tag:blogger.com,1999:blog-83298910192344815052024-03-04T20:01:45.782-08:00Movimentos ConstantesTudo dentro e fora de nós está em constante movimento…e por isso a vida é uma viagem – uma viagem constante, um movimento constante!
Este Blog é um registo das minhas viagens, dos meus movimentos. É um registo de banalidades e de coisas especiais – um diário, que se regista não ao ritmo de cada dia, mas ao ritmo de cada viagem que desejo partilhar com outros viajantes.Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.comBlogger18125tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-14398192335334634232012-10-31T18:36:00.000-07:002012-10-31T18:36:25.051-07:00De volta à estrada<h2>
Estamos de novo sobre rodas no nosso projecto de regresso a casa da Nova Zelândia de bicicleta, visitem o nosso site em:</h2>
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<a href="http://www.globonautas.net/">www.globonautas.net</a></h2>
Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-1759336719818590192008-08-30T15:52:00.000-07:002009-01-21T12:35:46.349-08:00Bolivia, Sucre, na capital indecisa de um pais a beira da guerra civil<div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>"Queremos viajar, no temos recursos para comer, los niños tienen Frio Y Hambre!"<br /></strong><br /><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg54oy8PpLD2XqgA_rJX07fgfPK7oyajKxVosZ0AUexoUQjPdZshLBFMNJxAe6f7fPLpGst0FGUuu0P1XQPW2hlGsbVJZygBVt-N_iz8EnTlTdB6pr2bNKtkanQI7cpL35hLsauHqhpTkuP/s1600-h/IMG_4192.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293165065457292754" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 187px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg54oy8PpLD2XqgA_rJX07fgfPK7oyajKxVosZ0AUexoUQjPdZshLBFMNJxAe6f7fPLpGst0FGUuu0P1XQPW2hlGsbVJZygBVt-N_iz8EnTlTdB6pr2bNKtkanQI7cpL35hLsauHqhpTkuP/s400/IMG_4192.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Era a quinta vez no espaço de quatro dias que passava no terminal de autocarros de Sucre. A situação era a mesma, não se sabia quando iam cancelar os bloqueios. Os campesinos haviam feito um cerco á cidade e ninguém entrava nem saía, incluindo comida que começava a escassear nos mercados, o seu preço subiu como uma flecha em direcção aos céus. No silêncio do terminal que, uns dias antes era um arco-íris de ruídos e vida, os destinos eram apregoados a alto e bom som, e era impossível descer a rua sem se ser oferecido passagens para os quatro cantos do país, lia-se agora apenas um cartaz silencioso - <em>"Queremos viajar, não temos recursos para comer, as crianças tem Frio e Fome!" </em>Na sala de espera, despojados, estavam os corpos cansados daqueles que foram apanhados de surpresa, na sua maioria campesinos, as suas mantas multicolores que servem de alforges pareciam desmaiadas, mais sujas, mais tristes, as crianças deambulavam como se estivessem perdidas, presas, longe das suas casas, das suas montanhas, das suas vidas inocentes, um grupo de mochileiros franceses jogava às cartas. Tinham todos vindo à cidade que os fez reféns sem aviso prévio, e muitos sem dinheiro, sem comida nem hora marcada para o regresso olhavam o vazio com olhar impotente. Os mochileiros encolhiam os ombros e imaginavam as palavras ampliadas com que descreveriam este evento nas suas viagens quando estivessem de regresso ao mundo confortável das suas outras vidas.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg96Wm_VadBsH5PihekaDQse4YaCs0Ro7tmVI9oJJ01fCx_EgKXhu_gf7nJoQSJJUvzX2GogXid9scCD5sy5D7KRRteNOtlW7F5JiG2nKhc5c5a8ynTZ6EJpyx0MR9UIIzteF6mt9_3DE3j/s1600-h/IMG_4201.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293159109451932114" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 296px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg96Wm_VadBsH5PihekaDQse4YaCs0Ro7tmVI9oJJ01fCx_EgKXhu_gf7nJoQSJJUvzX2GogXid9scCD5sy5D7KRRteNOtlW7F5JiG2nKhc5c5a8ynTZ6EJpyx0MR9UIIzteF6mt9_3DE3j/s320/IMG_4201.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL7GR77Vk7ZCNr8R7kaUSGGl6fLmtV9W6IIOTDGFYu7uZvDLTA7OY3S7obU7jOkh_DFPiLEJABFurrovUAknuF93VG8Llo11Mi3886XY25ow-2G5btK66XupO6l_Qqx1WZ5ehPiOdetKKF/s1600-h/IMG_4199.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293159107385512658" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 214px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL7GR77Vk7ZCNr8R7kaUSGGl6fLmtV9W6IIOTDGFYu7uZvDLTA7OY3S7obU7jOkh_DFPiLEJABFurrovUAknuF93VG8Llo11Mi3886XY25ow-2G5btK66XupO6l_Qqx1WZ5ehPiOdetKKF/s320/IMG_4199.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0hl1AJnBU2WL0STLJKSNVOlpytBO-tU9msZzZmIe5dUxniQNkb83-zqVrc8gkS8VZ9IC6gcW-26NDGeC9pfdddUjYn2kXE0nWBbPWa-bDiime_4fuun1JfdJQmGyrK8JYnx1YEwuGK7Of/s1600-h/IMG_4202.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293159115007998482" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0hl1AJnBU2WL0STLJKSNVOlpytBO-tU9msZzZmIe5dUxniQNkb83-zqVrc8gkS8VZ9IC6gcW-26NDGeC9pfdddUjYn2kXE0nWBbPWa-bDiime_4fuun1JfdJQmGyrK8JYnx1YEwuGK7Of/s320/IMG_4202.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Vim a pensar no caminho de regresso a casa que país era este onde o bloqueio é a forma oficial de protesto? Evo Morales, o actual presidente, encabeçou muitos antes de estar do outro lado do poder, é inevitável que não pense algumas vezes que bebe do seu próprio veneno quando o país soluça eternamente sem nunca poder avançar nos dias perdidos de bloqueios. Em Sucre, capital constitucional do país onde se senta a Corte Suprema de Justiça, mais uma das coisas que teima em não entrar na minha geografia cerebral, a existência de duas capitais num mesmo país, La Paz sendo por sua vez a capital administrativa e onde efectivamente todas as embaixadas e sedes de governo estão sediadas. Bloqueios de um passado recente que escalaram a actos de violência foram justificados à custa de se discordar da localização das capitais. Paro para ler as notìcias de um jornal local: <em>"Não reconhecemos a governadora traidora e instruímos nossos afiliados a não permitirem que nem ela e nem seus funcionários entrem em nenhuma das dez províncias do departamento; exigimos um aprofundamento da autonomia e não paramos o bloqueio enquanto esta não nos for concedida".</em> Declaracoes de um dirigente campesino como justificação<em>.</em> Lembrei-me dos olhares lúgubres e perdidos das mulheres no terminal de autocarro as suas tranças negras poisadas sobre os ombros como lágrimas escuras, cansadas. As crianças que brincavam sem vontade e os homens que olhavam as mãos sem poderem agarrar os instrumentos à custa dos quais vem o seu sustento. Não são eles também campesinos? Num outro dia em que tinha ido ao terminal escutei alguém dizer que não ia esperar mais já tinha marcado um voo, as suas roupas ocidentais denunciavam os verdadeiros afectados pelo bloqueio - os campesinos. A classe alta terá sempre a oportunidade de apanhar um avião ou dar mais 10 bolivianos por meio quilo de carne. Um campesino não. E eis o remoinho de contradições que aos meus olhos, olhos de viajante, me é dado a entender - um bloqueio feito por campesinos que afecta sobretudo os próprios campesinos. Pus a chave na porta de casa, senti que ia ter que repetir aquele gesto muitas vezes porque as leis não se mudam de um dia para o outro e não me parecia que as partes envolvidas estivessem interessadas em ceder. A ironia das circunstancias era incontornavel, tinha tecto e comida, sempre tive! Os dias podiam transformar-se em semanas, estava em casa de uma amiga, amiga essa a quem os bloqueios não seriam mais do que um incómodo na sua rotina e um aumento suportável no seu orçamento domestico. Mas o que será necessário fazer para que aqueles que não podem e não têm, não estejam eternamente condenados a não poder e a não ter?<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhJxk7t_1d71H4l6f8iyY8lk1ZDANspfQ5RhC2YsGKP5Sr6JhI2-53cfPNQE_Po_m1sbxicvcPBcyTzZx8-QJq4g8kgRUovg8nJbKoX4ZGNsiMKONo4XFganMHloYiTZcTlo1WEwgdIFyF/s1600-h/IMG_4152.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293160001690547970" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 274px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhJxk7t_1d71H4l6f8iyY8lk1ZDANspfQ5RhC2YsGKP5Sr6JhI2-53cfPNQE_Po_m1sbxicvcPBcyTzZx8-QJq4g8kgRUovg8nJbKoX4ZGNsiMKONo4XFganMHloYiTZcTlo1WEwgdIFyF/s320/IMG_4152.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOhM9mw5rx53kk3sZUt-PLteDveTE_Gt_Su5EmKbNPyDtWn472neuoSa1IyOoRJbvOPle4Yo8ve15LD5zi4wPkuCAnVYjbzPf2-klqUgHc1My-odWdDW-kAziC9SlBGhzEqxMT8yIOPF4W/s1600-h/IMG_4204.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293160004908705250" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 262px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOhM9mw5rx53kk3sZUt-PLteDveTE_Gt_Su5EmKbNPyDtWn472neuoSa1IyOoRJbvOPle4Yo8ve15LD5zi4wPkuCAnVYjbzPf2-klqUgHc1My-odWdDW-kAziC9SlBGhzEqxMT8yIOPF4W/s320/IMG_4204.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><strong>Sozinha de regresso a Bolívia</strong><br /><br />Depois de uma viagem de 5 horas que deveria ter sido uma viagem de 3 sai atordoada do autocarro no terminal fronteiriço de La Quiaca na Argentina. E certo que as viagens de autocarro me deixam refilona mas não me parece normal que se viaje em transporte publico esperando que este te deixe à porta de casa. A cada 10 minutos havia gente que entrava ou saia do autocarro a medida da proximidade dos seus lares, e isto numa viagem onde supostamente o autocarro parava apenas em três aldeias.Seria interessante ir de Lisboa ao Porto no expresso e pedir ao condutor "olhe deixe-me aqui que a minha casa e já ali a frente". Pedalar os 4 quilómetros que unem La Quiaca a Vilazon do outro lado na fronteira na Bolívia sozinha foi uma experiência curta mas interessante. Inevitavelmente eu era o centro para onde os olhares curiosos convergiam - uma mulher com uma bicicleta carregada e sem companheiro a vista constituiria sem duvida o ponto alto das coisas a observar naquelas paragens e um ou outro elemento do sexo oposto tentou a sua sorte em forma de oferecimento da sua prestável ajuda - mas não, não era necessária obrigada, afinal para pedalar uma bicicleta só são necessárias duas pernas e consequentemente uma pessoa - eu! De qualquer forma não deixo de admitir que ser mulher e viajante a solo tenha as suas vantagens, só assim explico ter o passaporte carimbado nos serviços fronteiriços Bolivianos por mais três meses, depois de uma conversa curta mas agradável com o oficial de serviço e, o Nuno, uns dias depois noutra fronteira, só por um mês, mesmo depois de ter explicado ao oficial que estava a viajar em bicicleta e necessitava de mais tempo.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwUKPDXNaWwWfvhc5zFWID7DFFd1TAkkyo7wHNMdMLCaUzsZmdn4FDs4CAyaQZlpPIOYyLfKj8ybpFlER0MQsfhSbR1KmBRbqo_aKynmfqlhpAdYu2it-nAjN57O2VbfJTMzRCDXkcIuK3/s1600-h/IMG_4196.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293160968207003346" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 282px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwUKPDXNaWwWfvhc5zFWID7DFFd1TAkkyo7wHNMdMLCaUzsZmdn4FDs4CAyaQZlpPIOYyLfKj8ybpFlER0MQsfhSbR1KmBRbqo_aKynmfqlhpAdYu2it-nAjN57O2VbfJTMzRCDXkcIuK3/s320/IMG_4196.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXPga83hu6QfL20Rn3zjaJInZXseB3Nptn5CD7IhVQfjSuHeqOmIA0d0JobeogwXrUY-W8kJth6aU5x4CSEfffS_YCf6o2bvLU4b2GmSWh65g8Zhw2nUDfmlFyLWF-pp7Xq45VkdVsOACy/s1600-h/IMG_4150.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293160965185540674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXPga83hu6QfL20Rn3zjaJInZXseB3Nptn5CD7IhVQfjSuHeqOmIA0d0JobeogwXrUY-W8kJth6aU5x4CSEfffS_YCf6o2bvLU4b2GmSWh65g8Zhw2nUDfmlFyLWF-pp7Xq45VkdVsOACy/s320/IMG_4150.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Como aprecio viajar em bicicleta. A liberdade, o espaço...sentada no chão do terminal de Vilazon olho para o estado deteriorado de mais um autocarro onde terei que passar as próximas 13 horas e os cerca de 400 quilómetros. Com a inflação horária que parece afectar os transportes públicos em geral na América Latina, quantas horas serão na realidade? 16, é a resposta. O autocarro vai cheio. As gentes do altiplano Boliviano preenchem os assentos com os seus cobertores sintéticos com tigres estampados ou outra qualquer iconografia que confirma que o negócio dos cobertores feitos na China há muito canibalizou as mantas feitas em la pura de alpaca Andina dos tempos idos. No porta bagagens não cabe mais nada, mas continuam a chegar mulheres pequeninas de saias bojudas com sacos e mantas recheadas com coisas que parecem ser suficientes para montar um acampamento para um exército. Puxa-se a pequena escada que dá acesso ao tejadilho do velho veículo e tudo se acomoda. A saída é pontual e ao cair da noite passam na moldura da minha janela as montanhas suaves do altiplano e o pôr do sol rosado que me tinha apaixonado no sudoeste Boliviano, estou de regresso, sinto-me estranhamente como se estivesse em casa. Embalada pela música Boliviana e os solavancos das estradas ripiadas adormeço. A lua ilumina o contorno dos vales e serras, e desperto ao som de marteladas metálicas, o autocarro não está em movimento, tento localizar-me geograficamente mas é impossível, na Bolívia não é necessário muito para que nos sintamos no meio do nada, e era no meio do nada onde estava, dentro de um autocarro avariado. Volto a adormecer e passado um tempo que não consigo calcular sinto que estamos de novo em movimento. Por mais uma serie de vezes o ritual repetiu-se: paragem, marteladas metálicas, vozes masculinas e o veículo volta de novo a mover-se. Tento definir a paisagem que atravessamos naquela noite clara e vejo ravinas e precipícios ladeando a estrada, não existe qualquer tipo de marcação só o branco do ripio que desaparece ao virar de cada curva, fecho a cortina. O que quer que seja o problema que afecta o autocarro espero que não seja de travões. As 6 da manha chegamos a Potosi, e de luzes ligadas sem pré-aviso ou tempo para despertar somos avisados que devido a problemas na embraiagem temos que mudar de autocarro. Os protestos dos viajantes são inúteis. Asseguro-me que a minha fiel companheira segue comigo no mesmo transporte e pouco tempo tempo depois estamos de volta à estrada. Potosi, a cidade que nos tempos coloniais foi um dos motores económicos do império espanhol, das entranhas da qual se retirava a prata que sustentava a Diáspora e as ambições expansionistas ibéricas, fica para trás. Cheguei ás 8 da manhã a Sucre, uma cidade que me fez lembrar Évora, com as suas igrejas e monumentos pintados de branco. Património da Humanidade, Sucre é considerada por muitos como o epicentro do qual irradiou a campanha de independência do jugo espanhol na América Latina. O primeiro "Grito Libertário" deu-se em 1809, mas ironicamente a Bolívia foi o ultimo território a ganhar a independência em 1895.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigTn0pCYI63MqsQ3zCTUYqkB18Ih5K1klwRM044lPipi84hA13ldiVvtp1mwwxTdeo4sEit2Xxpx75OIxiZGyRWY6BTZAg_CHk6MBayUxyI-YckrVH4G1tee5xDZp0BDf1hwaNqqSnHihB/s1600-h/IMG_4189.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162016835175106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigTn0pCYI63MqsQ3zCTUYqkB18Ih5K1klwRM044lPipi84hA13ldiVvtp1mwwxTdeo4sEit2Xxpx75OIxiZGyRWY6BTZAg_CHk6MBayUxyI-YckrVH4G1tee5xDZp0BDf1hwaNqqSnHihB/s320/IMG_4189.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmFk3f6x5sQrH55-cwLBw4xA4sVAmtUu_HARB3lJlIIWJl2xnXKEyKmimsd93UziaF1xvTpmlOserF-vWe_iFcUx_IAeuhVfi0deT8v76TuXD8aMdRtpHKWoDFspYkKyUc1L0jlf6uPCSu/s1600-h/IMG_4180.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162013161639554" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmFk3f6x5sQrH55-cwLBw4xA4sVAmtUu_HARB3lJlIIWJl2xnXKEyKmimsd93UziaF1xvTpmlOserF-vWe_iFcUx_IAeuhVfi0deT8v76TuXD8aMdRtpHKWoDFspYkKyUc1L0jlf6uPCSu/s320/IMG_4180.JPG" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEntS6xGtlZqPRD7NCuHr-0pNk4_0__tRkHIwzNhrUlet2ReI8rEyw9A35hB_79ohjyuXeP5jRpARfUDcxolNzrRenpfIlviKm9EwIYnXlopRoADsUoPijEWEtN5L0zAiFqIraq6MWI3kA/s1600-h/IMG_4179.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162013384746690" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 249px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEntS6xGtlZqPRD7NCuHr-0pNk4_0__tRkHIwzNhrUlet2ReI8rEyw9A35hB_79ohjyuXeP5jRpARfUDcxolNzrRenpfIlviKm9EwIYnXlopRoADsUoPijEWEtN5L0zAiFqIraq6MWI3kA/s320/IMG_4179.jpg" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_PCnd_qE86Jc7qmExmq2Vlez0ipKut1DpLeqNvfiE4eKOrbh16AHFZ4orzf1_7z9n3-pKoPQ8GPriy06-rm7m-N2mQlkPTcm_T35Euj204p3meH7rFLv7mAC0OHVh5FSwmp3Y4dGwHMgI/s1600-h/IMG_4175.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162005390476562" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 303px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_PCnd_qE86Jc7qmExmq2Vlez0ipKut1DpLeqNvfiE4eKOrbh16AHFZ4orzf1_7z9n3-pKoPQ8GPriy06-rm7m-N2mQlkPTcm_T35Euj204p3meH7rFLv7mAC0OHVh5FSwmp3Y4dGwHMgI/s320/IMG_4175.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br /><br /><strong>Dolly, uma mulher especial</strong><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_L4pgKY-eMoGxNhbQ6nzY8l7hBVxGq5iG4lrTwiTDecfOAOOC_gpImYEbi4zsq9eskvoFPyrduNE22Obs7mQs7cO9WF29dCiOWU8XwJJdLD6CrUkLaBkfaI4Wc0ns6kkfsByxpENxh9-Y/s1600-h/IMG_4162.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162439424466466" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_L4pgKY-eMoGxNhbQ6nzY8l7hBVxGq5iG4lrTwiTDecfOAOOC_gpImYEbi4zsq9eskvoFPyrduNE22Obs7mQs7cO9WF29dCiOWU8XwJJdLD6CrUkLaBkfaI4Wc0ns6kkfsByxpENxh9-Y/s320/IMG_4162.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br />Cheguei a Sucre e nesse mesmo dia e como uma nuvem cinzenta inesperada sob um dia de sol, deu-se o bloqueio. Tinha sido um grande desvio solitário para Norte. Tinha perdido o meu cartão multibanco em Oruro, e andava a viajar ás custas do Nuno, desejava com urgência pôr as contas em dia e não queria arriscar ter o cartão enviado para algum local e ele desaparecer, como havia acontecido no passado. Nos nossos planos originais tínhamos pensado voltar a La Paz para descer a "carretera de la muerte" até ás Yungas e daí pedalarmos até Trinidad para construirmos um barco adaptado às bicicletas e navegarmos o Rio Mamoré até ao Brasil, e por isso Sucre estava na rota. Mas os planos mudaram porque o tempo e o dinheiro, sobretudo desde que tinha tomado a difícil decisão de estar em casa pelo natal, eram limitados, de forma que o autocarro que me levaria cerca de 600 quilómetros para Norte de Jujuy, evitando distâncias dispensáveis de estradas aborrecidas de tráfego intenso, sem bermas, vento contra que pareciam ser o único tipo de estradas existentes na Argentina. Ganharia assim uns dias para desfrutar o cicloturismo em passagens mais favoráveis, claro, isto antes de saber que iriam haver bloqueios que me paralisariam os movimentos por mais dias do que os esperados.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNNljZgK5nA-9wYmh2JWd42q08gXPqzWqqPqMxfNgNFcl_xQLOdUysNYpZ_HuDaTz-oiZOI7EhZRhCiQKS-mE-kjNZeo617rL-k8psxurxgtpmAGZc3RSJsmEi-KizzNMv9arnSvQ_JndG/s1600-h/IMG_4194.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293162954003633698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 262px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNNljZgK5nA-9wYmh2JWd42q08gXPqzWqqPqMxfNgNFcl_xQLOdUysNYpZ_HuDaTz-oiZOI7EhZRhCiQKS-mE-kjNZeo617rL-k8psxurxgtpmAGZc3RSJsmEi-KizzNMv9arnSvQ_JndG/s320/IMG_4194.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a>A Dolly e uma mulher pequena e atraente que concentra dentro do seu corpo energia que irradia e transborda, os seus olhos castanhos rasgados parecem ter o mesmo brilho e a vitalidade que teriam quando eram adolescentes. E irmã da Wilma, a amiga que conheci em El Alto, La Paz e na casa da qual tinha passado uns dias, parece-se muito com ela mas tem a força da vida vivida em função dos seus desejos. Para os padrões da mulher Boliviana, Dolly é uma pedra preciosa e rara. Desde muito cedo decidiu viver a vida como lhe parecesse melhor, mesmo que nem sempre fosse assim. Tirou um curso universitário no tempo em que as mulheres pertenciam aos homens com quem se casassem. Casou com o homem que escolheu e descasou por se ter desiludido com ele e com o casamento, partiu o coração a muitos homens e teve o coração partido, mas nunca deixou de ser independente e de fazer as coisas por vontade própria. Viajou e viveu em várias partes da Bolívia e trabalha agora como responsável financeira de uma ONG que incentiva as mulheres de Sucre a obterem formação em trabalhos técnicos desempenhados maioritariamente por homens, como carpintaria, ferraria e outras profissões. Este projecto tem sido um sucesso, porque as jovens aprendem a trabalhar por conta própria, a serem independentes e aos poucos as barreiras do preconceito numa sociedade onde a cultura do "macho" domina vão sendo derrubadas. Partilhamos conversas e cumplicidades femininas, seriam talvez duas gerações que nos separavam mas tínhamos muito em comum - o sermos mulheres, o não caminharmos por caminhos definidos por outros, por escutarmos o que vem de dentro de nós para traçarmos as nossas rotas. E num país tão politizado como a Bolívia em que um campesino no meio da montanha perdida te pergunta se és a favor ou contra Evo Morales, o presidente indígena, a politica foi, como não podia deixar de ser, um dos temas fortes das nossas discussões. Dolly votou por Evo, queria mudança, mas como em tudo onde se depositam grandes expectativas, e sobretudo no que toca a politica, a tendência é para se terem grandes decepções. O governo de Evo não dirige sem uma boa dose de contradições, os tempos que se vivem são tão incertos que se houvesse uma guerra cívil, isso não seria surpresa para ninguém! Sucre tem sido palco de violentas manifestações, a casa do reitor da principal universidade foi invadida e assaltada por estudantes sob o olhar impotente da policia que não age nem exerce a força com receio de retaliações, durante os dias que ali estive até que desbloqueassem o bloqueio. Algumas semanas antes haviam humilhado e agredido campesinos em público, um escândalo denunciado pela imprensa nacional que passou impunemente nas mãos das autoridades. A Bolívia está à beira da guerra civil. Ninguém parece entender-se ou desejar entender-se. Existem demasiadas discordias étnicas e raciais em rota de colisão com os interesses políticos e económicos. Haverao concerteza grandes convulsoes antes do pais poder caminhar rumo a um futuro mais sustentavel.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8USBmi5nV-f4LIowahVyC4kxa6bYqkucTVZZw_7BNfXqFXVXgRSq8bcVXZce925I030DSzI7Kys3DtTOiXfepxh80TghG7GOOmQpSGe1wY6kT7VAS__5s25i_IRmsK_n2rRAH1R_Hf9bm/s1600-h/IMG_4185.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293163336249603346" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8USBmi5nV-f4LIowahVyC4kxa6bYqkucTVZZw_7BNfXqFXVXgRSq8bcVXZce925I030DSzI7Kys3DtTOiXfepxh80TghG7GOOmQpSGe1wY6kT7VAS__5s25i_IRmsK_n2rRAH1R_Hf9bm/s320/IMG_4185.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br /><strong>Santa Cruz de la Sierra - a caminho do Nuno<br /></strong><br />Estava a actualizar o meu blog, o que decidi fazer durante o tempo que estivesse em Sucre evitando o centro da cidade porque a qualquer momento poderiam haver manifestacoes que descambassem em violência, quando vi um autocarro passar, e outro, e outro. Paguei a Internet apressada e corri como uma louca rua abaixo em direcção ao terminal dos autocarros. Inesperadamente os dirigentes campesinos tinham levantado o bloqueio, não porque se houvesse chegado a acordo mas porque as imagens que tinham visto dos campesinos sem dinheiro e sem comida a espera de regressarem a casa os tinha levado a levantar o bloqueio por um curto espaço de tempo. Já havia perdido o ultimo autocarro para Santa Cruz, onde o Nuno me aguardava, mas garantiram-me que no dia seguinte não haveria bloqueio. Podia finalmente seguir.<br /><br />Tinham sido uns dias estranhos, tinha voltado a viver uma vida quase rotineira, a viver debaixo de um tecto, a cozinhar almoço e jantar, a tomar banhos diariamente, a ver televisão, mas dentro daquela aparente normalidade não deixava de sentir que as razões que a causavam eram tudo menos convencionais. Almocei com a Dolly e prometi que nos veríamos em breve, como faço com todos aqueles a quem quero muito e dos quais me é difícil despedir.<br /><br />Ia a caminho do Nuno, a caminho das terras baixas, a caminho do calor, seria o derradeiro adeus aos Andes, infelizmente feito dentro de mais um autocarro. A noite, desta vez sem luz e escura para iluminar a transição das montanhas secas para as encostas verdes das Yungas. Toco o vidro do autocarro com um misto de saudade e tristeza como que querendo acariciar aquelas serras uma ultima vez. Digo baixinho - até breve! E por certo ali voltarei um dia!<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8wQwBUmJJJbWkbH7MKw-kr3lJ75cH7ILfzovcprkDp5a5R_cJcgDVG8ZtGrZwyRBFPljYMqN-cMJdsknnu1BZdy0TB5q9FK0bnMS930XlKfLIWgDnfiPTE55Ls0s4GyfK-h5fJP23jTfq/s1600-h/IMG_4190.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293163939147347842" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 228px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8wQwBUmJJJbWkbH7MKw-kr3lJ75cH7ILfzovcprkDp5a5R_cJcgDVG8ZtGrZwyRBFPljYMqN-cMJdsknnu1BZdy0TB5q9FK0bnMS930XlKfLIWgDnfiPTE55Ls0s4GyfK-h5fJP23jTfq/s320/IMG_4190.jpg" border="0" /> </a><p align="left"><br />Acompanhem as aventuras do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a></p>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-14504932786280921442008-08-22T13:51:00.000-07:002008-11-04T04:31:26.459-08:00Chile, San Pedro de Atacama e Argentina, Tilcara - os planos mudam e voltam a mudar<div align="justify"><em><strong>Parabéns a você em San Pedro de Atacama!<br /></strong></em><br /><br /></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264582614988953634" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVNjrUmy1xz65-isTOj5DrdoY-rMVeBhFAUCl1Lg4cQq8Z9se84vRCjVxBQ6UE2cbsOjeOVdS9XOIBTctolRj6EUYRxpEAp9115BaRl9d1UmKn2NemNCS1EqKHzppK53IMng6UrGoZ4taj/s320/1+eu+bolivia+no+meu+dia+de+anos.jpg" border="0" /> <p align="center"><em>Parabéns frios mas felizes nos meus 30 anos de vida!</em><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFqIAShwuaBqyy06LAzGND3cT8TOo7ZYm-UlTv3bhvGMLpWEtJ4y_ypKtoXH6BsqVvTjAvPtyFXq1-XWXnsGqgUhI1j4L4DVMyuwto5pgrc5DCxhPkxXWl2w-cyLbalWUErfLOkfyeCfaY/s1600-h/1+Saida+bolivia+rocha.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264587371286906850" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFqIAShwuaBqyy06LAzGND3cT8TOo7ZYm-UlTv3bhvGMLpWEtJ4y_ypKtoXH6BsqVvTjAvPtyFXq1-XWXnsGqgUhI1j4L4DVMyuwto5pgrc5DCxhPkxXWl2w-cyLbalWUErfLOkfyeCfaY/s320/1+Saida+bolivia+rocha.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br />Com delicadeza pus no garfo, prateado e sólido, um pedaço de pimento vermelho assado, outro de queijo camembert, um outro com um cogumelo selvagem e na ponta umas tiras de cebola caramelizada. Como se tratava de um verdadeiro acto solene, aproximei aquela união de ingredientes da minha boca, fechei os olhos, e deixei o calor do pimento, os odores adocicados da cebola, e o cheiro ácido cremoso do queijo, entiçarem o meu nostrilis. Depois, num movimento em câmera lenta, pus na boca aquele arco-íris de sabores que se difundiu pelas minhas papilas gustativas como os ventos da primavera espalhando flores pelas ruas. Tinha diante de mim a mais deliciosa tábua de queijos, originalmente preparada numa combinação de pimento assado na brasa, amêndoas, nozes, pinhões, cebola caramelizada, vários tipos de cogumelos selvagens simplesmente salteados em muito bom azeite e, como não podia deixar de ser, uma boa selecção de queijos europeus. Do lado direito, em frente ao meu prato de cerâmica fina, um grande copo de vidro transparente que emitia uma luz vermelha escura como se fosse um rubi gigante, o precioso sangue da terra, o vinho!<br /><br />Dentro daquela redoma de conforto e sofisticação, o altiplano estava distante; distante com a sua ausência de comida, de luxo, de calor. Com os contratempos dos dias anteriores tínhamos conseguido libertar-nos do frio e da dureza a tempo para celebrar o meu 30º. aniversário, no dia 22 de Julho. Nesse mesmo dia havíamos saído de Laguna Verde rumo a Hito Cajon, a fronteira da Bolívia com o Chile. Eram só cerca de 12 quilómetros, mas as subidas e o vento frio continuavam. Com o selo de saída carimbado e estrada pavimentada do outro lado da fronteira seguimos montanha abaixo, num vertiginoso downhill que me obrigava a parar com frequência para aquecer os meus dedos que congelavam a cada 10 minutos.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqyE1RMN0SQ5JxmZsYsvav5vXXOzEdOdoK2KfeqNPabBnodK9HtYXUJnkx-USbgd6ScWHg-Jx6MismMQwUhFqoX93KD8Y_nBQALrscf3Isswp9S0mCtYarZZxZNoBG5W3mQp_-YA2vKaUb/s1600-h/2+oficina+de+migracoes.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264580741989298338" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqyE1RMN0SQ5JxmZsYsvav5vXXOzEdOdoK2KfeqNPabBnodK9HtYXUJnkx-USbgd6ScWHg-Jx6MismMQwUhFqoX93KD8Y_nBQALrscf3Isswp9S0mCtYarZZxZNoBG5W3mQp_-YA2vKaUb/s320/2+oficina+de+migracoes.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLd6GagIJPnM7tuIIC3ti85NH54rQiHEikckd2104T4sLShIhKk6YzXKq_DrHZz1OZWr8jlgch-nbfzv6b1Zgx4LromUjieYn6VrOKyICzKIpMn-1LNlKxExYxbcFvERIAkHCaTIcknFcM/s1600-h/2+eu+e+nuno+na+oficina+de+migracoes.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264580744716686018" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLd6GagIJPnM7tuIIC3ti85NH54rQiHEikckd2104T4sLShIhKk6YzXKq_DrHZz1OZWr8jlgch-nbfzv6b1Zgx4LromUjieYn6VrOKyICzKIpMn-1LNlKxExYxbcFvERIAkHCaTIcknFcM/s320/2+eu+e+nuno+na+oficina+de+migracoes.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><br />Descemos dos 4600 aos 2527 metros com o Deserto de Atacama à nossa frente. - uma paisagem avermelhada, desolada rodeada por grandes vulcões, semelhante às imagens da NASA do Planeta Marte; E com o aproximar a altitudes mais terrenas, o Atacama, o maior deserto do mundo, enviava desde as suas areias e extensões rochosas lunares as primeiras lufadas de ar quente que sentíamos em muitos meses.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyULyHzyYzoMQHreQXgJs9uSQl66oz6su2_pN3VQ2bY3w7h3j2vtvSfKIfbw96ypxOkbUWg9dSfe3GcX5cZD9DU5MmUEkpyOAapLGp0SWb7JpB9pIsRqXDGUHl2J-rS2YtAFlujlaSJp_u/s1600-h/3+chile+bolivia+estradas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264580732227443586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyULyHzyYzoMQHreQXgJs9uSQl66oz6su2_pN3VQ2bY3w7h3j2vtvSfKIfbw96ypxOkbUWg9dSfe3GcX5cZD9DU5MmUEkpyOAapLGp0SWb7JpB9pIsRqXDGUHl2J-rS2YtAFlujlaSJp_u/s320/3+chile+bolivia+estradas.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>Adeus Bolivia, adeus frio! Pelo menos por uns dias.</em><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_bKQOB-_ONixhK9KGwYN3zwgxUbeStye6lOLkzKI6WIoZwayhepNUtQGU2G4njDfmgqeUKc5E5dToBOYBAALbMsUA5XkcRASr509YgNu36VBMZMsCu9hjdIq9YqdkAjbny6B1q3NxRlX3/s1600-h/5+paisagem+lunar.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264580729961874386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_bKQOB-_ONixhK9KGwYN3zwgxUbeStye6lOLkzKI6WIoZwayhepNUtQGU2G4njDfmgqeUKc5E5dToBOYBAALbMsUA5XkcRASr509YgNu36VBMZMsCu9hjdIq9YqdkAjbny6B1q3NxRlX3/s320/5+paisagem+lunar.JPG" border="0" /></a><br /><br /><p></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9VLI6aJwApIVe02cSbn6T1E7krUNAahAgK2RDr-1KtIfWLeiWRNd4kGeRuPRs12WOjbsdHvs46j_P7cuZNdDyed9t-lswsAHtXTx8FhM4iurWegJAJqWyZXBGyOALoxWlkj0e6WeiH0D/s1600-h/4+nuno+sinal+atacama.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264580731851544514" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9VLI6aJwApIVe02cSbn6T1E7krUNAahAgK2RDr-1KtIfWLeiWRNd4kGeRuPRs12WOjbsdHvs46j_P7cuZNdDyed9t-lswsAHtXTx8FhM4iurWegJAJqWyZXBGyOALoxWlkj0e6WeiH0D/s320/4+nuno+sinal+atacama.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Quando cheguei a San Pedro de Atacama senti, como já tinha sentido algumas vezes nesta viagem, que havia chegado ali 20 anos tarde demais. As casas de adobe caiadas de branco, os muros sobreados com formas geométricas, a harmonia entre a tradicional forma de construir casas à maneira colonial e os aspectos decorativos figurativos da cultura Atacamenha estavam presentes em toda a arquitectura, agora, meticulosamente preservada para atrair turistas. E é de turistas que esta pequena vila, de cerca de 2800 habitantes, vive. Tudo o que nela existe serve apenas um propósito: satisfazer as necessidades de viajantes nacionais e estrangeiros que infelizmente eram bastantes no dia em que lá chegamos e durante o tempo que lá estivemos – chegávamos a San Pedro na época alta.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDwXDrUpCNewQD77_wu7nEDpdPfOI3Fjx6Sh6siOhOSIP1e8_2FyNadRH5GVV9ZooG35DwFcvgz-IT4SWBAF5FPL3MLDvSNcncgH11PBsrMZnAuxAJi24vV4_hIWmdeJ2oT0Ap71hTHbNP/s1600-h/8+busy+streets+of+san+pedro.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264578219474738226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDwXDrUpCNewQD77_wu7nEDpdPfOI3Fjx6Sh6siOhOSIP1e8_2FyNadRH5GVV9ZooG35DwFcvgz-IT4SWBAF5FPL3MLDvSNcncgH11PBsrMZnAuxAJi24vV4_hIWmdeJ2oT0Ap71hTHbNP/s320/8+busy+streets+of+san+pedro.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx9qNsOUya9sZEXBfs0nMnUWU3wBbb3b_2Jrj9Tyy8vPVZY6WMQ266ONRqa7r9Gr-wz1gFTtUuj8VtopWY-NiLBEa5fg5lsrcu7VLLkOJkU-4hfnX_EZaoF26nykXMcknrH2RxJXgLFC-P/s1600-h/9+san+pedro+agencia+viagens.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264578213409957906" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 304px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx9qNsOUya9sZEXBfs0nMnUWU3wBbb3b_2Jrj9Tyy8vPVZY6WMQ266ONRqa7r9Gr-wz1gFTtUuj8VtopWY-NiLBEa5fg5lsrcu7VLLkOJkU-4hfnX_EZaoF26nykXMcknrH2RxJXgLFC-P/s320/9+san+pedro+agencia+viagens.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Levou-nos mais de duas horas a encontrar alojamento que estava ou cheio ou era proibitivamente caro. No cansaço cedemos à realidade de que se queríamos ficar debaixo de um tecto teríamos que esquecer-nos dos preços Bolivianos. Ficámos na simpática e recém decorada Residencial Cruz de Atacama, com casa de banho privada que emanava cheiro a pinho, imaculadamente limpa e onde havia um chuveiro operado por esquentador com água quente 24 horas. Devo admitir que as primeiras vezes que tocava nas torneiras metálicas o fazia de forma rápida, o meu instinto ainda enviava mensagens ao meu cérebro de que ali podia apanhar choques eléctricos; os lençóis eram coloridos sem remendos ou gastos do uso, o colchão duro e novo. Verdadeiros luxos para dois ciclistas que nos últimos meses se tinham transformado em verdadeiros vagabundos.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxSUF05hLfkBcucpVC2_56-4_CUolleUW8-9MnSV0IclFILk5z7g_PD2aK2A79DUl8LFonAo13oFveNiONJxxK7woqu9N6nuCAN7oMSl5vWWYRhnkd0pMQDMiLlhjYot2G3AYjN15xeYEN/s1600-h/7+san+pedro+de+atacama.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264578219514060194" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxSUF05hLfkBcucpVC2_56-4_CUolleUW8-9MnSV0IclFILk5z7g_PD2aK2A79DUl8LFonAo13oFveNiONJxxK7woqu9N6nuCAN7oMSl5vWWYRhnkd0pMQDMiLlhjYot2G3AYjN15xeYEN/s320/7+san+pedro+de+atacama.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><em>A igreja de San Pedro de Atacama, com a sua arquitectura típica, uma mistura entre elementos coloniais e elementos da cultura atacamenha.</em><br /><br />Depois de um bom duche saímos, a cheirar a shampoo e a sabonete, em busca de um restaurante, o Nuno ia-me oferecer o jantar. La Estaka foi o restaurante que escolhi, era acolhedor com uma lareira que difundia os cheiros a madeira queimada que se misturavam com os ricos aromas vindos da cozinha. As suas paredes estavam preenchidas com grandes pinturas e tapeçarias abstractas de cores ocres e vivas, e todo o local tinha um ar rústico sofisticado. Qualquer sítio em San Pedro de Atacama parece saído de uma revista de decoração de interiores, os objectos campestres sabiamente reinterpretados para proporcionar conforto e utilidade. Quando vi os talheres brilhantes, o copo de vinho, o guardanapo de pano, cheguei a temer ter-me esquecido de como utilizá-los, mas à medida que a comida ia proporcionando aos meus sentidos um verdadeiro festim, os meus braços articulavam-se com a minha boca em movimentos coordenados e correctos – afinal ainda sabia comer com garfo e faca.<br /><br />Fomos beber uma terceira garrafa de vinho a um bar cool onde jovens viajantes dançavam ao som da house music sob o céu escuro penhado de estrelas. Havia um pátio com uma fogueira e sentámo-nos de garrafa na mão falando das próximas viagens que faríamos na companhia um do outro e do regresso à outra realidade. Éramos dois seres com uma paixão comum – as viagens, e já que vínhamos sobrevivendo sem escaramuças de maior a uma convivência inevitável de 24 horas, o mundo seria o nosso limite!<br /><br />Sentia-me feliz. Há uns anos atrás havia comentado com alguém que celebraria os meus 30 anos num país distante, que estaria a viajar, e embora nessa altura isso me parecesse um sonho remoto, difícil de alcançar, nessa noite confirmei duas coisas importantes: que os sonhos têm muita força e que fazer 30 anos não custa nada quando concretizas os projectos de vida a que te propões!<br /><br /><strong>De volta ao altiplano – Do Chile para a Argentina pelo Passe de Jama</strong><br /><br />Ali estávamos de novo, o frio que nos obrigou a por sobre o corpo mais de quatro camadas de roupa, o vento que nos embalava as bicicletas, umas vezes, empurrando-as, e outras, obrigando-nos a pedalar com esforço acrescido. E o silêncio e a ausência de presença humana. Mas havia uma coisa significantemente distinta no altiplano Chileno e Argentino – a estrada, que era alcatroada e a uma altitude sempre acima dos 4000 metros.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitg1EYGHJVInegdLI0w1x8Fdw2co_TpMTmKRpE6uSuvKhpzEhRQzaysmoIMp33mkfp4oTaCfVceqvknTzqfY56_nFhCshAAkentMW9AjaK4CGIUjhYVY6ZvU5Qh4zpL_fZSabUHTPngHsI/s1600-h/12+pedras+e+areia+chile+joana.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264568993580311506" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitg1EYGHJVInegdLI0w1x8Fdw2co_TpMTmKRpE6uSuvKhpzEhRQzaysmoIMp33mkfp4oTaCfVceqvknTzqfY56_nFhCshAAkentMW9AjaK4CGIUjhYVY6ZvU5Qh4zpL_fZSabUHTPngHsI/s320/12+pedras+e+areia+chile+joana.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><em>O altiplano Chileno, as suas paisagens lunares, mas com estradas fabulosas...</em><br /><br />Ainda andávamos no altiplano Boliviano quando comecei a pensar que estando tão perto do Chile seria uma pena não conhecer o país mesmo que fosse na ponta tão desolada que equivale ao seu deserto gigante. Mas como sair do Chile sem ter que voltar às estradas tortuosas da Bolívia? – Entrando pela a Argentina. E foi o que acabámos por fazer. Uma semana em San Pedro de Atacama que incluiu uma visita à cidade de Calama, uma cidade mineira metida também no meio do deserto. Ali queríamos experienciar um pouco do que é o Chile não turístico, mas acabamos por visitar aquela que é provavelmente a cidade Chilena mais feia.<br /><br />Do Chile ficou a impressão de um país extremamente desenvolvido e organizado, os rasgos latinos desta sociedade foram aparados com anos de ditadura, e este povo é agora um povo cheio de regras e proibições de fazer inveja a qualquer país do Norte da Europa. Sente-se um ar de bonança, de que a economia está saudável. Mas não é necessário ser perito em coisas de dinheiro para saber que essa riqueza provém sobretudo, da exploração, na opinião de muitos, descomensurada e totalmente insustentável dos seus recursos naturais.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoyFg5TzdGvdjMsUlFHPqXuaJhk-XNjM4xeAIC8tlW3oFQ61Y9yucI4v8Uw5Zc3Q96kzNOZusMPNyfq4dDaseM2D3oFN3K1tJyhslUdFpZ3edOqjwBIRkPDm04pJ6PW_cyBdcnNdfktZEe/s1600-h/6+paisagem+lunar+chile.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264578222360907890" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoyFg5TzdGvdjMsUlFHPqXuaJhk-XNjM4xeAIC8tlW3oFQ61Y9yucI4v8Uw5Zc3Q96kzNOZusMPNyfq4dDaseM2D3oFN3K1tJyhslUdFpZ3edOqjwBIRkPDm04pJ6PW_cyBdcnNdfktZEe/s320/6+paisagem+lunar+chile.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Na parte que corresponde ao altiplano Chileno, faixa de terra salpicada de vulcões onde não vive vivalma, habitam, há milénios, rochas gigantes perfurando as densas areias que as rodeiam. Foram cuspidas certamente pelos muitos cones, em tempos fumegantes, circundantes e dão ao cenário o característico aspecto doutro mundo. E a cada quilómetro que avançamos avistamos vicunhas, os eternos lagos de águas azuis e margens brancas de sedimentos salinos. Os desníveis da estrada atestam que realmente só os Bolivianos constroem estradas ridiculamente inclinadas a altitudes acima dos 4000 metros, porque seria impossível para os vários camiões que fazem a travessia daquelas terras em direcção ao Atlântico e ao Pacífico enfrentar aquelas montanhas de forma diferente. As nossas pernas agradeceram.<br /><br /><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI1tNo51wWOzSa8ziWaXfA3trA_3OgLUszhASNCJThFqVW0NIEfX-PsZgfJ575G9UbhRg-ZH8zjZPPgL3tL0RVxJTFvtQeeovVHvk1ZYo77dzu5pE5B5vc7StgLoB3P4AtVJtTXMP8N13E/s1600-h/11+vicunhas+chile.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264568998311312578" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI1tNo51wWOzSa8ziWaXfA3trA_3OgLUszhASNCJThFqVW0NIEfX-PsZgfJ575G9UbhRg-ZH8zjZPPgL3tL0RVxJTFvtQeeovVHvk1ZYo77dzu5pE5B5vc7StgLoB3P4AtVJtTXMP8N13E/s320/11+vicunhas+chile.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>Vicunhas</em><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcraGzMHMNdLYbTdlFyzJxnTB3QNng3Z6chWOrS_6hP4hbMZcOAQ9jsUqR4jfXycXTg1canAzQXvr47ZveAFV7pvNVTUi1yUa9X8gr8ripTH420A54YOphFeJlDK4O2MGSb6gG5iEV2W0M/s1600-h/10+saida+chile.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264568998426452658" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcraGzMHMNdLYbTdlFyzJxnTB3QNng3Z6chWOrS_6hP4hbMZcOAQ9jsUqR4jfXycXTg1canAzQXvr47ZveAFV7pvNVTUi1yUa9X8gr8ripTH420A54YOphFeJlDK4O2MGSb6gG5iEV2W0M/s320/10+saida+chile.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Chegamos a Paso de Jama, esperávamos uma subida de cerca de 400 metros, mas a informação no guia vinha incorrecta e subimos apenas cerca de 100 metros. Ali estavam: mais duas placas, mais uma fronteira, mais uma linha imaginária. De um lado o frio altiplano e do outro, mais frio altiplano com mais de 100 quilómetros até à próxima aldeia – Susques.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOhwBuAsq7doC4ZBWmtLKXxq4n2NhDD1OUTzsufd5T9NN216XDKh74mlb5GFLDlEhqgQQIIBJbunA9XxyJpftBKVAUumeeZ35Y2SVU_nSfhBQOlZcqmuEplwgOZ6jgjhGCmJJDwCTiT8iR/s1600-h/14+chegada+a+argentina.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264567107204410162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOhwBuAsq7doC4ZBWmtLKXxq4n2NhDD1OUTzsufd5T9NN216XDKh74mlb5GFLDlEhqgQQIIBJbunA9XxyJpftBKVAUumeeZ35Y2SVU_nSfhBQOlZcqmuEplwgOZ6jgjhGCmJJDwCTiT8iR/s320/14+chegada+a+argentina.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><em>Passo de Jama, fronteira Norte do Chile com a Argentina</em><br /><br /><strong>Humahuaca - as montanhas arco-íris da Argentina</strong><br /><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwTsQCKhVIMvNVRt-kXc3Vfgs13ZWmZMe4M9isSTMIF2ASZJfKJ2rjMMYELBkhfkHsL4Jpzqqa7AhnO1viPyI4MmOQfksL1xvULuOSr3D7g9SPmsrqclTCxkle5sY5rI3WZ9X11uuQkUqS/s1600-h/13+estradas+argentina.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264568992120936386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwTsQCKhVIMvNVRt-kXc3Vfgs13ZWmZMe4M9isSTMIF2ASZJfKJ2rjMMYELBkhfkHsL4Jpzqqa7AhnO1viPyI4MmOQfksL1xvULuOSr3D7g9SPmsrqclTCxkle5sY5rI3WZ9X11uuQkUqS/s320/13+estradas+argentina.