conclusivas, as respostas que encerram as questões, como quando uma folha cai da àrvore e não lhe pertence mais, ou quando se dá um presente. As acções não terminam pelo simples facto de se terminarem as tarefas que as induziram, as coisas tem continuidade, assim como quando se obtem uma resposta a uma questão, outras questões nascem, quando uma folha de àrvore cai no chão um processo de decomposição começa, ou quando se dá um presente, a satisfação de quem o recebe e a continuidade da amizade. E dentro do amaranhado precioso que é o meu cérebro (ou o único lugar a que eu posso verdadeiramente chamar casa – como disse um dia Bob Marley) vao-se formando os porquês sobre quem eu sou, o que quero, para onde vou, que nunca terão resposta, mas a procura das mesmas fazem parte do conjunto de movimentos que formam as minhas viagens.
Uma viagem geográfica que me obrigou a sair da redoma em que vivi durante 23 anos foi a minha vinda para Inglaterra há 6 anos atrás, consequência do panorama desertico da paisagem laboral Portuguesa, ao qual ironicamente agradeço agora. Tenho a sensação de que teria sido muito mais difícil (nao impossível) ter viajado tudo aquilo que já viajei, mas sobretudo sonhar as minhas viagens para serem mais do que meras férias em destinos exóticos. Inglaterra permitiu-me, entre muitas coisas a distância necessária para conseguir escutar a voz interior que me chama para o Mundo. Permitiu-me conhecer pessoas como eu que fazem das viagens uma forma de vida, permitiu-me ver uma amostra concentrada de Mundo na sua diversidade humana - já experiementaram andar num autocarro Londrino e contar as nacionalidades dos seus viajantes? E sobretudo, e mais importante, abriu uma caixa cheia de novos porquês. O porquê da injsutiça, da globalização, da pobreza, do modo de vida do mundo ocidental…ah, tantos e tantos porquês que brotam a cada dia que passa. E tantos livros para ler, tantas música para ouvir, tanta gente para conhecer, tanto mundo para viajar, TANTA COISA PARA SENTIR!!!!!
Reino Unido, Londres, 4 de Novembro 2007
Joana Oliveira
O principio das minhas viagens deu-se a 22 de Julho de 1978, algures entre as 5 e as 6 da tarde, entre o interior do corpo da minha mãe, que me albergou durante 9 meses, e o exterior do resto do mundo que me albergara até ao final. Tive vários nomes durante a minha existência aquática dentro do útero: Filipa, Sancha, Sofia, Sara, mas quando eu nasci a minha mãe achou que eu tinha cara de Joana, Joana Sara. Os sobrenomes são os carimbos que contestam a minha herança genética: Santos, da minha mãe e avô paterno que nunca cheguei a conhecer, mas de quem desconfio herdar mais do que o sobrenome (a alma de viajante ?), e Prestes de um Governador das Índias ou do Brasil do tempo das Descobertas (assim gosto de pensar, também porque e um sobrenome menos comum) que ramificações mais tarde deu os frutos que compõem a àrvore familiar paterna. Oliveira, também apelido paterno. Joana Sara Santos Prestes de Oliveira, eis o meu nome e nomes são nomes, quer se goste ou não deles. Importantes por conterem os sonhos projectados em ti por quem tos atribuiu e porque permitem que saibas que se dirigem a ti quando te chamam.
Qualquer pessoa que me conheça sabe que eu me questiono frequentemente. A minha mãe, comprou-me um livro quando eu tinha três anos com respostas a 500 porquês desde o porquê das trovoadas ao porquê das ondas do mar, mas eu estava mais interessada em passar ao próximo porquê do que na resposta em si. Parece-me mais interessante o processo de descoberta do que as respostas conclusivas, as respostas que encerram as questões, como quando uma folha cai da àrvore e não lhe pertence mais, ou quando se dá um presente. As acções não terminam pelo simples facto de se terminarem as tarefas que as induziram, as coisas tem continuidade, assim como quando se obtem uma resposta a uma questão, outras questões nascem, quando uma folha de àrvore cai no chão um processo de decomposição começa, ou quando se dá um presente, a satisfação de quem o recebe e a continuidade da amizade. E dentro do amaranhado precioso que é o meu cérebro (ou o único lugar a que eu posso verdadeiramente chamar casa – como disse um dia Bob Marley) vao-se formando os porquês sobre quem eu sou, o que quero, para onde vou, que nunca terão resposta, mas a procura das mesmas fazem parte do conjunto de movimentos que formam as minhas viagens.
Uma viagem geográfica que me obrigou a sair da redoma em que vivi durante 23 anos foi a minha vinda para Inglaterra há 6 anos atrás, consequência do panorama desertico da paisagem laboral Portuguesa, ao qual ironicamente agradeço agora. Tenho a sensação de que teria sido muito mais difícil (nao impossível) ter viajado tudo aquilo que já viajei, mas sobretudo sonhar as minhas viagens para serem mais do que meras férias em destinos exóticos. Inglaterra permitiu-me, entre muitas coisas a distância necessária para conseguir escutar a voz interior que me chama para o Mundo. Permitiu-me conhecer pessoas como eu que fazem das viagens uma forma de vida, permitiu-me ver uma amostra concentrada de Mundo na sua diversidade humana - já experiementaram andar num autocarro Londrino e contar as nacionalidades dos seus viajantes? E sobretudo, e mais importante, abriu uma caixa cheia de novos porquês. O porquê da injsutiça, da globalização, da pobreza, do modo de vida do mundo ocidental…ah, tantos e tantos porquês que brotam a cada dia que passa. E tantos livros para ler, tantas música para ouvir, tanta gente para conhecer, tanto mundo para viajar, TANTA COISA PARA SENTIR!!!!!
Reino Unido, Londres, 4 de Novembro 2007
Joana Oliveira
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