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Susques na Argentina parece uma aldeia Boliviana tocada pela ordem e a limpeza. Tem uma igreja bonita de paredes grossas e telhado de palha. A sua rua principal recebe a sombra das árvores que a percorrem. Encontrámos alojamento numa das ruas traseiras da aldeia e a dona da residencial olhou-nos com um ar ofendido quando lhe perguntámos se havia água quente nos duches. Estávamos de regresso à realidade dos países onde água quente, electricidade e aquecimento são condições mínimas para se ter uma residencial aberta, não os extra, pelos quais se tem que pagar mais, e isto claro, quando existentes. Mas os traços das gentes daquela aldeia eram certamente familiares, os Andes distribuíram pelas suas montanhas gentes de estatura baixa, pele castanha, cabelos negros esguios e olhos rasgados e isso as fronteiras não conseguiram dividir.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs14Z2cNUPUF32ws-xFB3C7Zo4rV4zGpHkqLHTdd6x-W5fuYC1rgCUHG47QQNEMP55S3mMYVnXaoodyWyhA3ODDuQOgqTXRL5T63Fz1TDa0hzX7N-W-hjIe5HADULrRjDHgQlqiFlNGanC/s1600-h/16+susques.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264562385360821506" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs14Z2cNUPUF32ws-xFB3C7Zo4rV4zGpHkqLHTdd6x-W5fuYC1rgCUHG47QQNEMP55S3mMYVnXaoodyWyhA3ODDuQOgqTXRL5T63Fz1TDa0hzX7N-W-hjIe5HADULrRjDHgQlqiFlNGanC/s320/16+susques.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>Susques e a sua bonita igreja</em><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj2VfIs62qyrMF68atrjaU_7PwCwZjKX7QN3hfQSQxF7gb5G1M39Dg5fGa6nSvmVwzUeuO3vmWlQ_jVHObucx8oFqhKKIPjt0RkdzpchqASXZV9gMtqo4rcXRauN-FmnycEA1sBT0Lfbs5/s1600-h/14+formacoes+com+cores+argentina.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264567110782712626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj2VfIs62qyrMF68atrjaU_7PwCwZjKX7QN3hfQSQxF7gb5G1M39Dg5fGa6nSvmVwzUeuO3vmWlQ_jVHObucx8oFqhKKIPjt0RkdzpchqASXZV9gMtqo4rcXRauN-FmnycEA1sBT0Lfbs5/s320/14+formacoes+com+cores+argentina.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><em>Os primeiros avistamentos das montanhas de várias cores.</em><br /><br />Seguíamos nas montanhas mas a paisagem desértica altiplânica começava a dar lugar a montanhas de sedimentos estratificados dos quais se distinguiam diferentes cores. Devia ser fim de semana porque se viam muitos carros de domingueiros nas estradas. Depois de passar por uma vasta pampa onde acampámos, atravessámos as Salinas Grandes, um salar Argentino que se encontra a cerca de 3400 metros, e começámos a subida que nos levaria ao passe Abra Porterillos acima dos 4100 metros. A subida decorria a bom passo, curva após curva, mas depois de ladearmos a primeira montanha na sua parte baixa, uma visão assustadora impô-se – tal qual uma jibóia infinita, tínhamos à nossa frente uma estrada que subia toda a encosta da montanha em curvas e contra curvas que mais se assemelhavam a uma montanha russa. Fiquei sem fôlego só de olhar a subida que nos aguardava.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKFs74sW9h4ov6xTeZbzSDkIU0tCYNCxblUCgMr7Fk8vcibnhWvipz2pxDJ4I0yFh9NlFzPChIfZdeypqb7I9D3zmp6h2IUMn7fB8yJLTGFnVwBVL1m_vNBX9ZXtrQbUJhPSX0UdhZCIlj/s1600-h/17+a+terrivel+subida.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264562378339668466" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 191px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKFs74sW9h4ov6xTeZbzSDkIU0tCYNCxblUCgMr7Fk8vcibnhWvipz2pxDJ4I0yFh9NlFzPChIfZdeypqb7I9D3zmp6h2IUMn7fB8yJLTGFnVwBVL1m_vNBX9ZXtrQbUJhPSX0UdhZCIlj/s320/17+a+terrivel+subida.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcyMZsL0Inrzs2P0-WCXDxFZQhYjd8OnHMq4e7uDhwnJFJeqkzh155ADoIoZVOEylF-yd5gxZi09q2Sif63u_iCN0bz6LYP85WpWGLEx1HCZbmSCX51JNx1YYJO2nNE7eo9o5zxu9oPT6K/s1600-h/15+nuno+formacoes+rochosas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264567104407187538" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcyMZsL0Inrzs2P0-WCXDxFZQhYjd8OnHMq4e7uDhwnJFJeqkzh155ADoIoZVOEylF-yd5gxZi09q2Sif63u_iCN0bz6LYP85WpWGLEx1HCZbmSCX51JNx1YYJO2nNE7eo9o5zxu9oPT6K/s320/15+nuno+formacoes+rochosas.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Comemos alguns frutos secos, bolachas, bebemos água e apostamos quanto tempo demoraríamos a terminar a árdua tarefa de subir aquela montanha. A tortura demorou cerca de uma hora, e a coisa foi um pouco bizarra, entre aplausos dos viajantes, os apitos dos camionistas, ás mãos na boca de uma passageira de um carro incrédula por ver dois ciclistas carregados a empreender tão vertiginosa subida, sentíamo-nos como se estivéssemos a participar na Volta à França. E se realmente já estávamos acostumados ao ocasional apito, que nem sempre se distinguia entre a saudação e o “sai da frente que estás a ocupar a minha estrada”, o pessoal que passava naquela estrada ou estava muito aborrecido no seu passeio de domingo ou eram realmente apoiantes fervorosos de ciclismo, todos eles.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLj3s-u6_p6fFwI3k8fTz5urMdf8JEm6wMFvjLzbDC9dJi2lCga235KNI4iMxQR6Qdyw9XqBX7QLHCvyOivprt1EL5vM_ri0o2q4yHAiCirJ52rbm-gTpIK8xQ54pYYAY1edaqyTlgB3EX/s1600-h/18+terrivel+descida+1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264562373402878402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLj3s-u6_p6fFwI3k8fTz5urMdf8JEm6wMFvjLzbDC9dJi2lCga235KNI4iMxQR6Qdyw9XqBX7QLHCvyOivprt1EL5vM_ri0o2q4yHAiCirJ52rbm-gTpIK8xQ54pYYAY1edaqyTlgB3EX/s320/18+terrivel+descida+1.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />O Abra Porterillos seria o meu último passe acima dos 4000 metros nesta viagem e não pude deixar de sentir uma certa nostalgia. A minha relação ciclística com as montanhas é uma de amor e ódio, e tudo aquilo que se ama, de uma forma ou de outra, acaba por se sentir falta. Entre o esforço dos músculos, a respiração ofegante e o suor no corpo, ia pensando, como sempre faço, no espetacular que seria descer aquela estrada, mas depois de começar a descida do passe que havia acabado de alcançar percebi que o verdadeiro espetáculo estava nas curvas sinuosas e intermináveis do downhill que começava a fazer. Era o maior de toda a viagem, e sem dúvida, um de elevar os níveis de adrenalina a picos bem altos. O vento soprava forte e as bicicletas pareciam folhas abanando a cada rajada, que ora estava de costas, ora de frente, obrigando-nos a pedalar mesmo durante a descida.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2a4iCEmp5DxFeebGjv4z1gpz27lDPTVqDwzScUtT1SvETKJqg9_2o_J3r2etaZNYaQn3pS8RgtlQiDddzouiZSP2bf1iVq9zHIZIRq2Hny0NGynX5EHmFrUiOCLWp1V0C_a-3pXiKOkmE/s1600-h/18+chegada+ao+topo+ultima+4000.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264567100556651426" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2a4iCEmp5DxFeebGjv4z1gpz27lDPTVqDwzScUtT1SvETKJqg9_2o_J3r2etaZNYaQn3pS8RgtlQiDddzouiZSP2bf1iVq9zHIZIRq2Hny0NGynX5EHmFrUiOCLWp1V0C_a-3pXiKOkmE/s320/18+chegada+ao+topo+ultima+4000.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br />Os carros seguiam alguns, mais lentos do que nós, e as vistas eram tão abismais e tão impressionantes que me via impossibilitada de deixar a bicicleta rolar estrada abaixo, sobre o risco de não desfrutar a paisagem fantástica diante de mim. Entrávamos na Quebrada de Humahuaca, um vale de sedimentos que se acumularam nas camadas dos milénios, e deram a cada estracto uma cor forte e distinta da outra. Os vales eram escarpados, esculpidos, como raízes de uma árvore sem tronco de dimensões descomunais, pelas chuvas e os ventos.<br /><br />Humahuaca e todo o conjunto de desfiladeiros que a compõem são Património Natural da Humanidade, mas infelizmente, as aldeias, que em tempo seriam pitorescas há umas dezenas de anos atrás, não passam hoje, de circos turísticos, onde tudo é caro e muito pouco é verdadeiramente genuíno. A Praça de Purmamarca, onde ficámos quatro dias, era uma amálgama de mantas, camisolas de lã, tapetes e outra parafernália artesanal igual à que havia visto em La Paz e na realidade um pouco por toda a América do Sul, mas a preços inflaccionados Argentinos. Também o artesanato vai sofrendo os impactos da globalização e vêem ligeiros os dias em que não haverá coisas típicas de parte alguma, só os productos que os turistas estereotipam como sendo tradiccionais de determinada parte, mesmo que não sejam.<br /><br /></p><p></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyl9ha1pIl4jwlJUX_S9KLw5E0jeXmBLJLnQuXuqCwsSGOZU5E3sUPXzctki13RErzoVsDOrNDWwitFvlKsgAbzxjDSs-IEMSSLA7wAJgIe7tXp-0E_OgxtG5WhbevhpiRpTK-L4sX2S6f/s1600-h/21+ruas+de+purmamarca.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264560863887222514" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyl9ha1pIl4jwlJUX_S9KLw5E0jeXmBLJLnQuXuqCwsSGOZU5E3sUPXzctki13RErzoVsDOrNDWwitFvlKsgAbzxjDSs-IEMSSLA7wAJgIe7tXp-0E_OgxtG5WhbevhpiRpTK-L4sX2S6f/s320/21+ruas+de+purmamarca.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br />De Purmamarca e das suas montanhas de sete cores, que nunca conseguimos fotografar sem apanhar cabos de electricidade, cabeças de outros turistas ou carros – inquestionavelmente um Património Natural rodeado por elementos muito pouco naturais. Pedalámos uns meros 24 quilómetros subindo para Norte para Tilcara. Tilcara era uma vila que embora vivesse sobretudo do turismo tinha alguma personalidade própria, e as várias lojas não dedicadas ao turismo assim o atestavam, como ferrarias, lojas com artigos de costura e papelarias entre outras. Ficámos no parque de campismo El Jardin à beira do rio, e como precisávamos de internet para actualizar os sites, e havia internet em Tilcara, ao contrario de Purmamarca, ali permanecemos por quase uma semana.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuEerosO97yTb8WNG6we_ERHS9nWpq6U6gSFGh2LTlNmG8NEkjwwF7ubGoJ9dx3KE_Sc76yutU4u9kQzfFukOtwLnKc99hx8lK7K3k3LJt39THSWWxrng04U5PG7LNY-jpyf3nHlaxHIOd/s1600-h/19+as+impressionantes+cores.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264562368192846658" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuEerosO97yTb8WNG6we_ERHS9nWpq6U6gSFGh2LTlNmG8NEkjwwF7ubGoJ9dx3KE_Sc76yutU4u9kQzfFukOtwLnKc99hx8lK7K3k3LJt39THSWWxrng04U5PG7LNY-jpyf3nHlaxHIOd/s320/19+as+impressionantes+cores.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><br />Numa das noites em Tilcara fomos jantar a um restaurante ao lado da praça principal supostamente turístico mas com música ao vivo. A comida foi desapontante e cara, mas o entretenimento valeu pelos 100 e tal pesos argentinos que pagámos. Um homem com traços indígenas, alto de pele morena, olhos grandes, com boa constituição óssea e uma barriga dando a crer que fazia mais no restaurante do que entreter os seus clientes, sentou-se no pequeno palco que havia em frente das mesas e com os seus dedos começou a soltar a música que havia dentro da sua viola. A doçura e profundidade da sua voz faziam-me lembrar o Pedro Barroso, mas as canções que cantava e as histórias que contava faziam parte do rico e vasto património oral desta região. O seu sentido de humor era apurado e entre canções, anedoctas e histórias aprendemos mais sobre a região do que lendo a papelada inútil que nos foi dada no posto de turismo. Aquela zona ainda tem fortes ligações com o seu passado indígena e as suas gentes sentem-se mais conectadas com os seus vizinhos do Norte, os Bolivianos, do que os seus conterrâneos Argentinos. As fronteiras são facas de fio aguçado que cortam a terra sem olhar a ela, mas o que a terra cria pelas suas peculiaridades, sejam animais, plantas, pessoas, montanhas, as fronteiras serão só e sempre uma linha artificial e imaginária, porque este planeta foi feito numa só esfera e é um só.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwZqwqXmWhOEzuRqviX3CDX9mMd7sEXo5ozvKEdUsOFpNrsBoF2G5JcpP1ob5Kv56UVtYHwoWk5i5fwMwQJmfvRvaSUYpjdJGkj5UnjnfA2Oc3ZlncBL7Lo52LY2EgQYYXQqkXLzMLYymt/s1600-h/22+cantigas+em+Tilcara.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264560854430655586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 243px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwZqwqXmWhOEzuRqviX3CDX9mMd7sEXo5ozvKEdUsOFpNrsBoF2G5JcpP1ob5Kv56UVtYHwoWk5i5fwMwQJmfvRvaSUYpjdJGkj5UnjnfA2Oc3ZlncBL7Lo52LY2EgQYYXQqkXLzMLYymt/s320/22+cantigas+em+Tilcara.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisHVeXbqppdWwa9UKd_ItzP6N3LGF4gVK2xkG3jEXq_VT9lMNfvJ3I6_9FkSiTgyWcc4qNFCPvcDc_udxVi8AinrT-rRecoffy-V28TQp6PnLj4zw2CdC9c7qWXOiLuHmJaClolDOvbaNH/s1600-h/23+nos+e+o+ismael+bewart.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264560845471092786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 310px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisHVeXbqppdWwa9UKd_ItzP6N3LGF4gVK2xkG3jEXq_VT9lMNfvJ3I6_9FkSiTgyWcc4qNFCPvcDc_udxVi8AinrT-rRecoffy-V28TQp6PnLj4zw2CdC9c7qWXOiLuHmJaClolDOvbaNH/s320/23+nos+e+o+ismael+bewart.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a><em>O nosso amigo Chileno, que conhecemos em Tilcara no parque de campismo - Ismael Berwart, cozinhou para nós uma deliciosa pasta com vegetais e natas. Depois de vários anos dedicados ao estudo de algo que nao gostava, Psicologia, Ismael decidiu viajar e conhecer a América do Sul. Depois de nos conhecer decidiu que a América Central seria feita em bicicleta. Boas viagens Amigo!</em><br /><br /><strong>Ana e Benjamin – dias em Jujuy com uma família muito especial</strong><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHGa0s7jHqDkvXizlXTlS_LeZmgg9GolbboQdkEy0ZA_yOW_mUgG5tUObpSOMkLIhIKp_fDzCd1NqPpzM6vBtk8UgXQxAxJm3L6Al_v3wGwbfIsLdBEZbrzktlffGhW3bpPk4Q8Aw90L3k/s1600-h/25+ruas+de+jujuy.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264559535227073490" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHGa0s7jHqDkvXizlXTlS_LeZmgg9GolbboQdkEy0ZA_yOW_mUgG5tUObpSOMkLIhIKp_fDzCd1NqPpzM6vBtk8UgXQxAxJm3L6Al_v3wGwbfIsLdBEZbrzktlffGhW3bpPk4Q8Aw90L3k/s320/25+ruas+de+jujuy.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>As ruas de Jujuy</em></p><em></em><p align="justify">Não conseguíamos decidir o que fazer, tínhamos planos para regressar a La Paz, descer a Coroico pela famosa “Carretera de La Muerte”, ir pela selva até Trinidad e construir um barco adaptado às bicicletas descendo o Mamoré, tributário do Amazonas. O problema é que ia ser uma volta muito grande, de certa forma incerta, já que sendo totalmente inexperientes em matérias de navegação de rios, também não conseguíamos obter informação suficiente para concluir se esta empreitada era realmente possível. Acrescentando a este facto, eu tinha que começar a pensar no meu regresso, já que as minhas finanças só suportariam a minha aventura até ao fim do ano. E com todas estas dúvidas uma coisa era certa, nem eu, nem o Nuno estávamos com muita vontade de voltar ao altiplano, o que seria inevitável caso fossemos de novo para La Paz. De qualquer forma, eu tinha que ir a Sucre, tinha o meu cartão Multibanco em casa de uma amiga e necessitava recolhê-lo.<br /><br />E no meio da indecisão de voltar a Norte, subindo por uma estrada onde o vento forte nos aguardava ou descer para Sul e adiar a decisão, fomos até Jujuy, 90 quilómetros a Sul de Tilcara, que nos levou uma tarde em bicicleta porque continuávamos a descer e tínhamos o vento a favor.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSDNxhs3hoL_5qj-1KH62PtVr7m3H4gFb-FpDjKQ5daxUquFZt6B60tzvglVdtXRpY0lRjvAxyCtrBoThpEpaTaIEWCQEv-5-sOfe-BYqGprHzxUEwEjRheWuH0rTqgI_h4Tfvu_wMcZ1H/s1600-h/24+descida+para+jujuy.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264560840942431122" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSDNxhs3hoL_5qj-1KH62PtVr7m3H4gFb-FpDjKQ5daxUquFZt6B60tzvglVdtXRpY0lRjvAxyCtrBoThpEpaTaIEWCQEv-5-sOfe-BYqGprHzxUEwEjRheWuH0rTqgI_h4Tfvu_wMcZ1H/s320/24+descida+para+jujuy.JPG" border="0" /> <p align="justify"></a>Depois de uma subida chegámos, como Benjamin nos havia descrito, à frente de uma casa que tinha um velho Land Rover, a julgar pelo seu estado não teria mais destinos a percorrer. À nossa frente e sobre nós, nos degraus e pátio da casa, cães e cachorros ladravam, cumprindo com as suas funções de guarda. Do fundo da rua gritavam vozes de criança enquanto corriam esbaforidas: “é aqui, é aqui! Não se vão embora, estamos à vossa espera!” Em pouco tempo estávamos rodeados por crianças e cães, que agora nos saltavam para cima, suponho que dando-nos as boas vindas, como fazem os cães, depois de entenderem que vínhamos com boas intenções. Tínhamos encontrado a casa de Ana e do Benjamin, mais uma das tantas casas que acolhem cicloturistas, espalhadas pela America Central.<br /><br /></p><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264557312522167314" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 310px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhryU8ToTmv2lLbJmmVkjX5QuVGMAOQCowIgHM_62QDy88oMLoaqJYP__6AhdbheT3dEfqFdUWlR8mzNPIG5hyphenhyphenyyYlItweVc1Sph5Z4ARN5QJuWCDBP1nnLkJ_DZe7cRumUzbkEtFp3CiUX/s320/ana.JPG" border="0" /></p><p align="center"><em>Ana a nossa simpática anfitria em Jujuy</em></p><p align="justify">A Ana é uma mulher pequena, os seus olhos castanho claros são como luzes e a sua voz é como a de uma criança inocente, na sua boca desenha-se um sorriso fácil sempre coordenado com o brilho do seu olhar. Apesar do cansaço das últimas semanas de trabalho, Ana abriu os braços e deu-me um longo e apertado abraço quando entrei na sua tipografia, onde havíamos combinado encontrar-nos. Senti que já a conhecia, mesmo com as escassas palavras que havíamos trocado. “Benjamin, anda ver quem chegou! São os ciclistas de Portugal!” O ruído das máquinas de impressão parou e do meio delas saiu um homem. As expressões da sua cara denotavam o cansaço dos últimos dias, mas o calor que vinha das suas palavras e a genuína alegria que transmitiu quando nos viu quebraram de imediato a distância que pudesse haver entre nós. Ana e Benjamim explicaram-nos que estavam num período com muito trabalho, Benjamim tinha sido convidado para ir a Buenos Aires a um festival de teatro e mímica, e tinham que terminar uma empreitada na tipografia antes da sua partida. Há cerca de 20 anos atrás Benjamim percorreu a América do Sul com uma bicicleta carregada com mais de 100 kilos, de apetrechos para fazer rir e emocionar as audiências transeuntes das Américas. Um homem talentoso que construía os seus próprios instrumentos e os tocava, vários ao mesmo tempo, fazia também malabarismos, mímica e teatro. Ana e Benjamin são o tipo de pessoas que parecem abraçar o mundo e os seres que nele vivem, a sua família é composta por sete crianças, muitos cães e todos os viajantes do mundo que passam por Jujuy em duas rodas. Despedimo-nos depois de nos darem indicações de como encontrar a sua casa, onde ficaríamos por uns dias.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigKhwTm3d_6hRaXa0jwCt62YH-1bgCBWDg432FyBzRmopnJ1_bKvQUyzGgQ49EG268xsH7UptkLJeYpUc6Ep53saTe8e8_URB6Z4yHvzsSkmtPNfa3_QnLezJ-urr8qs5Tx_Bc_i2AotR5/s1600-h/velha+foto+de+benjamim+como+mimo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264587375243063906" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 219px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigKhwTm3d_6hRaXa0jwCt62YH-1bgCBWDg432FyBzRmopnJ1_bKvQUyzGgQ49EG268xsH7UptkLJeYpUc6Ep53saTe8e8_URB6Z4yHvzsSkmtPNfa3_QnLezJ-urr8qs5Tx_Bc_i2AotR5/s320/velha+foto+de+benjamim+como+mimo.JPG" border="0" /></a><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMaN2OSuHUWKaePS3LfdUNJaL5eiwWh7rs9NYyQX7p4HjczcGmvJCs1AUBBzp0-PkQErDNKvZPclVBbgvdruYAq0igcV8Fk96gyGGfeSH76gqFpDG8E-t6BF2B8zDLU2TO4zd20vJsDYOx/s1600-h/benjamin.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264555600669984706" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMaN2OSuHUWKaePS3LfdUNJaL5eiwWh7rs9NYyQX7p4HjczcGmvJCs1AUBBzp0-PkQErDNKvZPclVBbgvdruYAq0igcV8Fk96gyGGfeSH76gqFpDG8E-t6BF2B8zDLU2TO4zd20vJsDYOx/s320/benjamin.JPG" border="0" /></a><em>O Benjamin</em> </div><div align="center"> </div><div align="justify"><br />Na pequena casa de Ana e Benjamin estavam, para além das sete crianças e dos muitos cães, dois cicloturistas, O Anthony da França e o Filipe do México. Este par improvável viu-se forçado a uma estadia em Jujuy mais longa do que a desejada: umas semanas antes tinham-se conhecido na estrada a caminho de Jujuy e tinham combinado ir fazer um passeio pela selva da Argentina, que acabou mal quando o Felipe caiu da parede rochosa que escalava partindo os dois pulsos. Via-se agora impossibilitado de seguir a sua viagem rumo ao México (havia começado em Ushuaya) e o Anthony, sentido-se responsável pelo o ocorrido, uma vez que tinha insistido no passeio. E era de facto uma história bizarra, de uma convivência íntima forçada e inevitável; com os dois pulsos partidos e com gesso até quase ao ombro, o Felipe tinha os braços incapacitados e era-lhe impossível fazer as coisas mais básicas como ir à casa de banho e comer, e o Anthony era agora obrigado a efectuar funções de enfermeiro e dar de comer, banho e ajudar o Felipe a fazer as suas necessidades. Eram de facto um duo pouco usual, o Anthony, um mochileiro nos seus vinte e tal anos de vida, que se havia tornado cicloturista há pouco tempo, tinha comprado uma bicicleta em segunda mão no Paraguai e adaptado umas mochilas de criança que vinham ainda com rodinhas ao suporte da sua bicicleta. O Felipe tinha mais já de cinquenta anos, casado e com netos, viajava pela a America do Sul, concretizando um sonho e aproveitando o tempo livre da sua reforma. A sua bicicleta estava bem equipada com peças adequadas à sua aventura. Mas eram um par simpático e no final partilhamos umas boas gargalhadas da caricata situação. </div><div align="justify"><br /><br /> </div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG3hY-1j2OC6eK7BXuiSUf_XeGpQoY4Wo6g2tGgfsJ_0o1zVbpUVd0jQu9IkNGS-zRPey0aoQNY5hG00_oBTxvb74dDDq40S0xxYixlX26JDS9cpc7L_-TGb1lE8upQ3-_lboVhnPeppUa/s1600-h/felipe+e+um+dos+putos.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264587382985024546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 309px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG3hY-1j2OC6eK7BXuiSUf_XeGpQoY4Wo6g2tGgfsJ_0o1zVbpUVd0jQu9IkNGS-zRPey0aoQNY5hG00_oBTxvb74dDDq40S0xxYixlX26JDS9cpc7L_-TGb1lE8upQ3-_lboVhnPeppUa/s320/felipe+e+um+dos+putos.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>O Felipe </em><br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja2vMHET3TN1lZEi0ai788GJRZ8CiBp4N7nOeh1IMhi-G8AfW2D9YxmDV9tGjmCJprGyUV8_lePNe-z6yjrsrK3kpchEuASB4j5YpdqQ7QEWJpyUgpfumOaKq3wKXavH7o9Xr4a4_HvmUm/s1600-h/anthony.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264555607374487890" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja2vMHET3TN1lZEi0ai788GJRZ8CiBp4N7nOeh1IMhi-G8AfW2D9YxmDV9tGjmCJprGyUV8_lePNe-z6yjrsrK3kpchEuASB4j5YpdqQ7QEWJpyUgpfumOaKq3wKXavH7o9Xr4a4_HvmUm/s320/anthony.JPG" border="0" /> <p align="center"></a><em>O Anthony</em></p><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify">Os planos mudavam, mais uma vez, um dia antes da partida. Não queria fazer as estradas da Argentina. O meu instinto dizia-me que as bermas permaneceriam ausentes e o tráfico de camiões, continuaria pesado, agravando o facto de que a paisagem, depois de termos descido as montanhas, haver perdido todo e qualquer interesse. Ia seguir de autocarro de novo para as montanhas, de volta à Bolívia em direcção a Sucre. O Nuno seguiria na sua burra, rumo a Santa Cruz.<br /><br />Fizémos um jantar de despedida em Jujuy na casa da Ana e do Benjamin, cozinhámos um esparguete colorido e preparámos uma salada de frutas. A mesa estava cheia, rodeada por amigos. As crianças davam uma energia alegre à casa, o Felipe contava as suas histórias sobre os mal entendidos verbais, que também existem por toda a América Latina, alguns bem curiosos por sinal e o Benjamin tocava as flautas que ele próprio havia feito com pasta de papel ao mesmo tempo que da sua guitarra saiam sons de músicas latinas e andinas. Olhei para a Ana e trocámos um olhar cúmplice. Existem no mundo pessoas muito especiais, que me fazem sentir privilegiada por ter a sorte de as conhecer, e esta família é sem dúvida um exemplo de bondade, alegria e espírito de partilha pouco comum nos dias que correm. As portas da sua casa e os seus braços parecem estar permanentemente abertos para receber e fazer da sua casa um lar para estranhos e viajantes que depois se transformam em amigos.<br /><br /></div><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg41eObOhRn5lo6HwS4gj69Va8a8uWotechhHSJD3os0sXyMB71_yRZab5nfpuvpwfwuBmxMCQ_qqJiKEoLJBtdIwXteogmykdxpkVqk6QIs9ieEbx6f0YKoLv8iiegxAm-CyCc67tSA824/s1600-h/nos+e+as+criancas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264557316999678434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg41eObOhRn5lo6HwS4gj69Va8a8uWotechhHSJD3os0sXyMB71_yRZab5nfpuvpwfwuBmxMCQ_qqJiKEoLJBtdIwXteogmykdxpkVqk6QIs9ieEbx6f0YKoLv8iiegxAm-CyCc67tSA824/s320/nos+e+as+criancas.jpg" border="0" /></a><em> Com a família Torrejon</em></p><p align="justify"><br /><br />Nas próximas aventuras falarei dos meus dias sentindo na pele as consequências da situação instável na Bolívia e as pedaladas pelas terras baixas onde os missionários deixaram há<br />séculos passados um legado ainda hoje vivo.<br /><br />E o Nuno tem também uma nova história e fotos no seu site em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">www.ontheroad.eu.com</a></p>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-12232616562027803122008-07-15T13:41:00.000-07:002008-10-08T08:06:09.904-07:00Bolívia, de Uyuni à Laguna Verde - relatos dos dias mais fantásticos da viagem, parte II<div align="justify">Estive 10 dias sem tomar banho, não talvez tenham sido 11. Chego a Uyuni sentindo-me algo abaixo da minha condição humana, o uso diário de toalhetes provou ser insuficiente para estabelecer um grau mais aceitável de limpeza pessoal. Ficámos alojados no Hotel Avenida já que aí se encontrava o António Queirós, aventureiro Português a percorrer o continente Americano na sua moto. Inspeccionei com todo o cuidado os chuveiros compartidos que aí havia, pareceram-me aceitáveis; para alguém que quase esquecia o significado da palavra duche, umas gotas de água semi aquecida a jorrarem pela cabeça de um aparelho eléctrico que invariavelmente dava choques, pareceram razoáveis, mas seria por pouco tempo, já que com confortos adquiridos rapidamente nos tornamos selectivos, e a pouca pressão da água, a incapacidade do dito aparelho em efectuar eficientemente as suas funções, adicionados ao passeio pelo pátio frio do hotel para chegar aos duches tornaram a tarefa de me duchar fastidiosa.<br /><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRlaOErOBU5Lce66-KKKnRd90wIMjvHh5oLC1rNt4xyFZ4lICYDlq72a32y0FadaiMUo_5ZFl064BluUsMuZuF60msEpmH9XXGTUOGYdAvGObHKfHnsP9jP24KRcP5xb8AJsJpU7ZlivZw/s1600-h/0+chuveiro+electrico.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253317312177221826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRlaOErOBU5Lce66-KKKnRd90wIMjvHh5oLC1rNt4xyFZ4lICYDlq72a32y0FadaiMUo_5ZFl064BluUsMuZuF60msEpmH9XXGTUOGYdAvGObHKfHnsP9jP24KRcP5xb8AJsJpU7ZlivZw/s320/0+chuveiro+electrico.jpg" border="0" /><br /><p align="center"></a></p><em>Um dos assustadores chuveiros eléctricos</em><br /><p></p><br /><p align="justify">Além disso, nesta parte da Bolívia era a época mais fria do ano (Junho), e alojamento com aquecimento não só é difícil de encontrar como, quando existente, se paga a preço de ouro - o meu orçamento não tolerava tal extravagância de forma que não tive alternativa se não dormir vestida e embrulhada a um cobertor adiccionado a toda a roupa que já existia na cama. O Hotel Avenida ficou marcado nos anais da minha memória como o hotel mais frio em que alguma vez pernoitei (é quase anedótico contar que uma noite registámos 6 graus debaixo dos lençóis e de como os líquidos congelavam mesmo dentro do quarto).<br /><br />Vestida com as últimas peças de roupa que tinha lavadas e com uma fome descomunal fomos, eu o Nuno e o Antuco - o António, em busca das especialidades gastronómicas de Uyuni que infelizmente eram parcas e caras. Uyuni, a 3670 metros com 15.600 habitantes, é um local algo estranho. Capital de província, foi em tempos um centro mineiro de grande importância nas primeiras décadas do século XX, onde chegaram aventureiros ambiciosos em busca de riquezas. A flutuação no preço dos minerais foram reduzindo a exploração mineira e a importância da cidade. Agora é uma urbe poeirenta e desolada, porta de entrada dos milhares de mochileiros que aí chegam em busca de um tour que os leve ao Salar de Uyuni e às lagunas do Altiplano.<br /><br /></p><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmpc57V9PFLMwv2-bgbTiwLs0hTLeN9J7cM4CygnzTry9JnB4JMDjzsoR_k9Wy6u-hUFd7kxFxB-0_gEms__C1WGjF4MX-tg97zMU1D2o6xMSgh4f5OuNvHrvrIOC6h1CUnDudZdyLQhiT/s1600-h/4+uyuni+cidade.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253315369048357250" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmpc57V9PFLMwv2-bgbTiwLs0hTLeN9J7cM4CygnzTry9JnB4JMDjzsoR_k9Wy6u-hUFd7kxFxB-0_gEms__C1WGjF4MX-tg97zMU1D2o6xMSgh4f5OuNvHrvrIOC6h1CUnDudZdyLQhiT/s320/4+uyuni+cidade.jpg" border="0" /></a><br />Existem cerca de 80 agências de viagem como consequência desta procura. No seu centro há uma praça, uma estação de comboios, existem também alguns mercados e um cemitério de locomotivas onde se podem tirar fotos interessantes e deambular imaginando os tempos idos do auge ferroviário e as histórias que contam aquelas máquinas agora ferrugentas e silenciosas.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ONlZXvm2hYJshjGONi4G3UQ3hvu7F9is65RDIJuU-zHNcfsMV2u-BQn_j8MqbxK0o_wkAM9MK2PwQJwVBZ1t3WRmL634d1UaeLQNPC0TQhAv25SXUNB7h98qirWZ8r4EN0Ul6bFrkzeF/s1600-h/3+uyuni+tours+joana.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253315366846305266" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ONlZXvm2hYJshjGONi4G3UQ3hvu7F9is65RDIJuU-zHNcfsMV2u-BQn_j8MqbxK0o_wkAM9MK2PwQJwVBZ1t3WRmL634d1UaeLQNPC0TQhAv25SXUNB7h98qirWZ8r4EN0Ul6bFrkzeF/s320/3+uyuni+tours+joana.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgn_YYRuvf50sVf0QxRRvhHmJxHATVtr6wmJlESFgnqW-LnxEtcnAKyj_Qn94z_8_LHnjGWMKRGKEkovXJh36JGOxcGg3O8ag-VPaEdpCYe_O9sYI_x4p4ArRJziEql8b8kFcQUC2xdnk0/s1600-h/2+joana+e+nuno+cemiterio+de+comboios.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253315363731932562" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgn_YYRuvf50sVf0QxRRvhHmJxHATVtr6wmJlESFgnqW-LnxEtcnAKyj_Qn94z_8_LHnjGWMKRGKEkovXJh36JGOxcGg3O8ag-VPaEdpCYe_O9sYI_x4p4ArRJziEql8b8kFcQUC2xdnk0/s320/2+joana+e+nuno+cemiterio+de+comboios.jpg" border="0" /></a> Na Bolívia, e um pouco por todo o altiplano, celebra-se a noite de São João no dia 21de Junho, mas ao contrário de Portugal, essa noite é considerada a noite mais fria do ano. As fogueiras ou fogatas, iluminavam, aqueciam e ardiam em todas as ruas como estrelas de um céu virado ao contrário. Em redor dessas fogueiras iam-se juntando famílias, amigos e vizinhos que aproveitavam as celebraçoes pra enganar o frio. Nós juntamo-nos a um grupo de jovens à volta da sua fogata ao lado do nosso hotel, trabalhavam para diferentes companhias de viagem e, apesar de não sermos potenciais clientes, acolheram-nos de braços abertos, deram-nos informação valiosa sobre a etapa que queríamos fazer nos próximos dias, partilharam a sua garrafa de Singani (aguardente nacional Boliviana) e levaram-nos para um final de noite surreal (daquilo que posso recordar) num barracão que servia de discoteca ás centenas de locais que dançavam ao som de cumbias cantadas ao vivo e bebendo copiosas quantidades de álcool. A coisa era tão bizarra que as bebidas não se compravam aos copos mas sim ás grades, cada um oferecia ao grupo não uma rodada de cervejas, mas sim uma grade de cervejas, a dada altura tínhamos pelo menos umas três grades à nossa frente, e nem bem começávamos a beber uma garrafa, já nos punham outra na mão, a técnica para enfrentar aquele exagero alcoólico era beber deixando escorrer a cerveja pelo queixo abaixo e não pela garganta dentro. Éramos os únicos gringos naquela festa e foi bom ver a outra faceta de uma cidade que vive sobretudo dos turistas. E não vale tao pouco a pena descrever o estado das nossas cabeças no dia seguinte.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtOLjZ1mHY4MAFwBWeqRDSkJ8JXjhvTxVOLAmo9y4MpLu6DC1eEiM0KgEFb4IM7_kf8sU2sW06URuda9HTE5raYfKiDFWooPBmpHucIf_WTyuGGQs_12UtlcjqYoUVTeQCBJo2cYkIhQH2/s1600-h/6+noite+de+san+jhuan.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253319125727748722" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtOLjZ1mHY4MAFwBWeqRDSkJ8JXjhvTxVOLAmo9y4MpLu6DC1eEiM0KgEFb4IM7_kf8sU2sW06URuda9HTE5raYfKiDFWooPBmpHucIf_WTyuGGQs_12UtlcjqYoUVTeQCBJo2cYkIhQH2/s320/6+noite+de+san+jhuan.JPG" border="0" /></a>Os dias em Uyuni decorreram lentos e preguiçosos, foram 10 dias passados a actualizar sites e na tertúlia com o Antuco, bom vivâ, nortenho de olhos azuis doces, que decidiu aproveitar a sua reforma antecipada para percorrer o mundo na sua moto.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-GjZef16HrEMgh2kXyfrpSICp8a4XG9qM5NFsu_FAO1-SAIrkcoGY6K2TGNTlZy9xqv5CYlP53GKddb6ekfn4cc0KiT1uncYU81ir8msNW7u6LKBaxzGnzOE2pSXEVb8Jpz3G73KzpIQC/s1600-h/1+ANTUCO.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253315363192601602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-GjZef16HrEMgh2kXyfrpSICp8a4XG9qM5NFsu_FAO1-SAIrkcoGY6K2TGNTlZy9xqv5CYlP53GKddb6ekfn4cc0KiT1uncYU81ir8msNW7u6LKBaxzGnzOE2pSXEVb8Jpz3G73KzpIQC/s320/1+ANTUCO.jpg" border="0" /></a>Penso que os nossos corpos precisavam de descanso e, sobretudo, de preparação mental para a próxima etapa que se antecipava dura e longa. Ao fim desses dias despedimo-nos do nosso amigo Antuco, e dos seus companheiros de etapa, uma família de alemães a viajar num camião da polícia, um Mercedes convertido em casa ambulante, e Carola, uma motociclista também alemã a viajar sozinha pelo continente Americano. Seguimos rumo ao Sudoeste Boliviano ao ritmo das nossas pedaladas, consideravelmente mais lentas.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimCllQglvn4kvxrqw3i0FAdwyqnLs3tEQRzBvQvy4vzjVLWpZm7mmS4vqOOi_shSBXj9KxgEyCYkly5SGyVB4ZIsycnliTD3j0oOy_n6tThLhpRlb6g6guNCWUNW_OyBnX8_G99kpA53lR/s1600-h/5+nos+e+o+antuco.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253315368534875954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimCllQglvn4kvxrqw3i0FAdwyqnLs3tEQRzBvQvy4vzjVLWpZm7mmS4vqOOi_shSBXj9KxgEyCYkly5SGyVB4ZIsycnliTD3j0oOy_n6tThLhpRlb6g6guNCWUNW_OyBnX8_G99kpA53lR/s320/5+nos+e+o+antuco.jpg" border="0" /></a><br /><strong>De Uyuni a Quetena Chico – a aventura continua</strong> </p><br /><p align="justify"><br /></p><br /><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHA5lGJp34w6tauLpe6NPk-FFlS7At8Dqry5QrOhreYBZR0BmBjj2rOw5H6UmYBEN1S8J2DO20uF917YP4bo1koaCgt8WqCCeBR0VKSKuwBPM5TcIa6_ygh2H_4r2ta-yzNYtF9GRx-9O_/s1600-h/1+Joana+e+Nuno+saida+Uyuni.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253317314065667106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHA5lGJp34w6tauLpe6NPk-FFlS7At8Dqry5QrOhreYBZR0BmBjj2rOw5H6UmYBEN1S8J2DO20uF917YP4bo1koaCgt8WqCCeBR0VKSKuwBPM5TcIa6_ygh2H_4r2ta-yzNYtF9GRx-9O_/s320/1+Joana+e+Nuno+saida+Uyuni.JPG" border="0" /></a> <em>Eu e o Nuno prontos para começar mais uma etapa da nossa grande aventura</em> </p><br /><p align="justify">Tivémos, uma vez mais, alguma dificuldade em encontrar gasolina para o MSR (fogão) e saímos tarde de Uyuni rumo a San Cristobal, a primeira aldeia do nosso percurso. A estrada, apesar de ser de terra batida, não apresentava grandes desníveis, e os lavadouros (efeito da erosão provocada sobretudo pelas grandes velocidades a que se deslocam os veículos todo terreno, comum nas estradas Bolivianas) eram suportáveis. Almoçámos pela última vez na borda do Salar de Uyuni, que contornamos nos primeiros quilómetros, e seguimos altiplano dentro. A paisagem à nossa volta era seca, a vegetação rasteira resistia estoicamente as investidas do vento. Acampamos na primeira noite, depois de 49 quilómetros percorridos, no meio das estrelas, da areia, do frio, do silêncio, da desolação. Esta paisagem não foi feita para ser habitada por seres humanos porque é demasiado hostil. Aqui não existem aspectos supérfluos, tudo é escasso, menos a vastidão e a dimensão. Chegámos ao fim do segundo dia, depois de pedalarmos cerca de 51 quilómetros até San Cristobal, aldeia que foi trasladada por completo incluindo a igreja jesuítica do século XVII. Nas profundezas desta aldeia foi descoberto um filão de prata e chumbo, que segundo estudos é o maior de toda a América e um dos maiores do mundo. Uma corporação multinacional canadiano-japonesa, em troca da exploração e criação desta mina, ofereceu ás populações locais não só postos de trabalho mas também um plano teoreticamente sustentável para o aproveitamento dos recursos turísticos criando o que denominaram de “Pueblos Autênticos”, num processo de revitalizaçao das aldeias circundantes já que delas provem grande parte da mão de obra necessária para a exploração da mina.<br /></p><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAtAPb1ElWRWUjgZYnSbvnibIcNsGwec_VWpCmwdy4CUK5eUxqdJboqDgK6T2hT1LQdtVmiD6nAbU6ZCBeco-H_yjIDp6OshUojqfpXGTeWYknK9hup0V6bWDWlhNTDI_O68_6v9b-hfEU/s1600-h/2+a+joana+pueblos+autenticos.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253033682293308290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAtAPb1ElWRWUjgZYnSbvnibIcNsGwec_VWpCmwdy4CUK5eUxqdJboqDgK6T2hT1LQdtVmiD6nAbU6ZCBeco-H_yjIDp6OshUojqfpXGTeWYknK9hup0V6bWDWlhNTDI_O68_6v9b-hfEU/s320/2+a+joana+pueblos+autenticos.jpg" border="0" /></a> <em>Sinalizaçao para os "Pueblos Autênticos", é interessante comentar que sinais de estrada sao raros em toda a Bolívia.</em></p><br /><p align="justify">Prevê-se que dentro de 16 anos se limitem os recursos da mina e pretende-se dotar estas aldeias com infra-estruturas que permitam aos locais explorar os potenciais turísticos da região. Do ponto de vista humano esta mina é a luz no fim de um túnel escuro que ilumina as vidas das gentes do altiplano Boliviano. Porque do seu solo é pouco o alimento que podem extrair. Esta companhia proporciona-lhes um salário e condições de trabalho dignas. Contudo o impacto ambiental é grande, e é difícil calcular a contaminação que esta mina a céu aberto vai causar no futuro, a um ecossistema que enfrentando a dureza do que a rodeia e também tão frágil sob a acção humana. Suponho que o tempo o dirá.<br /></p><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLYMEyHcqPPoFJHME-pjVCnv01XG3MdqyDD7y2jLEYDVxkr26TtcKDLB4BY89BCfGCUQK4KHr4x7BVLLf0QmmjxkhCGn3-Dr7sT7BkSiC_aKDAmShDRtNqH0XCc00PwIXQ4ad1BwtyFiV_/s1600-h/2+Igreja+de+San+Cristobal.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253033681566223330" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLYMEyHcqPPoFJHME-pjVCnv01XG3MdqyDD7y2jLEYDVxkr26TtcKDLB4BY89BCfGCUQK4KHr4x7BVLLf0QmmjxkhCGn3-Dr7sT7BkSiC_aKDAmShDRtNqH0XCc00PwIXQ4ad1BwtyFiV_/s320/2+Igreja+de+San+Cristobal.JPG" border="0" /></a> <em>A igreja Jesuíta de San Cristobal que foi trasladada e completamente restaurada</em><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGL1a56CQyo2bo_w68aJn3AnD9fj6KYjXQ4EnK9EEg4T0-v_SHWwRPp_H-UpdlLREjs1eCcJ_M0422igIhfVNUXhaetpxEaMLr2HL73Js8Ip6PfVAq8zniKpGbD53PUMa8HwSjwKyP1_62/s1600-h/3+b+joana+em+kulpina+k.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253033689072979650" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGL1a56CQyo2bo_w68aJn3AnD9fj6KYjXQ4EnK9EEg4T0-v_SHWwRPp_H-UpdlLREjs1eCcJ_M0422igIhfVNUXhaetpxEaMLr2HL73Js8Ip6PfVAq8zniKpGbD53PUMa8HwSjwKyP1_62/s320/3+b+joana+em+kulpina+k.jpg" border="0" /></a> <em>Kulpina K, mais um dos "Pueblos Autênticos" e as suas casas pintadas com cores berrantes como o amarelo, o bordeaux, o azul celeste</em><br /><br />Passámos em rota pelos denominados “Pueblos Autênticos”, que são quatro: Villa Villa, San Cristobal, Kulpina K e Villa Alota. Na realidade não me pareceram muito autênticos, porque a autenticidade do altiplano é pobre e desolada feita de fachadas de adobe por pintar e ruas de pó e lixo. Nestas aldeias vimos casas arranjadas, pintadas com cores, certamente nunca antes vistas em nenhuma outra aldeia altiplanica, caixotes de lixo e nomes nas ruas. Pernoitamos em Villa Alota, o último “Pueblo Autêntico” e seguimos rumo a Villa Mar ou Mallku, como era originalmente conhecida.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj68JVNAcNMe9vs7s5MIPtYDyIDfh-MRfn3mxeH6fCecNd4Jeiqsw-pLss32bIJOPKK3vNZQscD7IVp_y9W58pnR7SEQvTQoNS2rB8l-u3kXF2gis_yPmTv3bbtE_mQy_6FI-aEVXAqZMa8/s1600-h/5+a+atravessar+rio+antes+do+vale+das+rocas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253035203260650178" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj68JVNAcNMe9vs7s5MIPtYDyIDfh-MRfn3mxeH6fCecNd4Jeiqsw-pLss32bIJOPKK3vNZQscD7IVp_y9W58pnR7SEQvTQoNS2rB8l-u3kXF2gis_yPmTv3bbtE_mQy_6FI-aEVXAqZMa8/s320/5+a+atravessar+rio+antes+do+vale+das+rocas.jpg" border="0" /></a> <em>Atravessando um pequeno riacho numa ponte peatonal feita de pedras, à saida de Villa Alota</em></p><br /><br /><p align="justify">Segundo a informação que recolhemos era a partir daqui o altiplano começava a revelar as suas peculiaridades paisagísticas. Subimos a nossa primeira montanha de forma lenta devido ao estado arenoso em que se encontrava a estrada, as calaminas (ou lavadouros) apareceram de novo. Começam a passar por nós os todo terreno dos tours, dentro deles os turistas surpreendidos que nos olhavam como se fossemos uma formação bizarra da paisagem, e deixando atrás de si uma nuvem de poeira que éramos obrigados a respirar.<br /><br /></p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW7YlY-QgTW_1jZDB-pbStGmlyyJj6LfWgoO9OXy1w8HOb9Ni8yMQPJHcEPVJSkq2OljM8KMJvmFUxogIYSnBv9XtpFQHUVdLGlELYbBjxzTYF5qjaPwpDjdU6XL889nyyevzcB_7IpNWZ/s1600-h/4+primeiro+avistamento+das+formacoes+rochosas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253035198667965698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW7YlY-QgTW_1jZDB-pbStGmlyyJj6LfWgoO9OXy1w8HOb9Ni8yMQPJHcEPVJSkq2OljM8KMJvmFUxogIYSnBv9XtpFQHUVdLGlELYbBjxzTYF5qjaPwpDjdU6XL889nyyevzcB_7IpNWZ/s320/4+primeiro+avistamento+das+formacoes+rochosas.JPG" border="0" /></a> <em>A fantástica e irreal paisagem altiplânica e as primeiras formaçoes rochosasa contrastar com o recorte suave das montanhas circundantes.</em></p><br /><br /><p align="justify">Não os invejo. Se pedalar nestas paisagens é algo extremo que desafia o teu corpo e a tua determinação, ver o mundo a passar através de uma janela, sem o poder tocar ou sentir, prisioneiro dos horários e dos arranjos do tour que compraste, é algo que não me alicia minimamente, não gosto de me sentir parte da manada, sempre tive a alma um pouco rebelde.<br /><br /></p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4-ce4zmJrdoks_eZp1bHvVDqtGPMiIMXt0M82jsMRtrYlbD9fKeFaDJRjV5j4X9vDBRsK0UrdSzK5O0edW4kKAPGBVmRU7Yncq6xwWLH8By0yLmNsy72ox5pvgDlnxNf_2djTKfykDsoA/s1600-h/5+a+poeira+dos+todo+terreno.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253035204056099490" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4-ce4zmJrdoks_eZp1bHvVDqtGPMiIMXt0M82jsMRtrYlbD9fKeFaDJRjV5j4X9vDBRsK0UrdSzK5O0edW4kKAPGBVmRU7Yncq6xwWLH8By0yLmNsy72ox5pvgDlnxNf_2djTKfykDsoA/s320/5+a+poeira+dos+todo+terreno.jpg" border="0" /></a> <em>Poeira e calaminas - a grande contribuiçao dos veículos todo terreno à nossa já dura aventura no altiplano</em><br /></p><br /><br /><p align="justify">No cimo da montanha que subimos até aos 4117 metros começam a delinear-se as silhuetas de formações rochosas que dão textura ás encostas lisas e suaves das montanhas do altiplano. Parecem camadas de lava expostas a condições extremas climáticas, mas na realidade desconheço os processos que terão dado origem a estes gigantes silenciosos.<br /><br /></p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhusUREIxSwn2Aae_CfVb_U7BYSAQXUBXdXb2HkizjxYMfTqOtKPMoyKxthG-dM0f5eaS6NdQDFUXAbDvq2K5WWG_Rkd3sZeSceQ9-SdDniz8sOGWs8GYm1w1qQFsaTqJRSwWKatgSYJtGP/s1600-h/7+joana+cima+da+rocha+e+marina.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253035206224053122" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhusUREIxSwn2Aae_CfVb_U7BYSAQXUBXdXb2HkizjxYMfTqOtKPMoyKxthG-dM0f5eaS6NdQDFUXAbDvq2K5WWG_Rkd3sZeSceQ9-SdDniz8sOGWs8GYm1w1qQFsaTqJRSwWKatgSYJtGP/s320/7+joana+cima+da+rocha+e+marina.JPG" border="0" /></a> <em>Pausa para almoço e para desfrutar as vistas sobre uma rocha de forma estranha, das milhares que nos acompanharam durante esta etapa</em><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Ug3vADxZbrCyPULFWhswBJLqC4yZ9veoSFJUn4VSM_rPzjRVTGsbzDSzmQlrq4tav4FqNYKEoM8R_LQ_sjWrb82xwywxsnHEy80senpUwhqMu1JGlK1rc2Qk8MP3mx_XJ3F4Lqb6-bUy/s1600-h/9+nuno+vale+das+rochas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253037137822226674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1Ug3vADxZbrCyPULFWhswBJLqC4yZ9veoSFJUn4VSM_rPzjRVTGsbzDSzmQlrq4tav4FqNYKEoM8R_LQ_sjWrb82xwywxsnHEy80senpUwhqMu1JGlK1rc2Qk8MP3mx_XJ3F4Lqb6-bUy/s320/9+nuno+vale+das+rochas.JPG" border="0" /></a> <em>Formaçao rochosa no "Valle de las Rocas"</em></p><br /><br /><p align="justify">Entrámos numa espécie de vale, que é conhecido como “Valle de las Rocas”, e o que vi era tão surpreendente que foi difícil acreditar que fosse real: rochas altas erguendo-se aos céus, recortadas em formas bizarras, os seus tons castanho avermelhados e amarelados contrastando com o azul do céu e a luz do sol que baixava para iluminar a outra metade do globo terrestre. As sombras moviam-se lentas no chão arenoso como se fossem as almas destas pedras que parecia que se moviam à medida que o sol se ía. Nessa noite, depois de caminharmos aquele vale com as máquinas fotográficas tentando captar a magia daquele lugar, acampámos, protegidos do vento, entre estas rochas milenares e fizémos uma fogueira. O seu calor permitiu-nos olhar as estrelas e sentir a magia nocturna e fria daquele lugar.</p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2fSAc3OlvlEQJ9TbgejOMAV6lO3xLS3ef7kle0y0wRz8OTwIlVSfNpzxEIb7Al6ylnbyTAI13fMz-tIprtKU60iNmSC0EqzzWmMBNd6DCqCDdwUIGxMk3bqNPr0rNPJekWya8zdtutTsf/s1600-h/9+a+acampamnto+vale+das+rocas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253037137600084370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2fSAc3OlvlEQJ9TbgejOMAV6lO3xLS3ef7kle0y0wRz8OTwIlVSfNpzxEIb7Al6ylnbyTAI13fMz-tIprtKU60iNmSC0EqzzWmMBNd6DCqCDdwUIGxMk3bqNPr0rNPJekWya8zdtutTsf/s320/9+a+acampamnto+vale+das+rocas.jpg" border="0" /></a> <em>Acampamento no "Valle de las Rocas", protegidos por uma parede de pedras e aquecidos por uma fogueira</em></p><br /><br /><p align="justify">O vento silvava e o frio mantia os sentidos despertos. O ser humano tem uma capacidade criativa surpreendente mas a linguagem da natureza, para os que têm o privilégio de chegar aos poucos lugares onde esta ainda não foi alterada, é surpreendentemente mais bonita e mais real do que qualquer coisa criada pelo homem.<br /><br /></p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHGUTrIZENFiRJzUsvHAmUGK20Twx-JPubhHJrw6BF3599biwhrm09KkdwuiGvFz6RbZ5Q3B1gKZUCWkb59Trr8VqTbP-jRBd1qNcFFIzlpoOVy5-Yg37kRctHkJyWx-JZ47OYJOawtTPj/s1600-h/6+a+joana+chegada+ao+vale+das+rocas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253035207765800530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHGUTrIZENFiRJzUsvHAmUGK20Twx-JPubhHJrw6BF3599biwhrm09KkdwuiGvFz6RbZ5Q3B1gKZUCWkb59Trr8VqTbP-jRBd1qNcFFIzlpoOVy5-Yg37kRctHkJyWx-JZ47OYJOawtTPj/s320/6+a+joana+chegada+ao+vale+das+rocas.jpg" border="0" /></a><em> No " Valle de las Rocas"</em></p><br /><br /><p align="justify">Chegámos a Villa Mar já de tarde, havia um ribeiro de águas cristalinas de margens congeladas. À entrada da aldeia, as poucas casas deste povoado estavam abrigadas por uma parede de rochas, continuação das formações que havíamos visto no dia anterior e que fizeram parte do cenário por onde havíamos pedalado todo o dia. Mallku é o nome original desta povoação mas quando a Bolivia perdeu o mar na Guerra do Pacifico mudaram o nome no saudosismo do mar perdido. </p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMOOAda1jTeNutChKM1WuujTTViJ5CYVmnp8nIbVBrVOviedqqH7nnVoP5Qu6O4-jpXmEH-vcl5Hy9chslL5WjvqAyEPAhmuNeafQ8xjzsZ4t6GJKkI015fXNg8BZ4ayjUCnvLPVnM84Xg/s1600-h/10+chegada+a+villa+mar.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253037139897558498" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMOOAda1jTeNutChKM1WuujTTViJ5CYVmnp8nIbVBrVOviedqqH7nnVoP5Qu6O4-jpXmEH-vcl5Hy9chslL5WjvqAyEPAhmuNeafQ8xjzsZ4t6GJKkI015fXNg8BZ4ayjUCnvLPVnM84Xg/s320/10+chegada+a+villa+mar.JPG" border="0" /></a> <em>Chegada a Villa Mar, ou Mallku como é originalmente conhecida</em></p><br /><br /><p align="justify">Ficámos alojados numa pequena residencial à saída da aldeia perto do campo de futebol, a dona era uma cholita com duas filhas simpáticas e curiosas. Na manha seguinte olho pela janela do quarto e observo duas crianças brincando com um cachorrito pequeno e negro, despreocupadas e inocentes, capto com os meus olhos e memória aquele momento de pura simplicidade e sinto-me feliz por de alguma forma fazer parte dela.<br /><br /></p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3EiSOtxZhW7Vw1-EIUxqR4qhCnJq_w4C1Lrlxfpdaeqqwj5oESydK0YNlj5eH05q0bGP0vugZy-mofcPi5-8HuXl_QdGJ1GJ6LKFq1STFLKrW4nUGhogYn19Q1srb0u0r4Y_sw5wShFvq/s1600-h/11+nuno+nas+ruas+de+villa+mar.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253037142351284994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3EiSOtxZhW7Vw1-EIUxqR4qhCnJq_w4C1Lrlxfpdaeqqwj5oESydK0YNlj5eH05q0bGP0vugZy-mofcPi5-8HuXl_QdGJ1GJ6LKFq1STFLKrW4nUGhogYn19Q1srb0u0r4Y_sw5wShFvq/s320/11+nuno+nas+ruas+de+villa+mar.JPG" border="0" /></a> <em>Nuno passeando ao fim do dia pelas ruelas de Villa Mar</em></p><em></em><br /><br /><p align="justify">Na noite anterior havíamos conhecido uma turista francesa que viajava à volta do mundo e, como muitos milhares de turistas, fazendo um tour do altiplano, parecia incapaz de ver a beleza intrínseca das coisas, o único que via era o frio, o incómodo de acordar cedo para chegar aos locais previstos no pacote turístico que havia comprado, a antipatia das pessoas. Quão diferente era a minha experiência e quão diferente era a minha forma de sentir as coisas, a bicicleta como meio de transporte aproximava-me da realidade, permitia-me fazer parte dela e assimilá-la continuamente como se fosse uma extensão do meu ser.<br /><br />Parecia que as formações rochosas se estendiam infinitamente por todo o sudoeste Boliviano, acampámos mais uma noite protegidos, do vento inclemente, pelas saliências protectoras e companheiras. O sobe e desce acentua-se e as noites são cada vez mais frias. A presença humana é quase inexistente salvo um jeep ou outro. Os efeitos da altitude começam a sentir-se no corpo. Por mais aclimatizado que se esteja á altitude, como nós estávamos, a capacidade de respirar vai-se reduzindo, e com as bicicletas carregadas muitas vezes a única alternativa é mesmo empurrar e parar a cada 5 minutos para ganhar fôlego. </p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqunAxDs2AOVOll5CixYIfoC1cxsXRt3ddB7IxM6eU2Tfso6FHxt20MSdrPA484Ht7KJ3gYTPAA-YQeiQDyhU0SPKv7AQJoTbH1hXL3sjLM2UOzSWMLbToyAZ3O4b5UnABdbdfKietcuBm/s1600-h/13+Nuno+caida+rio.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253039677620145106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqunAxDs2AOVOll5CixYIfoC1cxsXRt3ddB7IxM6eU2Tfso6FHxt20MSdrPA484Ht7KJ3gYTPAA-YQeiQDyhU0SPKv7AQJoTbH1hXL3sjLM2UOzSWMLbToyAZ3O4b5UnABdbdfKietcuBm/s320/13+Nuno+caida+rio.JPG" border="0" /></a> <em>O Nuno observando o ribeiro antes da sua queda</em></p><em></em><br /><br /><p align="justify">Atravessámos mais um ribeiro de águas gélidas. O peso na minha bicicleta está um pouco mal distribuído porque não tenho malas à frente, por vezes quando as rodas de trás ficam presas em alguma rocha ou irregularidade do piso tenho bastante dificuldade em segurar a bicicleta sobretudo se a estou a empurrar, como era o caso na travessia daquele ribeiro, onde a roda traseira ficou presa numas pedras e os meus braços não aguentaram o peso da parte traseira e a bicicleta caiu no ribeiro, a bolsa da frente, onde trago entre outras coisas, a minha maquina fotográfica, ficou perigosamente perto das águas. Pedi auxílio ao Nuno, mas quando me virei ele estava estatelado no chão rochoso. Tinha tentado sair da bicicleta para me ajudar, mas ficou preso nela, desiquilibrando-se. Fiquei surpreendida quando se levantou e confirmou que não tinha nada partido. Naquele desolo seria difícil encontrar auxílio, e penso que a natureza nos revelava mais uma vez o quão à sua mercê estávamos.<br /><br /><strong>Chegada a Quetena Chico, ou quase...</strong><br /></p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj21oFm7G9mwCNnesJyWbHCv3epunSYe0YFPE711kvGWlxM91UFqX_qlPe-xVea0dzjiQ7l66xA56lfcc1CxmU9m6gFqt_1VWATEEW1hEIUzwAfKcleHIDv9gYjI7MUg6c8TkFlr3TR2lpy/s1600-h/15+chegada++ao+parque+eduardo+avaroa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253039681319308210" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj21oFm7G9mwCNnesJyWbHCv3epunSYe0YFPE711kvGWlxM91UFqX_qlPe-xVea0dzjiQ7l66xA56lfcc1CxmU9m6gFqt_1VWATEEW1hEIUzwAfKcleHIDv9gYjI7MUg6c8TkFlr3TR2lpy/s320/15+chegada++ao+parque+eduardo+avaroa.JPG" border="0" /></a><em>Sinal anunciando a nossa chegada ao Parque Nacional Eduardo Avaroa que se caracteriza ecológicamente pelos extensos desertos gelados e pela Pradaria Altoandina semidesértica. Aí encontram-se lagunas salgadas de origem glacial, bofedales e turbeiras. Esta área protegida foi criada para proteger algumas espécies que estao em vias de extinçao nomeadamente a vicunha, o gato andino, o suri e as três espécies de flamengos que aí nidificam.</em></p><br /><p align="justify">Chegámos à entrada da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa por volta das quatro da tarde, onde nos cobraram 30 Bolivianos de entrada (cerca de 5 euros), prosseguimos na esperança de chegar ainda nesse dia a Quetena Chico, o guarda parque tinha-nos dito que em duas horas alcançaríamos a pequena povoação. Poucos quilómetros depois de termos passado a entrada do parque deparámo-nos com uma subida que nos levou quase uma hora a completar, a meio, não houve alternativa senão empurrar as bicicletas porque a inclinação era demasiado forte para o ar escasso que entrava nos nossos pulmões. A descida não foi menos dolorosa, do chão saiam pedras enormes e calaminas profundas e arenosas, descíamos quase tão lentamente como havíamos subido.<br /></p><br /><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8_hPQMs1nrHYuOW2nDxJjxESxCYyHgz454Z-ApyM14QpcH3oZXVLNLML4pCullLQtbPIgrwSCCgr2o7gwm4Qd1wxmmmym7ZD335_ui7l73okXv_wHDpM3pw1C37zSEovEACpFFXRv_Hjv/s1600-h/16+subida+depois+da+entrada+no+parque.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253039685924274898" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8_hPQMs1nrHYuOW2nDxJjxESxCYyHgz454Z-ApyM14QpcH3oZXVLNLML4pCullLQtbPIgrwSCCgr2o7gwm4Qd1wxmmmym7ZD335_ui7l73okXv_wHDpM3pw1C37zSEovEACpFFXRv_Hjv/s320/16+subida+depois+da+entrada+no+parque.JPG" border="0" /></a> <em>A dificíl subida depois da entrada no Parque, ou um treino para a subida ao Uturunco</em></p><br /><br /><p align="justify">Já o sol era meio círculo amarelo dividido na linha do horizonte quando chegámos a um rio com as margens congeladas e com uma profundidade mais acentuada do que o que estávamos habituados. Entre o dilema de avançar ou acampar, decidimos acampar. Não sabíamos a que distancia estávamos realmente de Quetena Chico e, sobretudo, o que aconteceria aos nossos pés depois da travessia daquelas águas gélidas.<br /></p><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNpSOFcCFmc3Gyx4EYdLt9r5aH5jY7NEjCGUMxE7BY2kp3HmA4e2uQQAHQe5VheeQiWgxZznO2HrEvoLpkuLkQQ0HW-LPCiKiQEZo9KjosJ7pEC1YgSnUzKtPbr3HKV-jjDKrouGwqz80k/s1600-h/16+rio++antes+de+quetena+chico.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253039685464395618" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNpSOFcCFmc3Gyx4EYdLt9r5aH5jY7NEjCGUMxE7BY2kp3HmA4e2uQQAHQe5VheeQiWgxZznO2HrEvoLpkuLkQQ0HW-LPCiKiQEZo9KjosJ7pEC1YgSnUzKtPbr3HKV-jjDKrouGwqz80k/s320/16+rio++antes+de+quetena+chico.jpg" border="0" /></a> <em>Um rio profundo que se atrvessou no nosso caminho antes de chegarmos a Quetena Chico e que nos impediu de seguir nessa noite.</em></p><br /><br /><p align="justify">No dia seguinte despertámos com os primeiros raios de sol, mas ao contrário dos outros dias, não havia pressa, Quetena Chico estaria perto e podíamos dar-nos ao luxo de desfrutar um pequeno almoço preguiçoso ao som da fauna voante que por ali deambulava e aguardando que o sol aquecesse um pouco as águas do rio. Por volta das duas da tarde fizémos a travessia e chegámos finalmente ao destino que terminava a primeira fase desta etapa. </p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yxSVaLtUM2HIDztNSqf0LE1Nwcoh8fkSK1suL4XRvWDp27fudxaWUDsErTiu-iH1dxYe8Un_8MdHbeoUoGFOfRrNNynIOElxOswi8zyS-pJhG2xQW3fWj36DqkjZInwLAUuDftgMr04d/s1600-h/28+chegada+a+quetena+chico.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253051573161354642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yxSVaLtUM2HIDztNSqf0LE1Nwcoh8fkSK1suL4XRvWDp27fudxaWUDsErTiu-iH1dxYe8Un_8MdHbeoUoGFOfRrNNynIOElxOswi8zyS-pJhG2xQW3fWj36DqkjZInwLAUuDftgMr04d/s320/28+chegada+a+quetena+chico.JPG" border="0" /><br /><p align="justify"></a></p><p align="justify"><br />Durante o caminho tínhamos ficado com a impressão de que Quetena Chico era uma aldeia com alguma importância onde esperávamos encontrar mantimentos e alojamento para dar descanso ao corpo, mas o que nos esperava era uma aldeia triste, poeirenta, com telhados de chapa prateada; a igreja tinha escrito sobre a porta de entrada em letra negras bem visíveis “Dios es Amor”, deve ser então que Deus ame mais uns do que outros porque aquele povoado não é o resultado de um acto de amor senão a prova desesperada da resistência humana e da sua capacidade de sobreviver em ambientes que desafiam a própria vida.<br /><br /></p><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWv9WjGc2Nx8YfDCtdeOyhZ5AksmHTsYsOrfcSdGe5qCswnwUQqbobpshGmPNfTbo7MAV4BPFg-iApPifpUz-Rw1bUe52Gb5YQ3NQIThjPpn5QYTy6n5at0ATzJAtm0HetXL4E74qviOap/s1600-h/27+dios+es+amor.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253056708052985298" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWv9WjGc2Nx8YfDCtdeOyhZ5AksmHTsYsOrfcSdGe5qCswnwUQqbobpshGmPNfTbo7MAV4BPFg-iApPifpUz-Rw1bUe52Gb5YQ3NQIThjPpn5QYTy6n5at0ATzJAtm0HetXL4E74qviOap/s320/27+dios+es+amor.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifNvd5_RxT5rBNycNKg9MEyrsUT3r4v6FctPXHS0EgU74aw73KixyUgDBuPyB8F-baIe-v8qJfYo7g0D7XKwXCQJShTj01PIEM9CWTSIc_wDSTeizRxuPfxbTSSK_u9deNZwSea0tNd6Kr/s1600-h/18+Quetena+Chico.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253043457793223410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifNvd5_RxT5rBNycNKg9MEyrsUT3r4v6FctPXHS0EgU74aw73KixyUgDBuPyB8F-baIe-v8qJfYo7g0D7XKwXCQJShTj01PIEM9CWTSIc_wDSTeizRxuPfxbTSSK_u9deNZwSea0tNd6Kr/s320/18+Quetena+Chico.JPG" border="0" /></a> <em>Quetena Chico vista ao longe, uma aldeia desolada e poeirenta esquecida por Deus e pelo homem</em></p><br /><p align="justify">Fomos rabiscando nas poucas lojas que existiam alguns víveres como leite em pó, pasta de carne, folhas de coca, massa e bolachas de água e sal, mas estes eram claramente insuficientes para o próximo desafio – a subida ao vulcão Uturunco, que tem uma estrada que sobe aos 5800 metros de altitude, considerada a estrada mais alta do mundo. Alojámo-nos no Hostal Condor, em frente ao Centro de Interpretação do Parque Eduardo Avaroa. A Dona Modesta e o Senhor Marcelino, donos do hostal informaram-nos que dentro de três dias chegaria uma flota (autocarro) com verduras e venderam-nos batatas, cebolas, cenouras e carne de lama da sua própria reserva para os dias em que aguardávamos pela dita flota. No final do segundo dia de espera ficaram alojados no hostal um casal de brasileiros Paulistas – a Didiana e o Jerônimo. </p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUTYijYrGr6x8OY8b4VILmcCCeKYjboseQCpdLtQIXNqtxjLT40OEmu3_apBQ7EoC0IVfhZw8uKsw0GsZMxhp-uN1amTe9PqwKk5AGuv04pzqqv6P5wB7rFOyDRTjJEtXyzVXknrtYrNaO/s1600-h/17+familia+do+marcelino+e+didiana+e+jeronimo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253043456491808370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUTYijYrGr6x8OY8b4VILmcCCeKYjboseQCpdLtQIXNqtxjLT40OEmu3_apBQ7EoC0IVfhZw8uKsw0GsZMxhp-uN1amTe9PqwKk5AGuv04pzqqv6P5wB7rFOyDRTjJEtXyzVXknrtYrNaO/s320/17+familia+do+marcelino+e+didiana+e+jeronimo.JPG" border="0" /></a><em>Dona Modesta, a filha, eu, o Senhor Marcelino e o filho pequeno, a Didiana e o Jerônimo em frente ao Hostal Condor em Quetena Chico (da esquerda para a direita)</em></p><br /><p align="justify">Vinham ao altiplano num tour de luxo para celebrar o aniversario da Didiana e nos “alforges” traziam vinho, patê, queijo e uma série de outros ingredientes que amavelmente partilharam connosco num anoitecer frio aquecido pelo pequeno fogão a lenha e a boa companhia dos nossos quase conterrâneos. Falou-se da historia luso-brasileira, de viagens, contaram-se anedotas, mas o frio venceu-nos e por volta das 10 da noite fomos buscar calor debaixo dos cobertores das nossas camas. No dia seguinte, depois de uma visita ao centro de interpretação, ao qual fomos convidados pelos nossos amigos, despedimo-nos e o Jerônimo e a Didiana seguiram rumo ao Salar de Uyuni.<br /><br /><strong>A subida do Uturunco em bicicleta – a vontade vence a montanha na estrada mais alta do mundo</strong><br /></p><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXu0GVh0AOFoIG-4VN1pZcFnjGrqB6JvJGLJ_iDzPxpT_qraQq36FdGYFJ55hnSNnUs-pWMhkIkV_5iPnjRSk2Y2MiBURtse2XWU3xUkYK33PPFDExrpFIUrsE0NxuVXpMKUMH3nvf450q/s1600-h/14+uturunco+grande+plano.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253039682549560402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXu0GVh0AOFoIG-4VN1pZcFnjGrqB6JvJGLJ_iDzPxpT_qraQq36FdGYFJ55hnSNnUs-pWMhkIkV_5iPnjRSk2Y2MiBURtse2XWU3xUkYK33PPFDExrpFIUrsE0NxuVXpMKUMH3nvf450q/s320/14+uturunco+grande+plano.JPG" border="0" /></a><em> O Vulcao Uturunco</em></p><br /><p align="justify">A dita flota era um autocarro decrépito de vidros partidos estacionado a um canto da praça central. Tendo eu feito exactamente o mesmo percurso (de Uyuni a Quetena Chico) parecia-me um milagre que funcionasse. Ali fomos, já um pouco tarde, tentar encontrar verduras e alguma fruta, mas nada, a senhora que vendia os alimentos frescos não tinha vindo na flota. Vejo a expressão do Nuno a endurecer, eu sabia que ele ansiava a subida ao Uturunco, era um dos pontos altos da sua viagem, ele via esta etapa como uma autêntica expedição, um feito nunca antes alcançado – subir aos 5800 metros com as bicicletas carregadas, mas estávamos no altiplano, por nossa conta e risco, e o glamour desta ascensão, organizada por dois cicloturistas, era inexistente. Não teríamos carros de apoio, nem equipa jornalística a registar a nossa hercúlea subida. O nosso sucesso dependeria sobretudo da nossa adaptação ás circunstâncias e aos aspectos limitadores. A comida, pelos dias que durasse a nossa subida, seria uma massa horrorosa pastosa, com meia dúzia de batatas e cenouras, os poucos vegetais que conseguimos encontrar, alguns enlatados e leite em pó. Esses eram os factos. Depois do pânico do Nuno, das suas preocupações com a comida e em geral a nossa falta de preparação seguimos a meio da manha rumo ao topo do Uturunco. Deixámos tudo o que não necessitávamos no hostal e dissémos aos donos que estaríamos de volta dentro de quatro a cinco dias. Apesar de termos prescindido de grande parte das nossas coisas, as malas estavam extremamente carregadas, sobretudo as do Nuno. Carregávamos 15 litros de água e comida suficiente para uma semana, mas levávamos, sobretudo, muitas duvidas e muitas incertezas.<br /><br /><strong>O fascínio da subida ou puro masoquismo?</strong><br /><br />Estávamos ainda no Peru quando o Nuno me falou que queria subir uma estrada na Bolívia que ia ate aos 5800 metros e que era a estrada mais alta do mundo. Na altura tinha-lhe dito peremptoriamente que não o acompanharia, mas à medida que fomos avançando rumo ao Sul fui-me imaginando a vencer mais um desafio e subir ate aos 5800 metros com a minha Marina (Marin Muirwoods). Admito que não tinha a menor noção do que isso pudesse implicar e penso que foi essa inocência que me fez atirar de cabeça na subida do grande vulcão semi adormecido.<br /><br />A informação sobre este vulcão é quase inexistente, depois de buscas na internet ficámos a saber que uns franceses tinham conseguido levar as suas bicicletas aos 5800 metros numa expedição com carros de apoio. Seríamos provavelmente os primeiros loucos a tentar a subida com as bicicletas carregadas e em total autonomia. Não sabíamos quantos quilómetros estariam entre nós e o topo, ou o estado da estrada, e valeram-nos as indicações do senhor Marcelino, que levou o Nuno a uma colina em Quetena Chico e lhe indicou o caminho através das sombras e das formas da montanha que se viam desde ali.<br /></p><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk-BEJnicANboeMdBKKs4-OTQKbMfRkMtPrSKA_APzA6ALq_TeTCI2x-sqyNVb4uOexIwLuM01xiZp2i8JZyRiTKmYAOee-mFMSNXp41258VAxMgFze6E_F8kbCPO7f4va4-i5X-_Cgs3Y/s1600-h/21+a+joana+subindo+2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253046188747104178" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk-BEJnicANboeMdBKKs4-OTQKbMfRkMtPrSKA_APzA6ALq_TeTCI2x-sqyNVb4uOexIwLuM01xiZp2i8JZyRiTKmYAOee-mFMSNXp41258VAxMgFze6E_F8kbCPO7f4va4-i5X-_Cgs3Y/s320/21+a+joana+subindo+2.jpg" border="0" /></a> <em>Estrada rochosa na subida do Uturunco</em></p><br /><p align="justify">Foi no "Valle de las Rocas" que avistamos pela primeira vez o grande colosso e à medida que avançávamos em direcção a Quetena Chico fomos observando em diferentes perspectivas as suas longas encostas, o branco dos seus dois cumes de onde se extraia o enxofre, actividade à qual se deve a existência da estrada. Ao longe, discerníamos as linhas marcadas nas suas vertentes e imaginávamos que seriam a estrada que iríamos percorrer. Comecei a sentir carinho, respeito e a desenvolver uma espécie de relação silenciosa quase íntima por aquela montanha, como se de um ser vivo se tratasse.<br /></p><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbgyOdkccOnzZsWI-bN0GV3gxLXGbZ-Dv8nNGkOnfZlqaxdAPyNYyVw38bSuJBXEwDPMKg1H9N6-Q8NDLjVm3acGnAH2xSUHWB6DoWUpaDmQUbPuK_07y0uYkYSlQZXy5XW5tFY_8P7FwM/s1600-h/12+por+do+sol+vila+mar+com+o+uturunco.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253037148893281826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbgyOdkccOnzZsWI-bN0GV3gxLXGbZ-Dv8nNGkOnfZlqaxdAPyNYyVw38bSuJBXEwDPMKg1H9N6-Q8NDLjVm3acGnAH2xSUHWB6DoWUpaDmQUbPuK_07y0uYkYSlQZXy5XW5tFY_8P7FwM/s320/12+por+do+sol+vila+mar+com+o+uturunco.JPG" border="0" /></a><em>O Uturunco e o Soniquera vistos de Villa Mar ao anoitecer</em> </p><br /><br /><p align="justify">No primeiro dia, depois de pedalarmos cerca de 15.3 quilómetros e termos subido dos 4150 aos 4477 metros, acampámos na base do Uturunco. A estrada era má com muitas pedras e areia que desequilibravam as bicicletas carregadas e os últimos quilómetros que percorremos nesse dia foram a empurrar.<br /><br /></p><br /><br /><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCbGFqN7PbEYwgYX0Eh-s8krWdG4EUlp8Kq6y08epZoDBi0cYXcel96JkKBN3QKqcv4XJhUQQMVshs4VwGgMM-pISTg51T3PTz2PYjX7X-x5QysI_nq7GxzKjo7N4BaM10hER5jGJ1BnHX/s1600-h/19+nuno+subida+uturunco.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253043461256056034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCbGFqN7PbEYwgYX0Eh-s8krWdG4EUlp8Kq6y08epZoDBi0cYXcel96JkKBN3QKqcv4XJhUQQMVshs4VwGgMM-pISTg51T3PTz2PYjX7X-x5QysI_nq7GxzKjo7N4BaM10hER5jGJ1BnHX/s320/19+nuno+subida+uturunco.JPG" border="0" /></a><br />O Nuno lutava com a sua carga, levava toda a comida, a maior parte da água, a tenda, o fogão, a gasolina, roupa e o saco de cama, e eu via que essa carga era excessiva para que ele pudesse desfrutar a subida, e se já estávamos a empurrar as bicicletas mal tínhamos começado a ascensão certamente não conseguiríamos alcançar o topo. Adormecemos cheios de dúvidas e desanimados.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWYxja1wVGlUc5r3BM4zcm2giijqQUXyI1cF2BYuRFeuTsbzrH9iVL4ayspC6aA9FDb9NuLgUqR_CruazDVyz-fINu8RVX3-JXeBC4Y_ojd-UABOotesGI42eGBB2pcy6g3056KOeIOdfr/s1600-h/20+subida+uturunco.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253043462269843506" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWYxja1wVGlUc5r3BM4zcm2giijqQUXyI1cF2BYuRFeuTsbzrH9iVL4ayspC6aA9FDb9NuLgUqR_CruazDVyz-fINu8RVX3-JXeBC4Y_ojd-UABOotesGI42eGBB2pcy6g3056KOeIOdfr/s320/20+subida+uturunco.JPG" border="0" /></a> <em>As estrada pedregosa e inclinada que tivémos que subir para alcançar o topo</em><br /><br />No dia seguinte o Nuno passou-me alguma da água que trazia mas a sua carga continuava extremamente pesada. Tentámos montar as burras só que a combinação do caminho pedregoso, a inclinação, a falta de ar que nos obrigava a desmontar a cada minuto eram torturantes. Depois de 15 minutos, onde provavelmente avançamos 100 metros, o Nuno pergunta-me o que devíamos fazer. Ainda não sei muito bem de onde veio a determinação mas respondi-lhe que avançávamos um pouco mais e já veríamos. Os nossos corpos foram-se habituando ao caminho pedregoso e ás paragens a cada 100 metros para recuperar o fôlego e fomos avançando, muito lentamente. Eu ia à frente marcando o passo, o Nuno, a cerca de 20 metros atrás. Vistos do céu parecíamos dois pontos coordenados na encosta solitária, avançando e parando como os ponteiros de um relógio.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJv6fUMVuuuWUy4bdgw2TBfxwvl-iaf1ZwFGMItdOyfZlaMH9pyWd5YaeLjkk7ir6G78YNyTWivKdwlBCZz8z6mfL90r8iu8fmnVYhUBc-nWBoOwm-bWmJsLufy7cYRG0Bc-scQz1Vtlyb/s1600-h/21+a+joana+subindo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253046183905579954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJv6fUMVuuuWUy4bdgw2TBfxwvl-iaf1ZwFGMItdOyfZlaMH9pyWd5YaeLjkk7ir6G78YNyTWivKdwlBCZz8z6mfL90r8iu8fmnVYhUBc-nWBoOwm-bWmJsLufy7cYRG0Bc-scQz1Vtlyb/s320/21+a+joana+subindo.jpg" border="0" /></a><br />Ao fim do segundo dia, completamente esgotados, acampamos numa estrada que dava acesso à estrada principal, não havia alternativa já que nas encostas de uma montanha os únicos espaços relativamente nivelados onde se podem montar tendas são precisamente as estradas. Nessa noite tive que forçar a ingestão da massa com molho de tomate, apesar de a cada colherada me virem vómitos à boca. Desde pequena que não suporto a consistência de alimentos pastosos como cerelac, ou nestum, e aquela massa depois de alguns minutos ao lume transformava-se numa mistela disforme. Mas não havia alternativa, tinha que dar alimento ao corpo depois do esforço daquele dia.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzDQfhlKKZVcopGWykNJSz63FoNnbxwgn37Oq8gd6Qwy2TJ_caxjhat8hDjskc_ikpehuf1CABwBa7r1OF-EMOjcdVqFqafwEdqUpSs3S8ssU0JwpoJ3DR6Tu9enTtqpHjIsdfJipyXkAA/s1600-h/21+nuno+subindo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253046190662014402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzDQfhlKKZVcopGWykNJSz63FoNnbxwgn37Oq8gd6Qwy2TJ_caxjhat8hDjskc_ikpehuf1CABwBa7r1OF-EMOjcdVqFqafwEdqUpSs3S8ssU0JwpoJ3DR6Tu9enTtqpHjIsdfJipyXkAA/s320/21+nuno+subindo.JPG" border="0" /></a> Havíamos feito nove quilómetros e subido 582 metros, acampando a 5138 metros sobre o nível do mar, e os números podem não dizer muito, mas qualquer pessoa que tenha estado acima dos 4500 metros sabe que o esforço físico triplica, todos os movimentos são feitos em câmara lenta e a respiração torna-se ofegante. Não sabíamos se estávamos no caminho certo e sentia-mo-nos mais isolados do que nunca, em dois dias de subida não tínhamos avistado uma única alma. O que e que andávamos ali a fazer? Decidimos adormecer e decidir se continuávamos a ascensão no dia seguinte.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRyPxX39D3z1K3EzYWal98oGkhqwSRVDEgeTQEC5BGTwy4-CODglupTgM7Qz_t8FYXo-lUQh0X_RAJtqKhfkxMQOzmJqBsZlq4WakwgHRl54OMvOM0A4xrJWk24xTFG7XRt0SrKBjuhiPi/s1600-h/21+a+joana+aos+5ooo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253043461682444642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRyPxX39D3z1K3EzYWal98oGkhqwSRVDEgeTQEC5BGTwy4-CODglupTgM7Qz_t8FYXo-lUQh0X_RAJtqKhfkxMQOzmJqBsZlq4WakwgHRl54OMvOM0A4xrJWk24xTFG7XRt0SrKBjuhiPi/s320/21+a+joana+aos+5ooo.jpg" border="0" /></a> <em>Um momento de felicidade, quando atingi pela primeira vez na minha vida os 5000 metros sob o nível do mar</em><br /><br />Acordei com o ruído do motor de um carro. Pensava que estava a alucinar, o que faria ali um carro, pensei. Abri o fecho da tenda e confirmo que realmente era um carro, um todo o terreno de um tour. Haviam-nos dito que havia um tour esporádico à base do vulcão já que daí se podia subir ao topo até aos 6000 metros. Já era de manha, despertei o Nuno, que dormia como uma pedra, fizémos o pequeno almoço e enquanto comíamos passaram mais dois jeeps, olhámos um para o outro e pensámos que a estrada mais desolada da Bolívia se havia convertido numa autêntica auto-estrada de montanha. Decidimos avançar, até porque a nossa água se estava a acabar e necessitávamos que nos confirmassem que havia água no topo ou que nos dessem alguma.<br /><br />O primeiro carro passou por nós já na sua descida e confirmou que estávamos no caminho certo a uns 4 ou 5 quilómetros, deram-nos alguma água e seguiram montanha abaixo. Seguimos mais animados, embora a estrada começasse a ter inclinações que nem eu nem o Nuno acreditávamos serem lógicas ou possíveis aquelas altitudes (algumas a mais de 25 porcento). Ia eu à frente quando os outros dois jeeps passam, pedi-lhes mais água. Pude ver a cara dos passageiros, as suas bocas abertas em espanto. De repente tenho as mãos cheias de maças, amendoins, chocolates, bolachas e água. Era uma família de Mexicanos – o filho, o pai e o avo, que tinham acabado de subir ao topo do Uturunco aos 6000 metros, e quando vi o avô com de mais de 75 anos de idade, quem ficou com a boca aberta fui eu. Saíram dos carros para nos saudar, tirar fotos e fazer mais perguntas do que aquelas a que podíamos responder.<br /><br /><br /><p align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_4qloOawmFx21thyphenhyphenh8GbT2AwLv0X6OxZWDmmpplAsOJsERBTPXjL2opkVca5ediAS38xjGY-IKi30j49OB0VKfrx9QpXi8WM8npTDUkV8XO-p9J2eNi4CUJBUQ1pwjyKVzGfv_tAjxMwA/s1600-h/22+zambrano.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253049007900079458" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_4qloOawmFx21thyphenhyphenh8GbT2AwLv0X6OxZWDmmpplAsOJsERBTPXjL2opkVca5ediAS38xjGY-IKi30j49OB0VKfrx9QpXi8WM8npTDUkV8XO-p9J2eNi4CUJBUQ1pwjyKVzGfv_tAjxMwA/s320/22+zambrano.jpg" border="0" /></a></p><em>A familía Zambrano e os seus guias de montanha</em><br /><p></p><em></em><br /><br /><p align="justify">Era a família Zambrano e o pai Oscar, creio, contou-nos a anedota de um tipo que vergastava o corpo para sentir o quão bem lhe sabia quando o parava de fazer. A risada foi geral. Seríamos nos também masoquistas em busca do prazer depois da dôr? Em parte, julgo que sim, mas há uma espécie de sentimento, algo místico, difícil de explicar, intrínseco ao facto de se superarem expectativas físicas e psicológicas. Os Zambrano e o seu guia de montanha explicaram-nos também que seria melhor não acamparmos no fim da estrada porque haviam muitas fumarolas e que os seus fumos, sobretudo com os ventos fortes que se faziam sentir, podiam ser tóxicos, e tão pouco aproveitar a água do parco gelo que existia nas encostas, pelas mesmas razoes. Despedimo-nos e seguimos, nós, montanha acima e bastante motivados e os Zambrano, montanha abaixo.<br /><br /></p><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253046196064880226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSTV3eY8S4wrLHtnVJkffaX8l7VbVswWOGQEvLmQRSGOJU1-nlVPbCivKRSwDq3CEZ9FwGWVN28SUYs27C3eEYQ_fP_heH8uRDdZrSysyFEvK7yAs-g7XUUyrehI1x8hP6y23OUKKOaGjR/s320/22+estrada+e+o+precipicio.JPG" border="0" /><br />As coisas não melhoraram, as inclinações e o estado da estrada eram verdadeiramente inacreditáveis, o dia foi passado na sua totalidade a empurrar as bicicletas. Ao fim do dia, no meio de um vento forte assustador chegámos aos 5702 metros de altitude, entre o precipício e a montanha, tínhamos que acampar mas naquela vertente o vento era tão forte e haviam tantas pedras no caminho que tivemos medo de acordar soterrados, sentiam-se também já os fumos sulfurosos saindo das encostas. Voltámos para trás, na encosta que estava protegida pelo vento a 5688 metros e ali montámos a tenda. </p><p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkatdwsFJN0XYvK7ah5TwWkuzehvdSmJd72i0AzfPrmORrcO-CSFcv60_BYtO7yWbfEBbZscbV8_F2_O7flYzhELgVNMSagw2ObIzepZzXY_WF9OCy6VYiEokc_ezpeeJbFYsJLIqFbMSi/s1600-h/22+acampamneto+ultimo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253046193060424450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkatdwsFJN0XYvK7ah5TwWkuzehvdSmJd72i0AzfPrmORrcO-CSFcv60_BYtO7yWbfEBbZscbV8_F2_O7flYzhELgVNMSagw2ObIzepZzXY_WF9OCy6VYiEokc_ezpeeJbFYsJLIqFbMSi/s320/22+acampamneto+ultimo.jpg" border="0" /></p><p align="justify"></a></p><p align="justify">Cozinhámos mais uma pasta arrepiante e o Nuno cozeu uns ovos, só que quando os abriu veio um cheiro tão forte a ovos podres que os deitou fora. Ao fim do dia percebemos que não eram os ovos que estavam podres mas sim o cheiro a enxofre que o vento trazia a cada rajada. Na manha seguinte seguimos para chegar finalmente ao nosso destino. Podémos pedalar alguns metros, já que a estrada era relativamente isenta de inclinações fortes. E por volta das 11 da manha ali estávamos, completamente ofegantes, no meio dos dois cerros do mítico Uturunco, havíamos pedalado até aos 5800 metros na estrada mais alta do mundo! <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicthNHdFzMkmpdHISx46h6aUjYwHG9-TqEDP32asiNmBLvnPcfdZnpHDSHzJ_s4Me6gZnNv2aNBHMgHQ7YIiNnsQI7h9dg3NpKvwSKZpcV4oSgcGE5C42cm38QH7UXXSgwHPp7xJqRWqkZ/s1600-h/23+a+nuno+e+joana+fim+da+estrada.jpg"></p><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253049006601044082" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicthNHdFzMkmpdHISx46h6aUjYwHG9-TqEDP32asiNmBLvnPcfdZnpHDSHzJ_s4Me6gZnNv2aNBHMgHQ7YIiNnsQI7h9dg3NpKvwSKZpcV4oSgcGE5C42cm38QH7UXXSgwHPp7xJqRWqkZ/s320/23+a+nuno+e+joana+fim+da+estrada.jpg" border="0" /> </a><br />Olhava o topo e estava determinada a subir os duzentos metros que faltavam para atingir os 6000 metros. O Uturunco é conhecido como os 6000 metros mais fáceis. Tive que ser bastante persistente para convencer o Nuno a caompanhar-me até ao topo, porque estava resolvida a ir até ao fim, sózinha se fosse necessário. Relutante e cansado o Nuno decidiu acompanhar-me e lentamente, passo a passo, atingimos o topo do Uturunco. </p><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu6IMBeETmL93kNHpZAZH2_d7FpypZGWV0HhmC26IHFIpg5QjYjkk2061YSgWPS_NyAtOr6Td1I9hv19t5LtTNIkEx59r93dnfhJsnfftdc_ad1rD-DGy0KO4kEihqV0B-WKiM-NfHv39b/s1600-h/23+chegada+ao+fim+da+estrada.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253049012335934418" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu6IMBeETmL93kNHpZAZH2_d7FpypZGWV0HhmC26IHFIpg5QjYjkk2061YSgWPS_NyAtOr6Td1I9hv19t5LtTNIkEx59r93dnfhJsnfftdc_ad1rD-DGy0KO4kEihqV0B-WKiM-NfHv39b/s320/23+chegada+ao+fim+da+estrada.JPG" border="0" /></a> <em>Autoretrato, um sorriso autêntico depois de atingir com a minha bicicleta os 5800 metros</em><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253049010471796034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKJh_3zwy-ETAxXijNBME_ZF4Sf0xa0clhc_Cq1-pNqnhg8SVou4dH9ONIRuF3-Agl27BMIUyIOL8GiWyxg4N0leBowd63bhDGBp_24fJWzi-U46h5XIgAeEBuMdo-KhLzHAR9p_qVbIkZ/s320/24+as+burras+no+topo.JPG" border="0" /><br /></p><p align="justify"><em>O descanso das burras depois da árdua subida.</em><br /><br />É difícil descrever a sensação que se sente estando no topo de uma montanha acima dos 6000 metros. As vistas são impressionantes, mas na realidade, à medida que vais ascendendo vais também tendo a oportunidade de as desfrutar. É algo mais, é uma alegria que te invade o corpo e se espalha por todas as células, sentes como se tu e a natureza fossem um só, de que és capaz de fazer tudo, de que nao existem impossíveis ou obstáculos... </p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253049016949757122" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR06zffSEpf_0x0Fu6zdlfUx3S0oGnHqTmrhmzZvQw_3Zi6LQNm3i5mQAJlr0fKTUZoPjDOamglDvbaR8Husb3BRYRGzAiQGabXm-uqcHzydi6LY6bP2aryoHfcanoJz5tP2z3xh3hKNFI/s320/24+joana+e+nuno+fim.jpg" border="0" /><br /><p align="justify"><em>Dois cicloturistas loucos e as suas burras aos 5800 metros.</em><br /><br />Depois de tantas dúvidas e tantos momentos em que quase desistíamos, ali estávamos – no topo, e havíamos alcançado a nossa meta devido ao trabalho de equipa, de nos termos apoiado um ao outro nos momentos certos, sentíamos que depois de tantas horas juntos a pedalar rumo ao sul era bom compartirmos aquela vitória e sentir que ela se devia à presença de cada um na vida do outro. Nesse dia fizémos a descida até Quetena Chico onde chegámos já de noite e exaustos. Foi um downhill torturante, o estado da estrada era simplesmente deplorável, mas suponho que durante a subida, como havíamos empurrado as bicicletas a maior parte do tempo, não nos tínhamos apercebido do estado real daquela estrada, e da quão inadequada era para ciclismo.<br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMdDFQT-iFuFPH-QQIjXaTmzeZqRez_iyXN4WD_37IRfPbISd957H9aHH3jGbmD2iNGybyvv1qZNPct8R2W6RDxrdbPc8hq01r5HFxEJHHi8FUDoldc68Y8MImdc8syh-CJvf-bQ5IsZiJ/s1600-h/26+uturunco+no+fim+da+descida.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253051568838523298" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMdDFQT-iFuFPH-QQIjXaTmzeZqRez_iyXN4WD_37IRfPbISd957H9aHH3jGbmD2iNGybyvv1qZNPct8R2W6RDxrdbPc8hq01r5HFxEJHHi8FUDoldc68Y8MImdc8syh-CJvf-bQ5IsZiJ/s320/26+uturunco+no+fim+da+descida.JPG" border="0" /><br /><br /><p align="justify"></a></p><br /><p align="justify"><em>Na noite em que regressámos fomos presenteados por esta magniíca paisagem - a lua cheia iluminando o Uturunco</em><br /><br /><strong>De Quetena Chico à Laguna Verde – vencidos pelo altiplano</strong><br /><br />Descansámos um dia em Quetena Chico e no dia seguinte partimos. Não iríamos aos Geizeres “Sol de la Manana” nem à Laguna Colorada, seguiríamos pelo caminho mais breve em direcção à Laguna Verde já perto da fronteira com o Chile onde iríamos em busca das comodidades que não existem no altiplano.<br /><br />Passámos por Quetena Grande a 10 quilómetros de Quetena Chico e o estado da estrada começou a piorar, na combinação já previsível de areia, pedras, calaminas, vento e subida.<br /><br /></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0PPz83QrRWHLthgjXG_I6LmMaelx4jB-AjkgLxGRTkyS2GyAT5BRhn0x4YK-DjFweLR2fdJxibV3VrmFt3PFqBefJhjK7b9jrgguIr5o1R8Wv4HLw6Jyw7V8yPs4gRuqwEoRvssBAnFv0/s1600-h/29+quetena+grande.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253051572532911970" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0PPz83QrRWHLthgjXG_I6LmMaelx4jB-AjkgLxGRTkyS2GyAT5BRhn0x4YK-DjFweLR2fdJxibV3VrmFt3PFqBefJhjK7b9jrgguIr5o1R8Wv4HLw6Jyw7V8yPs4gRuqwEoRvssBAnFv0/s320/29+quetena+grande.JPG" border="0" /><br /><p align="justify"></a></p><p align="justify"><br />Estava cansada, era difícil pedalar, o vento empurrava-me para trás, e as pedras do caminho desequilibravam-me a bicicleta que estava demasiado pesada e de repente as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto até se transformarem em soluços convulsivos. Claramente entendi que aquela paisagem não nos daria tréguas, tínhamos subido o Uturunco, mas isso não significaria que os desafios tivessem terminado. Sentia raiva e frustração e uma pequenez indescritível, olhava a minha volta e no silêncio que me rodeava via o quão hostil era aquele meio, o frio, o vento, as rochas e as pedras. Queria desistir, queria meter-me num carro e nunca mais voltar ali. Mas como? No total isolamento? Seguimos empurrando as bicicletas e acampámos a meio de uma subida. No dia seguinte acordei mais animada, mas as inclinações da subida eram tão surreais que os dois tivémos que empurrar uma bicicleta de cada vez.<br /><br /><br /></p><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1kjpTUbUz8AGE15adokHKfHWw33N5r6Cisw-zpFenEX85Ct4jmghp6e7y6N0k7Q1JZdgCzg8R4kmriFsmG7Al_OV4o_x01ToERuI1Kbcd5fOieUgMb7V7D5ekTGB7f2JAosanNeY3RgeB/s1600-h/30+subida+choro.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253051574745945058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1kjpTUbUz8AGE15adokHKfHWw33N5r6Cisw-zpFenEX85Ct4jmghp6e7y6N0k7Q1JZdgCzg8R4kmriFsmG7Al_OV4o_x01ToERuI1Kbcd5fOieUgMb7V7D5ekTGB7f2JAosanNeY3RgeB/s320/30+subida+choro.JPG" border="0" /><br /><br /></p></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1kjpTUbUz8AGE15adokHKfHWw33N5r6Cisw-zpFenEX85Ct4jmghp6e7y6N0k7Q1JZdgCzg8R4kmriFsmG7Al_OV4o_x01ToERuI1Kbcd5fOieUgMb7V7D5ekTGB7f2JAosanNeY3RgeB/s1600-h/30+subida+choro.JPG"><p align="justify"></a></p><br /><p align="justify">Que terra era esta? Como seria possível existirem seres humanos no meio daquele deserto de pedras, vulcões e lagunas salgadas? Porque estava ali? O que buscava? O que queria provar a mim e aos outros? </p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguiExnCDkJuZCo2Hlv2JXIuxgotjn9bc7KMVqBcCj8rIHOlsNQVfzDP10SlXyqq8fTDjHK-bZQp3QE2Iy7C0650Mx7dMq81hMIeeHNosNCLYOexRM5Aeh6JYkQrL9mw9yb-lHr7To_PYhw/s1600-h/31+subida+areia+e+mais+areia.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253051574313197698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguiExnCDkJuZCo2Hlv2JXIuxgotjn9bc7KMVqBcCj8rIHOlsNQVfzDP10SlXyqq8fTDjHK-bZQp3QE2Iy7C0650Mx7dMq81hMIeeHNosNCLYOexRM5Aeh6JYkQrL9mw9yb-lHr7To_PYhw/s320/31+subida+areia+e+mais+areia.JPG" border="0" /><br /><br /><p align="justify"></a></p><br /><p align="justify"><br />Nesse dia, depois de passarmos a Laguna Colpa de onde se extrai o boro (boranotrocalcita) que se utiliza para a fabricação de esmaltes, cerâmicas e de shampoo segundo nos contaram também, acampámos às 4 da tarde por que se tinha levantado um vento tão forte que era literalmente impossível pedalar. Montámos a tenda o melhor que pudemos, mas não havia abrigo do vento, pusemos pedras a toda a volta e aguardámos que a tenda não voasse.<br /></p><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyxcpUjUP_Ovcg6_M-QDxncPdbugtpzlQW1TueY9G3GzOE-sJJdpye5-eUI16yj4iN37B55HC8bO6pYAHhka7jfO-dE5JcZwHGlGfVLIfbvhUXQIYWhjUiwFfgulVqgREKaq8ebmW9mTDA/s1600-h/32+laguna+colpa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253055237565056434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyxcpUjUP_Ovcg6_M-QDxncPdbugtpzlQW1TueY9G3GzOE-sJJdpye5-eUI16yj4iN37B55HC8bO6pYAHhka7jfO-dE5JcZwHGlGfVLIfbvhUXQIYWhjUiwFfgulVqgREKaq8ebmW9mTDA/s320/32+laguna+colpa.JPG" border="0" /></a> <em>Laguna Colpa</em></p><em></em><br /><br /><p align="justify">Essa noite não dormi bem porque os som do vento a abanar a tenda era assustador. Já de manha o vento continuava muito forte e a tenda que tinha aguentado heroicamente durante a noite, partiu e como um animal inerte, desfaleceu no chão arenoso. Acabava ali a nossa aventura altiplanica. Sem tenda e sem possibilidade de a arranjar era impossível continuar. Voltamos à Laguna Colpa e aí, convencemos a muito custo, o senhor responsável pela exploração de boro a levar-nos até à Laguna Verde, onde havia alojamento e que estava a cerca de 20 quilómetros da fronteira com o Chile.<br /><br /></p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjsBOlNp95BpafHXMmOv-X0D8vgsJLDRiSslEY0cG75MAGAL_F_WoUYuKgNZeIFOiFeiNMzCjYmZhZiERxtSz2fwJrCB1Ha-T9D6y9HsXQ_6bgbCkiKfV1WaiIOgcvHz32vkCzUneZlJKs/s1600-h/32+tenda+partida.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253055242938031858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjsBOlNp95BpafHXMmOv-X0D8vgsJLDRiSslEY0cG75MAGAL_F_WoUYuKgNZeIFOiFeiNMzCjYmZhZiERxtSz2fwJrCB1Ha-T9D6y9HsXQ_6bgbCkiKfV1WaiIOgcvHz32vkCzUneZlJKs/s320/32+tenda+partida.jpg" border="0" /></a> <em>A tenda rendida aos ventos ciclónicos</em></p><em></em><br /><br /><p align="justify">Estávamos tristes e sentia-mo-nos derrotados. Ver o altiplano passar diante dos nossos olhos sem o poder sentir, sem poder fazer parte dele...mas tivémos que nos render, a natureza suprema sempre terá a palavra final.<br /><br />Iríamos para o Chile no dia seguinte. Do hostal, protegidos do vento e do frio, víamos na distancia a Laguna Verde, que nesta época do ano não tinha os tons de verde esmeralda pelos quais é conhecida. A tarde estava triste e ventosa.<br /><br /></p><br /><br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH7ia-987vSYkg74jZLliD_C0siGEW2VRmTIjU97Jqa3ienTRN4amQyz5LaOxEGc60QwgdWcLV8co3RAJjL6P6KWnAMVPa7ZDG2atz5BINAI6FISsv-jwkq0rZiPDiUJy1HUtJzQ-LtnAv/s1600-h/33+laguna+verde.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5253055248248061586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH7ia-987vSYkg74jZLliD_C0siGEW2VRmTIjU97Jqa3ienTRN4amQyz5LaOxEGc60QwgdWcLV8co3RAJjL6P6KWnAMVPa7ZDG2atz5BINAI6FISsv-jwkq0rZiPDiUJy1HUtJzQ-LtnAv/s320/33+laguna+verde.JPG" border="0" /></a> <em>A Laguna Verde sem o verde e quase sem água.</em></p><em></em><br /><br /><p>As próximas pedaladas levar-nos-iam ao Chile a à Argentina – em breve na próxima crónica.<br /><br />Leiam esta aventura através olhos do Nuno <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">www.ontheroad.eu.com</a> </p><br /><p><br /></p>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-61814905902516875982008-06-19T15:21:00.000-07:002008-08-31T13:30:52.724-07:00Bolívia, De Oruro a Uyuni - relatos dos dias mais fantásticos da viagem - Parte I<div align="justify">Todos temos, dentro de nós, um pouco de alma aventureira, um Indiana Jones ávido de aventuras nos armários da nossa imaginação. Todos queremos desvendar terras inexploradas, selvas com ruínas milenares, conhecer gentes exóticas. Queremos sair das rotinas que nos aprisionam e viver realidades diferentes das que vivemos no nosso dia a dia. Mas neste mundo globalizado já não existem muitos lugares onde o homem não tenha pisado, ou ruínas que não tenham sido descobertas...<br /><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVSVmTHktXaujkX36zoZo9uYYtGERgfr6L4VeOeeP4TrIjdcopJ0-hVfVmk2Ba8Sv-NRPPJI8btsGs7fhMFmdJKJ1ZPmmwE26TI4YfM6V0qPcWA-j9_sqXEXVd5A_AOhyTExGgTUAJnbLp/s1600-h/0+joana+indiana+jones.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240412686852925234" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVSVmTHktXaujkX36zoZo9uYYtGERgfr6L4VeOeeP4TrIjdcopJ0-hVfVmk2Ba8Sv-NRPPJI8btsGs7fhMFmdJKJ1ZPmmwE26TI4YfM6V0qPcWA-j9_sqXEXVd5A_AOhyTExGgTUAJnbLp/s320/0+joana+indiana+jones.JPG" border="0" /></a><br /><br />Também eu buscava aventura, desvendar terras virgens e gente exótica quando investi nesta viagem, e tenho já matéria mais do que suficiente para escrever um livro, só que aventura no e sentimento de isolamento no verdadeiro sentido das palavras era algo que não havia experienciado ate chegar ao Altiplano Boliviano. Aí me aguardavam mais surpresas, mais desafios e mais aventuras do que algum outro lugar onde tenha estado na minha vida.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifieBKMQrwNbjKyuwOZUXhD6P-WI1kpi8n1qCqcq_RbrXZaiplmmTNrZb0QHLC5XMBeOvDaMiwrQpnyBwf3VBDyw5LdKcXxE_Afdnx0GmFwfnIdKkyUMuRuTQUHJejCjky2iA0gLovFr2S/s1600-h/20+0+joana+nuno+salar+molhado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240726901088046386" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifieBKMQrwNbjKyuwOZUXhD6P-WI1kpi8n1qCqcq_RbrXZaiplmmTNrZb0QHLC5XMBeOvDaMiwrQpnyBwf3VBDyw5LdKcXxE_Afdnx0GmFwfnIdKkyUMuRuTQUHJejCjky2iA0gLovFr2S/s320/20+0+joana+nuno+salar+molhado.JPG" border="0" /></a><br /><br /><strong>Sobre o Altiplano</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz5b9stT4-aC-N7n-2r6pyU7wICtqVJssfyJWbqbAewEgu0GSqt1auDgJNDwrMGm3cdNUf6zWMTH2V6ernWtSESobVJJrSl-X6WkHqSjM5JmFjNEFAkQ7ZQ_jXazo89iYSQC1f419Op4s-/s1600-h/3+imagem+do+altiplano.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240412694708855058" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz5b9stT4-aC-N7n-2r6pyU7wICtqVJssfyJWbqbAewEgu0GSqt1auDgJNDwrMGm3cdNUf6zWMTH2V6ernWtSESobVJJrSl-X6WkHqSjM5JmFjNEFAkQ7ZQ_jXazo89iYSQC1f419Op4s-/s320/3+imagem+do+altiplano.JPG" border="0" /></a><br /><br />Para entender a Bolívia, tem que se entender o seu Altiplano. Um local à primeira vista árido e desértico mas onde se concentra 70 por cento da população boliviana (a sua maioria entre Uyuni e o Lago Titicaca). Contudo não deixa de ser um sítio desolado e de alguma forma inóspito. Retirando as palavras do artigo que saiu na National Geographic do mês de Julho de 2008: "o altiplano ...é a terra dos superlativos: alberga o maior lago de altitude navegável do mundo, o Titicaca, o maior deserto de sal, a salina de Uyuni, é a segunda meseta mais grande do mundo, depois da tibetana, é uma paisagem de gelo, fogo, vento e sal que se estende desde a região septentorial da Argentina até às planuras do Peru. ...Quiçá nenhuma outra paisagem sobre a terra nos recorde de maneira tão viva que houve tempos no planeta em que não haviam seres humanos." É uma zona com grande actividade geológica e por isso as terras são ricas em minerais, e alguns vulcões estão ainda activos ou semi-activos. É também povoado por flamingos que utilizam os lagos sulfurosos e as suas margens para nidificar, vicuñas, lamas, alpacas, suris (avestruzes), raposas e outros animais. O altiplano é um universo único que reserva eventos únicos aos poucos que nele se aventuram.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirgRu4TEEyhNzWrgLuLFCGmOpiHkLZzTDiFi4RIasSXZXyq4nyFsoBAcfzDoFIZT4jFmqHEMwBQMg00YoXPybX19cYE9qb4pN7NzlL_hCxsZeawviNoZUnn0o6OETbUqKkf6ViI8tv8_b1/s1600-h/2+altiplano+montanhas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240412689001462274" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirgRu4TEEyhNzWrgLuLFCGmOpiHkLZzTDiFi4RIasSXZXyq4nyFsoBAcfzDoFIZT4jFmqHEMwBQMg00YoXPybX19cYE9qb4pN7NzlL_hCxsZeawviNoZUnn0o6OETbUqKkf6ViI8tv8_b1/s320/2+altiplano+montanhas.JPG" border="0" /></a><br /><br /><strong>De Oruro a Sabaya - Que comece o espetáculo...<br /></strong><br />Oruro é a última cidade antes de chegarrmos a Uyuni, aí comprámos mantimentos, verificámos o equipamento e fizémos os últimos preparativos. Ao falar com os locais sobre as nossas intenções de atravessar os dois salares (o de Coipasa e Uyuni), dizem que somos loucos, que vamos morrer congelados, que os nossos pneus vão corroer com o sal, que vamos ser engolidos pelos olhos de água que aí se formam, que nos vamos perder....as pessoas não sabem, mas esses comentários dao-nos ainda mais vontade de desvendar em bicicleta os salares tão temidos. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Um olho água no salar de Coipasa</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVD9MWcEpQOdVS9H3pq3OpNXKlgMu9sX6yJpzxbZUZerHOHQ62XjQvyFjGF9vbiqHl7QIQNIIOi3SfZFGHPZC_wuUBoRcfkTRBM8BOyybAk1RL8O4eno-0Nj6a7T28M7EAp7VXYE3Jpo26/s1600-h/44+olhos+de+agua.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240423021627810018" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVD9MWcEpQOdVS9H3pq3OpNXKlgMu9sX6yJpzxbZUZerHOHQ62XjQvyFjGF9vbiqHl7QIQNIIOi3SfZFGHPZC_wuUBoRcfkTRBM8BOyybAk1RL8O4eno-0Nj6a7T28M7EAp7VXYE3Jpo26/s320/44+olhos+de+agua.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Lago Popóo<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHkJFaEH8t4chAqXhMvuJsdrnWh7tMnT_1wuWK4LWbGgcC-hOGZamrwAePrWeN-tSGUp-Dk1cuIR4bzh9OQR9p5YIbBL9qfSj8ND9qI_9E3Kab5PocSByRuSP3G4cjXS6AWgZqx45UZMeb/s1600-h/1+lago+popoo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240412691312539330" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHkJFaEH8t4chAqXhMvuJsdrnWh7tMnT_1wuWK4LWbGgcC-hOGZamrwAePrWeN-tSGUp-Dk1cuIR4bzh9OQR9p5YIbBL9qfSj8ND9qI_9E3Kab5PocSByRuSP3G4cjXS6AWgZqx45UZMeb/s320/1+lago+popoo.JPG" border="0" /></a><br /><br />Tomámos o pequeno almoço no mercado - duas sandes de carne de porco assada, cortada ali mesmo à nossa frente, e meio litro de sumo de frutas cada um, somos ciclistas e temos aventuras para viver, necessitamos energia. O Lago Popóo, à saída de Oruro dá-nos uma amostra do que está para vir: flamingos e águas que espelham os montes e vulcões que as rodeiam. A meio da tarde chegámos a Toledo, uma pequena aldeia. Ali acabava o alcatrão. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>O fim do alcatrao...<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpyCIZ02LSur1Jn_AZH6Ed-2p4sdWY92imPMToow-ox70d5OhqpTHjT8jDaq-WStC3WfJ0nGpUmetaStDfMENyQKCVG8BumcjHPcoMvby7mvsLqLOAiU6fyHzabeZJP-31n8t3p7Hq_PCE/s1600-h/4+bicicleta+fim+do+alcatrao.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240412697853144658" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpyCIZ02LSur1Jn_AZH6Ed-2p4sdWY92imPMToow-ox70d5OhqpTHjT8jDaq-WStC3WfJ0nGpUmetaStDfMENyQKCVG8BumcjHPcoMvby7mvsLqLOAiU6fyHzabeZJP-31n8t3p7Hq_PCE/s320/4+bicicleta+fim+do+alcatrao.JPG" border="border=" /></a><br /><br />Prosseguimos e a estrada de terra batida, apesar de larga apresentava lavadouros (a passagem de veículos e o vento em estradas de terra batida, cria ondulações que se assemelham a tabuas de lavar roupa), algo que nem nós, nem as bicicletas apreciamos, que faz com que as médias a que pedalamos reduzam consideravelmente e que o meu suporte traseiro se parta eventualmente. No final, a estrada torna-se tão insuportável, que decidimos improvisar caminho pela pampa onde ao entardecer acampamos.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Gdwblj4dIn0cYaQ5AhQKJJpUwhnwvNWuAaNoLzoS8LNBtxjKtebY_SGTFyMF8yC2zuLRF6cSIccQQt_Qomy4lPED8Se6J33sTtQ2d5E96OHCsfEpU4tqOTx_XJqCC1Sm8e_cGbkaYiS5/s1600-h/7+joana+e+nuno+pampa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240413409629458738" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Gdwblj4dIn0cYaQ5AhQKJJpUwhnwvNWuAaNoLzoS8LNBtxjKtebY_SGTFyMF8yC2zuLRF6cSIccQQt_Qomy4lPED8Se6J33sTtQ2d5E96OHCsfEpU4tqOTx_XJqCC1Sm8e_cGbkaYiS5/s320/7+joana+e+nuno+pampa.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Acampamento na pampa</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBxpc1ysK9SMvETHgfpItBejlP7pipTCIye5eUNK8Hu5fYtzamErLg_OkQ9ng7h_G6jKyXHoFz9W5ul4q2RgspDJ0i0JftGkMoXm14uELuKOSZRrJr3JYCOgC5W4k_UjIwxuNo1xSPyCeO/s1600-h/9+acampamento+pampa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240413410729593634" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBxpc1ysK9SMvETHgfpItBejlP7pipTCIye5eUNK8Hu5fYtzamErLg_OkQ9ng7h_G6jKyXHoFz9W5ul4q2RgspDJ0i0JftGkMoXm14uELuKOSZRrJr3JYCOgC5W4k_UjIwxuNo1xSPyCeO/s320/9+acampamento+pampa.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Pausa para almoço</em><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414111021129250" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzMny7GVUcVY2VlIm3KEm7d4fdbPNFtqYBdTq5Uw6jlKDKtfjvyu8xoe6b7J1HlMMoC-pedcxXBRX8Iwa6mc9cDHf_beuz4zx59RmRJ206copecxE0kXTq3u2uCif1SGrIG7lAfFZRtJQQ/s320/16+pausa+para+almoco.JPG" border="0" /><br /><br />Estávamos já a cozinhar o jantar quando vindos do nada aparecem um casal de campesinos, com as suas lanternas, estavam assustados e queriam saber o que fazía-mos ali, depois de perceberem que éramos apenas dois ciclistas em viagem, voltaram para as suas casas algures na pampa. Nessa noite as temperaturas desceram aos 12 graus negativos. Despertamos para mais um dia de ciclo turismo, a estrada continuava com o efeito de lavadouro, por isso decidimos seguir os trilhos na pampa extensa e plana. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>A vasta pampa</em><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidPCu5Js0REflaK2aqkzIUn3Fw04vCEJsLCte9oUHB7504wyQbsjMYhfkNyBesS0jbOMw8V0CBHJghNFJ0v5nY9PwWQKVTlqYOBhRdqAL_cP6SKQKJShD6789cZ8gjkNkmqQEfGJC-vxCC/s1600-h/6+pampa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240413408581478434" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidPCu5Js0REflaK2aqkzIUn3Fw04vCEJsLCte9oUHB7504wyQbsjMYhfkNyBesS0jbOMw8V0CBHJghNFJ0v5nY9PwWQKVTlqYOBhRdqAL_cP6SKQKJShD6789cZ8gjkNkmqQEfGJC-vxCC/s320/6+pampa.JPG" border="0" /></a><br /><br />O almoço de sandes e enlatados e engrandecido pelo sítio magnífico onde decidimos almoçar: um pequeno salar o qual tem o centro ainda com água. Na distância os pontos rosas inconfundíveis - os flamingos.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg90bWGhKsSJW5mCwfiWBGxZua8PYY9OBpOmsDq2VxJGZKvT7c7XiUhL-C1ew0tAA59eTy6dokjN9ViIeja2EVf4zmNDn0YE3-8MlmKkaz03FEPlHNu8lwoGw_ML8lp2myjniJjHbsl4SM8/s1600-h/11+lago+flamingos+almoco.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240413419622044354" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg90bWGhKsSJW5mCwfiWBGxZua8PYY9OBpOmsDq2VxJGZKvT7c7XiUhL-C1ew0tAA59eTy6dokjN9ViIeja2EVf4zmNDn0YE3-8MlmKkaz03FEPlHNu8lwoGw_ML8lp2myjniJjHbsl4SM8/s320/11+lago+flamingos+almoco.JPG" border="0" /></a><br /><br />Da pampa lisa começam a irromper os primeiros montes, acampamos no cimo de um deles e passamos a noite mais fria da viagem, menos 17 graus.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjytUaP6CUhRnqITwXPZsYxgcUeAGqi5bf8dlwsHZZo4Mv9qEUOQq0biW-F5-u77GrUEoUR9RFT58wqSGsWY3rY-QYzwGmrPJo96LlhNcwJvl6hK7xm4jFn-ZRs8O2PyOfGGml5rUexElGY/s1600-h/10+nuno+primeiros+montes.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240413414146766866" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjytUaP6CUhRnqITwXPZsYxgcUeAGqi5bf8dlwsHZZo4Mv9qEUOQq0biW-F5-u77GrUEoUR9RFT58wqSGsWY3rY-QYzwGmrPJo96LlhNcwJvl6hK7xm4jFn-ZRs8O2PyOfGGml5rUexElGY/s320/10+nuno+primeiros+montes.JPG" border="0" /></a><br /><br />No dia seguinte o sobe e desce e o mau estado da estrada continuam. Chegamos a Ancaravi e olhamos surpreendidos a inesperada estrada de alcatrão que não vinha assinalada nos nossos mapas e que nos levou em bom piso até Huachacallas. Infelizmente o vento de frente fez a sua aparição e as bikes rodavam a ritmo lento, foi-nos difícil avançar porque o vento parecia uma parede invisível, os nossos conta quilómetros assinalam uma média de 6 a 7 quilómetros por hora, apesar da estrada ser quase plana e alcatroada.<br /><br /></div><div align="justify"><em>De novo, estrada alcatroada</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuigtlahaf3bx91grOo51vGRco0Y6M82nGNTZSBtC5V3HBWxUM5E5T5BTuNrLgoAVU6u8o72s3z8q5Eb7HaconW5ywKiM104Rsh95aHQ69EN53L3JmxDRiOOwoVrSwI9JPkH6u0QrBCUV6/s1600-h/15+estrada+de+alcatrao.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414110296869842" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuigtlahaf3bx91grOo51vGRco0Y6M82nGNTZSBtC5V3HBWxUM5E5T5BTuNrLgoAVU6u8o72s3z8q5Eb7HaconW5ywKiM104Rsh95aHQ69EN53L3JmxDRiOOwoVrSwI9JPkH6u0QrBCUV6/s320/15+estrada+de+alcatrao.JPG" border="0" /></a><br /><br />Nuno comprando o almoço a uma vendedora ambulante em Opequeri</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVts4jtkAD-GXHTYB45khUVWuLzZwJFFBzKo4c-oSOol6bxrGUwzQpdewF_ea6GST7jS-kqdhGJG0q5n4fhwS_9uyIdi0A5QhjJ-K2RKZgF8Ij_Mg478olDKFVDrZxS2vc9yh307EpwANG/s1600-h/13+nuno+comprando+a+vendedora+ambulante.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414107266782258" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVts4jtkAD-GXHTYB45khUVWuLzZwJFFBzKo4c-oSOol6bxrGUwzQpdewF_ea6GST7jS-kqdhGJG0q5n4fhwS_9uyIdi0A5QhjJ-K2RKZgF8Ij_Mg478olDKFVDrZxS2vc9yh307EpwANG/s320/13+nuno+comprando+a+vendedora+ambulante.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>Igreja em Opequeri</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP4vZeP0s1YRcInZsFQFeqY8cEToivq1ob-OxksxrEUAVc_R965HQFj-A2-OktV5vPK4w2TG28i9ewSPxHsHVr9pg9KxTv3XKXglz-cmYk-fCqOZ_Hn3sNtUvLByTkwB-tDZS4NyTbHKQC/s1600-h/14+igreja+em+Ancaravi.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414104815517234" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP4vZeP0s1YRcInZsFQFeqY8cEToivq1ob-OxksxrEUAVc_R965HQFj-A2-OktV5vPK4w2TG28i9ewSPxHsHVr9pg9KxTv3XKXglz-cmYk-fCqOZ_Hn3sNtUvLByTkwB-tDZS4NyTbHKQC/s320/14+igreja+em+Ancaravi.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify">Mais uma noite fria e estrelada estende o seu manto sobre a nossa tenda e burras. Chegamos no dia seguinte a Huachacallas, o vento parece ter abrandado e há uma loja com vegetais e alguma comida, mas o nosso MSR (fogão a gasolina) está vazio e as bombas de gasolina da aldeia também. A Bolívia atravessa uma crise política, económica e social, e apesar do governo não querer admitir, a falta de abastecimento de combustíveis está já a afectar grande parte do país.<br /></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>Chipaya ao pôr do sol e as suas misteriosas construçoes</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoWrjvRjm04dwhcB4ALvfIB5qk-ZxtxTJufP0sl1zKV-v_rrL1KbK2NTH6s3wuLTL7M1XNStmnK7a_otG6wG79lHdxM73Jw3NAsgBuHDl494_BXSQPLeGAYBK6p6mqGbUhBVzY9E-p-2wl/s1600-h/22+chipaya+construcoes.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414837228950514" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoWrjvRjm04dwhcB4ALvfIB5qk-ZxtxTJufP0sl1zKV-v_rrL1KbK2NTH6s3wuLTL7M1XNStmnK7a_otG6wG79lHdxM73Jw3NAsgBuHDl494_BXSQPLeGAYBK6p6mqGbUhBVzY9E-p-2wl/s320/22+chipaya+construcoes.JPG" border="0" /></a><br /><br />Seguimos em direcção a Chipaya, aldeia de mitos e lendas, onde vivem os Chipayas - descendentes da cultura Tihawuanaco, uma das primeiras e mais avançadas culturas da América que posteriormente deu origem, entre outras, à cultura dos Urus. Depois de sairmos de Huachacallas somos obrigados a cozinhar com lenha, porque não encontramos combustível em lado nenhum, os tachos que o Nuno mantinha, com tanto orgulho, imaculados, tornam-se negros do fogo, notei alguma comoção sua expressão quando viu os tachos carbonizados. Cozinhei um bom jantar, e passámos uma noite à fogueira a ver as estrelas e a noite límpida do altiplano.<br /><br />No caminho para Chipaya encontramos umas construções peculiares, e suponho que o foi o meu espírito de "Indiana Jones" que me fez parar a burra e averiguar que construções seriam aquelas. Para minha surpresa, dentro desses edifícios estavam caveiras e ossos, eram edificações funerárias dos antigos Chipayas. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>A caminho de Sabaya</em><br /><em>construçoes funerárias dos Chipayas</em><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeS0bSU33wcVjeTWqThUdmbCKr6JFwqHqrbb-2BFK4I4C7WGyhQwDFXBT-8zt-it7Km9iryXRnUc9dz3eGW4V-_OLSutgzbjICmccH5mQebUZ2p2zTQH2bCFhqcobZf4kNb3sywLEQ_dDv/s1600-h/17+nuno+construcoes+funerarias.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414827654910530" style="WIDTH: 350px; CURSOR: hand; HEIGHT: 276px" height="255" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeS0bSU33wcVjeTWqThUdmbCKr6JFwqHqrbb-2BFK4I4C7WGyhQwDFXBT-8zt-it7Km9iryXRnUc9dz3eGW4V-_OLSutgzbjICmccH5mQebUZ2p2zTQH2bCFhqcobZf4kNb3sywLEQ_dDv/s320/17+nuno+construcoes+funerarias.JPG" width="333" border="0" /></a><br /><br />Nesse dia também, tivemos que atravessar aquele que seria um dos muitos rios gelados que se interpunham no nosso caminho. Recordo com doçura esse evento (apesar dos meus pés terem quase atingido o ponto de congelação), ajudei uns pastores a atravessar um rebanho enorme de ovelhas que não queriam, com muita razão, atravessar as águas gélidas daquele rio, pus debaixo dos braços alguns dos cordeiritos pequeninos, que estavam assustados e tremiam de frio e depois de muitas tentativas e tácticas falhadas, o grande rebanho teimoso e tresmalhado lá a atravessou o rio. Seguimos caminho.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Atravessando o rio gelado e o rebanho<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibnxDiHMoRIh2buTG05KIleMHIEQnzGQeQQR2PBhBytklsdaSKb3ypsEPdiSILPwo-0pqTv02o0YbzJekb14ujAoV-ngkYIZyv5orIAgzH7lDxCUVMJyOMIYmbatQ5tue9sygp-u9_8EDw/s1600-h/18+pastores+rio+gelado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414833883512962" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibnxDiHMoRIh2buTG05KIleMHIEQnzGQeQQR2PBhBytklsdaSKb3ypsEPdiSILPwo-0pqTv02o0YbzJekb14ujAoV-ngkYIZyv5orIAgzH7lDxCUVMJyOMIYmbatQ5tue9sygp-u9_8EDw/s320/18+pastores+rio+gelado.JPG" border="0" /></a><br /><br />Em Chipaya, alguns dos locais ainda preservam os seus trajes - as mulheres têm os seus cabelos com várias tranças e os homens vestem ponchos bastante distintso. Ficámos alojados no salão de reuniões da aldeia, ao lado da casa o Alcaide (Presidente da Freguesia). A cultura dos Chipaya é uma das mais interessantes da Bolívia, têm uma linguagem bastante distinta do Aymara ou do Quechua (as duas línguas indígenas mais faladas no país) e pensa-se que sejam descendentes dos Urus, o povo das ilhas flutuantes do Lago Titicaca. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>A aldeia de Sta. Ana de Chipaya</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX9_CcfjQhZ0Q8n8UpfljuRM5R2BQleZ61Ugdd7GSs3G-LFycpjTC-wiKeRq6ZGMFvDXNXVoe1HgY_AWY0Ivz4nHuM7QjOD1-Q4Gaq-qLM2oO6wc-uFgcxhpD9itad1EkTfcTShxCcDUkg/s1600-h/19+chipaya+casas+redondas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414832534951202" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX9_CcfjQhZ0Q8n8UpfljuRM5R2BQleZ61Ugdd7GSs3G-LFycpjTC-wiKeRq6ZGMFvDXNXVoe1HgY_AWY0Ivz4nHuM7QjOD1-Q4Gaq-qLM2oO6wc-uFgcxhpD9itad1EkTfcTShxCcDUkg/s320/19+chipaya+casas+redondas.JPG" border="0" /></a><br /><br />Na manha seguinte, vamos em busca de comida e gasolina pela pequena aldeia mas sem sorte, conseguimos pouco mais do que uma lata de peixe enlatado, uns ovos, umas bolachas e nada de gasolina, "talvez em Sabaya", somos informados. Começamos a ter noção da realidade daquelas gentes e da nossa: as pequenas mercearias têm cada vez menos mantimentos, e verduras ou frutas são inexistentes. Olhamos para os nossos alforjes e as prateleiras das lojas com preocupação, será que teremos comida suficiente para as nossas necessidades de ciclistas? Parece-nos que não. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>Crianças observando o interior da escola em Chipaya</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWDridAIg2oFkpkXC-AVrQrBlHs0BAoKwWqA5lSAUS_j_LednkUUQ2g8Be1P4XwUBjUplvNJkAqWgpgCwmLbp3nT5oBrX_iGOO0DZw0YfLNW10xCzCOldHlndIMTTxqWDQ8N1QRQW0z6UN/s1600-h/20+criancas+escola+chipaya.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240414831460539746" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWDridAIg2oFkpkXC-AVrQrBlHs0BAoKwWqA5lSAUS_j_LednkUUQ2g8Be1P4XwUBjUplvNJkAqWgpgCwmLbp3nT5oBrX_iGOO0DZw0YfLNW10xCzCOldHlndIMTTxqWDQ8N1QRQW0z6UN/s320/20+criancas+escola+chipaya.JPG" border="0" /></a><br /><br /><br /><strong>De Chipaya a Llica - Por dunas de areia e a travessia do primeiro salar</strong><br /><br />Perguntamos aos locais se existe uma estrada directa entre Chipaya e Sabaya sem termos que voltar para trás e atravessar o rio gelado do dia anterior. As respostas são unânimes: existe um carreiro pela pampa que é mais curto apesar de ter mais areia. Parece-nos bem, areia è algo que sabíamos que de uma forma ou de outra nos apareceria pelo caminho. Dizem-nos também que sao cerca de 30 a 40 quilómetros de distância, pelo que estimamos que um dia chegará para chegarmos a Sabaya. Um senhor idoso apontou-nos para um monte indicando-nos que Sabaya estava no seu sopé, e indicou-nos também o local menos profundo para atravessar o Rio Lauca que desagua no Salar de Coipasa. Seguimos atravessando mais um rio gelado, num dia também cinzento e ventoso. Nao sabíamos que ao atravessar aquele rio o que realmente nos esperava.<br /><br /><em>A saida de Chipaya</em><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnDM-X9-WxIYump5Yl_px1voUTme3bphWCG2asIB0jnaW8cQ8x3hStCvynO32PGinAiqL-dIl-gyJ6P1tuvy4OvET6-26by9hHVBisM57JeDhyYV6y-ahoXG7-MyIrXGyN-3gYTc0xSgvK/s1600-h/21+saida+de+chipaya.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240419354118120578" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnDM-X9-WxIYump5Yl_px1voUTme3bphWCG2asIB0jnaW8cQ8x3hStCvynO32PGinAiqL-dIl-gyJ6P1tuvy4OvET6-26by9hHVBisM57JeDhyYV6y-ahoXG7-MyIrXGyN-3gYTc0xSgvK/s320/21+saida+de+chipaya.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">O solo salino entre Chipaya e Sabaya<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAInSj5uMStu4rQIMhIdGfnYEoWI5pGt1tRqsLrA_XuQKRiXGglSKWxK98wlb9X1ozH9pX7sorovQmMuPbZJM6G8Yj3Pa9uH8GTGe-MBgq5alm-pysIZR4r5hjOPRdFTw04oFC2agQi4EM/s1600-h/22+chipaya+sabaya+bicla+nuno.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240419359414101506" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAInSj5uMStu4rQIMhIdGfnYEoWI5pGt1tRqsLrA_XuQKRiXGglSKWxK98wlb9X1ozH9pX7sorovQmMuPbZJM6G8Yj3Pa9uH8GTGe-MBgq5alm-pysIZR4r5hjOPRdFTw04oFC2agQi4EM/s320/22+chipaya+sabaya+bicla+nuno.JPG" border="0" /></a><br /><br />Ao inicio haviam bastantes trilhos, dentro dos quais um se demarcava claramente, mas passados uns 5 quilómetros os trilhos multiplicaram-se sem grande ordem ou sentido, olhávamos o cerro distante como ponto de referência para escolhermos o nosso caminho. A nosso redor, centenas de construções redondas feitas com blocos de lama e sal extraídos do solo desafiando o vento, a chuva, o sol e o tempo, eram as construções originais dos Chipayas e expediam-se por quilómetros, para lá do que a vista alcançava, já não são utilizadas, aquela terra salina e desértica é agora um mero cenário das construções fantasma e não se avista uma única pessoa, o silêncio é cortante e o sentimento de isolamento, o maior que alguma vez senti. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>As construçoes fantasma dos Chipayas</em><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRO0PrFclG0xkIKjKUZ45ZP8jrb9ZorwmMadRBFuFAQ8Nq2xnhPkxkFltOkTPrZ-BLUJPh4cwjzXsNBHKiEYPv8PM5BE2MJFeaViQEV67s4nlCY4T1zvFf1jDcvI_71J383nImjYdHi9tx/s1600-h/20+0+joana+casa+chipaya+e+bicicleta.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240719797911477650" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRO0PrFclG0xkIKjKUZ45ZP8jrb9ZorwmMadRBFuFAQ8Nq2xnhPkxkFltOkTPrZ-BLUJPh4cwjzXsNBHKiEYPv8PM5BE2MJFeaViQEV67s4nlCY4T1zvFf1jDcvI_71J383nImjYdHi9tx/s320/20+0+joana+casa+chipaya+e+bicicleta.JPG" border="0" /></a><br /><br />De múltiplos trilhos a paisagem transforma-se em zonas alagadas por água e sal, não podemos pedalar as bicicletas, há lodo e lama por todo o lado, somos obrigados a retirar as malas das bicicletas e atravessar uma por uma tentando não ficar atolados. Do nada apareceu um leitão a roncar, começou a seguir-nos, devia sentir-se sozinho porque tentava a todo o custo acompanhar o nosso ritmo, depois distraiu-se com algo e começou a escavar o solo. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>O leitao da pampa<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSAxY5Mju7Bghnllk7lsspqeV2aRek-j9RHWuNM_sbCIDrbmLdVeHHtIIETfbVZ8ecRwF08UNDfln1Cd1Ygp6E03CSMjY3_i_J7hBwAAujXAb25JsF_RIiXng6x9Vyqh3UaigtK679kGHA/s1600-h/20+0+leitao.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240721336553265890" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSAxY5Mju7Bghnllk7lsspqeV2aRek-j9RHWuNM_sbCIDrbmLdVeHHtIIETfbVZ8ecRwF08UNDfln1Cd1Ygp6E03CSMjY3_i_J7hBwAAujXAb25JsF_RIiXng6x9Vyqh3UaigtK679kGHA/s320/20+0+leitao.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPTV61H7ITlUodnLhSIzG3gBZTYOTWFzg2DewvOvBNYlfcMW9X1dbQKZ_MwVE7t_rJPSIVaoJyWe7YOpHhGiH9jzYY2yTRVa-gbLCFwfv2qyAyFKjZrJ5NwoHxz30wlJqWrm1hGKFzUgok/s1600-h/20+0+joana+casa+chipaya.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240717690439643826" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPTV61H7ITlUodnLhSIzG3gBZTYOTWFzg2DewvOvBNYlfcMW9X1dbQKZ_MwVE7t_rJPSIVaoJyWe7YOpHhGiH9jzYY2yTRVa-gbLCFwfv2qyAyFKjZrJ5NwoHxz30wlJqWrm1hGKFzUgok/s320/20+0+joana+casa+chipaya.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Atravessando as malas por rios de lama e sal<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh25sHFK5mdsj7boV8GKF3GzCZoG83UjofMah70MKnskI6ry2qmkLxIxhFyTMt-P70X8e_7pelPEdqsHyPqZBx4vlghThQEcZBc6v37qUz2KWA3sI56yGxMzV0hagrhGIIvIKBv4gnrY4hX/s1600-h/20+0+atravessar+coisas+chipaya+sabaya.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240717688374068962" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh25sHFK5mdsj7boV8GKF3GzCZoG83UjofMah70MKnskI6ry2qmkLxIxhFyTMt-P70X8e_7pelPEdqsHyPqZBx4vlghThQEcZBc6v37qUz2KWA3sI56yGxMzV0hagrhGIIvIKBv4gnrY4hX/s320/20+0+atravessar+coisas+chipaya+sabaya.JPG" border="0" /></a><br /><br />Avançamos, devia pertencer a alguém, e realmente um leitão como animal de estimação não estava nos planos (se bem que com a fome que viémos a passar nos dias seguintes parece-me que o Nuno se ia sentir bastante tentado a pô-lo no espeto).O vento levantou-se com uma pertinência assustadora e depois de 8 quilómetros a empurrar a bicicleta na lama, a atravessar pântanos, decidimos buscar abrigo numa das construções circulares dos Chipayas. Aí passámos a noite.<br /><br />No dia seguinte olhámos Chipaya à distância, e decidimos avançar porque não queríamos voltar a atravessar aqueles rios gelados e os pântanos lamacentos do dia anterior. Seguramente que o caminho melhoraria, ou assim o esperávamos. O solo trilhado pelas bicicletas começou a mudar e a dar lugar a um solo arenoso, passámos os próximos 20 quilómetros a empurrar as bikes, o que tendo em conta o peso dos seus alforjes foi um exercício extremamente lento e doloroso.<br /></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>Nuno puxando a bicicleta</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9z473j-hiUO1POfFClDEnO1gg4o2YetTbwFI26HCca_A19qL1QD0mYo96Z7muOdbeqznkEuiQX1sXxuIQq9IJLfbaB8daj5_nMJxanRl0ZmdzxPzR22cn55YQB61cHOVa0E44b5oJfxOp/s1600-h/23+nuno+puxando+bike.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240419365366061634" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9z473j-hiUO1POfFClDEnO1gg4o2YetTbwFI26HCca_A19qL1QD0mYo96Z7muOdbeqznkEuiQX1sXxuIQq9IJLfbaB8daj5_nMJxanRl0ZmdzxPzR22cn55YQB61cHOVa0E44b5oJfxOp/s320/23+nuno+puxando+bike.JPG" border="0" /></a><br /><br />Não tínhamos a certeza de estar no caminho certo, e a montanha à nossa distância era o nosso único ponto de referência. Almoçámos a lata de peixe enlatado, só que para meu choque aquilo que vejo dentro dela é uma mistela castanha que mais parece comida de má qualidade para gatos. Como duas bolachas com aquela pasta castanha, mas é-me impossível comer mais. Bebemos um café e arrumamos as coisas para seguir viagem. Viro-me de costas e - Baaanggg!!! Um som seco na areia. O Nuno deixou cair a bicicleta mais uma vez - penso. Viro-me para trás. A bicicleta estava em pé, quem estava estatelado e inerte no chão era o Nuno. Pensei, "que sítio fantástico para desmaiar aqui na maior das desolações, pelo menos era areia e não chão duro!". Corro para ele. Esboço o ar de menos preocupada que consigo, quando finalmente desperta nos meus braços. - "Que passou?", pergunta-me. -"Deves ter tido uma quebra de tensão, desmaias-te". Enquanto o Nuno vocalizava as razoes pelas quais o seu desmaio se possa ter sucedido, na minha cabeça, os planos do que faria se o seu estado piorasse, tomavam forma: montaria a tenda, onde o deixaria, aqueceria as botijas de água quente, faria comida, e seguiria a pé em busca, naquele deserto desolado onde estávamos encalhados, por ajuda. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Areia e mais areia<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiK_0ovcheuOnnYL2qkiM7bxMBlcVbOA0LEwMO29DEVvtWsBq4j4SkBquFEYhKy4vT4PpD5lbgNnTWRfzCTEaqDoineE7YwQee9qTByIvd4G2uj9Cq7GztKIBl85pfGD7sGdCC5qbeWqOz/s1600-h/20+0+joana+dunas+dunas+bicicltea.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240719804433767106" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiK_0ovcheuOnnYL2qkiM7bxMBlcVbOA0LEwMO29DEVvtWsBq4j4SkBquFEYhKy4vT4PpD5lbgNnTWRfzCTEaqDoineE7YwQee9qTByIvd4G2uj9Cq7GztKIBl85pfGD7sGdCC5qbeWqOz/s320/20+0+joana+dunas+dunas+bicicltea.JPG" border="0" /></a><br /><br />O Nuno decidiu continuar depois de recuperar do susto. A areia intensificava-se e fazía-mos turnos para trilhar o caminho para que o que fosse atrás tivesse mais facilidade em puxar a bicicleta. O vento era fortíssimo, e isso não só nos dificultava a já difícil tarefa de empurrar a burras, mas também, nos feria a cara e não nos permitia respirar adequadamente. Uma verdadeira tortura. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>...e mais areia!<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMpNJygegVKxIl7adFWswZfaz6pygAIIdgbGnIgLmWeA_ryOGCbhxIgPqwtvHICqhc3FEqlmAq304MeLMa-7nMkCx0nf6X_6PYrCzJtxWqrRWuFlKuG9mapd2gpYJy_BMnnODwtBaBLqwL/s1600-h/20+0+joana+atraevssar+areia.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240717687461333490" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMpNJygegVKxIl7adFWswZfaz6pygAIIdgbGnIgLmWeA_ryOGCbhxIgPqwtvHICqhc3FEqlmAq304MeLMa-7nMkCx0nf6X_6PYrCzJtxWqrRWuFlKuG9mapd2gpYJy_BMnnODwtBaBLqwL/s320/20+0+joana+atraevssar+areia.JPG" border="0" /></a></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br />Estava preocupada com o Nuno, sentia que ele estava débil, mas tínhamos que avançar, não tínhamos escolha. Para desânimo uma duna gigantesca interpôs-se no nosso caminho. Empurramos uma bicicleta de cada vez e depois do obstáculo ultrapassado continuamos a nossa saga através das areias do altiplano. O vento continuava forte, e a noite estava a cair, estáva-mos determinados a chegar a Sabaya naquele dia, mas o que nos rodeava fez-nos cair na realidade - ao entardecer não uma, mas um infinito de dunas estendia-se à nossa frente, era loucura continuar.<br /><br /><em>Dunas na nossa travessia</em> </div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvgljjyyqm2HzdI9IRa5l49UJ6Hf4nzZTQNkRmPvXX0ljCDxshtMya7RoI9zt2FybrDeH57_z5z_o0nbuL7hQCm6yy6aygewpavXD_NI1-W435oIzjejBtL1ZcDjCssHfom_zex3Pu5niT/s1600-h/26+dunas+panoramicas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240420206522220290" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvgljjyyqm2HzdI9IRa5l49UJ6Hf4nzZTQNkRmPvXX0ljCDxshtMya7RoI9zt2FybrDeH57_z5z_o0nbuL7hQCm6yy6aygewpavXD_NI1-W435oIzjejBtL1ZcDjCssHfom_zex3Pu5niT/s320/26+dunas+panoramicas.JPG" border="0" /></a><br /><br />Do topo de uma das dunas podíamos ver ao longe a torre da igreja da aldeia de Sabaya, mas teríamos que deixar a travessia daquele mar de areia para o dia seguinte, o vento e o frio fustigavam os nossos corpos cansados. Olhámos aos nossos mantimentos, não nos sobrava muito e a água era pouco mais do que suficiente para cozinharmos algo para o jantar e o pequeno almoço. Que dia pensámos, e o dia seguinte não seria melhor, com a quantidade de dunas que teríamos que atravessar. Era óbvio que o conceito de caminho para os locais era bem distinto do nosso.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpmTF93KSmcptIqqt8cLXhqcFF8J7t05VMHCRX6ptlzd7ck-1wJomFZ7fWtSGVdDPTV9tmFFWOqXPjKRiRRulOY4UExGBWEO62yRSB7XndIkOkKnXbSRj1ACS6ZPLq0lcIde-H7dZa4PM-/s1600-h/20+0+areia+joana+atravessar.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240717685571665250" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpmTF93KSmcptIqqt8cLXhqcFF8J7t05VMHCRX6ptlzd7ck-1wJomFZ7fWtSGVdDPTV9tmFFWOqXPjKRiRRulOY4UExGBWEO62yRSB7XndIkOkKnXbSRj1ACS6ZPLq0lcIde-H7dZa4PM-/s320/20+0+areia+joana+atravessar.JPG" border="0" /></a><br /><br />No dia seguinte ainda eram visíveis os trilhos deixados por dois locais que arrastaram também as suas bicicletas pela noite até Sabaya e com os quais me deparei, para grande susto, quando saía da tenda para ir à "casa de banho". Seguimos os trilhos, que nos levaram até Sabaya em menos de três horas, evitando as dunas maiores. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Acampamento e os trilhos das bicicletas da noite anterior</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXuDpDFcGGxpL011ReKwl-9tW9zfuwra6yeZoRt_DkvQGee0oIyoePY_wjOtXQAavxCSyTLrPdsGDSU1PNt31VHWx5og7DujC1IlPyLr7612Uz_cJwiVLKzkeyoDBgHsfkKZaiOT57qtKP/s1600-h/27+marcas+biclas+dunas.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240420209839913746" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXuDpDFcGGxpL011ReKwl-9tW9zfuwra6yeZoRt_DkvQGee0oIyoePY_wjOtXQAavxCSyTLrPdsGDSU1PNt31VHWx5og7DujC1IlPyLr7612Uz_cJwiVLKzkeyoDBgHsfkKZaiOT57qtKP/s320/27+marcas+biclas+dunas.JPG" border="0" /></a><br /><br />Decidimos ficar esse dia a descançar e a usufruir de uma cama debaixo de um tecto. Fomos às compras mas nao conseguimos encontrar verduras em lado nenhum, tivémos que convencer a dona de um resturante a dispensar-nos algumas cenouras, batatas e cebolas. Comprámos alguns enlatados e encontrámos gasolina. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Travessia de um rio gelado (pode ver-se o gelo) </em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnaLFUQI8p8uU2UHryNPa6QWCVrGZZY03XwhzTPmPI6dFGG8GLS-u007Qlg0PoSPYNvYR6b0o8yfIta_m1S2Ch6iRDNERTZoQ6e1EkWKikPwmPzYSwSUVMZmIKMh6YnmdNYlOeR0xpJTuc/s1600-h/20+0+joana+travessia+rio+gelado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240721333366550354" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnaLFUQI8p8uU2UHryNPa6QWCVrGZZY03XwhzTPmPI6dFGG8GLS-u007Qlg0PoSPYNvYR6b0o8yfIta_m1S2Ch6iRDNERTZoQ6e1EkWKikPwmPzYSwSUVMZmIKMh6YnmdNYlOeR0xpJTuc/s320/20+0+joana+travessia+rio+gelado.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Aldeia de Sabaya<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZdug97PB-2AZISlq-OfVHtzPeEfYFAWRNt1Az2bdUX6CxEuARcxN7GOmtBj0_PC1T7ATgS4H3ffLseo5hu_GAHc45ERMr27-klFQEuHvh4j7wFHPMrm8hhSYhgNrQ_9qBZHB0fOdpcENY/s1600-h/29+sabaya.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240420212613518130" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZdug97PB-2AZISlq-OfVHtzPeEfYFAWRNt1Az2bdUX6CxEuARcxN7GOmtBj0_PC1T7ATgS4H3ffLseo5hu_GAHc45ERMr27-klFQEuHvh4j7wFHPMrm8hhSYhgNrQ_9qBZHB0fOdpcENY/s320/29+sabaya.JPG" border="0" /></a><br /><br />Seguimos em direçao a Villa Vitallina para entrarmos no nosso primeiro grande salar, o de Coipasa. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Chegada a Villa Vitallina<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4UnizawDBNKJG_EZCwDiEHQbkwF9ak40muHovtkbzgvjlAp4QERU47_Lf5_sx-sLMuaKmsdTJXRN2OgWh6v2xI1aKhRGqFZSjJxaVyaXdqjSRAfw8EKhZmuI3tf9xyYN8tbj48KUhNK26/s1600-h/30+vila+vitalina+sinais.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240420212195644738" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4UnizawDBNKJG_EZCwDiEHQbkwF9ak40muHovtkbzgvjlAp4QERU47_Lf5_sx-sLMuaKmsdTJXRN2OgWh6v2xI1aKhRGqFZSjJxaVyaXdqjSRAfw8EKhZmuI3tf9xyYN8tbj48KUhNK26/s320/30+vila+vitalina+sinais.JPG" border="0" /></a><br /><br />Depois de pedalarmos cerca de uns 10 quilómetros no salar, chegámos à ilha que se encontra no seu centro e aí acampámos, a verdadeira travessia seria feita no dia seguinte. Haviam-nos avisado que o salar ainda tinha água, não sabíamos muito bem o que pensar, nem se isso significava que não o poderíamos atravessar. No dia seguinte entrámos novamente no salar e tudo o que víamos era puro branco, não avistávamos água e decidimos a travessia. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><br /><em>Pôr do sol na ilha de Coipasa</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjRjwQawkS-ur1deM-0ENeUQYnaUirvGiFp7PlAjkpn2yeqfS7kNx_yPG2mN4GXe2hKCWl2nIfJY3k4g9ZJzBpV1P6yCOWYHXRtUdJj4AIsKk1OXZGiU8_EpWVqSms1cj4lgNWkMIXI5cq/s1600-h/32+joana+sunset+coipasa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240421471302345954" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjRjwQawkS-ur1deM-0ENeUQYnaUirvGiFp7PlAjkpn2yeqfS7kNx_yPG2mN4GXe2hKCWl2nIfJY3k4g9ZJzBpV1P6yCOWYHXRtUdJj4AIsKk1OXZGiU8_EpWVqSms1cj4lgNWkMIXI5cq/s320/32+joana+sunset+coipasa.JPG" border="0" /></a><br /><br />Escutava-se apenas o ruído dos nossos pneus a trilhar o sal, o céu era azul celeste e o ar cristalino, no horizonte as montanhas silenciosas. Seguíamos os trilhos dos carros, mas estes foram ficando menos marcados até desaparecerem por completo, víamos já terra, só que era impossível calcular a distância, e ao final do dia, o inesperado aconteceu - água, água por todo o lado e nao sabíamos por quantos quilómetros, que profundidade atingiria. Voltámos para trás para salar seco, a noite caía e decidimos que não queríamos congelar tentando atravessar aquelas águas geladas, acamparíamos no salar e no dia seguinte reavaliaríamos as nossas opções. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Céu azul no salar de Coipasa<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4UFne31E9-E6lXqKVBfId4MLnAHmhTEhxpYUpYSi1lTnJJnDiAhZdY6bGD1Hqo93CJBe-9qrgUyit-_zI-qUOs52mFQM99PFwPRKSTTEUg_roXxo4zs1ppzDSwJ8w76mfjDtPMpv3doRH/s1600-h/33+coipasa+nuvens+estranha.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240421471033033810" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4UFne31E9-E6lXqKVBfId4MLnAHmhTEhxpYUpYSi1lTnJJnDiAhZdY6bGD1Hqo93CJBe-9qrgUyit-_zI-qUOs52mFQM99PFwPRKSTTEUg_roXxo4zs1ppzDSwJ8w76mfjDtPMpv3doRH/s320/33+coipasa+nuvens+estranha.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsLrqVWPxglYWKP2Pf24zfVbUE9qQc7GULC3HKmq1Yvht4Y4nGsCLZuwD_4L_2SHkEzTEkJba67osIj-Zicg3rVfvKj0QhrFH0NAv-jIazou6qG1BBrIUZ_ePUa7GJeCHFgsQ7aQarXKpL/s1600-h/20+0+joana+salar+bicicleta.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240721332081803026" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsLrqVWPxglYWKP2Pf24zfVbUE9qQc7GULC3HKmq1Yvht4Y4nGsCLZuwD_4L_2SHkEzTEkJba67osIj-Zicg3rVfvKj0QhrFH0NAv-jIazou6qG1BBrIUZ_ePUa7GJeCHFgsQ7aQarXKpL/s320/20+0+joana+salar+bicicleta.JPG" border="0" /></a><br /><br /><em>Salar de Coipasa, rodeada de água<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWlSISM8bfVBfdKXMDu0POqsVtYaMp0qOa4ILdfIkpzF1OGVK4JXUKIuWfX-IonvCCMd8DRaHzUM19WeKqIgqha5lB2sdPS2eM2FPGo7HXu44YzOxoVE2s7tWev6-jE9OdyDHlscYX3hnm/s1600-h/20+0+joana+salar+agua+sozinha.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240719807198487938" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWlSISM8bfVBfdKXMDu0POqsVtYaMp0qOa4ILdfIkpzF1OGVK4JXUKIuWfX-IonvCCMd8DRaHzUM19WeKqIgqha5lB2sdPS2eM2FPGo7HXu44YzOxoVE2s7tWev6-jE9OdyDHlscYX3hnm/s320/20+0+joana+salar+agua+sozinha.JPG" border="0" /></a><br /><br />Montámos a tenda no chão duro salino, o Nuno tinha-se esquecido de trazer uma pedra e a sua função foi dificultada. Sentimos o frio a vir do chão salino, mas as temperaturas nocturnas não foram tão baixas quanto esperávamos. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Primeiro acampamento no salar<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMgunEwbZFklz2ZuML5b1CfUIrRvRT0Dq_sdO-d0xKlsqajhmZkF7QrSHE6-4JaLj-jlf1HjyD_MAnL2N2tulZbqtahlohmXLsrntGqLoIjka4NN7w85S8MtPgDfx_t_i_nYVpwy4Ccvd/s1600-h/39+primeiro+acampamento+coipasa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240422258528597314" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMgunEwbZFklz2ZuML5b1CfUIrRvRT0Dq_sdO-d0xKlsqajhmZkF7QrSHE6-4JaLj-jlf1HjyD_MAnL2N2tulZbqtahlohmXLsrntGqLoIjka4NN7w85S8MtPgDfx_t_i_nYVpwy4Ccvd/s320/39+primeiro+acampamento+coipasa.JPG" border="0" /></a><br /><br />O pôr do sol foi um dos mais bonitos que alguma vez presenciei na minha vida. No dia seguinte, decidimos atravessar a água, porque não queríamos andar ás voltas no salar. Pedalar aquela superfície foi como percorrer um espelho, reflectindo tudo em seu redor como um eco nítido das montanhas, do céu, dos ciclistas loucos que por ali andam. Foi uma experiência fantástica quase sobrenatural.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglJQlJGG-OEQeHh8YFCXCD_WrwjaFNGmbAaXIZ3tVo-t5Q6Y1V7J6yR61nPG4MKwMqrqbs-35YJHlyfg2v5WhQVXfCekpifU2enSeyzwhwDXuLxPuyUJcr7jrg58YN3ZZprhLhDRA8nP6J/s1600-h/38+por+do+sol+no+salar+coipasa.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240422255653024594" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglJQlJGG-OEQeHh8YFCXCD_WrwjaFNGmbAaXIZ3tVo-t5Q6Y1V7J6yR61nPG4MKwMqrqbs-35YJHlyfg2v5WhQVXfCekpifU2enSeyzwhwDXuLxPuyUJcr7jrg58YN3ZZprhLhDRA8nP6J/s320/38+por+do+sol+no+salar+coipasa.JPG" border="0" /></a><br /><br /><em>Água ao fim do dia</em><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipS4-pGMG8rU4Wz_9KMK351kQyy-1latXFEhkdcbfjamN8iRXsMBmvCuIulnVXq5z-s3s5rm1kaecRmOupfpt-NqLsr_N6xBpwV3dTg0SwLW-ElK9F-USFoh9hg8VzzoU2FY3BqpJaPpZq/s1600-h/37+agaua+ao+fim+do+dia.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240422255994117186" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipS4-pGMG8rU4Wz_9KMK351kQyy-1latXFEhkdcbfjamN8iRXsMBmvCuIulnVXq5z-s3s5rm1kaecRmOupfpt-NqLsr_N6xBpwV3dTg0SwLW-ElK9F-USFoh9hg8VzzoU2FY3BqpJaPpZq/s320/37+agaua+ao+fim+do+dia.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><em>Água e o efeito de espelho no salar de Coipasa</em> </div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkXFTCi-h8Atk4fvilo01J3QWAPI3FufhcLI5ZW0d2Gdz48hep99qTV_y2P0OWOltxXbqRxo6con5y4kILAgg6iEK2b-vvLwhFmp0sfPI055OfCDKXAkl3kesMs61msEYN_wQ1YeYSDQ6Q/s1600-h/43+salar+espelho.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240423022007238594" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkXFTCi-h8Atk4fvilo01J3QWAPI3FufhcLI5ZW0d2Gdz48hep99qTV_y2P0OWOltxXbqRxo6con5y4kILAgg6iEK2b-vvLwhFmp0sfPI055OfCDKXAkl3kesMs61msEYN_wQ1YeYSDQ6Q/s320/43+salar+espelho.JPG" border="0" /></a><br /><br />Chegámos a terra firme sem afundar as bicicletas. Os travões, as mudanças e as correntes estavam um pouco perras de tanto sal e tanta água, mas uma limpeza breve restabeleceu a sua ordem.<br /><br /></div><div align="justify"><em>Moda outono -inverno para travessia de salares<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-3o5dqqEWL0faAcPkvwD3k4KrOlkVgBdjOTaAIm1WYLCY58ACzWWGvN4V4rbF1iJaGP5dFL1oBU3d4P78P5jMkqxjNgTP4Ms_I0LZ2ymqalvCENoehYCLdqY3sDN0_KPwDfjIJXIwlS1q/s1600-h/40+em+estilo+para+a+travessia.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240422257268413730" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-3o5dqqEWL0faAcPkvwD3k4KrOlkVgBdjOTaAIm1WYLCY58ACzWWGvN4V4rbF1iJaGP5dFL1oBU3d4P78P5jMkqxjNgTP4Ms_I0LZ2ymqalvCENoehYCLdqY3sDN0_KPwDfjIJXIwlS1q/s320/40+em+estilo+para+a+travessia.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOw-MKZkmmlLKXcq2EMqSglhFcJ1pm7Tqn_oI8ZyVqhyfxt8PvkPxu6RGqIguv_lBA9V-1Y4lgjoBkNNTBJ7LEWyZZy1gL8SQN0DLBQ6r0Gou-PPjYWqG17ZrgmqmHXNmx5FCTiKt9feRm/s1600-h/20+0+salar+agua+joana.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240721344423065330" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOw-MKZkmmlLKXcq2EMqSglhFcJ1pm7Tqn_oI8ZyVqhyfxt8PvkPxu6RGqIguv_lBA9V-1Y4lgjoBkNNTBJ7LEWyZZy1gL8SQN0DLBQ6r0Gou-PPjYWqG17ZrgmqmHXNmx5FCTiKt9feRm/s320/20+0+salar+agua+joana.JPG" border="0" /></a><br /><br />Na pequena aldeia de Três Cruces comprámos mais uns enlatados, batatas e enchemos as garrafas de água. Perguntámos aos locais (jà devíamos saber melhor) a melhor maneira de chegar a Challacollo, e passando uma mota, o senhor diz: "fácil sigam os rodados daquela mota". Foi o que fizémos. Mais um erro crasso, a mota ia de facto pelo caminho mais curto, mas também o mais arenoso. Tivemos que puxar as pesadas bicicletas pelos caminhos arenosos durante toda a manha, nao devemos ter avançado mais de 5 quilómetros, até que decidimosa fazer um desvio e levar as bicicletas até à borda do salar, onde se encontrava um estrada arenosa mas pedalável.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaTIxRHCPBfA45u_H4RQnzPEkKUkCP-64Bw0Shn4jrP8KNIQx4U9G5qCUyJtK1qaDtbdPrGI-iq__Dd1cWR-MKm1LDjlJPP3UbmSSS0mbrcO8gm0CT7f7lXuMYxak3QqDM2esp-wy-lukL/s1600-h/45+lua+cheia.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240423054500632610" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaTIxRHCPBfA45u_H4RQnzPEkKUkCP-64Bw0Shn4jrP8KNIQx4U9G5qCUyJtK1qaDtbdPrGI-iq__Dd1cWR-MKm1LDjlJPP3UbmSSS0mbrcO8gm0CT7f7lXuMYxak3QqDM2esp-wy-lukL/s320/45+lua+cheia.JPG" border="0" /></a><br /><br />Chegamos a Challacollo ao fim da tarde, e pergunto a um senhor se ainda estávamos muito longe de Llica. Respondeu que seriam apenas 12 quilómetros e deu-me direcçoes. Claro que mais uma vez essas direcções estavam erradas e nos metemos em mais caminhos arenosos de sobe e desce. Acampámos ao fim do dia com a certeza de que nao podíamos estar na direcção certa. Um campesino que passou em bicicleta com a sua pequena filha, comfirmou, o que suspeitávamos, estavamos na direcção oposta. Tinhamos que voltar para tás no dia seguinte e apanhar a estrada no cruzamento perto de Challacollo em direcção a Llica.<br /><br /><strong>Llica a Uyuni - A travessia do grande salar</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg4N4QXyoQaTs4k2VUX83oTbJpFEQHjFei3trvNsciPrhYAuYIUSgmv7TfP6U8uSLzohDerfbQi4FL2OAD6d8BAO4iLUXEMvthQIpS_Dk4gFZNq_O6bxWCbfPR6qnKs-6iDm4g-47dq3ri/s1600-h/46+llica.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240437719387550914" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg4N4QXyoQaTs4k2VUX83oTbJpFEQHjFei3trvNsciPrhYAuYIUSgmv7TfP6U8uSLzohDerfbQi4FL2OAD6d8BAO4iLUXEMvthQIpS_Dk4gFZNq_O6bxWCbfPR6qnKs-6iDm4g-47dq3ri/s320/46+llica.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdl_gBOLkI5p9FFhtubMz6iyjNI4UjJJHGvfpR67Xv8iVchOc7Q-xnHca0dnMNUXd5pK05QP2hX3klO_uFk1DIHtMPPdcinbXalh7K2AymH4qk6jZlj4M7mrwSfN9l4ihSUm3NVDW0vYbM/s1600-h/50+marina+no+uyuni.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240424186098225890" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdl_gBOLkI5p9FFhtubMz6iyjNI4UjJJHGvfpR67Xv8iVchOc7Q-xnHca0dnMNUXd5pK05QP2hX3klO_uFk1DIHtMPPdcinbXalh7K2AymH4qk6jZlj4M7mrwSfN9l4ihSUm3NVDW0vYbM/s320/50+marina+no+uyuni.JPG" border="0" /></a><br /><br />Llica é uma das entradas para o Salar de Uyuni na sua parte Norte. Aí encontrámos comida, alojamento e até Internet para comunicarmos ao mundo que estávamos bem e de saúde. Seguimos no dia seguinte para a grande travessia. O salar de Coipasa tem apenas 64 quilómetros, que comparados com os 180 que atravessaríamos no Salar de Uyuni eram insignificantes. O Salar de Uyuni é o mais visitado e consequentemente a sensação de isolamento não e tão grande, a cada 10 minutos passa um Jeep carregado de turistas menos aventureiros.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj369J2rDI02EYjZPrB49ml2jSQAxYPUEOoUijtXDZ0soz6T0JrVhGGaPVh3Y4SY3FuX6zMRLVJruSbkb761f-KheNS5033H5dmrvx-yOxhfU2DnwNBDf2yHKKN09KRp2eH0sdwHVou4uR3/s1600-h/48+isla+del+pescado+corais+e+cactos.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240424184308364898" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj369J2rDI02EYjZPrB49ml2jSQAxYPUEOoUijtXDZ0soz6T0JrVhGGaPVh3Y4SY3FuX6zMRLVJruSbkb761f-KheNS5033H5dmrvx-yOxhfU2DnwNBDf2yHKKN09KRp2eH0sdwHVou4uR3/s320/48+isla+del+pescado+corais+e+cactos.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm-r6pMoFk4uOeSC6m7L2PGgOqG_C3Mp8wlf9PwSFCLgSRiuqHpndWoEpib8Zjvsk4MelR-8EGRu_1Dz14cjyBk-T1Py9F7cRY2Nsycf01g3LlNlPWIz50_3zvFH4GEPYrX9N11RfGF7Xz/s1600-h/49+por+do+sol+isla+pescado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240424183203365986" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm-r6pMoFk4uOeSC6m7L2PGgOqG_C3Mp8wlf9PwSFCLgSRiuqHpndWoEpib8Zjvsk4MelR-8EGRu_1Dz14cjyBk-T1Py9F7cRY2Nsycf01g3LlNlPWIz50_3zvFH4GEPYrX9N11RfGF7Xz/s320/49+por+do+sol+isla+pescado.JPG" border="0" /></a><br /><br />Existem várias ilhas no salar, são os restos de antigos vulcões. Estas ilhas estão repletas de fósseis de corais, sinais dos tempos em que estavam cobertas por mar, e por cactos. Acampámos na ilha do Pescado, a mais grande e a menos visitada do salar. Ao longe avistávamos o vulcão Tunupa que está semi-activo. Os pores do sol no altiplano, e sobretudo nos salares são algo verdadeiramente único: tons rosa e azulados do céu contrastando com branco e a silhueta das montanhas e vulcões circundantes.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6UF7r2GQeb8LoBud29KRGFsLLtXfVPw4PgGXX4GHmGDEHYUcDZBexpnXGZVBY60roeVhxBGn-fpYvupXGoKQSEfMWMN2OMQkt458kQ1unBoL9HzuBfTk6e4r6k8uiwQkiqf0Gp_I4PszY/s1600-h/47+salar+uyuni+a+ilsa+del+pecado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240423055659503298" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6UF7r2GQeb8LoBud29KRGFsLLtXfVPw4PgGXX4GHmGDEHYUcDZBexpnXGZVBY60roeVhxBGn-fpYvupXGoKQSEfMWMN2OMQkt458kQ1unBoL9HzuBfTk6e4r6k8uiwQkiqf0Gp_I4PszY/s320/47+salar+uyuni+a+ilsa+del+pecado.JPG" border="0" /></a><br /><br />Ao segundo dia de travessia avistámos, no meio da vasta superfície branca um cicloturista - o Herve, da Suíça. Montámos acampamento juntos e ali na noite fria, partilhámos informações, aventuras e ingredientes, preparando a já cliché pasta com molho de tomate. Encontrar o Herve foi sem duvida uma agradável surpresa, tinhamos muito em comum com cicloturistas e as suas aventuras em terras africanas eram verdadeiramente inspiradoras. O seu riso era contagiante.<br /></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="justify"><em>Acampamento com o Herve</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSnNCV-AMMKtFZ26GkFmypo0PyqgeYRRNwvhbPIfOMklkVkXbfncEAWDOObl8rKiEbwpkzrBLjJQU8igP_Deul5FSv7mqd8WO88vBSjPExZcplmMT7rVNjY0H2LZSTtIIrW-jPqRUfipHW/s1600-h/53+campismo+com+herve.JPG"><em><strong><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240424192905808082" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSnNCV-AMMKtFZ26GkFmypo0PyqgeYRRNwvhbPIfOMklkVkXbfncEAWDOObl8rKiEbwpkzrBLjJQU8igP_Deul5FSv7mqd8WO88vBSjPExZcplmMT7rVNjY0H2LZSTtIIrW-jPqRUfipHW/s320/53+campismo+com+herve.JPG" border="0" /></strong></em></a><br /><br />Às sete e meia da noite somos obrigados a retirar-nos para os nossos "aposentos" já que estava um frio terrível. Enfio-me dentro do meu saco de cama e sinto, sem poder entender muito bem o que se passava, algo molhado dentro. Pânico, luzes vermelhas em todo o meu cérebro, saco de cama molhado, noite gelada...vou morrer congelada. Com as minhas mãos busco o causador do derrame: a minha botija de àgua quente, a minha melhor amiga nas noite frias do altiplano, tinha-se rebentado. O meu saco de cama estava completamente molhado. Olhei para o Nuno. -"Acho que vamos ter que partilhar o teu saco de cama". Depois de muita risada lá nos conseguimos enfiar dentro do saco de cama do Nuno, só que como é óbvio, o saco não fechava completamente. E cada vez que um mudava de posição o outro tinha que mudar também. Foi uma noite fria e mal dormida, mas tínhamos pelo menos o calor do corpo um do outro, que evitou que congelássemos. No dia seguinte agarrei no meu saco de cama para o por a secar ao sol, e estava como um pedaço de gelo gigante. As noites no Altiplano são tão frias que tudo dentro e fora da tenda congela desde líquidos a comida, e quase nos congelava a nos também.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIeCb4jFCCSVQHcHIgxQK4KHSB6xLMZWsSmbf6zGXfsPXFXNxrhADv_Bnqu3VuGBbGqa4xzLDLCqBA6DsLjvsusZ6IEkir5vr5KWF0XUxNEVgDWsAJ3PkGrts0d_VW-oiQcFSIjP8-EW8y/s1600-h/51+nos+e+herve.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240424188500618754" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIeCb4jFCCSVQHcHIgxQK4KHSB6xLMZWsSmbf6zGXfsPXFXNxrhADv_Bnqu3VuGBbGqa4xzLDLCqBA6DsLjvsusZ6IEkir5vr5KWF0XUxNEVgDWsAJ3PkGrts0d_VW-oiQcFSIjP8-EW8y/s320/51+nos+e+herve.JPG" border="0" /></a><br /><br /><br />No dia seguinte, despedimo-nos do nosso amigo aventureiro e partimos em direcções opostas. O branco e o silêncio do salar pareciam não terminar e só os jeeps, dos quais nos tentávamos manter afastados, interrompiam esse estado de coisas. Sair dos trilhos e escutar as rodas da bicicleta a quebrar os pequenos muros de sal em formas hexagonais formados pela evaporação das águas que constituem as várias camadas de água que estão por debaixo da camada superficial do sal do salar, que ajudou o tempo a passar, naquelas pedaladas que pareciam interminaveis.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0tqOVSTSAfGyeG3mdQ9_VsBZCNJWvliSWF9ngw3FbrlUjBVgY1Kxm6Co5hSBy9jvgbjo-TRqaX8MhhkeIJryu9Jpxn2y78R13ikEyDfNE7E7YP7fwoQpnNI9qAEYN1BtYNw4ZmEORFqzw/s1600-h/55+nuno+avarias++uyuni.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240425174906023122" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0tqOVSTSAfGyeG3mdQ9_VsBZCNJWvliSWF9ngw3FbrlUjBVgY1Kxm6Co5hSBy9jvgbjo-TRqaX8MhhkeIJryu9Jpxn2y78R13ikEyDfNE7E7YP7fwoQpnNI9qAEYN1BtYNw4ZmEORFqzw/s320/55+nuno+avarias++uyuni.JPG" border="0" /></a><br /><br />Findámos a nossa travessia ao terceiro dia em Colchani, aí passámos a noite num hotel feito com blocos de sal. Prosseguimos até Uyuni a 20 quilómetros do salar que lhe dá nome, no dia seguinte, por mais estradas de areia e lavadouros. Uyuni é uma cidade pequena e desapontante como ponto de chegada desta grande aventura. Aí existem um cemitério de locomotivas ferrugentas, cerca de 80 agências de tours e muito frio.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisT-aHFbyiGRPp7WVmNWq-OULlHY9XsNsS-MVSZj3sN5X0AUh-USuOtcRxiuv73ixlK7jleJQ9AGt32KedayLvau6H87dtXXXqbRrAiAbBYoZh0HLldqgbC5UqQGMTqeIZbNNXVLjw2IFV/s1600-h/57+colchani.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240425180141931986" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisT-aHFbyiGRPp7WVmNWq-OULlHY9XsNsS-MVSZj3sN5X0AUh-USuOtcRxiuv73ixlK7jleJQ9AGt32KedayLvau6H87dtXXXqbRrAiAbBYoZh0HLldqgbC5UqQGMTqeIZbNNXVLjw2IFV/s320/57+colchani.JPG" border="0" /></a><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><em>Hotel de sal</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKINwUCisKH4_TGN2ZohnI7hiH7CG58r67Q-cc1gNaXCBh8dDWkDGNhxXr7r-zE3U9J3h3cd1OJkCWqx_gSFGHORcRlUb5ElyVb1I928d0DLFnUMD5LsssI1Stn5-armEp_YjusISGIn3D/s1600-h/56+hotel+de+sal.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240425176812488018" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKINwUCisKH4_TGN2ZohnI7hiH7CG58r67Q-cc1gNaXCBh8dDWkDGNhxXr7r-zE3U9J3h3cd1OJkCWqx_gSFGHORcRlUb5ElyVb1I928d0DLFnUMD5LsssI1Stn5-armEp_YjusISGIn3D/s320/56+hotel+de+sal.JPG" border="0" /></a><br /><br />Em Uyuni encontrámo-nos também com outro aventureiro Português, o António, ou o Antuco, como carinhosamente lhe chamamos (Antuco é António em Aymara), um motoqueiro que iniciou a sua viagem em Buenos Aires e que vai percorrendo ao seu ritmo e vontade, as terras do continente Americanocom destino ao Alaska. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><em>Nuno e o António Queirós em Uyuni<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwldSEuadida5iiUrMJGEwVynNU7vmq9O6ePZr1IAfyK1TtYkT5Xk3C1lUNBMAIPieIYSCzIUU365bnTUMUxrxnL6LAAOGAnq4-_AWiJ3z_HS7zbRAyhoxBVzGdOQSi7rLKZdL_SotgFuL/s1600-h/59+nuno+e+antuco.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240425173328655922" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwldSEuadida5iiUrMJGEwVynNU7vmq9O6ePZr1IAfyK1TtYkT5Xk3C1lUNBMAIPieIYSCzIUU365bnTUMUxrxnL6LAAOGAnq4-_AWiJ3z_HS7zbRAyhoxBVzGdOQSi7rLKZdL_SotgFuL/s320/59+nuno+e+antuco.JPG" border="0" /></a><br /><br />Em Uyuni actualizámos sites, e preparámo-nos para a próxima aventura altiplânica rumo à estrada mais alta do mundo que vai até aos 5800 metros, mas essa é outra história a nao perder.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4YYsZLLzgJv3CxXK3OqH6lLhODNYFczd0Kccw4QZSkHjjxkh-1RTB_vRZANOS1iBE_ZrAYQv5F7wvRctlGFBUon9RxaJaihDNymkgmf9cHBXdlUaflcR-CujEtljKqstYDvXDjTRmO6Ni/s1600-h/60+cemiterio+de+comboios+fim.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240425180663615570" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4YYsZLLzgJv3CxXK3OqH6lLhODNYFczd0Kccw4QZSkHjjxkh-1RTB_vRZANOS1iBE_ZrAYQv5F7wvRctlGFBUon9RxaJaihDNymkgmf9cHBXdlUaflcR-CujEtljKqstYDvXDjTRmO6Ni/s320/60+cemiterio+de+comboios+fim.JPG" border="0" /></a><br /><br />Vejam também o site do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a><br /><br />... E o site do Antuco (Antonio Queirós) em <a href="http://www.viajardemoto.blogspot.com/">http://www.viajardemoto.blogspot.com/</a> </div>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-40579372006072278092008-05-25T10:09:00.000-07:002008-08-24T11:53:28.954-07:00Peru, Puno e Bolívia, Oruro - De Cusco a Oruro E A Travessia da Fronteira Mais Esperada<div align="justify"><strong>El Alto - A cidade do sonho campesino ou o meu pior pesadelo</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVgR-wirDccuoVOT-ytURIJKcpaw5XklkCljPjvMERnAzPOyk0DvoRcDltlmOhYmHBWZjkzFVhaTSJp_osrXm1lV6G4TgruyODmOf0aVFDM8P6_kHC11M4la7_4uBs5mNgQXFgupEDYPx4/s1600-h/joana+chegada+la+paz.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237849475757610786" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVgR-wirDccuoVOT-ytURIJKcpaw5XklkCljPjvMERnAzPOyk0DvoRcDltlmOhYmHBWZjkzFVhaTSJp_osrXm1lV6G4TgruyODmOf0aVFDM8P6_kHC11M4la7_4uBs5mNgQXFgupEDYPx4/s320/joana+chegada+la+paz.jpg" border="0" /></a><br /><br /></div><p class="MsoNormal" style="TEXT-ALIGN: justify" align="justify">As buzinas dos carros soavam como hienas furiosas. À minha frente pára, vinda do nada, uma combi (transporte colectivo local), de onde saem mais pessoas do que as que parecia ser possível caberem lá dentro. Desvio-me mas do meu lado esquerdo há filas de carros e camiões emitindo nuvens de fumo preto para uma atmosfera já bastante carregada. As pessoas atravessam-se à minha frente como se eu fosse invisível. Por cima da minha cabeça, letreiros suspensos, anunciando as coisas mais díspares como cabeleireiros, empresas de transporte, universidades...e aqueles que não contam com ajuda de letreiros para anunciar os seus negócios, fazem-no a voz bem alta, gritando preço de transportes, pão fresco, fruta, carne, chamadas telefónicas... Há gente sentada no chão vendendo mercadorias baratas chinesas, frutas, ou carne goteando sangue para os passeios, retirando da estrada o pouco espaço de circulação. Cães esfomeados e lixo por todas as partes, e gente, muita gente a andar de um lado para o outro como se não fossem para lado nenhum, mas que cumprissem a função de preencher o espaços vazios daquele caos. El Alto parece uma cidade que nao deveria ser cidade, feita por gente que nao sabe viver numa cidade e que ali foi forçada a viver. Parece uma máquina gigantesca da qual as peças se soltaram e estão desordenadas sem ordem ou sentido!</p><div align="justify">Havia pedalado mais de 90 quilómetros nesse dia, estava cansada e nada me podia ter preparado ou dado energias para aquela chegada apoteótica a El alto, cidade satélite de <?xml:namespace prefix = st1 /><st1:personname st="on" productid="La Paz. E">La Paz. E</st1:personname> se <st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> fosse um olho então El Alto seria a sua sobrancelha, uma sobrancelha onde vivem meio milhão de pessoas, na sua maioria campesinos que desistiram da vida no árido altiplano e que descobrem ali, alguns a sua sorte, e outros, como eu, o seu maior pesadelo. </div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl9QaONeSsJzoYHkAB-FLv0tTaJKQ7HQvGXuMri7YBuI95vVNJn-l7YnDebWjRpQb8iW8hHzYr03aUoy0XGXaq8RID6I1LRT3Sq-0PtSw3OP7jcD9It5hC83utey31jjQJZNSp40JWQKyX/s1600-h/el+alto+carros.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237849468830145282" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl9QaONeSsJzoYHkAB-FLv0tTaJKQ7HQvGXuMri7YBuI95vVNJn-l7YnDebWjRpQb8iW8hHzYr03aUoy0XGXaq8RID6I1LRT3Sq-0PtSw3OP7jcD9It5hC83utey31jjQJZNSp40JWQKyX/s320/el+alto+carros.jpg" border="0" /></a><br /><br />Procurámos alojamento durante duas horas mas estava tudo cheio<span style="font-size:0;"> </span>e o que estava disponível era sub-humano. Nessa noite fizemos a grande extravagância da viagem: alojámo-nos num hotel de 3 estrelas e ficámos numa das suas suites. Levaram-nos a bagagem para o quarto, e ali do quinto andar com vistas panorâmicas sobre a cidade do caos, sentimo-nos como peixes dentro de um aquário, protegidos da realidade da cidade ainda que fazendo parte dela. Ali, ela não nos podia tocar, pelo menos por uma noite. A extravagância não saiu cara, o Hotel Alexander, que se promovia como o melhor hotel da cidade custou-nos uns meros 7 euros cada um, merecía-mos.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>Machu Pichu<span style="font-size:0;"> </span>- O relato de um dia feliz </strong><br /><br /></div><div align="justify"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237783373634339314" style="CURSOR: hand" height="281" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdWUOK4XzGvdpqe1_FbOk72AkVtTzbODA8S_pEcXjFA_PPorrid17Ln9K-Xk8xZC-g-RJtiIeCnFWQqbEyVf6QQmNqNmTA7J-IUqXuiVfU-LAy-5FMiHVhw8VPYxNX5HiO8Zas388Ruhjh/s320/machupichu+ruinas+principal.jpg" width="208" border="0" /><br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv2LPl0TCO2U5an1czT4fB47EWufGnjxUV6HN_3P8dvVs7PvkVHHFp6_ia-Ym6xH2SoQozDCGgm6tyJu5P4CIna6-d5gKgT8uyxNpsDpwQHNsjerCcUQ1M7Db6mhAvnKURzLZXcD0tv5Rn/s1600-h/machupichu+sinal.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237785297798292146" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv2LPl0TCO2U5an1czT4fB47EWufGnjxUV6HN_3P8dvVs7PvkVHHFp6_ia-Ym6xH2SoQozDCGgm6tyJu5P4CIna6-d5gKgT8uyxNpsDpwQHNsjerCcUQ1M7Db6mhAvnKURzLZXcD0tv5Rn/s320/machupichu+sinal.jpg" border="0" /></a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">A minha respiração estava ofegante. Subi em menos de uma hora os milhares de degraus íngremes que me levaram até um dos sítios mais bonitos deste planeta - Wayna Pichu, o monte escarpado de Machu Pichu, de onde se desfruta da vista panorâmica das ruínas e do cenário luxuriante que as rodeia. Os turistas começaram a chegar e a sentar-se nas rochas escarpadas à espera que o grande espetáculo começasse. Tudo à volta estava coberto por densa neblina, via-se apenas verde e os grandes precipícios. Como se de um sonho se tratasse, as nuvens começam a mover-se deixando antever as ruínas preguiçosas que se despertavam aos nossos pés. Aahhhh!, ouvia-se<span style="font-size:0;"> </span>um coro de vozes ansiosas, mas logo vinha uma outra nuvem que encobria tudo novamente. A meio da manha o sol impôs a sua presença e as nuvens decidiram revelar o espetáculo pelo qual todos aguardavam - Machu Pichu aos nossos pés!</div><div align="justify"><br /><em>Íngremes degraus</em></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH4ki4ZcEot8yPe8eNPreNvKsGss9R-GHUJ5uFhWL1GTTmyhej2oxTTuUeYhprQkuWEQYefoBkMyOhM0l2zhkt1PJl4srMoWkoDo3aOg_YUY_kqu1fSrH6aJVHo48B4fT8LkDwUHp9J21R/s1600-h/machpichu+degraus.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237785711193646098" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" height="302" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH4ki4ZcEot8yPe8eNPreNvKsGss9R-GHUJ5uFhWL1GTTmyhej2oxTTuUeYhprQkuWEQYefoBkMyOhM0l2zhkt1PJl4srMoWkoDo3aOg_YUY_kqu1fSrH6aJVHo48B4fT8LkDwUHp9J21R/s320/machpichu+degraus.jpg" width="224" border="0" /></a><br /></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237784508396391570" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 211px; CURSOR: hand; HEIGHT: 302px; TEXT-ALIGN: center" height="288" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggGK8nxw_tyESnSAYWBVTzs1ns-M7g-UtWiKFAKlBJ2bGDOBPSDj2wM2tbPxrGuwqmR-3GYHYfmShkuzXV9hnzdeCvSPRs5PQGOtvGqRAtrcu4wH2Hecx69ELBENRi_IE1c07XyRDeAnLv/s320/machupichu+neblina.jpg" width="212" border="0" /> <p align="justify">Eu e o Nuno afastá-mo-nos das multidões e encontrámos um terraço de pedra só para nós onde podíamos em paz usufruir da beleza daquele sítio. Fechei os olhos e pensei em tudo o que tinha já atingido na minha vida. No quão feliz estava. No previligiada que era: estava a viver o meu sonho, viajar o mundo! E nem todos os sonhos que sonhei e concretizei me deram aquilo que deles esperava. Mas viajar, viajar sim é mais do que um sonho é um estado de espírito que me completa e me faz ser quem eu sou, no meu mais verdadeiro eu! No meio das divagações olhei também ao mapa<span style="font-size:0;"> </span>que se desenhava na minha cabeça, nesse mapa via-me a pedalar nas margens do Lago Titicaca, a entrar na Bolívia, a chegar à grande cidade de <st1:personname st="on" productid="La Paz..">La Paz..</st1:personname>.e depois quem sabe, os Salares, o deserto de Atacama, o Chile, a Argentina... </p><p><em>A nossa varanda "privada"</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisE1hFXSHq4MVyMnpcsLt1DDavjIgcK4d3zbA5GtnLcSK_Key8vngCRxV7fQDvW5PQpC-GEmQ90XP1XxEhzzaslDZPy7YH8jPnLDpvfB4BgyC3Ad41LT-SIK-qtFRi8dTZjLtcvLzI3j31/s1600-h/machupichu+varanda.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237786568602522130" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisE1hFXSHq4MVyMnpcsLt1DDavjIgcK4d3zbA5GtnLcSK_Key8vngCRxV7fQDvW5PQpC-GEmQ90XP1XxEhzzaslDZPy7YH8jPnLDpvfB4BgyC3Ad41LT-SIK-qtFRi8dTZjLtcvLzI3j31/s320/machupichu+varanda.jpg" border="0" /></a><br /></p><p align="justify">Envolvida por séculos de história, pedras silenciosas, vegetação luxuriante, agradeci à minha mãe por ser a mãe maravilhosa que é, pelo seu apoio incondicional. Ao meu irmão, homem alto de cabelos negros e esguios, amigo de infância e amigo de agora que aceitou emprestar-me dinheiro para que o meu sonho pudesse durar mais uns meses e ao meu pai com o qual não partilho tudo o que desejaria, mas que de igual forma aceitou financiar, a título de empréstimo, mais uns meses da minha viagem. </p><p align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2mtT4D2o80goISzOrTaUhYCdjpMoot9VXKNHBhW2WvzMcbpTz7B7GJ2aoxgwTGSvI6q8nXmImV0KckfWLczqX8fSvVrgs76bL7UUsRA_4UY0lwQlHwc0-zZS8AVZTmsJTq5huAhpomOaX/s1600-h/machupichu+ruinas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237786999955198850" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2mtT4D2o80goISzOrTaUhYCdjpMoot9VXKNHBhW2WvzMcbpTz7B7GJ2aoxgwTGSvI6q8nXmImV0KckfWLczqX8fSvVrgs76bL7UUsRA_4UY0lwQlHwc0-zZS8AVZTmsJTq5huAhpomOaX/s320/machupichu+ruinas.jpg" border="0" /></a></p><p align="justify">Descemos os degraus e aos poucos, o fim da tarde foi escondendo as ruínas de Machu Pichu novamente, amanha seria outro dia onde millares de turistas veriam aquela que é, com direito, considerada uma das 7 maravilhas do mundo. Voltámos a Águas Calientes com as pernas cansadas, torturadas de tanto subir e descer, mas com as almas mais preenchidas do que nunca.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3YIfVF4g8uhYi-BR4DZzeymhcgRJxqoHSSn1wxgfasMJFaO2l1Dg4MZOINjtePL8pEBwKuL8OqDGU3kqG43IrV85SF2W5Of0zBmaj5Pr96BN2qSYKy1Tdj2MAV-5dXF0zxZOq4xZNz6_/s1600-h/machupichu+nuno+e+joana.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237789906411722626" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3YIfVF4g8uhYi-BR4DZzeymhcgRJxqoHSSn1wxgfasMJFaO2l1Dg4MZOINjtePL8pEBwKuL8OqDGU3kqG43IrV85SF2W5Of0zBmaj5Pr96BN2qSYKy1Tdj2MAV-5dXF0zxZOq4xZNz6_/s320/machupichu+nuno+e+joana.jpg" border="0" /></a><br /><br /><strong>Pedalando pelas margens Este do Lago Titicaca e a entrada na Bolivía</strong><br /><br />Saí de Cusco numa manha chuvosa, um carro quase me abalroava e à bicicleta num cruzamento, quando ia em direcção ao terminal de autocarros. Havia ficado uns dias mais na capital Inca e ia ter com o Nuno a Puno, uma cidade turística nas margens Oeste do Lago Titicaca perto da fronteira com a Bolívia, a minha vontade de deixar o Peru e evitar estradas cheias de tráfico foi mais grande do que pedalar 400 quilómetros de paisagem árida altiplânica.<br /><br />Puno é uma cidade feia, mas infelizmente, isso era algo a que já estava habituada no Peru, e um pouco por toda a América do Sul, parecia toda feita de adobe, mas isso não lhe engrandecia a beleza. Por se encontrar nas margens do Lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, Puno recebe milhares de turistas todos os dias, mas os atractivos que oferece ao visitante, são realmente limitados.<br /><br />Decidimos fazer a parte Este do Lago Titicaca. A escassa informação que há sobre essa rota é de que é terra de contrabandistas e de estradas incertas - perfeito! Pelo menos quando a outra opçao significam partilhar a estrada sem bermas com autocarros cheios de turistas e tráfico intenso. Tínhamos programado fazer de barco as aldeias flutuantes, mas acordámos tarde e perdemos o barco. O contratempo acabou por ser favorável, nesse dia havia uma greve nacional que resultou em estradas vazias sem tráfico e na realidade não estávamos tão certos de que seriam assim tão interessantes agora que o único apecto real que têm são turistas e índigenas a vender souvenirs. </p><p align="justify"><em>As cordilheiras à volta de Lago Titicaca</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90TtY5xHqFUj9haW5qoV-TLbvQcUMBJ7xId_mahmSgZhKYNrvsa9OTBKNoj1QAS_OOKETBeewKJbIgAVkLffTaY4HJrGDlrKcGX-7X33Hopy9AO5a-NwfmW2kmIVhuoeOYpV64Y5QZsrg/s1600-h/nuno+montanhas+titicaca.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237829501155190402" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90TtY5xHqFUj9haW5qoV-TLbvQcUMBJ7xId_mahmSgZhKYNrvsa9OTBKNoj1QAS_OOKETBeewKJbIgAVkLffTaY4HJrGDlrKcGX-7X33Hopy9AO5a-NwfmW2kmIVhuoeOYpV64Y5QZsrg/s320/nuno+montanhas+titicaca.JPG" border="0" /></a><br /><br />O Lago Titicaca é um lago de águas azuis, em seu redor o ar é muito puro e por isso podem avistar-se, como se estivessem mesmo ali ao lado, algumas das cordilheiras que o rodeiam e os seus cumes brancos. </p><p align="justify"><br /><em>Nuno e o Lago Titicaca<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGHJCiMQ9CB0LE2iR7-jLmkYP68aHhZVS_Ce5mIT5htat0beA7ISGBOSaHqANSE4tOqxdowtfpXXu2A1jfSI3jlAYYcNbLT6OA8JMFFEvash5uVe3tXjKGrUCTFhpHnu6Aos6z8hMpfgB9/s1600-h/nuno+lago+titicaca.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237842369949046194" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGHJCiMQ9CB0LE2iR7-jLmkYP68aHhZVS_Ce5mIT5htat0beA7ISGBOSaHqANSE4tOqxdowtfpXXu2A1jfSI3jlAYYcNbLT6OA8JMFFEvash5uVe3tXjKGrUCTFhpHnu6Aos6z8hMpfgB9/s320/nuno+lago+titicaca.JPG" border="0" /></a><br /><br />Há milhares e milhares de anos, quando as placas ocêanicas colidiram com as continentais formando as cordilheiras andinas (oriental e ocidental) uma grande massa de água elevou-se e ficou presa entre as montanhas criando um lago tão grande como um mar. O Lago Titicaca<span style="font-size:0;"> </span>e todos os outros lagos que se encontram no altiplano Peruano e Boliviano, são o que resta desse lago enorme que foi berço de civilizações. No altiplano os rios e os lagos são sistemas que comunicam entre si, já que as cordilheiras oriental e occidental obstruem a passagem das águas para os oceanos. </p><p align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghwzlyEZQqIfrXjCawrl8M_ocMowid7VTH-_5iMLTPcQzBXA8zcFVe2xJcxuMj8XOLeWM0sG_9bHCQ4HGahE_I473vPNbgPot6a4S03Rfg-Wgid-he0LVsyJIVdfRMNpr9o-3z96pt4inQ/s1600-h/titicaca+sinal.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237831319413357442" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghwzlyEZQqIfrXjCawrl8M_ocMowid7VTH-_5iMLTPcQzBXA8zcFVe2xJcxuMj8XOLeWM0sG_9bHCQ4HGahE_I473vPNbgPot6a4S03Rfg-Wgid-he0LVsyJIVdfRMNpr9o-3z96pt4inQ/s320/titicaca+sinal.JPG" border="0" /></a><br /><br />Pedalamos passando por pequenas aldeias que ladeiam o grande lago e ao fim do dia acampamos ao seu lado, ouvindo o ruído das pequenas ondas que acariciavam as pedras redondas e pequenas das margens, o céu da noite era azul índigo e via-se o reflexo das estrelas nas águas tranquilas. Eram os nossos últimos dias no Peru, em breve estaríamos na Bolívia, um país que ambos desejávamos descobrir com muita ansiedade.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTtrABihjaVtxGgvpw_9bhZ92FJXL3jONktkHFoFEbik09cuXWISbCLlgJQ_VdxIeS6EAI0L2YZ4XbBVVSGcpOow2LBIk6QYqsLR47WMMK8S8WLiOCQeATxhZTs7rtaNdJ4mws3-m5LWD/s1600-h/lago+titicaca.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237849474846859538" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTtrABihjaVtxGgvpw_9bhZ92FJXL3jONktkHFoFEbik09cuXWISbCLlgJQ_VdxIeS6EAI0L2YZ4XbBVVSGcpOow2LBIk6QYqsLR47WMMK8S8WLiOCQeATxhZTs7rtaNdJ4mws3-m5LWD/s320/lago+titicaca.jpg" border="0" /></a><br /><br />Puerto Acosta, onde se encontra a linha invisivel que separa o Peru da Bolivia e que dá ao lago Titicaca duas nacionalidades, foi a fronteira mais bonita que atravessei, pode parecer bizarro, porque na realidade as fronteiras são geralmente locais que não reservam grandes atractivos. Mas ali no cimo da montanha com o azul e a imensidão do lago aos meus pés, sem oficiais, sem confusão, o mundo parecia-me um local quase perfeito.Pensei que seria bom se um dia todas as fronteiras do mundo fossem assim.<br /><br /><strong>De <st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> a Oruro</strong> </p><p align="justify"><em>Cholita nas ruas de La Paz</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaV4gYh8lOzYr0GcS8YB1m8hp0C6YEBQeOkMdYsPX4GM4vlZj3ObZ-2HsT26Je5yUUyuNg0W_X__7ZYsvlgiFKtPrWTciBiMvwFh3b9uaVGexX9ak92-trjJQfYLyAkU0GsZlPbu8FAgfT/s1600-h/cholita+la+paz.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237829507983997730" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaV4gYh8lOzYr0GcS8YB1m8hp0C6YEBQeOkMdYsPX4GM4vlZj3ObZ-2HsT26Je5yUUyuNg0W_X__7ZYsvlgiFKtPrWTciBiMvwFh3b9uaVGexX9ak92-trjJQfYLyAkU0GsZlPbu8FAgfT/s320/cholita+la+paz.JPG" border="0" /></a><br /><br />Tínhamos o contacto de um casal que acolhia ciclistas <st1:personname st="on" productid="em El Alto">em El Alto</st1:personname>, e depois de desfrutarmos da nossa suite no Hotel Alexander, fomos para casa dos amáveis Wilma e Jesus . Em sua casa ficaríamos uns dias enquanto actualizáva-mos sites e conhecíamos <st1:personname st="on" productid="La Paz.">La Paz.</st1:personname><br /><st1:personname st="on" productid="La Paz."></st1:personname><br /><st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> está cravada numa quebrada profunda, rodeada por montanhas<span style="font-size:0;"> </span>de grande altitude. A silhueta do Illimani, grande montanha nevada, por detrás do cenário urbano, é a imagem ícone da cidade. <st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> é a capital de governo da Bolívia mas disputa com Sucre o título de capital do país. É-me pessoalmente difícil compreender qual o estatuto desta cidade, os Bolivianos sao um povo dividido e atormentado por questões políticas e sociais e é curioso ver como esse facto afecta até a decisão consensual para eleger a sua capital. </p><p align="justify"><em>O Illimani como fundo</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN5Kj4fMFBK4aHqJRofc5PCL4gyVpUiwNhrYvs1U2HeSuyYr9TX0XbfhVmALJ8c5UnkcTvRFXHzO-YAj-slErIeQ3y2I14afygkWcrw4HcueupgefhuxEvX8ChV4aHbzx_6IIJeCP89IjA/s1600-h/la+paz+trafico+sofisticado.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830802809308434" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN5Kj4fMFBK4aHqJRofc5PCL4gyVpUiwNhrYvs1U2HeSuyYr9TX0XbfhVmALJ8c5UnkcTvRFXHzO-YAj-slErIeQ3y2I14afygkWcrw4HcueupgefhuxEvX8ChV4aHbzx_6IIJeCP89IjA/s320/la+paz+trafico+sofisticado.JPG" border="0" /></a><br /><br /><st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> está a 20 minutos de distância de El Alto, mas estão a anos luz uma da outra. <st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> é uma cidade de alguma forma sofisticada com arquitectura colonial e neo-clássica, nas suas ruas há cafés, cinemas, passeios, jardins...as famílias passeiam-se bem vestidas aos fins-de-semana, sente-se uma atmosfera europeia. Mas <st1:personname st="on" productid="La Paz">La Paz</st1:personname> está também no altiplano onde habitam os campesinos, que constituem 70 por cento da população Boliviana, e é por isso que <st1:personname st="on" productid="em La Paz">em La Paz</st1:personname>, no meio de toda a sofisticação citadina, se vêem com as suas tranças negras, saias bojudas, chapéus de coco - as cholitas, ou campesinas, na sua maioria ocupadas a vender artesanato ou algum outro tipo de comércio informal.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMWBZ1iAQCQ_ijynD4l7gkGo1kXOQRlRD-J-VYm1kayPi5Lq_UBg7UxbVGdZnorWnE9G4RDF2H0Z5ZIVzCJ4V0qFGNfQJiOCBoWBtcJ7wcBOUfDU9mK7obiTocJOo5vMB-twR6P49LZUEZ/s1600-h/cholita+vendenedo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237829511172275378" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMWBZ1iAQCQ_ijynD4l7gkGo1kXOQRlRD-J-VYm1kayPi5Lq_UBg7UxbVGdZnorWnE9G4RDF2H0Z5ZIVzCJ4V0qFGNfQJiOCBoWBtcJ7wcBOUfDU9mK7obiTocJOo5vMB-twR6P49LZUEZ/s320/cholita+vendenedo.JPG" border="0" /></a><br /><br />Apesar de estarmos a usufruir de alojamento gratuito e da<span style="font-size:0;"> </span>hospitalidade da Wilma e do Jesus, El Alto estava a consumir a nossa paciência, ter de atravessar a cidade para regressar à casa dos nossos anfitriões, lutando contra multidões de gente, barulho insuportável, lixo, era verdadeiramente esgotante. À noite, apesar de estarmos num quarto andar o ruído nao nos deixava descansar. Partimos ao fim de 5 dias rumo a Oruro. </p><p><em>Eu e Wilma</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj905nmyo7X1tfGKDh_x2GYI6A2MuaCZ23f7t9cJ8qQt65sbEAjlO6GIAggv_bU0v4yFs0yJ1OiMji0VwHmZj7uL4YdD_PAKi_lP4PFLfE9Dw4eYaujWlw3p1Sh1iR1Dqj2D3Kwgt2zvKma/s1600-h/eu+e+wilma.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830243160952002" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj905nmyo7X1tfGKDh_x2GYI6A2MuaCZ23f7t9cJ8qQt65sbEAjlO6GIAggv_bU0v4yFs0yJ1OiMji0VwHmZj7uL4YdD_PAKi_lP4PFLfE9Dw4eYaujWlw3p1Sh1iR1Dqj2D3Kwgt2zvKma/s320/eu+e+wilma.JPG" border="0" /></a> </p><p><em>Eu e Jesus</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl94bcAdGO8U6LM24hrcl0v19X30wGzc_PE7NZSlg1QAYH4-9nB282f131g7IsQj3wqhno5jiHwzmTiRn4YjL7bTmEQQSIdcHRV9VSW5G9wfhyFtwcnwFrP39T7j8pH9sInYxx5ODKjcko/s1600-h/eu+e+jesus+em+el+alto.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237829510273920882" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl94bcAdGO8U6LM24hrcl0v19X30wGzc_PE7NZSlg1QAYH4-9nB282f131g7IsQj3wqhno5jiHwzmTiRn4YjL7bTmEQQSIdcHRV9VSW5G9wfhyFtwcnwFrP39T7j8pH9sInYxx5ODKjcko/s320/eu+e+jesus+em+el+alto.JPG" border="0" /></a><br /></p><p align="justify"><em>Saída de El Alto</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-jJCvccuAugXvLA_wPOmxdGOs_4qTWHQAjkWj8OttAECbb0NkjQs0AsDl2p-rq7HUWjxV-rp0XUbG4juNWbHkeLmNrmh68nGizFVMxgakBBBIi2FU4XignOCCgmgt9PCNdz4VC41JYOia/s1600-h/saida+de+El+alto.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237831266322595314" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-jJCvccuAugXvLA_wPOmxdGOs_4qTWHQAjkWj8OttAECbb0NkjQs0AsDl2p-rq7HUWjxV-rp0XUbG4juNWbHkeLmNrmh68nGizFVMxgakBBBIi2FU4XignOCCgmgt9PCNdz4VC41JYOia/s320/saida+de+El+alto.JPG" border="0" /></a><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEPi2NXCkJD6zMQowhI6eri5KmV6nBctFDQmv4C3ldmHGBXiyHiBDKyLXkPCqNa4DD0Sh0zmomAUo5n7pmBvMwtJ6yWwBrPNH31p7bX3cTtum2qG8Dp-HQCiQNG5BJE7IJWZeVDh6xd2zB/s1600-h/sinal+caminho+de+oruro.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237831268536171074" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEPi2NXCkJD6zMQowhI6eri5KmV6nBctFDQmv4C3ldmHGBXiyHiBDKyLXkPCqNa4DD0Sh0zmomAUo5n7pmBvMwtJ6yWwBrPNH31p7bX3cTtum2qG8Dp-HQCiQNG5BJE7IJWZeVDh6xd2zB/s320/sinal+caminho+de+oruro.JPG" border="0" /></a><br /><br />Fizémos 300 quilómetros em tres dias e uma manha, de El Alto a Oruro. Pedalei, pela primeira vez na minha vida, 100 quilómetros num dia. Estava contente e motivada. Sabia que o os próximos meses de ciclismo iriam ser duros, mas esse feito deu-me, de alguna forma, muita energia, para seguir.Sentia-me mais forte do que nunca. </p><p align="justify"><em>Chegada a Oruro<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgq1Uc_E-YGVDKghsNBLdlnky0C155IAryj9pZChideFURv5eBB5gfXRk84NXuFnenNnYM7BXrVCLksubJ9aRCjWUt11m5Br-konn4ZQoRgyYsOIorTzO4_wz8XTq23xy7G6IQSatZ38v/s1600-h/bem+vindos+a+oruro.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237837933555159090" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgq1Uc_E-YGVDKghsNBLdlnky0C155IAryj9pZChideFURv5eBB5gfXRk84NXuFnenNnYM7BXrVCLksubJ9aRCjWUt11m5Br-konn4ZQoRgyYsOIorTzO4_wz8XTq23xy7G6IQSatZ38v/s320/bem+vindos+a+oruro.JPG" border="0" /></a><br /><br />Oruru é uma cidade mineira, o seu centro é agradável, mas os arredores revelam a realidade da cidade e do país, pobreza e falta de infra-estruturas. </p><p align="justify"><br /><em>Vista da cidade de Oruro<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN2Ynoib4BYxlYoAJe-tKGTf1_dT_nsa6NC43auFQLa1eZT67BRCH4252P8ymCIHUS3LRCNNMYEFe2vBaRWs3EE7B2V9XCy1YzhfgYJGSORLbzpPYxIDwnS8T3BJPH9VctSGCtNgucmeXN/s1600-h/oruro.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830808425360914" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN2Ynoib4BYxlYoAJe-tKGTf1_dT_nsa6NC43auFQLa1eZT67BRCH4252P8ymCIHUS3LRCNNMYEFe2vBaRWs3EE7B2V9XCy1YzhfgYJGSORLbzpPYxIDwnS8T3BJPH9VctSGCtNgucmeXN/s320/oruro.JPG" border="0" /></a><br /><br />É também em Oruro que se celebra um dos carnavais mais populares e visitados da América do Sul, uma vez por ano, as ruas cinzentas enchem-se de cor, música, seres da mitologia, e mulheres com as pernas desnudas. Ficámos alojados na Residencial Vergara. </p><p><em>Estátua de uma figura mitológica representada no Carnaval de Oruro<br /></em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWju1Eu2YZ5nMSpHc4ICI1jrHXy5W03u97b4WpQX6cnOz9YFkVQlHfbYAgfhPO-j4V8qVZQ4JEFVwX500TP1t90h6nVISz3MzIwVLv8O2v7ssdTpaNQxJSv61rMctCXbB2kDkkrdd5dF1E/s1600-h/figura+do+cornaval.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830242476025986" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWju1Eu2YZ5nMSpHc4ICI1jrHXy5W03u97b4WpQX6cnOz9YFkVQlHfbYAgfhPO-j4V8qVZQ4JEFVwX500TP1t90h6nVISz3MzIwVLv8O2v7ssdTpaNQxJSv61rMctCXbB2kDkkrdd5dF1E/s320/figura+do+cornaval.JPG" border="0" /></a> </p><p align="justify"><em>Eu e Juan Carlos</em><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9qfzt3ja6_ZhjO5n8y7h4Li2voyxGYFDYJK5PS7VU10iCE5VIgVZeMPTqrozbrYmLpaL3mcsP4zQF7clJoDgjUd5t_Ljo0ez-5edj2cMfUfPLzNITVE9yvut3QCUqFruxgCnE7NwN22Nj/s1600-h/eu+e+juan+carlos.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830237772780354" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9qfzt3ja6_ZhjO5n8y7h4Li2voyxGYFDYJK5PS7VU10iCE5VIgVZeMPTqrozbrYmLpaL3mcsP4zQF7clJoDgjUd5t_Ljo0ez-5edj2cMfUfPLzNITVE9yvut3QCUqFruxgCnE7NwN22Nj/s320/eu+e+juan+carlos.JPG" border="0" /></a><br /><br />Os filhos dos donos eram jovens médicos com os quais fizemos amizade. Numa das tardes, eu e o Juan Carlos, um dos jovens, fomos de bicicleta ver alguns dos atractivos da cidade, Jua explicou-me o significado das estátuas que encontrámos à entrada da cidade, visitámos uma mina gigantesca<span style="font-size:0;"> </span>de ouro a céu aberto, para esta foi criado um lago artificial utilizado para refrigeração da maquinaria, acabámos o dia a desfrutar o pôr do sol no lago Popóo, onde desagua o rio Desaguadero que está também ligado ao Lago Titicaca, mais um lago dos muitos lagos do altiplano que um dia foram um só. </p><p><em>O lago artificial da grande mina</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4LZcbwaS6Rj-PTExWAjLlLhCugUw86Hg8-MC-7CjtgQSrZKKZ7Icqx_Cs3dCzx28JHAWq1MWHpw5-HuQXc5PpqJZE9TzdnDUPamYWEOiswSv1nCs5azf7jEDqIBYj8nYe4CHp9bTj-e4Z/s1600-h/lago+da+mina+a+ceu+aberto.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830802102139938" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4LZcbwaS6Rj-PTExWAjLlLhCugUw86Hg8-MC-7CjtgQSrZKKZ7Icqx_Cs3dCzx28JHAWq1MWHpw5-HuQXc5PpqJZE9TzdnDUPamYWEOiswSv1nCs5azf7jEDqIBYj8nYe4CHp9bTj-e4Z/s320/lago+da+mina+a+ceu+aberto.JPG" border="0" /></a> </p><p align="justify"><em>Eu com o Lago Popóo em pano de fundo</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeNuwCcPL7-X2q9nhfHaCJdfE-q1VjOa2d0C95OEeWvzZdnxqL_GeJBe9M5exeShhp_lZMebKgqAoXT-bz9ndETb9Udy0RpqqXTbnDYW8Ojy6mwRE71X87_ZGLbCCkF1S83_oVbI-QiAPc/s1600-h/eu+no+lago+poopo.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830242246348466" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeNuwCcPL7-X2q9nhfHaCJdfE-q1VjOa2d0C95OEeWvzZdnxqL_GeJBe9M5exeShhp_lZMebKgqAoXT-bz9ndETb9Udy0RpqqXTbnDYW8Ojy6mwRE71X87_ZGLbCCkF1S83_oVbI-QiAPc/s320/eu+no+lago+poopo.JPG" border="0" /></a><br /><br /><em>Lago Popóo ao entardecer</em><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMzYl2pu_dHnHrYyJo7mzBAg0IqMXyWLrg-ijoyIm6AdH_XSbG7JmNXOacdwr2-2Wi94xRHczWqYFHthI02cnFPZgFONCXOxtJFI_nnqh7-kF6o9bEZ7ij-RC9WQghNycz5XqzId3C5hsg/s1600-h/lago+popoo+1.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237830808862526690" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMzYl2pu_dHnHrYyJo7mzBAg0IqMXyWLrg-ijoyIm6AdH_XSbG7JmNXOacdwr2-2Wi94xRHczWqYFHthI02cnFPZgFONCXOxtJFI_nnqh7-kF6o9bEZ7ij-RC9WQghNycz5XqzId3C5hsg/s320/lago+popoo+1.JPG" border="0" /></a><br /><br />As próximas pedaladas levar-nos-iam ao Salar de Coipasa e Uyuni, estávamos ávidos de aventura, e ia-mos ter bem mais do que alguma vez esperaríamos ...mas isso sao outras histórias.<br /><br />Acompanhem as minhas aventuras no site do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a> </p>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-32990499429763538592008-05-03T10:59:00.000-07:002008-08-07T11:12:56.649-07:00Peru, Cusco - De Ayacucho a Cusco. Diário da etapa mais dura da viagem<strong>Dia 1 (10.04.2008)</strong><br />24.5 quilómetros percorridos, acampamento a 3000 metros de altitude<br />Ayacucho a perto de Tambillo<br /><br />Saímos tarde de Ayacucho questionando se partiríamos realmente ou se ficávamos mais um dia. Entre a desculpa de actualizar os sites e a pura preguiça, passar mais do que uma semana num local, deixa o corpo num estado latente de desabituação ao selim e o corpo demasiado acostumado a certos confortos. Mas o trabalho voluntário estava terminado, o site actualizado e não havia como adiar, a mais dura das etapas ia começar, mesmo que tardiamente e já a meio do dia. O alcatrão foi uma miragem que durou poucos quilómetros, na realidade durou poucos metros, os metros onde a cidade de Ayacucho recebe visitantes, tudo o resto é à boa maneira Peruana, de saibro. À saída da cidade apresentou-se uma descida que me pareceu interminável e com bastante inclinação (mal sabia eu o que me esperava), já desabituada das andanças ciclísticas andinas, a minha carga tremia por todo lado no piso irregular. Para o estado precário da estrada o tráfico era abundante, e não faltavam camiões, autocarros e automóveis mais pequenos, as nuvens de poeira acrescentavam partículas ao oxigénio que nenhum pulmão humano consegue processar, mas que inevitavelmente tínhamos que respirar. Ao entardecer encontrámos um bom local para acamparmos, fora do olhar dos muitos veículos que passavam pelo caminho e com o bónus de ter um ribeiro mesmo ao lado. A noite ficou um pouco fresca e sob o olhar atento das estrelas cozinhamos uma salada e uma sopa deliciosa, cheia de carbos e vegetais. Ayacucho via-se já à distancia, no planalto onde se estendem as milhares de construções que a compõem, agora não mais do que milhares de pontos a querer igualar o brilho dos céus nocturnos.<br /><br /><strong>Dia 2 (11.04.2008)</strong><br />30.4 quilómetros percorridos, acampamento a 3430 metros de altitude<br />De perto de Tambillo a Chontaca<br /><br />A saída foi às 11 da manha e como choveu por volta das 6 da manha aproveitamos o facto para nos mantermos no conforto da casa móvel. Não há como negar, somos ciclistas preguiçosos e com maus vicíos: levanta-mo-nos tarde, demoramos horas a preparar o pequeno almoço e a arrumar as trouxas e depois questiona-mo-nos como é que os dias rendem tão pouco. O estado precário da estrada intensifica-se assim como o tráfico e as inclinações. Começo a sentir que a minha inexperiência como ciclista e bttista afectam o meu desempenho, e que as semanas de trabalho voluntário onde me alimentei mal e bebi pior (noitadas regadas com rum barato com os outros voluntários), dão às minhas pernas umas dores, sobretudo quando estou a subir, o que dispensava de bom grado. Almoçamos no fim da subida um "Almuerzo", este consiste numa sopa, invariavelmente igual seja lá a parte do país onde te encontres, semelhante a uma canja e com um pedaço de carne a boiar, e um guisado, invariavelmente de frango (pollo), acompanhado com arroz e lentilhas como segundo. Uma chamada incontrolável da natureza obrigou-me a perguntar pela casa de banho, e felizmente já tinha almoçado, porque os Peruanos parecem desconhecer as vantagens de um autoclismo ou outro sistema de limpeza sanitária. Não sugiro que se chegue ao exagero de ter televisão na casa de banho, mas uma sanita, um autoclismo e algum asseio, são confortos que quando se têm, dificilmente se dispensam. E na verdade, o Peru faz-me sentir como em nenhum outro país - fazer necessidades ao ar livre é na realidade melhor e mais higiénico do que utilizar os denominados "asseos". A paisagem humana começa a cansar, é o segundo dia em que qualquer campesino (e há bastante por estas partes) passa por mim me chama "gringa" e não posso deixar de notar uma certa agressividade nos seus tons de voz. Os declives estão a aumentar, e as estradas a piorar, será mesmo possível que esta seja a única e principal estrada entre Ayacucho e Cusco? O Nuno decide carregar a minha mala cor de laranja onde tenho o meu saco de cama, colchão e botas, são apenas 3 ou quatro quilos a menos, mas parece que fiquei 20 quilos mais leve. Acampámos mais uma vez ao lado de um ribeiro e cozinhei mais um jantar que nos soube bem.<br /><br /><strong>Dia 3 (12.04.2008)</strong><br />27.2 quilómetros percorridos, acampamento a 3880 metros de altitude<br />De perto de Chontaca a depois de Matara<br /><br />Yupee, saída às 9 e meia da manha, não está mal para um par de ciclistas preguiçosos! A estrada continua alternando entre o "mau", o "ainda pior" e o "credo!!! -chamam a isto uma estrada?!!!!". Tivemos uma grande descida e para recompensa, duas grandes subidas. A palavra "gringos" persiste em sair da boca dos campesinos que nos avistam mas parece que neste vale, de forma menos agressiva. Fomos acompanhados no nosso almoço volante pelo Sr. Carlos, que entre outras coisas, nos falou da batalha importante que havia decorrido entre espanhóis e independentistas na montanha que havíamos descido, falou-nos também do seu descontentamento pela exploração de minérios por companhias não nacionais, e dos diferentes vegetais que plantava nos seus campos. A viagem seguiu, e o Nuno levou com torrões de terra que saíram das entranhas dos campos directamente vindas das mãos dos campesinos que ali colhiam batatas. Começamos a sentir que não somos muito bem vindos nestas paragens. A paisagem foi variando, ao inicio do dia um verde seco, depois pela tarde um verde forte de campos cultivados e em flor, e ao fim do dia chegámos à pura Puna onde acampámos com vistas magníficas sob os vales e montanhas circundantes, esta paisagem e quase infértil mas serve de base de cultivo a batatas e de pasto a vacas e outros animais. As casas começam a rarear e as que se avistam são feitas de pedra que lembram as construções medievais. A noite está fria, mas com os céus ali tão próximos as estrelas, irradiam, como sóis distantes, luz que quase parece aquecer.<br /><br /><strong>Dia 4 (13.04.2008)</strong><br />36.7 quilómetros percorridos, sem ideia da altitude do acampamento<br />De depois de Matara a depois de Ocros<br /><br />Saímos às 10 da manha do acampamento e subimos até ao passe usufruindo da Puna que se entendia aos nossos pés. Esperáva-nos uma descida de 60 quilómetros e por momentos pensámos que seria um dia produtivo. Errado! Em estradas de calhau solto, são tão difíceis as subidas, como as descidas - a grande lição que aprendi nesta etapa. A primeira parte desci com grande entusiasmo, a estrada era má, e exigia alguma destreza, mas a maioria das "componentes" da estrada estavam agarradas à estrada. A paisagem era majestosa e o difícil era concentrar-me na condução quando à minha volta se encontravam montanhas deslumbrantes de verde e vales vertiginosos que sabia serem o destino da minha descida. Mas o que no inicio estava agarrado à estrada, transformou-se em saibro solto que dificultava grandemente o equilíbrio da bicicleta carregada. O almoço foi à beira de um ribeiro onde eu aproveitei para lavar umas peças de roupa. A paisagem começa a ficar de novo populada e consequentemente a perder interesse. Em Ocros fazemos compras, e os locais fazem-nos perguntas às quais não nos sentimos confortáveis a responder:" quanto custaram as bicicletas", "porque viajamos há tanto tempo", "porque não vamos de autocarro" etc, e não há muita simpatia nas suas vozes. Temos alguma dificuldade em encontrar um sitio para acampar, mas metidos entre cactos e vacas lá montamos a casa móvel e cozinhamos uma jardineira deliciosa. Acordei o Nuno a meio da noite porque estava a ouvir ruídos estranhos, levantou-se meio a dormir para enfrentar o tirano ladrão que nos rodeava o acampamento, mas era só uma vaca com apetites nocturnos e com uma mandíbula ruidosa.<br /><br /><strong>Dia 5 (14.04.2008)</strong><br />De perto de Chumbes a antes de Ahuayro, continuo sem saber a altitude a que está o meu acampamento<br />29.9 quilómetros percorridos<br /><br />Saímos mais uma vez por volta das 10 da manha e havia tanta vaca perto de nós que se soubesse ordenhar tínhamos bebido leite fresco ao pequeno almoço. A estrada piorou e várias vezes não tive outra alternativa do que deixar cair a bicicleta, para que não caísse também eu naquela estrada de saibro. As curvas cerradas com grande inclinação e o piso irregular da erosão causada pelas chuvas, foram um verdadeiro desafio. Não sentia as minhas mãos de tanto travar. Ao almoço fui devorada por mosquitos, o aproximar das terras baixas trás o calor e a as bichezas voadoras inclementes - as minhas pernas tranformam-se no restaurante da mosquitada e consequentemente nas pernas mais sexys do vale do Rio Pampas, e quando retiro as luvas aprecio também as cores avermelhadas do esforço das travagens na palma das minhas mãos, não posso deixar de me sentir a mulher mais formosa daquelas paragens. É com grande alívio que atravessamos a ponte do rebelde e caudaloso Pampas, e damos como terminada a descida mais tortuosa da viagem (outras nos aguardavam). O Rio Pampas é ladeado por vales secos e quentes, onde se produzem entre outras coisas, bananas e pêras abacates (pautas), um senhor convidou-nos para bebermos mate e para debater ideologias de esquerda, era a favor de Evo Morales e Hugo Chávez, mas não queríamos discutir politicas no meio daquele calor abrasador, e muito menos, voltar a ouvir o mesmo discurso de que o Peru tem muitos recursos e que são as empresas de outros países que exploram tudo e não deixam nada, e consequentemente os causadores dos males do país. Agradecemos o amável mate (chá) e seguimos viagem, rumo ao nosso próximo acampamento. Entre cactos e o rio Pampas, montámos acampamento e cozinhámos com a pouca comida que encontrámos nos alforges, uma sopa de ervilha, uns vegetais secos e farinha de coca. Não foi uma refeição gourmet, nem tão pouco uma das mais deliciosas, mas a vida de ciclista vagabundo é mesmo assim!<br /><br /><strong>Dia 6 (15.04.2008)</strong><br />De perto de Ahuayro a Chincheros, acampamento a 2780 metros de altitude<br />24.5 quilómetros percorridos<br /><br />Acabou-se a descida e gostava de estar feliz pelo facto, mas aguardam-nos quilómetros de dura subida debaixo do sol Andino. Percorremos as poucas mercearias de Ahuayro, uma aldeia pequena e poeirenta, que se resume a uma fila de casas ao longo da estrada, e de meia dúzia de galinhas e porcos deambulantes. As pessoas são simpáticas e e sempre um prazer percorrer as pequenas lojas em busca de mantimentos. Atravesso os meus olhos pelas prateleiras e imagino menus com os poucos ingredientes que avisto. Como posso viver com tão pouco e ser tão feliz? Umas comidas enlatadas, uns vegetais, agua, umas bolachas para adoçar o caminho -são estas as compras que fazem a minha felicidade, resumidas aquilo que necessito para dar energia ao meu corpo. As pessoas ficam sempre surpreendidas quando lhes dizemos que nos dirigimos a Cusco, sabem bem o caminho sinuoso que nos espera e o que já percorremos, e desejam-nos boa viagem. O calor continua, e os mosquitos atraídos por sangue novo, atacam e andam em nuvens debaixo dos meus olhos que necessitam concentrar-se na estrada. Tento afasta-los com a mão, mas e-me necessária para manter a bicicleta no trilho....aaaahhhhh, porque não me deixam em paz e vão picar o Nuno? Ao almoço fazemos um piquenique com um enlatado, parece comida de gato, mas com a maioneze e uma salada de tomate torna-se comestível. Subimos mais um pouco, o sol continua inclemente, e os mosquitos decidiram não arredar pé, mesmo com as quantidades exageradas de creme que é suposto afastá-los que tenho besuntado no corpo e me escorre pela cara abaixo e me faz arder os olhos. Sinto o meu corpo fraco, devo estar com falta de açucar e paramos para comer bolachas e frutos secos, sinto-me um pouco melhor, mas acabamos por ficar na próxima aldeia, Chincheros. Aí alojamo-nos num quarto que mais parece um salão de festas - enorme - o Hotel Ibeth. Vamos jantar a um Chaufa (ou restaurante chinês, que abundam por todo o Peru), um local imundo com serviço à Peruana, ou seja, o menos atencioso possível. Não consigo comer e sinto-me doente, vou para a cama a tremer e passo uma noite com febre e dores de barriga.<br /><br /><strong>Dia 7(16.04.2008)</strong><br />Chincheros, acampamento a 2780 metros de altitude<br />Dia na cama, 0 quilometro percorridos<br /><br />Menos mal que estávamos em "terra", pude curtir o meu mal estar intestinal e o meu estado febril debaixo dos lençóis e com uma casa de banho decente por perto. Nada a assinalar, só que o Nuno teve que fazer de enfermeiro.<br /><br /><strong>Dia 8 (17.04.2008)</strong><br />De Chincheros a 10 quilómetros depois de Uripa, acampamento a 3650 metros de altitude<br />20.1 quilómetros percorridos<br /><br />Dia péssimo, devia ter ficado na cama, mas como o Nuno passa o tempo a repetir que com as médias que fazemos diariamente não chegaremos a Cusco a tempo de renovar os passaportes, decidi desafiar o meu estado frágil. A febre parou apesar das dores de barriga continuarem e como tomei um comprimido para parar a dita, começo a ter cólicas que com o esforço da subida se transformam em picadas insuportáveis que me obrigam a parar a cada instante. A zona que percorremos é muito populada, e a palavra gringa recomeça a sair da boca dos locais como um grito de guerra. O meu ar adoentado não parece desanimar os jovens locais, os piropos a puxar para o ordinário saem-lhe da boca como diarreia verbal, e nem a presença do Nuno os demove, a sua cobardia enoja-me, ficam à espera que passemos, e assim que nos vêem pelas costas começam a disparatar obscenidades, pensando que não os entendemos. Como vinda de de um outro planeta, passa por nós, uma carrinha cheia de gente vestida com os trajes típicos locais, parecem ser de um rancho, ou algo assim. Acenam com as mãos e nem temos tempo de nos voltar a montar nas burras, as pessoas que vinham na carrinha saem lá de dentro a dançar e a cantar e puxam-nos para dentro do seu grupo filmado-nos e obrigando-nos a bailar aquela dança desconhecida. Da mesma forma que apareceram, enfiam-se de volta a seu meio de transporte e desaparecem monte abaixo. Eu e o Nuno olhamos um para o outro incrédulos de que aquela cena se tenha passado.Subimos mais um pouco à procura de local para acampar, mas só encontramos um sitio que apesar de afastado da estrada principal, revelou ser o caminho utilizado pelos campesinos para irem para as suas choças (campos de cultivo) e para levarem os seus animais a pastarem. A noite está fria, a comida não me sabe bem, e as dores de barriga continuam. Melhores dias me aguardam seguramente.<br /><br /><strong>Dia 9 (18.04.2008)</strong><br />De depois de 10 quilómetros de Uripa a 3 quilómetros de Piscabamba, sem saber a altitude do acampamento<br />31.6 quilómetros percorridos<br /><br />O dia despertou com uma cortina de neblina matinal fria. Pelo verde enublado vejo uma silhueta com forma humana e outras em forma de animais...as silhuetas definem-se em homem e o seu rebanho. Saio da tenda para o cumprimentar, a sua simpatia e a sua amabilidade sincera fazem-me esquecer que estou a viajar num país onde o contacto humano pode apresentar tantos desafios. Segue monte acima, e mais tarde avisto um casal de campesinos, com as suas vacas, os seus porcos e os seus cavalos. Param também para nos cumprimentar, e fazer perguntas. Depois de um aperto de mão forte seguem desaparecendo no monte verde. Mais uns quantos pastores e campesinos passariam por nós enquanto fazíamos o pequeno almoço e arrumávamos as coisas para dar inicio a mais um dia de ciclo turismo, e todos eles foram amáveis. Os seus sorrisos, a sua simplicidade, fazem-me desejar que a minha viagem incluísse uns dias a viver com eles, a partilhar a sua existência, a ajudar na lida com os seus animais. Quem sabe, talvez numa outra viagem. Chegamos ao passe onde havia um cruzamento e depois de consultarmos um local, decidimos ir pela esquerda, supostamente a opçao mais curta. O que ainda não sabíamos é que mais curto para um local, não envolve as subidas e as descidas, e acabamos por ir pelo caminho com mais desníveis. Valeu a pena, no entanto, a descida vertiginosa revelou vales e montanhas que rompiam a terra como uma boca cheia de dentes. À medida que descíamos, pequenas aldeias apareciam e desapareciam pelo fio branco que era o caminho que se enrolava pela encosta da montanha. Crianças tímidas corriam ao lado das bicicletas e quando ganhavam coragem pediam-nos dinheiro, "plata, regala-me plata, gringo". São palavras que cansam, são palavras que doem. Porque é que estas crianças pensam que lhe vamos dar dinheiro? Porque é que mendigam? Serao os pais que os encorajam? Não consigo entender. As suas situações de vida são precárias, vivem em extrema pobreza, mas os turistas que por ali passam serão poucos, de onde é que lhes vem o hábito de mendigar aos gringos, já que não o fazem com os locais? Gostava de poder interagir de outra forma com estes seres, mas sinto-me incomodada com o facto de me verem puramente como uma moeda ambulante. E passo por eles sem conseguir esboçar mais do que um sorriso seco e responder "no tiengo plata niño". A meio da tarde dois pontos no caminho transformam-se numa forma familiar - dois ciclo turistas: o Simon e a Britta da Alemanha, um casal simpático. Iniciamos a conversação e acabamos por partilhar o almoço. Contam-nos as suas aventuras na Bolívia, país que adoraram e da sua mais recente aventura a subir e a descer as montanhas que nos levariam até Cusco. É sempre bom conhecer outros ciclistas em viagem porque as experiências são idênticas e há sempre muita informação para partilhar. Tiramos fotos e depois do almoço partimos cada um, em direcções opostas desbravando as montanhas peruanas com as nossas bicicletas. Acampamos a meio de uma subida duríssima, as vistas fabulosas foram a recompensa, mais tarde as nuvens despiram uma cordilheira longínqua e revelaram os seus cumes nevados. Hoje é uma alegria ser ciclista e poder sentir com todos os sentidos as coisas mágicas que existem neste planeta.<br /><br /><strong>Dia 10 (19.04.2008)</strong><br />De 3 quilómetros de Piscabamba a Andahuaylas, alojamento a 2980 metros de altitude<br />27 quilómetros percorridos<br /><br />5 quilómetros em estrada alcatroada, a minha burra desliza com se estivesse sob manteiga, mesmo que a estrada tenha uma ligeira inclinação. Os últimos dias têm sido extremamente duros, estradas impracticáveis, subidas descomunais, o aproximar de uma capital de departamento vai-nos proporcionar outros confortos, hotel com água quente e cama macia, mais escolha nos ingredientes e um pouco de descanço para as pernas. Andahuaylas é mais uma cidade feia, é mais uma cidade caótica e ali passamos uma só noite, no Hotel Adan y Eva, surpreendentemente decente para o preço que pagámos (12.5 soles cada um, o equivalente a 3 euros).<br /><br /><strong>Dia 11 (20.04.2008)</strong><br />De Andahuaylas a perto de uma aldeia a qual não sei o nome<br />44.6 quilómetros percorridos<br /><br />O sol abraça os céus com os seus raios longos e quentes, saímos de Andahuaylas com os alforges bem carregados e passando pelo meio do colorido mercado de domingo. Animais, vegetais, artesanato, gente local vestida no seu melhor fato de domingo e a cheirar a água de colónia. A estrada de alcatrão não dura muito e é substituída por uma estrada com inclinações que nos parecem levar ao céu. O pavimento de terra batida e pedra solta tem uma cortina adormecida de poeira que desperta cada vez que passa um camião, fomos bastante quilómetros a digerir pó, parecia que o domingo era um dia favorito para os condutores de camiões. Chegamos de novo a um cruzamento e cometemos o mesmo erro - seguir indicações dos locais. Era o caminho mais próximo para chegar a Abancay, e os camiões também não o utilizavam, mas havia uma razão para isso, os desníveis brutais, mas disso só viríamos a saber mais tarde. Pedalámos por um vale de pastagens verdes num downhill suave. Sem camiões a estrada em terra batida estava num estado aceitável. De vez em quando escutava-se a palavra “gringo”, na distancia, e sim era para nós, porque não existem muitos loucos que se aventurem por aquelas paragens. Almoçámos ao sol da tarde e começámos uma subida ligeira. Quando chegámos ao passe percebemos porque é que os camiões não iam por aquela estrada. O que era um sobe e desce razoável transformou-se num zig-zague que nos obrigaria a descer até ao vale a dois mil metros abaixo dos nossos pés e nos obrigaria a subir outra vez. Pusemos os casacos e as luvas e começamos mais uma descida vertiginosa que nos levou até um rio, na base de mais uma montanha, onde acampámos e adormecemos ouvido o cantar doce das suas águas.<br /><br />Dia 12 (21.04.2008)<br />De perto da aldeia da qual não sei o nome até Huancarama<br />35.2 quilómetros percorridos<br /><br />Olho para cima, mais uma subida. Estamos no vale, o local onde as duas montanhas que nos envolvem se unem, e as burras estão preparadas para a ascençao. Conquisto aos poucos mais uma montanha respirando o ar fresco do cenário andino e movendo os músculos endurecidos das minhas pernas. Chegamos ao que parece ser o passe mas ao seguir a estrada a realidade da subida revela-se: temos que voltar a descer para depois voltar a subir e desta vez a subida torna-se num martirío interminável: passamos por uma fila contínua de aldeias e as palavras "gringo" e "plata" ecoam nas encostas, parecem bofetadas auditivas, o suor escorre pelas têmporas abaixo, só mais uma pedalada, só mais um esforço, mas a subida parece não terminar, "gringo", escuta-se mais uma vez. Que vontade de gritar e responder, mas responder o quê? Continuamos a subida e no inicio da tarde atingimos finalmente o passe. Descemos até Huancarama, uma vila com alojamento. Ficamos na Hospedaje Korawiri, um edifício de traços colónias com uma varanda de primeiro andar onde se encontram os quartos e um terraço cheio de batatas. A senhora diz que podemos ver os quartos mas que seguramente não nos vão agradar, vemos os quartos e decidimos ficar, são 6 soles cada um, menos de 1 euro e meio, os lençóis estavam limpos apesar de o plástico que cobria o tecto nos fazer desejar que não chovesse, fizemos uma descoberta que nos fez rir: um penico debaixo da cama, mais tarde, com o frio que fazia e a distância a que a retrete se encontrava, compreendemos que aquele objecto que nos havia parecido obsoleto tinha na realidade as suas vantagens. Partimos em busca de jantar, uma dose de frango frito num restaurante que só de olhar infectava os intestinos, mas era o único sitio aberto e não nos apetecia cozinhar. Sobrevivemos ao restaurante imundo e ao frango frito, e decidimos aliviar o frio da noite com um "calientito", uma bebida vendida ambulantemente, com álcool, ou sem ele, misturado com ervas supostamente medicinais. Naquele bar improvisado no meio da rua encetámos conversa com os locais que nos informaram sobre o estado das estradas que nos esperavam, falaram dos costumes, e das suas vidas. Foi um serão agradável, saímos dali com mais álcool no sangue do que justificava o frio, éramos 6 e cada um pagou uma rodada, e o senhor que vendia as bebidas ia acrescentando generosamente os nossos copos, a pretexto de continuar a tertúlia. O Peru e as suas gentes são assim e é impossível prever quando nos vão tratar bem e ser simpáticos ou quando nos vão gritar "gringo" e pedir "plata", e é isso também que torna as relações entre as pessoas que vamos conhecendo neste país tão erráticas e às vezes tão cansativas emocionalmente.<br /><br /><strong>Dia 13 (22.04.2008)</strong><br />De Huancarama a Abancay alojamento a 2378 metros de altitude<br />60.7 quilómetros<br /><br />A senhora da hospedagem garantiu-nos que não havia quase subida para chegar até à próxima aldeia. Passámos uns minutos antes de partirmos a falar com ela e com o seu marido, havia nos seus olhares, na sua casa, na sua aldeia, uma decadência visível, sinal de melhores tempos que passaram já há muito como as águas de um rio que agora está seco. "Já tivemos a hospedagem cheia, eu tinha dois táxis e uma carrinha, a mercearia estava cheia de produtos, mas os autocarros já não param a noite por aqui, e as poucas economias foram gastas com os estudos dos três filhos, agora não temos nada, só esta hospedagem, até os carros tivemos que vender". Pensei que era triste perder a estabilidade que um dia havia sido a certeza de uma vida, sobretudo quando a energia para trabalhar e produzir começa a esvair-se pelos dedos das mãos. Despedimo-nos daquela aldeia simpática e começámos a subida íngreme que segundo a senhora do hostal era uma estrada plana, já começamos a ficar habituados a estas desinformações, mas é desanimador quando se prepara o corpo para um dia fácil. Depois da subida a descida. 41 quilómetros onde para além da dureza do terreno apanhámos com uma chuvada que nos arruinou o almoço. Veio tão repentinamente que nem tivemos tempo de salvar o café ou a pasta de atum, fico tudo cheio de pedras de granizo e nós encharcados e cheios de frio. A chuva foi-se da mesma forma que chegou - repentinamente. Pela estrada que descíamos podíamos ver Abancay ao longe e tentávamos decifrar qual dos caminhos sinuosos nos levaria à capital de província, mas qualquer que fosse, nenhuma das opções parecia fácil. Acabámos o downhill tortuoso e poeirento por volta das 4 horas da tarde, mas faltavam-nos 18 quilómetros até Abancay. A estrada era alcatroada no fim da descida, e o Nuno, na sua boa fé motivadora, afirmou que seria como pedalar sobre manteiga, depois das estradas tortuosas que nos haviam acompanhado, mas uma subida é uma subida, e tivemos que fazer 18 quilómetros de subida até Abancay pela noite dentro, porque não havia sítio para acampar, toda aquela área estava populada. Procurámos hospedagem e com o cansaço a revestir os nossos corpos como um cobertor adormecemos.<br /><br /><strong>Dia 14 (23.04.2008)</strong><br />Abancay<br />Dia de descanso<br /><br />Decidimos tirar um dia descanso em Abancay. A cidade é ruidosa e sem grande interesse. Partiremos no dia seguinte.<br /><br /><strong>Dia 15 (24.04.2008)</strong><br />Abancay<br />Dia forçoso de descanso<br /><br />Temos as malas feitas, estamos prontos para partir .Às 10 da manha vamos à recepção perguntar pela roupa que havíamos posto a lavar no dia anterior e que nos haviam garantido estar pronta às 9 da manha. O recepcionista trás-nos um saco com roupa. Ao entregar-me o saco sinto um peso descomunal que só pode ser sinal de uma coisa: a roupa está molhada. Tiro a roupa à frente dele e do Nuno e digo que assim não pudemos viajar, a roupa está completamente molhada e para além do peso, se a levarmos vai ficar a cheirar mal. O senhor diz-nos atabalhoado que a máquina de lavar avariou, e que como não houve sol de manha, a roupa não secou. Pode antecipar-se a inexistência de máquina de secar, e inutilmente argumentamos que nos haviam garantido que a roupa estaria pronta a horas, aliás essa havia sido a condição de deixarmos a roupa a seu cargo. Que não pode fazer nada, é a resposta do senhor. Mandamos a roupa de volta, para que não seja devolvida até estar completamente seca. O senhor aparece de novo por volta das três da tarde com um saco mais leve e a roupa a cheirar a fumo. Pediu-nos mais dinheiro do que havia sido combinado originalmente e furiosos disse-mos que pagaríamos apenas o combinado e nada mais. O senhor ainda tentou discutir mas pusemos-lhe o dinheiro na palma da mão e fechamos a porta do quarto. Para viajar no Peru é necessária uma grande dose de paciência e de grande flexibilidade. Passamos mais uma noite naquela cidade desinteressante.<br /><br /><strong>Dia 16 (25.04.2008)</strong><br />De Abancay ao passe Abra Sorlaca, a 4000 metros de altitude<br />37.2 quilómetros percorridos<br /><br />Os meus olhos não queriam acreditar, tinha na minha frente o que seriam dois quilómetros na saída de Abancay que desafiava as leis da gravidade, aliás foi para mim uma surpresa ver que os carros continuavam agarrados à estrada subindo por ali. Eu seguramente tive que desmontar a minha burra porque nem as pernas nem os pulmões conseguiam produzir oxigénio requerido para ultrapassar aquele obstáculo, sinal do dia que me esperava. A estrada era de alcatrão e seria-o até Cusco, mas segundo os relatos de outros ciclistas aquela era uma subida dura de curva e contra curva, que nos levaria seguramente um dia a subir, 1568 metros de subida compactados em 37 quilómetros para ser mais exacta (os ciclistas sabem bem o que estes números significam). Depois de um mau começo lá sigo, curva sob curva, subida sob subida, a moral estava alta e mais ou menos mentalizada para o sofrimento do dia, mas às quatro da tarde sem avistar o passe, começo a desesperar, aquela subida era infinita e as minhas pernas já não queriam pedalar mais. O Nuno tentava animar-me dizendo que o passe era já a seguir à próxima curva, mas a sua ignorância motivadora só servia para me desanimar ainda mais, pois atrás da última curva, estava mais outra, com mais subida e sem passe à vista. Chegámos finalmente depois das cinco e meia da tarde e quis avançar com a bicicleta até ver a descida, para me assegurar que não havia mais subida. Estávamos divididos, descíamos um pouco ou acampávamos no passe. A resposta foi quase imediata, tínhamos diante dos nossos olhos a paisagem mais fantástica de toda a etapa, uma cordilheira de cumes nevados, céus alaranjados que se preparavam para receber o céu da noite estrelada. Montámos a tenda numa estrada em desuso e saboreámos na noite fria, a recompensa da árdua subida e da comida quente.<br /><br /><strong>Dia 17 (26.04.2008)</strong><br />Do passe de Abra Sorlaca a perto de Limatambo acampamento a 2634 metros de altitude<br />76.7 quilómetros percorridos<br /><br />O cenário ao por do sol fêz-me sentir um ser previlegiado mas o despertar deixou-me sem palavras. Sob os meus pés, um manto de branco, algodão feito das gotas de condensação, em frente seguiam brancas e imóveis as milenares montanhas. O céu despertava com o lento erguer do sol e aos poucos as nuvens densas elevaram-se e envolveram em bruma a nossa tenda e os nossos corpos que tiveram que se abrigar. Dormimos mais um pouco, e as nuvens já tinham seguido no seu percurso pelas montanhas, quando tomámos o nosso pequeno almoço preguiçoso. Agora era verde que víamos debaixo dos nossos pés e a estrada serpenteante que íamos descer. O downhill foi rápido, no alcatrão, solto as rodas e deixo o vento frio bater-me na cara. Esqueço os travões olho aos números no meu conta quilómetros a aumentarem, sobem ate aos 40 quilómetros por hora, a estrada está por minha conta e da minha burra, fiel amiga e companheira. A descida continua e passamos de uma montanha para a outra, a paisagem altera profundamente. Do verde das plantações andinas e dos vales povoados com pequenas aldeias, passamos para um Canyon de cores avermelhadas e amareladas, no fundo um fio de verde safira vivo e pequenas ilhas de areia, estamos a atravessar o Canyon de Apurimac. A a temperatura aumenta o vale de Apurimac è um vale seco, e aumenta também a simpatia das pessoas. Numa loja onde paramos para comprar vegetais, o senhor afirma-nos que não os vende mas que nos dispensará os da sua cozinha. “Quanto é?”, perguntamos ao ver o saco cheio de tomates, batatas, cebolas e alhos. “Nada! Para que sigam desfrutando a vossa viagem no Perú”. “Gracias”, agradecemos, e seguimos com um sorriso nos lábios. Este país é uma caixa de surpresas no que toca às suas gentes, e cada vale revela, ou uma agressividade sentida e manisfetada em palavras, ou uma simpatia honesta. Nunca podemos estar preparados para o que nos espera em cada ser que passa por nós, mas esse é o desafio e a recompensa de ser viajante sobre rodas no Peru. Passamos uma ponte de metal e sabemos que a descida ao Canyon de Apurimac está concluída. Debaixo dos nossos pés o fio de verde que víamos há duas horas atrás na distância, na sua proximidade, revela ser um rio largo de correntes fortes. Começamos uma lenta subida, mas a noite transpõem-se às nossas pedaladas e vê-mo-nos sob o manto escuro à busca de sitio para acampar. Ä beira de um afluente do rio Apurimac perguntamos a uma pastora já idosa se podemos acampar nas suas terras, mas as terras não eram suas, conseguiu comunicar-nos em quechua e apontou para um senhor que vinha a descer pelas encostas do monte. Dirigimo-nos a ele, e eu não pude deixar de notar a cobra morta que trazia pendurada num pau.” Que sim, que podíamos acampar sem problema nenhum”, foi a sua resposta e seguiu caminho fora de cobra em riste. Montámos a tenda nos seus terrenos e dormimos profundamente depois do dia cansativo.<br /><br /><strong>Dia 18 (27.04.2008)</strong><br />De perto de Limatambo a Anta, alojamento a 3445 metros de altitude<br />59.1 quilómetros percorridos<br /><br />A subida que havia começado com inclinações aceitáveis, foi-se transformando numa subida lenta e dolorosa. A verdade è que já estava farta de tanto sobe e desce, a minha desmotivação tirava das minhas pernas a energia necessária às pedaladas finais até chegar a Cusco. Os comentários do Nuno sobre a minha lentidão e o meu rendimento, eram tudo menos encorajadores. Sentia que já havia feito muito até ali e que as suas palavras não eram justas, e seguramente não eram a forma correcta para me motivar, as lágrimas vieram aos meus olhos, estava cansada. No meu avançar lento, um homem que passava perguntou-me para onde ia, ao que eu respondi inocentemente que ia para Cusco. Ele não acreditou e disse que eu não chegaria nem ao passe na minha bicicleta. Do fundo não sei bem de onde, arranquei as últimas forças que existiam em mim naquele dia e não só subi até ao passe como desci e fiz o percurso até Anta, uma vila ruidosa, populada por mototaxis e vacas deambulantes. Estávamos a apenas 27 quilómetros de Cusco aí chegaríamos a tempo para renovar os nossos Visas tem termos que pagar multa.<br /><br /><strong>Dia 19 (28.04.2008)</strong><br />De Anta a Cusco, alojamento a 3326 metros de altitude<br />27 quilómetros percorridos<br /><br />Tomámos o pequeno almoço no mercado local. Meio litro de sumo feito com frutas ali à nossa frente, duas sandes de queijo e dois cafés, cada um, somos ciclistas e temos outra subida à nossa espera. Tirámos umas fotos, Anta é uma pequena vila onde se entrecruzam várias vias e a linha de comboio. Há uma atmosfera muito rural, vêem-se as mamitas com as suas duas tranças negras, os seus filhotes enfiados nos gorros de la quente, com olhos brilhantes e ensonados, há mercados ambulantes onde se vende um pouco de tudo, desde mantas para o frio, a cabeças de vaca ensanguentadas, o que exige estômago logo nas primeiras horas da manha. As mototaxis carregam atarefadas as pessoas aos seus destinos e dão cor e som à rua principal, que è também a estrada principal. Saímos pelo meio da confusão. É sempre um desafio equilibrar as bicicletas e não chocar contra um carro ou uma mototaxi e vamos deixando para trás aquele rebuliço. As montanhas começam a ficar silenciosas novamente e só o mugir de uma vaca ou um carro ou camião que passam de vez em quando, vão quebrando esse silencio. A estrada é alcatroada e vai subindo aos poucos, sabemos que Cusco está num vale, e que há que subir para depois descer até à grande capital Inca. Preparei-me para o pior, uma grande e dolorosa subida estaria seguramente aguardando, depois de tanto sofrimento Cusco teria que ser uma árdua recompensa, mas não, a subida foi suave e sem querer acreditar, a meio da manha via a placa que anunciava a chegada a Cusco. Na verdade foi uma grande decepção, porque imaginava a entrada da cidade algo diferente, ou pelo menos que não fosse o previsível aglomerado de casas feias e o caos urbano tão característico das cidades Sul Americanas. Como podia esta ser uma das cidades mais visitadas do mundo, um íman de turistas e viajantes? Fui descendo desanimada, nem o facto de ter completado a etapa mais difícil da viagem , ter ultrapassado o maior desafio físico e psicológico da minha vida, e sobretudo, ter chegado a tempo para estender o Visa, pareciam ser suficientes para me animarem, a cidade parecia-me decepcionantemente feia. Descemos rumo ao centro da cidade e aos poucos os sólidos muros restantes das construções Incas que serviam de base aos edificíos coloniais, os mercados coloridos cheios de artesanato, carnes, sementes, vegetais e por fim a Praça Principal! Sim agora entendia. Já mais embrenhada na atmosfera da cidade, percebi o porquê de ser considerada uma das cidades mais bonitas da América do Sul. Cusco é como uma fruta machucada na casca, casca essa que quando retirada apresenta um fruto bom e suculento. Ficámos alojados no Hostal Estrellita, na calle Tullumayo, perto do centro. Este Hostal havia sido recomendado por uns cicloturistas (a Ana da Colômbia e o Philipe da Suíça) e guardámos o contacto como uma nota valiosa, era um hostal barato e conveniente, e em Cusco, isso é um achado. Os próximos dias seriam passados a actualizar os websites, descansar da dura etapa, programar a ida a Machu Pichu, planear as próximas pedaladas e desfrutar a cidade que parecia estar num estado de primavera constante!<br /><br />Acaompanhem as minhas aventuras, atrvavés do site do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a><br /><br />Peru, Cusco, 3 de Maio 2008<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-20073015929679334792008-04-12T10:52:00.000-07:002008-08-07T11:14:32.362-07:00Peru, Ayacucho - Trabalho Voluntário na Casa Hogar Los Gorriones<strong>A força dos sonhos e a esperança no futuro<br /></strong><br />Quando entrei já era de noite, não tive a percepção do espaço. Vinha ao encontro do Gil, no orfanato que ele e Chantal haviam criado 6 anos atrás.<br /><br />-----<br />Meses antes de partir para a minha saga no Sul da América tinha contactado diversas instituiçoes relativamente a possibilidade de fazer trabalho voluntário, algumas responderam e da Casa Hogar Los Gorriones a resposta tinha sido negativa porque na época em que programava estar no Peru tinham voluntários suficientes. Tudo muda, e nada tem mudado mais do que os meus planos de viagem.<br /><br />Na resposta negativa do Gil tinha vindo muita positividade com uma descrição apaixonada do projecto que ele e a sua companheira Chantal tinham desenvolvido no Peru - um orfanato onde para alem de crianças abandonadas recebiam crianças com deficiências e paralisias cerebrais. A historia destes dois seres e digna de menção sobretudo pelo exemplo de coragem, determinação e amor, e do que se consegue com estes.<br /><br />Gil e Chantal são um casal franco-belga que vivia nos Pirenéus franceses numa idílica existência com o seu pequeno filho Aaron, contudo, aquela existência começou a encher-se de vazio pois não era compartida. Inspirados pelos ensinamentos da Madre Teresa de Calcutá decidiram iniciar um projecto em Franca, que devido as barreiras que a borucracia impôs, nunca se concretizou. Índia foi o próximo destino, mas mais uma vez, a borucracia, desta vez, da emigração que não conhece fronteiras ou intençoes, permitia apenas 6 meses de estada ou alternativamente, o pagamento ilegal aos funcionários do departamento de imigracoes, a extençao da estadia. Gil e Chantal não quiseram ser cúmplices desta pratica corrupta e depois do conselho de uma amiga, arrumaram trouxas e foram para o Peru, onde haviam tomado conhecimento do contexto de pobreza e privação que ali se vivia.<br /><br />Em 2001 sem saber falar espanhol, chegaram a Lima e em Marco de 2002 o sonho concretizou-se finalmente e abrem as portas da Casa Hogar Los Gorriones em Ayacucho. No Peru este tipo de iniciativas não e apoiada pelo governo e cedo os poucos apoios começaram a ser insuficientes Gil e Chantal tiveram que vender a sua casa nos Pirineus para financiar a Casa Hogar. Todas as ancoras que os ligavam a uma existência em conforto foram levantadas, e sabiam que a sua vida estava irrevogavelmente ligada a este projecto e ao Peru.<br /><br />A Casa Hogar Los Gorriones e um lar humilde mas onde existe muito amor e muita esperança. As crianças que ali são acolhidas entram afectadas por desnutrição severa, traumas, doenças físicas e mentais,e muitos deles não foram aceites noutros orfanatos devido a dificuldade e custos em lidar com estes antecedentes. Algumas crianças da Casa Hogar estão para adopccao, mas muitas delas tem pais, e a filosofia deste orfanato e promover a recuperação do balanço familiar e reeintegraçao da vida em familia. Promove-se também o estudo e o futuro destas crianças, muitas frequentam colégios privados para que as suas hipóteses de vencerem na vida. Os terrenos para uma nova e mais grande Casa Hogar ja existem, pretende-se caolher mais criancas e criar casas para familias que desejem acolher crianças, e tambem desenvolver programas de sensibilizaçao aos jovens para o planeamento familiar, as taxas de gravidezes nao desejadas e em adolescentes e absolutamente chocante e ha que comabater o problema pela raiz.<br /><br />E serão coisas do destino, mas por alguma razão, fui mantendo contacto com o Gil, informando-o do progresso da minha viagem e dos meus movimentos pela America do Sul, e um dia recebi um email dele a convidar-me a passar uma semana na Casa Hogar para conhecer as crianças e o projecto.<br /><br />Mais uma vez alterei os planos de viagem, pus a bicicleta num autocarro e segui para Ayacucho com muita vontade de conhecer e participar deste projecto.<br /><br />Ao chegar aquela cidade andina com 93 000 habitantes metida entre o amplo vale da Serra Central Sul Andina do Peru a 2761 metros de altitude, o sol brilhava e a pacatez da rotina urbana escondiam as cicatrizes do passado que só lentamente se foi revelando a medida que me envolvia mais com os habitantes daquela cidade peruana.<br /><br />----<br /><strong>Ayacucho</strong><br /><br />Ayacucho é um nome formado pela união de duas palavras quechuas (língua falada pelos indígenas e que provem da herança Inca) - aya, que significa morto ou alma e cuchu, canto, no que se pode ler "Canto dos mortos ou das almas", como alusão as muitas batalhas sangrentas que ali se debateram e dos que ali padeceram como consequência. Foi o próprio Simon Bolivar que decretou o novo nome da cidade, que anteriormente tinha o mais auspicioso nome de San Juan de Huamanga, depois de mais uma batalha, desta vez rumo a independência do dominio espanhol. E quer seja destino de um nome, ou que certos locais estao predestinados a tragédia, Ayacucho foi palco de um sangrento capitulo na historia Peruana em anos recentes, e ao ler estes detalhes no meu guia, não tive a noção do quão estas feridas ainda estão em carne viva na vida dos seres com os quais comparti experiências no pouco tempo que estive nesta cidade.<br /><br />----<br /><br />Disseram-me para esperar, Gil já viria falar comigo. No meio da escuridão senti um corpo pequeno que se aproximou de mim e me perguntou o nome. Depois saltou para o meu colo e aninhou-se no meus braços, brincando com o meu cabelo. Era Noemi. Como todas as historias das crianças da Casa Hogar Los Gorriones a historia de Noemi e uma historia triste marcada por um evento recente e serio que o colectivo Peruano politico deseja apagar e esquecer responsabilidades -os anos recentes do terrorismo, do Sendero Luminoso um grupo comunista pro-marxista, que afectou gravemente o Peru e sobretudo o distrito de Ayacucho nos anos 80 e 90. Este grupo terrorista pode não ter recebido a atenção mediática que os outros grupos terroristas recebem, mas o numero de mortos e desaparecidos consequência das suas actividades e da politica contra revolucionário do governo foram devastadoras para o Peru e sobretudo para a a região já tão desfavorecida de Ayacucho. Os números falam por si: 69,280 mortos dos quais só 22,507 estão identificados - o que deixa um lamentável saldo de 46,773 peruanos desaparecidos.<br /><br />Noemi, de olhos grandes, castanhos, cabelo negro, sorriso largo e mãos de carinho e filha de uma mulher que perdeu toda a sua família na vaga das acçoes terroristas levadas a cabo pelo Sendero Luminoso e das não menos nefastas accoes contra terroristas do governo Peruano. A mãe de Noemi vivia com medo nas ruas de Ayacucho, escondida, traumatizada . Aos 15 anos teve Noemi que acabou por abandonar e que foi recebida na Casa Hogar. Noemi tem outras irmãs, uma delas esta noutro orfanato e outra vive com a mae. Gil disse-me depois que tinha também uma ligeira paralisia que lhe dificultava a aprendizagem e o seu carácter era um pouco especial, muitas vezes era rejeitada pelas outras crianças. Mas para mim aquela criança doce com quem passei horas a fazer deveres de casa, a desenhar, a brincar e a contar historias, era apenas um ser inocente, com o futuro em aberto e com um passado que eu esperava fechar-se para que as suas garras não fincassem o futuro.<br /><br />E naquele fim de tarde escura pude finalmente conhecer o homem que agora admirava. Só que a esperança e a forca das palavras que trocamos por email, escondiam os olhos tristes de um ser que sabia próxima a separação - Chantal, a forca dinamizadora dos sonhos da Casa Hogar, uma segunda mãe para as crianças que ali se encontram e a sua companheira, estava a perder a batalha contra o cancro e não lhe restavam muitos dias de vida!<br /><br />Inicialmente ficou combinado que o meu voluntariado, previsto para uma semana, consistiria em visitar a Casa diariamente e interagir como desejasse com as crianças. Ficaria alojada na casa dos voluntários, localizada perto da Casa Hogar. Só que a semana transformou-se num mês, e a pedido de Chantal passei a fazer parte dos turnos que fazem os voluntários que permanecem por mais tempo. Nestes turnos auxiliamos as profissionais peruanas que ali trabalham e dedicam longas horas da sua vida (12 horas diárias), pelos grupos em que as crianças estão divididas: Grandes, Pequenos e Lupe (crianças com necessidades especiais devido as suas desvantagens físicas e mentais). Em cada turno ha tarefas especificas correspondentes a cada grupo de criancas com as quais se trabalha, e os voluntarios que ali estao auxiliam na elaboraçao das diferentes tarefas.<br /><br />E aos poucos, para além do grande afecto que fui desenvolvendo por aqueles meninos e meninas, fui também compreendendo, que no contexto social e económico do Peru, aquelas crianças, apesar do seu passado traumático, tem muito mais do que milhares de outras crianças: tem um tecto, tem acesso a educação, tem 3 refeições por dia e estão rodeados por gente que os quer muito e que lhes dedica parte das suas vidas.<br /><br />---<br />Acordei com os raios de sol a entrarem pela janela, arrumei as coisas e pus a bicicleta e as trouxas num táxi e subi ate Cármen Alto para iniciar o meu trabalho voluntário. O que a escuridão tinha escondido na noite anterior, o dia de sol e calor revelou como uma bofetada, depois da subida quase vertical que o velho táxi teve dificuldade em subir. A cidade, como ela se revela aos turistas com a Plaza de Armas, 33 igrejas e ruas em pedra reminiscentes da ordem colonial, ficou para traz e avancei para o meu destino por meio de solavancos que ameaçavam desintegrar o carro, provocados pelos buracos lunares das ruas despavimentadas daquele e da maioria dos bairros que existem no Peru. Por aquelas ruas passeavam cabras, ovelhas, crianças, mulheres e homens, o lixo nauseabundo coloria o seco da paisagem e das construções desinteressantes circundantes, vasculhado por algum cão rafeiro ou outro animal esfomeado que por ali passasse. A pobreza e a privação estavam por todo lado, era impossível ignora-las!<br /><br />Deixei as minhas coisas no chão da casa dos voluntários, estávamos num mesmo quarto e era óbvio que a minha estadia seria completamente desprovida de confortos: para quem viaje em bicicleta acampando onde pode, dormindo nos alojamentos mais básicos existentes, isso não apresentaria problema, e pareceu-me ser importante experienciar a vida como ela realmente e, pelo menos para aquelas pessoas.<br /><br />Bati a porta e entrei, nas cores do dia pude revelar o espaço que acolhia aquelas crianças e os que ali trabalhavam. Era um espaço humilde onde todo o espaço existente era aproveitado ou como quarto, ou sala de estudos, as refeições eram na sua maioria servidas ao ar livre sempre que o tempo permitia, havia uma sala de jogos e de jantar, a cozinha fazia-me lembrar os tempos antigos com o seu fogao a lenha e o chao de terra batida, havia tambem um parque para as crianças brincarem, galinheiros e coelheiras. Nuns quartos separados viviam Gil, Chantal e o seu filho Aaron. Nao se vivia num ambiente luxuouso, mas o conforto e a atmosfera familiar eram evidentes. Parecia uma casa de uma grande familia.<br /><br />Foi um pouco difícil no primeiro dia saber o que fazer, havia uma rotina instituída e durante o tempo de aulas e as crianças não tinham muito tempo livre entre os seus deveres e outras tarefas que tinham para desempenhar como lavar o seu uniforme depois da escola.<br /><br />Entrei no quarto dos Lupe, ou o quarto das crianças especiais, que são sem duvida as crianças mais especiais do mundo e depois de me apresentar as senoritas ( as senhoras que trabalham na Casa Hogar a tempo inteiro) decidi ali ficar e aprender sobre aquelas crianças que devido a sua condição tinham todo o tempo para receberem atenção e carinho.<br /><br /><strong>As Crianças</strong><br /><br />Eberson, e parcialmente cego embora consiga destingir sombras, tem uma paralisia cerebral que entre outras coisas o impede de caminhar, tem 5 anos. Aos poucos foi aprendendo a reconhecer-me e no final já sabia o meu nome e chamava-me "Iana, Iana - mira la pelota” ou "Iana, beso, beso!". Gostava de o agarrar e leva-lo para a rua para brincarmos com a bola, ou de o deitar a noite na cama onde tínhamos sessões intermináveis de musica e de beijos. Todas estas coisas o Eberson gostava de fazer e o seu sorriso e gargalhadas eram contagiantes, só que nega-las significava um tantrum em que muitas vezes a choradeira estendia-se as cabeçadas que dava no chão para chamar a atenção. A sua historia e triste,e não vale a pena menciona-la, e de abandono e perda, Eberson esta para adopção. E uma criança adorável que aos poucos com as sessões de terapia vai recuperando alguma capacidade de se movimentar. Creio que um dia será musico, tal e a sua paixão pelos sons e pela música.<br /><br />Sheyla, e uma menina tímida, que expressa os seus desejos numa voz muito baixa de criança insegura. Sofre de uma ligeira paralisia cerebral e física que se manifesta na dificuldade em movimentar-se e falar. A sua mãe engravidou muito jovem e não tendo condições para atender as necessidades da filha, deixou-a a cargo da Casa Hogar, mas visita-a regularmente e pretende voltar a te-la assim que a sua situação financeira melhore. Sheyla e eu éramos amigas, a Sheylla gostava de coisas pequeninas como flores e sementes para guardar nos seu bolsos, e era o nosso segredo, sempre que brincávamos ou líamos livros juntas, Sheylita mostrava-me as coisa pequeninas que trazia guardadas no seu bolso e ali prometíamos que não diríamos nada a ninguém sobre aquelas pequenas coisas que que tinham tanto significado para ela.<br /><br />Ruth Karina foi uma das três primeiras crianças que chegaram a Casa Hogar, foi encontrada na rua perto de uma lixeira no meio de cães e ratazanas - um cenário que custa a imaginar, mas que no Peru, e certamente em mais partes do mundo, e a realidade daqueles que nascem diferentes, porque para muitos uma paralisia cerebral e uma maldição, e a criança que a tem e amaldiçoada e um cargo para a família. Não se sabe de onde veio, mas as marcas dos maus tratos que tem no corpo, fazem pensar que talvez seja melhor assim, seguramente não era desejada. Hoje e a filha adoptiva de Gil e Chantal, e com a paciência e dedicação dos pais e das senhoritas, muita de luz, amor e carinho entram agora na vida desta menina tão especial.<br /><br />Nilda e uma menina pequenina de 4 anos. Tem uma seria paralisia cerebral e um grave problema pulmonar, tão grave que os médicos haviam desistido de a tratar por considerarem que não teria muitas chances de sobreviver. A sua saúde e muito delicada e frequentemente tem que se lhe dar oxigénio porque fica com bronquites com muita facilidade. O seu sorriso e as suas traquinices deleitam todos na casa, e a sua forca e determinação para viver são admiráveis.<br /><br />Fermin e um menino muito especial com 8 anos que parece ter apenas 3. A sua deficiência mental pode muito bem ter sido agravada pelos maus tratos que sofreu as mãos da sua família. Viveu com a mãe nos 6 primeiros anos da sua vida, onde se desconfia que para alem de maus tratos, não tenha sido alimentado e tenha estado fechado. Foi abandonado e descoberto na rua numa noite de frio e chuva extremamente<br />desnutrido, de tal modo que ao inicio comia as suas próprias fezes. Fermim e uma criança hiperactiva, e com autismo, e os seus comportamentos podem ser agressivos. Mas graças a dedicação de Elodie, uma voluntária francesa que fez o seu estagio na Casa Hogar. O Fermin e hoje uma criança diferente, muito mais interactiva e com comportamentos que se tendem a normalizar. E difícil trabalhar com o Fermin mas recompensante de ver que todo o carinho e esforço dão os seus frutos e que tambem ele, apesar de todos os maus tratos que sofreu, sabe retribuir o carinho e o afecto que recebe.<br /><br />Fredy, um menino sorridente, ou chorão conforme os seus humores que ficava fascinado quando lhe contava historias de príncipes e princesas. Deyse, a sua irmã também se encontra na Casa Hogar. Depois da morte da sua mãe, o seu pai teve que deixar as crianças na Casa Hogar por impossibilidade de compatibilizar os seus horários de trabalho com a paternidade, visita-os frequentemente assim como a sua avo e são no geral crianças alegres com as quais e fácil interagir.<br /><br />São 35 crianças ao todo e muitas delas tem realmente historias cruéis no seu já longo passado infantil, os maus tratos, o abandono, o alcoolismo dos pais, a estada na prisão por pais traficantes, a lista e triste e longa, e os detalhes de arrepiar. Mas o importante<br />e que neste período das suas vidas estejam a construir os alicerces para que um dia possam ter um destino diferente do dos seus pais e possam sobretudo ter o balanço emocional necessário para caminharem com as próprias pernas rumo ao futuro.<br /><br />----<br /><strong>Dia de feira</strong><br /><br />Saímos todos de mãos dadas rumo a Feira de Carmen Alto. Fez-me lembrar o tempo de escola primaria só que agora estava eu do outro lado, assegurando-me que as crianças não se perdiam, e que nada de mal lhe acontecia no caos da feira.<br /><br />Abel, um dos rapazes, pisou um monte de coco de cão e todos se riram, eu senti pena dele e disse bem alto para que todos ouvissem<br />- Olhem que em Portugal e sinal de boa sorte quando se pisa caca!<br />A voz do Abel ergueu-se sobre a risada geral,<br />- Ouviram o que a Joana disse? - Todos a pisar caca de cão, e sinal de boa sorte!<br /><br />Depois de explicar que a coisa tem que acontecer por acaso e evitar piores consequências, já que como se sabe as crianças tem uma perspectiva das coisa que pode escapar a nossa percepção, e boa sorte que desejo a estes seres, sem que necessitem jamais de pisar caminhos sujos e infelizes, creio que estas criancas ja tiveram a sua dose. Desejo que continuem a crescer com amor, que continuem a receber carinho, que encontrem lares e famílias e que sejam homens e mulheres corajosos , para que possam, quem sabe, ajudar a alterar o rumo desorientando do pais onde nasceram, ou que pelo menos que contribuam para quebarar as pecas mecânicas do ciclo vicioso vivenciado pelos seus pais.<br /><br />-----<br />Chantal faleceu alguns dias depois de eu ter deixado Ayacucho. Não esquecerei a intensidade do seu olhar azul mesmo quando a doença lhe tirava toda a energia ou dos abraços demorados que gostava de lhe dar na esperança de passar um pouco de energia e de dar forca ao seu corpo já tão frágil e magro. Poucos dias antes de nos deixar ainda fazia a rota dos voluntários, inspeccionava a roupa que se lavava a mão, e dava vida aquela casa que seguramente esta mais triste agora com a sua ausência. E uma grande perda para todos nos e para aquelas crianças as quais era como uma mãe. Mas o seu trabalho a sua dedicação e esforço vivera para sempre enriquecendo a vida daqueles que tiveram o privilegio de a conhecer! O seu lema era “Sem Amor Nada Sou”, e nestas palavras se encompassa uma simples mas garnde verdade!<br /><br />----<br /><strong>A Casa Hogar Los Gorriones</strong> e um projecto que vive graças apenas da bondade alheia, como referi o Governo Peruano não assiste este tipo de iniciativas, as crianças necessitam sempre de material escolar, roupas e de pagar as propinas das escolas que frequentam. Dêem uma vista de olhos no website para saberem um pouco mais desta crianças e também para fazer donaçoes, caso o desejem.<br /><br /><a href="http://www.casahogarlosgorriones.org/">http://www.casahogarlosgorriones.org/</a><br /><br />Também estao sempre receptivosa receber voluntarios sobretudo profissionais na area das terapias para ajudar a criar programas para alguns dos meninos que tanto necessitam de atençao especial e dedicada. Contactem o Gil, caso estejam interessados.<br /><a href="mailto:gil54fr@yahoo.fr">gil54fr@yahoo.fr</a><br /><br />----<br />E já sabem, o Nuno tem também as suas histórias para contar e as suas fotos, não deixem de visitar o seu site em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a> e acompanhar a nossa viagem atraves dos seus olhos.<br /><br />Peru, Ayacucho, 12 de Abril de 2008<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-26509186108595846072008-03-15T10:43:00.000-07:002008-08-07T11:16:01.873-07:00Peru, Lima - De Tujillo a Lima. Do caos urbano e do silêncio da natureza intocada<strong>Trujillo </strong><br /><br />A dor aguda percorreu como um fio invisível a superfície da minha pele espalhando-se como uma mancha de óleo sob a minha anca. Era a ultima injecção de um tratamento doloroso que me havia ancorado forçosamente a cidade de Trujillo por muito mais tempo do que havia desejado. A cidade da praça de arco-íris era um mero sitio de passagem com encantos limitados que se esgotavam depois de três ou quatro dias, e as três semanas que ali acabei por passar revelaram uma cidade vazia em entretenimentos culturais ou outros. Os dias tornaram-se rotineiros e preguiçosos, e o calor asfixiante, que se faz sentir o ano inteiro, entorpeceu o meu corpo e deixou-o num estado de apatia latente.<br /><br />Explorados os encantos da Plaza de Armas, do complexo arqueológico de Chan Chan e da praia turística de Huanchaco, o trafico obsceno que se fazia sentir, os decibéis de ruído muito mais elevados do que qualquer ouvido humano possa ou deva suportar, a arquitectura pobre e feia e as barracas que vão carcomendo as dunas que rodeiam a cidade, não conseguia motivar-me a gostar daquele sitio.<br /><br />No dia da partida despertei cedo e cansada. Na noite anterior havíamos celebrado a hospitalidade do Lucho em sua casa, cozinhado Bacalhau a Espanhola e dançado ao som das cumbias improvisadas da sua aparelhagem que depositavam batidas para a rua silenciosa que dava para as traseiras de um cemitério. Eu, o Nuno e o Jeff dançamos ao som daqueles ritmos latinos, que aos poucos se vão apoderando da banda sonora da nossa viagem, e desajeitados, saltamos e pulamos, sob o olhar divertido de Lucho, que fazia de DJ. Penso que a alegria e a espontaneidade da dança vinham também do alivio de saber próxima a partida.<br /><br />O Lucho acompanhou-nos ate a saída da cidade, mais tarde juntou-se a minha pedalada e de forma simples e sincera perguntou-me como havia sido a minha passagem de criança a adolescente, queria saber como lidar com a sua filha Ângela, a luz da sua vida, que esta a passar por essa fase. Aqueles 10 kilometros iniciais passaram num ápice e ate a subida de 5 kilometros me pareceu um pedaço de estrada plana, na sua companhia. Despedimo-nos no topo da duna, voltávamos ao deserto de Sechura, e aos nossos pés estava já silenciosa e distante a cidade de Trujillo e o mar do Pacifico. Despedi-mo-nos do nosso bom amigo que nos havia acolhido durante aquelas longas semanas, olhei pela ultima vez os seus olhos de criança e o seu sorriso caloroso, e vi-o ir, duna abaixo, de regresso ao caos da sua cidade.<br /><br />Em frente, o silencio, o amarelo das areias e o azul do pacífico. Um camião passava e interrompia aquela ordem de coisas para voltar a desaparecer na recta interminável de alcatrão que e a Panamericana Norte. Íamos regressar aos Andes, e sair da Panamericana por uma estrada privada de um projecto que mais tarde viemos a saber, ser de irrigação aos mantos verdes que irrompem o deserto. O homem vai provando que já não há muito que não esteja ao seu alcance, e plantar o puro deserto com alcachofras ou espargos e uma delas. Mas esses vegetais refinados são para exportação, não me parece que exista interesse em usar tecnologias tão avançadas para dar de comer aos Peruanos. O choclo - espécie de milho, a batata, a quinua, o camote, e tantos outros vegetais típicos deste pais, ainda se plantam da forma tradicional, pelas encostas das montanhas ou vales dos rios, dependendo sobretudo da mão e forca humana e estando expostos as imprevisibilidades metereológicas.<br /><br /><strong>O silêncio</strong><br /><br />O calor era tão seco que secava ate os ruídos. Ao pedalar, saídos do alcatrão, ouvia-se o restolhar dos pneus nas pedras da estrada, a nossa respiração e nada mais. O céu azul celeste, os montes avermelhados e amarelados de sedimentos que pareciam em estado de formação, era uma paisagem de transição entre o deserto e as montanhas que se deparavaante os nossos olhos, e a sensação de isolação era libertadora depois de toda a intensidade urbana sentida nas ultimas semanas. Estávamos felizes por regressarmos ao seio da natureza, por nos deixarmos envolver nos seus braços longos e acolhedores, éramos pequenos pontos insignificantes na imensidão.<br />Por cerca de 300 kilometros seguiríamos o Rio Santa serpenteando as suas margens e percorrendo uma estrada que nos levaria ate Huaraz a porta de entrada para a Cordillera Blanca, que foi considerada por uma sociedade geográfica, como a cordilheira mais bonita do planeta. Não suspeitávamos que nesses cerca de 300 kilometros de percurso a paisagem nos surpreendesse tanto, que parássemos tantas vezes estupefactos com o poder daqueles monumentos naturais que se impunham diante dos nossos olhos.<br /><br />Pedalávamos no fundo do vale que era caminho de passagem das águas do rio. Ao inicio as margens eram suaves e o rio caudaloso no seu percurso preguiçoso ate ao mar, mas a medida que íamos subindo, os montes transformaram-se em encostas de montanhas vertiginosas de rocha exposta como uma ferida recente, a estrada que percorríamos quasesolitários não mais era do que um fio de cabelo branco esculpido no tronco da montanha, e as águas que acompanhávamos tornavam-se cada vez mais rebeldes, debatendo-se furiosa e ruidosamente com as pedras erochas redondas cinzentas esbranquiçadas que lhe obstruíam a passagem, o som desta batalha era envigorante, e a nossa rota levava-nos no sentido oposto ao desaguar destas águas, rumo ao seu berço.<br /><br />A pouca actividade humana existente naquelas paragens vinha das carrinhas Toyota que serviam de transporte entre as distantes povoacoes das montanhas, dos camiões carregados com pedras provenientes das minas que ali existiam e a volta das quais pareciam agrupar-se as poucas pessoas que ali viviam. Era uma paisagem desoladora no que diz respeito a existência humana, os olhares dos mineiros que vimos reflectiam a falta de luz que existe nas suas vidas, da dureza física do seu trabalho e da resoluta determinação em conseguir o sustento arrancando do ventre da terra a matéria bruta.<br /><br />Depois de 4 dias a pedalar na que me parecia ser a mais bela paisagem da minha viagem e nos dias em que estive mais distante da civilização, chegamos a Huallanca uma aldeia que me pareceu quase idílica. Hullanca era sem duvida um oásis no contexto paisagístico das aldeias peruanas, que são na maioria espelhos da pobreza que se vive no pais, com as sua barracas improvisadas e a falta geral de infra-estruturas. Ali as ruas tinham placas com nomes, apresentavam menos lixo do que ecomum e parecia viver-se uma certa ordem e familiaridade. Talvez essa ordem se explique com a presença na aldeia de uma hidroeléctrica explorada por uma empresa Norte Americana. Ao passarmos perto das suas instalacoes podemos ver uma mini-aldeia, com campos desportivos e casas pre-fabricadas muito ordenadas e cuidadas, quem sabe, se seráesse o modelo de inspiração. Seja la o que for encarinhei-me pela aldeia e custou-me partir no dia seguinte.<br /><br /><strong>O Canyon Del Pato</strong><br /><br />A última parte do nosso percurso ate Huaraz era o único que vinha mencionado no nosso guia Lonely Planet, mas nem assim se viam mais sinais de presença humana. O Canyon Del Pato era a continuação natural do percurso que vínhamos calcorreando com as nossas bicicletas , só que a estrada, que antes ia junto ao leito do rio, afastava-se agora rumo aotopo da montanha proporcionando vistas vertiginosas sob o rio que se via em baixo na sua luta cada vez mais enfurecida com as rochas e pedras. O que mais me impressionou, foram os 37 túneis que que atravessamos, buracos tosco perfurados na vertente das montanhas pelas quais a estrada forcou o seu caminho. E entre a luz do dia luminoso e azul e aquela escuridão, que nem sempre deixava antever o fim do túnel, tive um encontro demasiado próximo com um veiculo queatravessou o túnel a uma velocidade pouco segura e que quase me albarroava a mim e a minha burra. As minhas pernas levaram algum tempo a compor-se do susto e depois daquele evento só queria por-me emestrada segura.<br /><br />À medida que nos aproximávamos do nosso destino a paisagem foi ganhando presença humana e infelizmente perdendo interesse. Esperávamos ver os cumes nevados que davam tanta fama a cordilheira, mas as nuvens que não víamos há já muito tempo, apresentaram-se ao serviço e serviram de cortina ao espectáculo nevado.<br /><br />Entre céu cinzento, o ruído das mototaxis e o frio andino - foi assim que chegamos a Caraz uma vila Andina supostamente mais interessante e bonita que Huaraz. Tirando a Plaza de Armas, que tinha de facto algum encanto e um mercado colorido onde finalmente se voltavam a ver os locais nos seus orgulhosos trajes tradicionais, não havia muito mais de encantador naquela vila e partimos rumo a Huaraz. Celebramos o aniversario do Nuno na ainda menos encantadora vila de Carhuaz onde segundo o guia se podia desfrutar uma das mais bonitas Plazas de Armas daquela região. Suponho que gostos não se discutam, mas realmente aquela Plaza de Armas só poderia ser do agrado de um cego!<br /><br />A celebração do aniversário do Nuno foi modesta, passada na longa espera pela comida. O Nuno decidiu presentear-se com um prato de Porquinho da Índia, ou Cuy, como e conhecido aqui e eu com um prato de algo que já nem me ocorre a memoria. Digamos que o dito Cuy quando chega a tua mesa tem o aspecto de um rato pelado que foi electrocutado com as patas em riste a condizer, não e tão mau como o seu aspecto, mas a parca carne que o constitui, não vale o esforço para o seu consumo. Voltamos ao quarto do hostal com uma garrafa de rum e ali passamos a noite chuvosa a conversa e a escutar musica ate que que nos desse o sono. Despertamos no dia seguinte e seguimos na ultima etapa debaixo dechuva ate Huaraz.<br /><br /><strong>De volta ao caos - De Huaraz a Lima<br /></strong><br />Huaraz conseguiu ser um sitio mais feio do que o imaginado nas minhas piores expectativas. E a Meca onde se organizam as aventuras ao coração da natureza Andina, mas aquela cidade com um passado recente tocado pela catástrofe (um tremor de terra em 1970 que quase destruiu toda a cidade) não tem absolutamente nenhum enquadramento com a paisagem pristina que a rodeia.<br /><br />Encontrámos um bom alojamento, longe do caos do centro, Caroline Lodge, e ali ficamos a fazer o actualização dos respectivos websites e a organizar as próximas etapas que iríamos percorrer separados. Eu ia rumo a Ayacucho via Lima para fazer trabalho voluntário num orfanato. Infelizmente teria de fazer este percurso em autocarro porque não me restava mais tempo para chegar a Ayacucho, e o Nuno iria acompanhar-me ate Lima e regressar a Huaraz, para comprar a sua nova maquina fotográfica e assegurar-se que nada de mal me aconteceria na não tão segura capital.<br /><br />Nem os autocarros mais luxuosos do pais evitaram que o jantar acabasse num saco de vomitado. Enquanto o Nuno dormia eu ia desafiando as vontades evasivas do meu estômago curva após curva, mas o inevitável acabou por acontecer, e eu amaldiçoava a sorte de ter que viajar em autocarro em vez da minha comfortavel burra. Chegamos ao amanhecer a Lima e o calmo despertar da cidade escondia as verdadeiras dimensões daquela mega capital. Chegamos a Plaza de Armas cerca das 7 da manha e não havia alma viva por ali. Cansados e com fome queríamos comer algo e deitar-nos ao sol mas acabamos por deambular por horas a espera que algum estabelecimento abrisse. E sem sorte de sonhos solarengos porque no Peru os jardins são guardados com uma zelo inusitado e a relva serve meramente para fins decorativos, ai daquele que ousar usufrui-la horizontalmente.<br /><br />Passamos a tarde na zona comercial da cidade e a noite decidimos ir ver um espectáculo de luz, som e agua, altamente recomendado pelo guia que obtivemos no posto de turismo. O Percurso da Agua, era de facto uma atracção com algum interesse - num parque da cidade instalaram um conjunto de fontes luminosas e orquestraram um espetaculo de luz e som de pura propaganda politica e de orgulho patriótico. Ali estivemos entretidos por algumas horas, quase esquecendo que estávamos num dos países mais pobres da América do Sul. Em Lima parece concentrar-se todo o investimento do capital produzido neste pais, e uma cidade moderna e cosmopolita com todas as facilidades de uma cidade contemporânea, mas as vezes e difícil entender como e que esta cidade pode ser a capital e representar um pais que parece ser ainda tão rural. Ao regressarmos ao terminal do autocarro ao inicio da noite as ruas que de manha pareciam ser apenas ruas de armazéns e terminais de transporte das varias companhias, transformaram-se no cenário principal para a cena da prostituição masculina da cidade. Assim são os contrastes da realidade, num momento o total isolamento abraçados pela mais intima e intocada natureza e depois no mais caótico dos enquadramentos criados pela mão humana.<br /><br />Acompanhem as minhas aventuras no website do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a><br /><br />Peru, Lima 15 de Março de 2008<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-12597337632888752582008-02-20T09:37:00.000-08:002008-08-07T11:17:10.407-07:00Peru, Trujillo - Adeus Equador. À descoberta do Peru<strong>De Macará a Trujillo</strong><br /><br />As ondas do mar molhavam os meus pés e os do Nuno e os nossos passosmarcavam a areia escura a medida que caminhávamos. Sentia uma emoçãoestranha, uma emoção pueril ao poder sentir pela primeira vez a aguado Oceano Pacífico, a mais larga extensa massa de agua ao cimo daTerra, senti que os sonhos se materializam e que outros oceanos eoutros mares longínquos terão os meus pés desenhadosnas suas areias!<br /><br />---<br /><br />Cuenca estava agora a muitos kilometros de distancia, e os últimos dias de pedalada haviam sido dias muito felizes. Finalmente sentia a simbiose entre mim a minha burra, o meu companheiro de viagem, o Nuno e tudo o que me rodeava. Eu e a Marina (a minha bike Marin Muirhoods) calcorreava-mos as montanhas eos desertos com pura alegria, num esforço mutuo - a minha energia utilizada nas suas peças mecânicas, como meio de propulsão em direcção aos destinos que lentamente íamos alcançando. Todo o contacto humano que havia experienciando em Cuenca me havia carregado as baterias, e com energias renovadas, foi também mais fácil harmonizar-me com o que me rodeava.<br /><br />----<br />Em Loja, a 200 kilometros de Cuenca, onde depois de 5 horas num autocarro e uma estrada sinuosa, me reencontrei com o Nuno, decidimos que ele seria o homem do leme. Parecia que ao estudar-mos mapas juntos, não nos conseguíamos entender em relação a rotas e destinos.Eu pessoalmente sentia que o equilíbrio da nossa relaçao dependia sobretudo em focarmo-nos em aspectos diferentes da dinâmica da viagem e por tal estava bastante feliz por deixar o Nuno analisar os mapas e decidir as melhores rotas. Admito que a minha passividade possa não ser ideal, mas nesta viagem prefiro deixar-me levar, ser passageira. Concluo que a minha vida em Londres se marcou por escolhas e decisoes constantes e sabe-me bem deixar as coisas um pouco ao acaso, planeando nao mais do que uma semana em avanço. E foi o Nuno que me ensinou que<br />o importante nao é chegar ao destino, se não vivenciar o percurso. Não desejo coleccionar bilhetes de entradas de ruínas, locais de dita atracção turística, ou kilometros pedalados...<br /><br />Bússolas acertadas, o primeiro dia de ciclismo foi recompensante. De Loja saímos debaixo de um sol escaldante, montanha acima. Chegamos a Catamayo ao inicio da tarde onde comemos provavelmente a carne grelhada mais fina, mais dura e mais horrorosa da viagem - chamada cecina, que parece ser uma especialidade local (não quero imaginar que outras especialidades gastronómicas esta gente aprecia), compramos matimentos e voltamos a subir outra montanha, num verdadeiro desafio à minha determinação. Curva atrás de curva, a subida era interminável, podia observar o alcance do meu esforço em patamares, as montanhas circundantes e o vale que se afastava.<br /><br />Pela primeira vez na minha viagem tivemos que admitir que não encontraríamos lugar para acampar, estávamos rodeados por terrenos cultivados bem guardados com cercas, metemo-nos carreiro adentro e pedimos numa chacra (pequena quinta com animais e terras de cultivo) se podíamos acampar. A surpresa dos forçados anfitriões foi bastante ao verem dois ciclistas naquelas paragens. Não acreditavam que viajávamos em bicicletas e não em mota, mas era óbvio que não existia nenhum motor nas nossas burras. Pusemos a tenda onde no dia seguinte viemos a entender ser o esterqueiro do porco - acordamos com os seus roncos deambulantes.<br /><br />O dia seguinte acordou cinzento, e a subida que nao terminava, depois do pequeno almoço, este foi o cenário que desfrutamos. A chuva miudinha transformou-se em gotas pesadas que molhavam cada centímetro da minha pele, mas nem a chuva demovia a vontade de desfrutar a recupera da energia, conseguimos atingir a próxima e última vila do Equador, antes de chegarmos ao Peru , Cotacocha, onde pernoitamos 2 noites na esperança que a chuva abrandasse. A chuva não abrandou, e relutantes avançámos monte abaixo debaixo de chuva miudinha, que pouco a pouco se transformou em sol e vales verdes, plenamente visíveis.<br /><br /><strong>Jeff</strong><br /><br />Lentamente o pequeno ponto transformou-se numa silhueta inconfundível. Subia a montanha como se carregasse o mundo na sua bicicleta. Não era o mundo que carregava mas sim 70 quilos de muitas partes suplentes, ferramentas, roupa e comida. Cada ciclista e um ser único, comnecessidades distintas.<br /><br />Em Cotacocha havíamos combinado encontramo-nos com ele pelo caminho, já que haviamos escolhido a mesma rota para atravessar a fronteira.<br /><br />Os olhos do Jeff são muito verdes, ás vezes azulados mas sempre tímidos. O seu cabelo comprido está queimado pelas milhares horas de sol passadas em cima da sua bicicleta. Com as suas mãos longas agarra o guiador invertido numa posição que parece desafiar a saúde da sua coluna vertebral, mas a bicicleta e a sua extensão de corpo, e foi feita a sua medida; a medida das suas longas pernas e do seu corpo esguio. A sua altura diz, é consequência dos quase 10 meses que passou no ventre da sua mãe. A sua infancia foi passada em terras de bosques. Na juventude tocava baixo e cantava numa banda de heavy metal. Este ser calmo e contido libertava-se em berros histéricos e frenéticos -a forma rápida como os instrumentos são tocados e uma das características do heavy metal, explicou-me um dia. Foi também responsável pela radio universitária onde tirou o seu curso de geografia, mas a sua grande paixão acabou por ser viajar o mundo sobre duas rodas, apesar de nunca ter viajado muito pelo mundo durante a sua juventude. Passou quatro anos em hibernação, numa existência minimalista, para poder poupar dinheiro para a sua viagem, o seu grande projecto de vida. O seu trabalho como geógrafo explica de certa maneira a forma meticulosa como planeia a sua rota. Para o Jeff as montanhas e os lugares percorridos traduzem-se em altitude, desníveis acumulados, kilometros e coordenadas. O aspecto humano nao lhe vem fácil.Quão diferente lhe devem parecer os costumes que encontra na América do Sul. O único pais que havia viajado foi Austrália.<br /><br />Um dia pediu uma sopa de mariscos, o Jeff é vegetariano, mas nestes países já se convenceu que e mais fácil comer o que há...ou talvez não - ao ver os tentáculos de um camarão, um pedaço de polvo e uns berbigoes boiando no seu caldo, disse:-"Eu não posso comer isto - são baratas!" o Nuno riu-se e contente comeu-lhe as deliciosas baratas! Foi bom voltar a vê-lo na estrada. Partilhamos os últimos kilometros do Equador e as planas e longas estradas a Norte do Peru até chegar aTrujillo. Jeff esperava que o Peru fosse um pais cheio de bandidos e que todos o tentariam enganar, mas aos pouco foi também descobrindo um Peru mais humano, com paisagens bem menos perigosas e mais surpreendentes do que as antecipadas.<br /><br />----<br /><br /><strong>A travessia da fronteira</strong><br /><br />O primeiro aspecto marcante ao atravessar a fronteira do Equador em Macará, para o Peru, foi o cheiro nauseabundo a fezes velhas secas ao sol. Tivemos que suportar o cheiro naquele posto fronteiriço por mais tempo do que seria desejado porque a roda do Jeff estava a dar problemas exigindo a mudança constante da câmara de ar. Mas tratadas todas as burocracias que envolvem a transição de um pais para outro,os meus sentidos foram distraídos por algo que acontecia no Rio Calvas, castanho e de corrente forte que faz de linha fronteiriça:crianças, algumas não mais velhas que 10 anos a lutar contra o rio rebelde nadando com bidoes de uma margem à outra. Mais tarde vim a saber que estavam a contrabandear gasolina e gasóleo, que são muito mais caros no Peru. O "olho fechado" dos guardas de ambas fronteiras chocou-me não pelo óbvio atentado às leis de circulação de bens entre países mas pela fria indiferença ao valor destas vidas que diariamente são postas em risco sem que ninguém pareça importar-se.<br /><br />O mau cheiro e a pobreza é algo a que um viajante se tem que acostumar quando viaja no Peru. À volta dos coloridos mercados que se encontram em cada vila, aldeia ou cidade o cheiro intenso da miríade de frutos,vegetais e outros produtos mistura-se com o cheiro de frutos, vegetais e outros produtos em estado de putrefacção mesmo ali ao lado. Muitas vezes vi sinais pela estrada por todo o Norte do Peru apelando ao combate das moscas da fruta, mas com a quantidade de lixo que não é tratado e deixado um pouco por toda a parte parece-me que essa luta tem um vencedor inquestionável - as moscas!<br /><br />E das milhares de crianças que se vêem por toda a parte a vender caramelos, a cantar nos colectivos (carrinhas transformadas em autocarros locais), a engraxar sapatos. As suas caras estão sujas, as suas roupas estão rotas e seu olhar é triste. Porque não podem ter uma existência normal? Porque não recebem carinho todos os dias? Porque não têm comida? Porque não têm sitio seguro onde dormir? Porque têm que pedir nas ruas? - Porque enquanto vivermos indiferentes nos nossos confortos diários e não quisermos assumir que o nosso conforto resulta muitas vezes no desconforto dos outros, nomeadamente em muitos produtos baratos que consumimos, nos políticos corruptos e indiferentes que elegemos, e sobretudo no estado apático e ignorante em que escolhemos viver - nada vai mudar, e continuaremos a ser em parte os responsáveis pela tristeza e falta de esperança destas crianças.<br /><br />----<br /><br />Outros viajantes haviam-nos avisado dos perigos que nos espreitavam ao atravessar a fronteira: as notas seriam falsas até no multibanco, os bandidos que nos esperariam nas esquinas para nos roubar, o acampamento ao ar livre impossível porque seguramente nos esquartejariam a tenda, a plétora de perigos parecia infindável.<br /><br />Ao quarto dia no Peru continuávamos vivos, de boa saúde e com todos os nossos haveres, chegamos a Chulucanas uma cidade com 70 400 habitantes e quando procurávamos alojamento fomos abordados por uma senhora numa moto com o seu filho que nos dizia ser professora, casada com um arqueólogo e que teriam muito prazer em receber-nos em sua casa. Seguimos a senhora meio desconfiados, onde é que nos iria levar?Aos poucos o seu sorriso contagiante, os seus olhos castanhos e doces,a voz quase infantil e o seu calor humano desvaneceram qualquer dúvida. De facto este ser luminoso e o seu marido tinham um interesse genuíno em receber-nos. A Rosita, como eu a chamava carinhosamente,era uma professora que tinha herdado um colégio privado da sua mãe, tinha dentro de si o dom da bondade e da generosidade.<br /><br />Pusemos as tendas no recreio, era o período de férias escolares. O seu marido Mário, arqueólogo, trabalhava para o município fazendo o reconhecimento do património arqueológico da região e da sua promoção turística na esperança de atraír visitantes. Levou-nos na sua mototaxi a ruínas e outros locais de suposto interesse turístico e cultural,mas aos meus olhos os túmulos dos antepassados do povo Moche resumiam-se a um abstracto monte de terra indistinto dos outros circundantes. As ruínas de Piura a Velha, a primeira cidade fundada pelos espanhóis no Peru e abandonada devido aos efeitos do El Nino séculos atrás, era apenas um conjunto de muros decrépitos como os que se vêem em qualquer parte do mundo, em qualquer aldeia abandonada. Dá-me a impressão que em algumas partes, o Peru despertou muito tarde para a importância das sua herança arqueológica, no estado abandonado em que a maioria das ruínas se encontra e preciso ter uma imaginação muito grande ou estar verdadeiramente interessado na historia local para poder ver a beleza escondida em montes de pedra e muros arruinados.<br /><br />Mário era em si um personagem. De olhos grandes e pele morena, mãos abertas como se quisesse receber o mundo nelas, era um homem que apreciava o seu espaço, os seus livros, e as suas descobertas arqueológicas, recuperava também achados de cerâmica e mostrou-nos os potes de cerâmica que havia recentemente reconstruído habilmente. As nossas conversas eram quase sempre monólogos, Mário divagava sobre o sentido da vida e a espiritualidade, mas muitas vezes tive que morder a língua porque algumas das suasideias e a forma como tratava Rosa, eram, a boa moda latina, chauvinistas e machistas. Uma das grandes preocupacoes de Rosa era o menu que iria preparar paraos seus hospedes no dia seguinte, as suas deliciosas comidas preparadas com tanto amor permitiram-nos viajar pelos sabores ricos da comida Peruana!Ao quinto dia partimos porque já nos parecia abuso a nossa prolongada estada. Rosita queria que ficássemos. Mais uma vez me despedi com lágrimas nos olhos com um verdadeiro aperto no coração, sentia um carinho enorme por aqueles seres, aqueles amigos, quem sabe se os verei mais alguma vez? Esta família ficará gravada no meu coração e na minha memória como marcos de que a gente Peruana é composta por gente com boas intençoes, genuína, muito acolhedora e muito amigável, mais do que de ladroes e bandidos!<br /><br /><strong>Sechura, o deserto<br /></strong><br />Tudo era plano. Tudo era amarelo. Tudo era infinito: a estrada, o calor a areia. O céu azul, um ou outro camião que apitava no eco perdido da Pan-Americana. Em intervalos constantes, lia-se um sinal a indicar "Perigo de Morte - Área de Exercícios Militares", ou algo assim, a uma distância a não mais de 20 metros da estrada. Ocorreu-me: que morte triste ir-se acudir a uma chamada da natureza e padecer, por exemplo, a fazer chichi sendo alvo de uma avião militar Peruano. O Nuno queria experienciar a noite no deserto deste país mas nem eu nem o Jeff estávamos muito interessados em testar a veracidade do sinal, e como a próxima vila estava a uma distância pedalavel, o deserto como cenário de campismo iria esperar mais umas semanas e uns bons kilometros de distância do ameaçador sinal.<br /><br />Interessante ver com todas as vilas e cidades no Norte do Peru na sua parte Este, foram edificadas nos vários oásis originados pelos rios que descem dos Andes deixando um fio de verde no amarelo seco quedomina a paisagem. O nosso destino final, para completar esta etapa de ciclismo eraTrujillo, a terceira maior cidade do Peru, com 768 300 habitantes, e onde esperava-mos ser recebidos por uma figura mítica entre os cicloturistas que peladam o América do Sul - Lucho.<br /><br />- Hola, es possible hablar con Lucho? - disse eu uns dias antes dechegar a Trujillo, telefonando para anunciar a nossa chegada.<br />- Si, un momento... - ouviu-se uma voz feminina do outro lado e depoisum grito alto - Lucho!!! es para ti!<br />- Si, soy Lucho - uma voz rouca respondeu do outro lado da linha.<br />- Mi nombre es Joana y soy una ciclista de Portugal, estoy con mas dos amigos uno de Portugal, y otro de Canada, y es para saber se podemos quedarnos en su casa?<br />- De Portugal?! Claro que si, son los primeros ciclistas de Portugal que recibo! Y poden venir quando quieran, seran muy bien venidos.<br />- Bueno entonces hasta pronto, ya nos veremos breve! - respondi com omeu castelhano macarrónico.<br /><br />Uns dias depois, e não da forma que nos gostaria haver chegado aTrujillo depois de tão auspiciosas pedaladas - à boleia numa carrinha 4x4 de uns engenheiros parados pela polícia e forçados a transportar-nos e ás nossas burras devido ao perigo de sermos assaltados à mao armada numa aldeia a 40 kilometros de Trujillo chamada Paijan. Chegamos a Trujillo são e salvos e ao passarmos pela tal aldeia nao conseguimos ver nada mais do que mais uma povoação como muitas outras pelas quais passamos. Quem sabe, talvez os larapios estivessem a dormir a sesta...<br /><br />Casa de la Amistad é o nome que Lucho deu à sua casa, que na realidade é a casa da sua mãe, onde aluga um quarto para receber ciclistas e aventureiros afins. Por ali já passaram mais de 900 ciclistas, que vão deixando os seus relatos de histórias e as suas aventuras escritas nos livros de visitas. E de facto há de tudo, desde falsos ciclistas, a ciclistas em triciclos, ciclistas com deficiências físicas, ciclistas em tandems, ciclistas com atrelados e com crianças, e até um caminhante Colombiano pela "Paz" que ali se encontrava quando chegámos, mas que era visivelmente um ser bastante egocêntrico, que msabe se é a paz interior que busca, mais do que a paz no mundo?<br /><br />Eu fui a ciclista numero 934 a ficar na Casa de la Amistad e a primeira Portuguesa!<br />Lucho era de facto um ser muito caloroso, baixo e muito moreno, é difícil saber a sua idade porque conserva um ar de garoto que lhe dá uma jovialidade marota. É um aficionado incontestável das bicicletas, já foi ciclista de Elite e entre os muitos biscates que parece fazer, reparar bicicletas é uma delas. Numa noite convidámo-lo e a um amigoque era músico a comer "arroz de baratas" (arroz de marisco) que eu eNuno havíamos cozinhado, e mais tarde fomos presenteados com uma sessão musical onde Lucho revelou os seus dotes impressionantes de baterista, e ninguém escapou, todos tivemos que dar a nossa contribuiçao musical, eu cantando, o Jeff tocando baixo, o amigo cantando salsa e o Nuno batendo palmas!<br /><br />Aproveitei também para dar um bom miminho à minha bike (Marin Muirhoods) e deixei-a nas<br />mãos de Lucho para uma revisão geral e mudança de algumas peças. Depois do trabalho meticuloso chamou-lhe carinhosamente Negrita e eu acho que ela adorou, porque nos duros kilometros que se seguiram à nossa saída de Trujillo ela comportou-se como uma campeã.<br /><br />Mas essa é outra historia!Em Trujillo permanecemos três semanas, muito mais do que tínhamos programado ficar, mas as noticías do mau tempo nas montanhas, que era para onde nos dirigíamos e um tratamento doloroso que consistia em injecçoes no meu pobre traseiro para curar uma reincidente infecção urinária, fizeram com que calcorreássemos as ruas de Trujillo repetidamente e descobríssemos a cidade colonial para lá dos edifícios da Plaza de Armas que estão pintados com as cores de um berrante arco-íris!<br /><br />-----<br /><br />Quem sabe se aqueles dias preguiçosos na praia de Huanchaco, um himam de surfistas e mochileiros, perto de Trujillo, seriam os últimos em que veria o Oceano Pacífico durante esta viagem? Huanchaco era uma pequena povoaçao pesqueira onde os seus habitantes se aventuravam ao mar nos totoros, embarcaçoes feitas de palha, surfando as ondas e pescando. Agora os barcos são guardados ao alto na praia, e segundo diz o guia, se os turistas desejam, podem navegar as ditas embarcaçoes com os locais, não vi nenhum totoro no mar, mas estão ali testemunhos de um passado de corajosos pescadores, desafiando as grandes e perfeitas ondas doPacifíco.<br /><br />Eu e o Nuno deixámos o sol queimar a nossa pele, numa tarde passada preguiçosa à beira mar. As próximas pedaladas levariam-nos de volta aos Andes, e a chuva prometia acompanhar-nos, por isso saboreamos com gosto, o cheiro a mar, o som das ondas acariciando a areia, as gaivotas voando livres e o por do sol fotográfico do fim da tarde.<br /><br />Acompanhem a minha viagem atraves dos olhos do Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a> e do Jeff em <a href="http://www.crazyguyonabike.com/doc/jk">http://www.crazyguyonabike.com/doc/jk</a><br /><br />Peru, Trujillo, 20 de Fevreiro 2008<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-20180299726688595092008-01-25T15:03:00.000-08:002008-08-07T11:17:51.367-07:00Equador, Cuenca - As maos de Cuenca<strong>A noite</strong><br /><br />A agua começou a jorrar do tecto através de um chuveiro improvisado eas ondas de prazer percorriam a multidão que dançava frenética entre flashes de luz e escuridão ao som das batidas fortes de musica ora latina ora electrónica.<br /><br />A musica - o elo de união. A noite - a hora da libertação. Surpreendo-me sempre quando observo como a musica une as pessoas e os corpos. Três horas antes aquele era apenas um sitio escuro com pinturas de arte pop e manga pintadas nas paredes e buracos no chão de madeira. O puro gosto pela musica era por si só o íman que atraia quem ali ia, e aquela foi mais uma noite onde se juntaram seres para comungar apaixão pela musica. O Pop e um sitio que brinda a vida, as amizades, a musica, a dança, e ali um grupo de seres improváveis saiu a noite para desfrutar a amizade recem formada e comunicar através dos corpos- numa língua universal que todos entendem - a dança e a musica!<br /><br />Roy, um homem com um sorriso eterno e com o espírito de um ser doRenascimento Moderno, a sua paixão por línguas, por cultura, pela espécie humana, pelas viagens, pela América Latina, pelo seu pais, o Equador e pela cidade onde vive, Cuenca. Disfrutei do seu fantástico sentido de humor, das suas historias, da sua amizade, da sua companhia nos quatro dias que se transformaram em três semanas que passei em Cuenca, e naquela noite, da sua fantástica energia e ritmo latino!<br /><br />Cláudia, a minha amiga de cabelos longos e negros e de olhos que brilham como dois sois. Os nossos passeios, as nossas conversas, as nossas gargalhadas e aquela noite em que dançamos sem parar com a roupa encharcada, comprovando que a latinidade dos dois continentes se expressa de igual forma: gosto pela musica e pela dança.Os seus sonhos de viagem pela Europa neste verão serão seguramente concretizados, assim como o nosso reencontro em terras britânicas. Um dia esta mulher arranjara os dentes das gentes equatorianas, mas nestes próximos meses terá que estudar bastante para cumprir o acordo que fez com o pai e passar todas as cadeiras, conseguindo em troca o bilhete para o velho continente.<br /><br />Gael, um ciclo turista francês que com o seu companheiro de viagemYves, percorreu a América do Sul durante dois anos fazendo um intercâmbio de jogos infantis franceses com jogos infantis da América do sul,visitando escolas e orfanatos. O seu cabelo a Robinson Crusoe e a barba por fazer, são marcas distintas desta tribo que formam os ciclonautas masculinos do planeta. E nessa noite os seus músculos moveram-se não ao ritmo dos pedais da sua viajada bicicleta mas ao som dos ritmos da musica. Gael já regressou a Franca, e tento imaginar como será a vida dele agora que tem que adaptar-se a sua antiga realidade e ajustar-se ao facto de já não ter de acordar e pedalar pelas montanhas andinas?<br /><br />Geoff, um viajante improvável, tímido e reservado com 24 anos. E difícil imaginar que esteja a percorrer a América Latina em mota gastando as poupanças que tinha para abrir um negocio e indo contra a desaprovação dos pais, sobretudo quando andou desaparecido na travessia entre o Panamá e a Colômbia. Mas deixou as inibicoes de lado nessa noite dançando envolvido pelos corpos da multidão presente e partilhando o seu sorriso.<br /><br />Magda, uma estudante Colombiana, que passava as suas ferias visitando os países vizinhos e que passou uma temporada no Equador antes de ir ao Peru visitar Machu Pichu. Optou por ser vegetariana pela defesa dos direitos dos animais, e oriunda da capital da salsa -Cali, mas ali bailou indiferente aos estilos musicais, espalhando alegria e partilhando as suas experiências de viagem.<br /><br />Jeff, canadiano, também a percorrer o continente americano sobre duas rodas, aficionado ao heavy metal juntou-se ao grupo e dançou sacudindo a poeira dos muitos kilometros de estradas já pedaladas. Agora e o nosso companheiro de viagem.<br /><br />Quando saímos do POP, o pequeno templo a dança e a alegria, as nossas roupas estavam encharcadas e os nossos peitos cheios de alegria.Talvez alguns de nos não nos voltemos a ver, mas aquela noite havia sido um momento tão especial que ficara marcado nas nossas memorias como uma pintura num mural, sobrevivendo a passagem do tempo e sendo a razão pela qual viajamos - pela amizade!<br /><br /><strong>A espera</strong><br /><br />Depois de atravessar as montanhas numa nuvem constante que não nos deixava ver nada a nossa volta, impedindo-nos de desfrutar a recompensa das árduas subidas, chegamos a Cuenca. Cuenca a cidade que reflectia o sol nas suas paredes coloridas de colonialidade dos tempos idos. A cidade que a custa de ser património mundial vai preservando a sua herança arquitectónica e sendo um oásis de urbanidade no meio das montanhas andinas. Um centro de turistas, ou gringos, como nos chamam os locais. Muitos estão só de visita mas enamoram-se de tal forma da cidade que acabam por ficar para sempre. Cuenca estava assinalada no nosso mapa de viagem como um local para recuperar forcas, esperar os meus cartões de multibanco e para planearmos as próximas pedaladas rumo ao Peru. Mas as minhas três semanas em Cuenca transformaram-se em dias que também eu me envolvi com a cidade e as suas gentes de tal forma que quando foi tempo departir senti um fio invisível a prender-me aquela terra de rios entrecruzantes. A encomenda nunca chegou. E o Nuno que havia partido rumo a selva umasemana depois de termos chegado a Cuenca, esperava-me há já uma semana em Loja a cerca de 200 kilometros a sul. A vida e surpreendente quando deixamos que as coisas aconteçam: nos primeiros dias que estive em em Cuenca sozinha sentia-me aborrecida, pensado no que iria fazer com todo aquele tempo de espera, e um dia deixei a porta do meu quarto solarengo no Hogar Cuencano (hostal onde estava alojada e que recomendo) e esse acto, ainda que simbólico, iniciou a entrada de pessoas muito interessantes na minha vida. Essa tarde passei-a a comer cerejas com o meu vizinho do quarto do lado, Tomoki, um excêntrico Japonês, que partilhou as suas aventuras como mochileiro na América Latina, e com o qual sai essa noite para dançar num POP vazio, onde os três (O Kaido, um Esloveno também hospedado no hostal, que se juntou a nos) passamos aquela que foi a primeira de muitas noites doidas ao som das batidas fortes e contagiantes. Quando se viaja tem-se a sensaçãode que cada momento e irrepetivel e único, as inibicoes não fazem sentido porque não tens nada a perder. Os três preenchemos o espaço vazio do POP dançando, saltando, os sorrisos desenhavam-se com facilidade, sabíamos que cada um seguiria o seu rumo nos dias seguintes, Tomoki partiria para o Peru e Kaido iria para a costa do Equador, a brevidade daquele encontro tornou-o ainda mais intenso. Tal como as pecas de domino que coloco em linha, serpenteantes umas atrás das outras, para observar o efeito causado pelo desencadear de uma acção - o deixar cair a primeira peça - também o facto de ter deixado que Cuenca se desvendasse, permitindo que estranhos entrassem na minhavida, desencadeou um serie de acções onde conheci outros viajantes, mas sobretudo as gentes que de uma forma ou de outra povoam Cuenca e a fazem ser uma cidade com tanta riqueza humana!<br /><br /><strong>As mãos de Cuenca<br /></strong><br />Quando vi aquelas botas pequeninas de cabedal no meio da desorganização daquela oficina de sapateiro, senti uma vontade irresistível de saber a historia por detrás das mãos que haviam moldado aqueles dois pedaços de couro em duas peças de calçado que me faziam lembrar tempos passados, tempos onde as coisas se mandavam fazer, o tempo em que a vida dos objectos se estendia para lá da primeira falha de uso. Voltei ao sapateiro no dia seguinte com o único pretexto de conhecer as mãos que trabalhavam os sapatos gastos de Cuenca.<br /><br />Em Cuenca os objectos têm uma vida prolongada porque a cidade ainda vive da ressurreição das coisas mais do que do consumo guloso que se vive no mundo ocidental, e esse processo preserva as centenas de oficinas que reparam e criam. Um velho casaco de cabedal pode ser facilmente recuperado, os vestidos podem ser feitos à medida, um enxoval inteiro pode ser bordado por mãos hábeis, uma viola pode ser feita à medida dos desejos do músico, um chapéu pode moldar-se da forma mais tradicional ou mais excêntrica. É um prazer inventar coisas para remendar e vê-las ganharem nova vida através das mãos hábeis.<br /><br />O Sr. Luís David Billa tem passado os dois últimos anos da sua vida numa sala escura e desarrumada, com uma prateleira cheia de sapatos por arranjar entre outros já arranjados. Aquela sala abre-se para arua e os sons entram ruidosos dos carros, dos tacões dos sapatos e das vozes dos transeuntes. Ás vezes entram também clientes ou um ou outrovizinho que ali troca os bons dias e segue caminho. O Sr. Luís aprendeu a fazer e remendar sapatos quando tinha 10 anos, mas tentou a sua sorte noutros ofícios na esperança de fazer mais dinheiro. Não teve sorte. Trabalhou como pedreiro mas caiu de um andaime e partiu a bacia. Tentou fazer vida nos canaviais de cana do açúcar, mas cortava-se frequentemente com a manchete e desistiu. Casou, teve dois filhos e divorciou-se. Só um dos filhos é vivo. Não mantém contacto com a sua família e vive sozinho. A sua vida é triste. A sua vida é escura. Ali sentada a conversar ao seu lado comecei a perceber a dificuldade que tinha para arranjar a sola das sapatilhas que tinha nas mãos. Tem cataratas e as suas pequenas economias serão utilizadas na esperança de que uma operação lhe traga mais luz à vida, pelo menos a luz que lhe permita ver melhor para realizar o trabalho que lhe dá sustento. E luz tinha também o seu sorriso e a felicidade de ter ali uma estranha que escutasse as suas histórias. Mostrou-me os sapatos típicos que ainda faz, com couro entrançado e as botinhas de cabedalque me fascinaram. Eram para uma menina com uma deficiência e por isso tinham que ser feitas à mão, à medida. Mais tarde um dos seus poucos amigos juntou-se a nós, é ele que vai orientando o Sr Luís nos trabalhos mais complicados. Depois de 4 horas a conversar, vim-me embora. Doía-me o peito, porque a solidão e a tristeza dos outros também a sentimos. Passam tantas pessoas na nossa vida e na realidade muito pouco da sua vida passa por nós.<br /><br />Numa outra deambulação peatonal por Cuenca fui encontrar outras mãos, as mãos de uma senhora pequenina e muito simpática que fazia e bordava vestidos com os desenhos típicos de Cuenca! A Senhora Beatriz Peralta. Num edifício Colonial de grandes arcadas o município de Cuenca criou um espaço onde os artesãos podem ter as suas oficinas por apenas 34 dólares por mês. Uma loja de rua custar-lhe-ia mais de 300 dólares. A localização central atrai diariamente muitos visitantes e mantém assim possível a preservação das tradições e artes populares daquela região. A Senhora Beatriz Peralta é solteira, mas partilha a casa com mais três mulheres: a irmã e as duas sobrinhas. A irmã é a criadora dos padrões bordados, inspirados na tradição Cuencana. Aos bordados das blusa são dados nomes de mulher. Mas são poucos os que sabem apreciar as qualidades das coisas feitas à mão. O Equador foi invadido por produtos baratos chineses e aos poucos as pessoas vão consumindo as modas que uniformizam os gostos à volta do planeta num sopro de estética globalizada. Um dia não haverá mais quem borde, quem faça chapéus à mão, os sapatos deitar-se-ao fora com o primeiro buraco na sola.<br /><br />Interessante foi também descobrir as mãos das novas gerações e através delas compreender as expectativas de um país que parece começar a dar os primeiros passos rumo a um futuro com mais esperança, e talvez com mais opções. Cuenca tem meio milhão de habitantes, mas passadas três semanas já se sente o ar de familiaridade das pequenas aldeias. Esboçam-se "buenos dias" as caras mais familiares, já se regularizam os hábitos e se vai ao mesmo restaurante comer, a senhora da hostal fica preocupada se chegas mais tarde. Aos poucos os estranhos passam a ser conhecidos. Todos me vão perguntando pela encomenda e dizendo que ainda bem que não chegou porque assim fico mais tempo em Cuenca. Eu comecei a sentir o mesmo. E na minha busca pelas mãos de Cuenca conheci também as mãos de Felipe, empregado do Internet café, recém tornado DJ do POP, estudantede engenharia automóvel. A sua vida é vivida intensamente sem dias de descanso entre o Internet café, as suas sessões de música ás quintas, sextas e sábados, e os seus estudos durante a semana. São 22 anos cheios de esperança,cheios de sonhos, de alegria, de música. A sua latinidade é irrepreensível na forma como galanteia o sexo oposto. Também um dia viajará pela Europa quando acabar o seu curso, ou pelo menos esses são os seus sonhos.<br /><br />O Rafael, estudante de arte. Falou-me do seu projecto de fim de curso onde pretende recuperar os corpos dos cadáveres que não são reclamadosna morgue para procurar as suas histórias e tatuá-las nos seus corpos sem vida, assim pretende dar voz a uma vida que passaria de outra forma ao esquecimento, como se na realidade esse ser nunca tivesse existido. Através destas vozes silenciosas pretende mostrar o quanto ignoramos aqueles que nos rodeiam, sobretudo os que estão à margem. Com a morte as histórias dos que já não estão perdem-se, sobretudo se essas mesmas histórias nunca foram conhecidas em vida. É um projecto incómodo porque levanta questões tabu: a morte, a marginalidade, o corpo, mas suponho que uma vez que a arte abandonou os seus limites para agradar aos cânones de estética, questionar as coisas que nos rodeiam e apresenta-las de forma chocante, será porventura a forma mais eficaz de levantar questões e gerar debate numa sociedade que parece cada vez mais indiferente à miséria do próximo mas mais sedenta de um imaginário sensacionalista. Aguardamos os resultados.<br /><br /><strong>Ficar ou partir</strong><br /><br />A encomenda não chegava, o Nuno já me esperava em Loja há quase uma semana, tinha que decidir: avançar para Sul e continuar a minha aventura de bicicleta ou ficar em Cuenca e abraçar um novo projecto? Decidi ir rumo ao Sul o chamamento foi mais forte. Não me despedi de muitos dos amigos que fiz porque detesto despedidas, e porque espero com uma força muito grande um dia voltar a Cuenca. Nos dias seguintes voltei a pedalar as montanhas andinas, mas desta vez com mais sol. As minhas aventuras rumo ao Peru seguir-se-ao em breve!<br /><br />PS - Desculpem a falta de fotografias, as que estao nesta cronica foram as que consegui recuperar de amigos, as minhas fotos ficaram perdidas num triste evento onde perdi tambem a minha camara.<br /><br />Equador, Cuenca 25 Janeiro 2008<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-83165159959987897662007-12-30T08:48:00.000-08:002008-08-07T11:20:26.428-07:00Equador, Palmira - De Quito a Palmira. Onde Estao os vulcoes?<strong>Onde estão os vulcões?</strong><br /><br />- Como te chamas?<br />- Juana – respondeu-me uma vozinha tímida, e encolheu-se agarrando o braço do pai, escondeu a face redonda e pequena queimada pelo sol.<br />- Também me chamo Joana - respondi.<br />Juana retirou por breves momentos os seus olhos grandes e castanhos detrás do braço do pai e sorriu para logo voltar a esconder-se.<br />- O que fazes no Equador? - perguntou-me o pai.<br />- Sou de Portugal e estou a visitar o país na minha bicicleta.<br />- Que bonito, que le vaya bien! - respondeu-me sincero. Pedi se podia tirar uma fotografia e ao sinal afirmativo posicionei a minha máquina fotográfica e enquadrei aquele momento na esperança de imortalizar a cumplicidade entre pai e filha. Ali aos 4000 metros de altitude o silêncio era soberano, mas ali também, a 4000 metros, havia um último reduto de vida humana – uma pequena população formada por 22 famílias, algumas das suas casas feitas à maneira tradicional com telhados de colmo e com o corpo da casa escavado no chão como que a buscar o calor da terra mãe. As outras poucas casas eram de cimento, pareciam inacabadas, com paredes por construir, ou escadas que não iam dar lado nenhum. Vão-se fazendo à medida das possibilidades e à medida que a família vai crescendo. Parecem projecções mal concretizadas das casas dos sonhos que se vêem nas novelas. As crianças dessa pequena povoação ensaiavam na rua as danças típicas que no dia de Natal iriam dançar para os visitantes que ali se deslocariam, os seus sorrisos e movimentos coloridos davam vida e som à atmosfera que de outra forma era cinzenta, fria e silenciosa.<br /><br />Depois de uma sopa quente e um chá de ervas medicinais seguimos caminho subindo até aos 4390 metros. O frio e o nevoeiro escondiam tudo à nossa volta, como se fosse uma experiência mística, ou como se não devêssemos estar ali – que aquelas altitudes estarão mais destinadas a seres celestiais do que a seres humanos. Mas não era sonho, o mapa indicava que nos encontrávamos ao lado do Chimborazo, o grande colosso branco que se ergue para cima dos 6000 metros e que nesta altura do ano se esconde constantemente.<br /><br />·····<br />A vida pode ser feita de contrastes, caso o escolhamos, um dia estamos numa das maiores metrópoloes urbanas, como Londres e no outro, no mais completo silêncio, rodeados de neve e névoa, trepando montanhas distantes numa bicicleta.Quando o Nuno sonhava a sua ciclotravessia de Polo a Polo, o seu sonho foi tambem contagiando os meus sonhos de viagem…<br /><br />Recordo-me que na escola era sempre a última a ser escolhida para as equipas de desportos. Nunca gostei de competir nem de expor o meu corpo ao confronto físico implícito no acto de practicar desporto, e nunca fui particularmente competente no que a desporto diz respeito. Mas aprendi que o esforço físico feito apenas entre ti e a natureza para vencer a altitude e os elementos ganha outro sentido, porque o esforço acaba por ser apenas o meio, o meio de te levar em viagem, de sentires a realidade mais próxima, e por isso aos poucos o meu corpo vai-se habituando à dureza física implícita na subida destas montanhas Andinas.E não deixo de agradecer ao Nuno por ter acreditado em mim (mais do que eu provavelmente acreditei), de me ter escolhido sem hesitar para fazer parte da sua equipa, para o acompanhar em algumas etapas do seu sonho, e aos poucos cá vou eu conquistando as minhas montanhas físicas e mentais na minha burra –a Marina (Marin Muirhoods).<br /><br />Faço também uma homenagem ao meio de transporte porventura mais democrático e revolucionário de todos – a bicicleta, que em 1880 se tornou num meio de transporte largamente acessível à maioria. A bicicleta foi tambem um meio de emancipação para as mulheres. A bicicleta permite ir-se onde se quer, quando se quer, porque se quer – e este é o maior encanto do cicloturismo!<br /><br />·····<br /><strong>Será a estrada Nacional Número Um? – Não é a Panamericana!</strong><br /><br />Depois de ter passado a noite a excluir coisas à minha bagagem consegui finalmente, não sem ter sido alvo das gargalhadas do Nuno que achou piada à quantidade de objectos que eu julgava conseguir carregar nas minhas malas, reduzir a bagagem a um peso possível de carregar com as minhas pedaladas. Saímos do Quito já tarde e o tráfico pesado tornou a saída da cidade pouco memorável. A cidade e os seus subúrbios estenderam-se por quilómetros intermináveis e desinteressantes. A meio da tarde chegámos finalmente à Panamericana e ao ver a estrada larga, nova com bermas generosas e pouco tráfico, fiquei a sonhar nas pedaladas relaxadas que me aguardavam daí em diante. O sonho durou pouco: cedo a estrada se transformou numa via de tráfico pesado, cheia de camiões e autocarros que sonorizavam a sua superioridade ao toque das suas buzinas ruidosas e das nuvens de fumo pretas, maiores do que as libertadas pelas dos vulcões do Equador e que éramos obrigados a respirar. Por momentos cheguei mesmo a pensar que tinha pedalado demasiado e estava de regresso a Portugal, fazendo cicloturismo na estrada Nacional Número 1.<br /><br />Os primeiros dois dias de ciclismo testaram a minha vontade de continuar a aventura – a paisagem não tinha qualquer interesse, chovia frequentemente, o tráfico era intenso e só me apetecia pôr a burra num autocarro que me levasse a paragens mais interesantes. Nesta nuvem de aborrecimento e preoucupação os diálogos imaginários com o meu avô José estendiam-se por quilómetros. Ia-lhe pedindo ajuda quando passava um camião e a bicicleta abanava por todos os lados, quando via as subidas que me aguardavam e sobretudo, nas descidas, que como ele, são a parte que gosto menos quando as tenho que fazer ao lado de camiões e autocarros. Ia eu nestes diálogos, numa descida a toque de chuva, quando se fura um pneu. Disse para o meu avô: - Então distraiste-te? A resposta veio mais tarde, de uma forma que só as pessoas que estão noutros planos podem responder. Tivemos que parar para arranjar o furo, a câmara de ar estava completamente inutilizada, e no sítio onde o furo se deu, do outro lado da estrada, estava um caminho de terra batida onde parámos para arranjar o furo e que se revelou ser o caminho alternativo para onde queríamos ir, longe do tráfico panamericano. E esta heim!????<br /><br />Nessa noite acampámos perto de uma aldeia onde supostamente deveríamos ter vistas privilegiadas do Vulcão Cotopaxi – o vulcão de cone perfeito. As nuvens que o envolviam, essas sim eram perfeitas: perfeitamente brancas e espessas. Desmontámos o acampamento no dia seguinte, rumando a sul e olhando no espelho retrovisor das bikes na esperança que o sol houvesse dissipado as nuvens para que finalmente pudéssemos ver o fotogénico vulcão – mas assim não estava destinado. Infelizmente havíamos também esgotado a rota alternativa e tivemos que voltar à Panamericana e ao fim do dia chegámos a Ambato. Os meu braços elevaram-se no ar tal ciclista que atravessa a meta de chegada ao sinal de “Bienvenidos a Amabato”, mas a minha feliciadade foi precoce porque me esperava uma longa e sinuosa descida regada com boa chuva andina e surpresa, surpresa: uma subida que levou das minhas pernas as últimas energias. Pensei que com tanto esforço deveria ser Ambato uma cidade de beleza única, só acessível aos poucos que ousavam trepar as suas enconstas, mas nesse domingo chuvoso, era apenas uma cidade caótica de edifícios desordenados e feios. Na manhã seguinte, a cidade despertou com outras cores: as cores de dia de Mercado onde a vida social e económica das populações Andinas circundantes se desenrola, onde toda a gente parece estar entretida a vender ou a comprar. E Mercado adentro entrámos, de máquina fotográfica fazendo de treceiro olho, congelando fracções de segundos de cores e acções que compõem as imagens coloridas que extraímos ao Mercado. Saímos dali felizes, eu mais pesada, pois havia comprado ervas medicinais, frutas, especiarias e umas alpargatas (sapatos típicos) a pretexto de meter conversa com os vendedores, e claro, de aumentar a minha colecção de calçado, afinal ainda não constavam na minha dita colecção, sapatos do Equador. O Nuno ria-se mais uma vez!<br /><br />···<br /><br />Conquistámos a estrada que nos levou à base do Vulcão Chimborazo, em dois dias. À medida que subíamos, a manta de retalhos verdes que atapetava a cordilheira Andina era calcorreada por um ou outro campesino que interrompia a ordem dos verdes com os seu trajes de cores garridas e logo despareciam, montanha acima, para a sua parte do “retalho” onde cultivam o seu sustento em inclinações impossíveis que desafiam a própria gravidade. O cultivo é feito por meio de sistemas de irrigação engenhosos que serpenteiam a montanha e aproveitam a água – o ouro azul.Quando pensávamos que nao podíamos ser mais recompensados em termos de paisagem, a descida ao fim de dois dias revelou um vale profundo com “cannyons” coloridos e aldeias pequeninas cheias de gente simpática, cheias tambem, infelizmente, de gente acostumada a turistas, que por ignorância, ou por negligência vão dando às crianças caramelos ou dinheiro, não compreendendo o real impacto das suas acções. Estas crianças aprendem desde cedo a mendigar, para quê passar tempo nos campos a cultivar ou a pastar o gado se o gringo lhe dá dinheiro sem que para isso tenham que se esforçar? Chocou-me ainda mais quando fizemos o percurso de comboio a “La nariz del Diablo” - um percurso de comboio para turistas, onde se podem apreciar vistas vertiginosas das montanhas andinas na parte de cima de um comboio muito antigo, que percorre uma linha férrea com necesidades de reparação que saltam a olho vivo. Este passeio reconfirmou o meu desejo de me manter o mais afastada possível do trilho turístico. Alguns dos turistas atiravam rebuçados às criancas que se assomavam à beira da linha do comboio, tal como se atiram amendoins para um macaco no Jardim Zoológico. É uma troca desfavorável, parece-me: em troca da sensação de bem estar que o falso altruísmo provoca a estes turistas, estas crianças recebem o doce amargo visível nas cáries por tratar que têm nos dentes. À noite o seu prato continuará vazio dos verdadeiros nutrientes que necessitam para crescer saudáveis, e seguramente que a imagen que têm dos “gringos” como pessoas ricas a distribuir dinheiro e rebuçados, lhes fará querer ser o que não são.<br /><br />····<br /><br />Depois do percurso turístico ficámos em Riobamba a descansar, a actualizar websites e a disfrutar os divertidos desfiles de Natal – autênticos desfiles de Carnaval – homens vestidos de mulheres, gente vestida de macaco, polícias, gente vestida com os trajes típicos, ou do que lhes dava vontade, bailando alegremente ao alto da música repetitiva que se escuta um pouco por todo lado no Equador.Com uns meros 20 dólares comprámos a nossa ceia de Natal que consistiu numa garrafa de vinho tinto, massa, feijões, alho francês, queijo fresco, cogumelos e mais umas mercearias que nos faltavam. O dia 24 foi passado a subir um monte através de estrada em terra batida a pensar que para lá da próxima curva estaria o fim da subida, logo se revelavam mais curvas e mais subida. Acampámos já ao nascer da noite, esgotados e sem grandes escolhas de espaço para acamparmos porque toda a área, mesmo com grandes inclinações estava oucupada com áreas de cultivo. Ali à beira da estrada tivemos que ficar. As vistas para o vale que havíamos conquistado estavam ali aos nossos pés, mas estavámos também expostos aos olhos curiosos dos locais que por ali passavam e infelizmente um deles meio zarolho, já alterado pelo álcool não achou que devêssemos estar ali e ameaçou vir queimar-nos a tenda à uma da manhã. Cozinhámos a nossa ceia de cicloturistas, replecta de massa como pede o corpo, trocámos presentes, bebemos o nosso vinho, falámos sobre política da América Latina, olhámos a lua redonda que estava ali à distância de uma braço e quando a neblina desceu ao monte e nos entrou nos ossos lá fomos para a tenda para dormir. Acordámos com a tenda húmida do orvalho e não em chamas como eu temi que acontecesse, na manhã do dia 25. Curiosamente, o homem zarolho passou monte abaixo sem dizer mais dos que uns cabisbaixos “buenos dias”. A manhã de Natal foi passada a subir a montanha que parecia interminável, e mais uma vez ao fim da árdua subida, fomos recompensados com uma descida colorida com aldeias e crianças que seguiam a correr atrás das nossas burras.<br /><br />Apanhámos a estrada principal ao início da tarde num sobe e desce relativamente fácil, e quando o nevoeiro espesso se abateu metemo-nos por uma estrada que nos levou até Palmira, uma pequena vila que viria a ser o nosso verdadeiro presente de Natal. Aí nos ofereceram alojamento num convento em desuso e quando nos instalámos já se aí encontrava uma família composta por uma série de crianças e adultos dos quais era difícil discernir os laços familiares que os ligavam. Receberam-nos de braços abertos, uma das senhoras tinha tido uma desventura por terras de Espanha e como a tinham ajudado ela sentiu que deveria retribuir a ajuda que lhe havia sido dada, a nós cicloturistas portugueses. Ofereceram-nos comida, brincámos com as suas crianças e fomos convidados da gala anual da vila. Esta gala consitia entre outros entertenimentos de um concurso para eleger a “Reina de Palmira 2007-2008”, discursos de agradecimentos infidáveis onde nos incluíram a nós também e a actuação de diversos artistas que em vez de cantarem uma ou duas músicas, como seria suportável, nos presenteram cada um deles, com o que nos pareceu ser o seu repertório completo. O dito concurso de beleza é digno de mencionar porque estavam apenas três candidatas a concurso e duas delas eram fisicamente desagradáveis à vista – a vitória foi previsivelmente para a única que era bonita, no que ao físico diz respeito.De manhã acordámos e mais uma vez nos ofereceram o pequeno almoço. Depois despedimo-nos, eu com um nó na garganta, sentindo-me ligada àquela família como se fossem eles também da minha família.<br /><br />O cicloturismo é feito destas aventuras, aventuras humanas e aventuras físicas. Cada pedalada te leva mais próximo de algo – mais próximo de ti, dos outros e do mundo! Acompanhem as minhas aventuras através dos olhos do<br /><br />Nuno em <a href="http://www.ontheroad.eu.com/">http://www.ontheroad.eu.com/</a><br /><br />Equador, Palmira, 30 de Dezembro 2007<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-36357436612173967712007-12-12T09:18:00.000-08:002008-08-07T11:21:17.983-07:00Equador, Quito - Mitad del mundo, mitad de la vida<strong>Metade do Mundo – Metade da Vida</strong><br /><br />Existe uma linha imaginária que define o mundo em duas partes (o hemisfério Norte e o hemisfério Sul) – a linha do Equador. É aqui estou, no meio do Mundo, com metade do meu corpo a Norte e a outra metade a Sul. Imagino por momentos que esta linha me divide também: a Norte está a minha vida urbana, o meu trabalho, a minha rotina ocidental, a Sul o inesperado, os sonhos de viagem, a busca de mim e das verdades do mundo. Dou um salto e estou no Sul, todo o meu corpo está a Sul e para aí caminharei nestes próximos meses.<br /><br /><strong>Quito<br /></strong><br />Acordei de manha cedo e saí pela porta do prédio onde vivem os meus amigos Equatorianos que me acolheram na primeira noite (havia chegado de noite depois de 16 horas de viagem e à noite a cidade confundia-se num emaranhado de luzes que resgatavam a cidade da escuridão) incapaz de desfrutar a cidade devolvida à luz, havia deixado o meu passaporte no táxi na noite anterior e se não o conseguisse recuperar a viagem poderia tomar um rumo indesejado: rumo ao Norte ou o regresso. O caminho do Sul revelou-se mais uma vez, o Taxista guardou o saco que eu tinha esquecido e devolveu-mo.Os primeiros dias, que se transformaram em quase duas semanas, foram passados no Quito, capital do Equador. O Quito Quito é uma cidade caoticamente bonita, enterrada nas encostas vertiginosas do vulcão Pichincha que de vez em quando acorda libertando nuvens de fumo e cinza. Os colonizadores espanhóis colonizaram a cidade que era uma cidade Inca, e substituíram os antigos locais de culto Incas por Igrejas Católicas. Existem igrejas obscenamente decoradas de dourado por toda a cidade, como se a fé só por si não fosse suficiente para convencer os indígenas a abraçar a nova religião, e de facto, observando as pinturas mórbidas presentes em algumas das igrejas que visitei, a nova fé parece ter sido incutida através do medo.<br /><br />Quito revelou mais do que a sua bonita, preservada e colorida arquitectura colonialista que centra este formigueiro humano estendido numa faixa que parece infinita à vista que o olhar alcança.<br /><br />A paisagem humana que tive o privilégio de desvendar foi tão ou mais surpreendente. Fui recebida pela família Paredes: Leonardo pai, Leonardo filho, Gloria mãe e Daniela filha, e nos 5 dias que estive em sua casa pude descobrir um Quito, um Equador e uma América Latina um pouco diferentes das imagens que tinha originalmente construído. Leonardo pai, filho de Nela Martinez 1912 – 2004 escritora e revolucionária, foi a primeira mulher deputada do pais, dirigente do partido Comunista do Equador que lutou pelos direitos das mulheres e do povo Equatoriano. Leoardo estudou medicina na Rússia nos anos 60, no auge da Guerra fria, trabalhou como médico, como assistente de ministros, foi reitor de universidade e dá aulas actualmente de Botânica numa das universidades do Quito. Mas títulos e profissões à parte, o Sr. Leonardo Paredes revelou-se um ser muito carinhoso com uma verdadeira paixão pela história do seu país e da América Latina, pela natureza e com o qual foi um verdadeiro prazer descobrir, partilhar e aprender uma América Latina diferente. Gloria trabalha numa instituição que atribui crédito às comunidades desfavorecidas equatorianas, ao exemplo de Muhammad Yunus Prémio Nobel da Paz pioneiro do micro crédito, para que estas possam desenvolver projectos e empreendimentos sustentáveis e que ajudem a erradicar a pobreza. Daniela estuda música e o som da sua flauta inundava os fins de tarde quentes no lar dos Paredes. Finalmente, mas não por ultimo, Leonardo filho, um jovem brilhante, com um conhecimento geral e interesse pelas coisas surpreendente, que foi meu cicerone, com o qual tive interessantes tertúlias, e para o qual antevejo um futuro brilhante, quem sabe tomando as rédeas do seu país que parece ser tão carente de líderes competentes e honestos!<br /><br /><strong>A Capela do Homem</strong><br /><br />A subida íngreme foi compensada pela chegada a um edifício de arquitectura moderna com vistas soberanas sobre as montanhas Este do Quito chamado a Capela do Homem. A Capela do Homem é um museu e centro cultural projectado por um dos maiores artistas contemporâneos do Equador – Guaysamin. Aos olhos de Guaysamin os rostos do Equador pintam-se de cores fortes, revelando no entanto o sofrimento com que este povo tem endurecido as mãos na pobreza. Pinta-se em tons de branco, cinzento e negro, os corpos esqueléticos da fome e da opressão política. Pinta-se em simbolismo geométrico reminiscente da herança cultural Inca. Neste edifício de simplicidade objectiva onde se mantém uma chama constante para que a alma do artista possa ser iluminada nas suas deambulações por planos terrenos, ficou-me marcado um grande mural onde se vê um Condor, símbolo Andino, a dominar um Touro, a analogia é inevitável: a utopia de que os povos da América Latina possam um dia derrotar o animal velho, consumidor e opressor simbolizado pelo Touro, e que possa o Condor voar um voo livre em direcção a uma existência mais independente, longe das manipulações dos povos que sempre o exploraram e nunca retribuíram, uma existência longe da pobreza, do sofrimento, em equilíbrio com a natureza, uma existência digna e merecida!<br /><br />Quito, Equador, 12 de Dezembro 2007<br />Joana Oliveira<br /><br /><a title="Editar mensagem" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=3015331760261779623&postID=8558848321811167808"></a>Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-38521623457949411442007-11-27T14:34:00.000-08:002008-08-07T12:53:42.720-07:00Reino Unido, Londres - Antes da grande viagem!<strong>Antes de partir...</strong><br /><br />Há uns tempos li num livro que me marcou bastante chamado “In to the Wild” algo sobre a felicidade só fazer sentido quando é partilhada. O livro é agora um filme, um filme sobre um rapaz Americano de classe média alta que decide cortar o cordão umbilical com a sua familia e sociedade e partir em busca de si próprio e da suposta verdade existencial. Ė uma história verdadeira com um final triste, o rapaz percebeu demasiado tarde que a interacção com os outros seres humanos é uma parte inevitável do que somos e que, para o bem ou para o mal, uma existência em isolação, sobretudo exposta aos designíos da natureza, é uma existência com um futuro sombrio ! (ou esta é pelo menos a conclusão que eu tiro para meu próprio uso)<br />Faltam menos de duas semanas para a partida para uma viagem há muito sonhada – A América do Sul, onde tambem eu irei cortar de certa forma algumas amarrasl! Tudo começou há seis anos atrás, quando cheguei a Inglaterra e tive a sorte de ‘aterrar’ na casa de um Português – O Nuno, com um número invejável de carimbos no passaporte. As marcas destes carimbos estavam espalhados pelo seu pequeno apartamento em Stockwell, as paredes cheias de fotos e artefactos de sitíos remotos, cada um contando uma história e abrindo a imaginação a umas quantas outras. Numa das paredes encontrava-se também uma janela de sonhos – um mapa mundo tão 'grande' como o tamanho das viagem ali projectadas. Quantas e quantas conversas, com quanta gente de diferentes partes do mundo decorreram entre aquelas quatro paredes? Aquele mapa serviu de interlocutor silencioso a rotas de viagem, ali foram projectadas solucões para atravessar locais inatravessáveis, contextos politícos foram ali debatidos, desgarradas filosóficas... Quando se tem o mundo em plano de fundo é fácil esquecer as limitações humanas e sonhar, sonhar que se está, que se consegue e que se vai, e quando menos se espera o sonho é a realidade! Da bidimensionalidade de um papel colado na parede se materializam eventos multi-dimensionais, de dimensões de cheiros, toques, sons, cores e tudo que compõem os sentidos, e nos faz sentir previligiados por existirmos!<br /><br />Já me perguntei tantas e tantas vezes o porquê desta minha necessidade do ir. Esta necessidade de viajar e integrar-me noutras realidades, de não me prender a coisas ou pessoas de forma muito fixa. Talvez venha do meu avô José que viajou pelo Brasil e África, e que era, segundo dizem aqueles que o conheceram, uma pessoa carismática, de alguma forma, à frente do seu tempo, e que nunca se conformou com a rotina previsível da vida. Talvez seja também dele que vem (embora tardio) este meu namoro com as bicicletas. O meu avô não só tinha uma paixão enorme por bicicletas como fazia corridas, acho que chegou a participar na Volta à Portugal. De onde quer que venha esta vontade de ir, ela é muito forte, e por isso eu não a posso ignorar, faz parte de quem eu sou.<br /><br />Agora aqui sentada em frente ao computador, a poucos dias de iniciar a minha viagem para a América do Sul, avalio o que foi a minha vida nestes últimos anos e concluo que tudo o que fiz (sim é verdade, às vezes percorri o caminho mais longo) me traria inevitavelmente a este ponto – o ponto de partida.<br />Mais uma fase nova da minha vida se vai iniciar. Não só planeio percorrer as terras sul americanas a cavalo na minha burra (a minha bicicleta), mas pretendo seguir outro chamamento, esse quiçá maior, que é o de me aproximar daqueles que não têm a sorte de ter a possibilidade de escolha que eu tenho – quero abraçar um projecto voluntário e dedicar o meu tempo e a minha energia a ajudar outros, porque nesse acto vejo o verdadeiro sentido da vida! E as palavras por vezes sao difíceis de escolher, mas quando acima me refiro a ajudar os outros tão somente quero dizer partilhar, pois “ajudar” assim dito soa pretensioso e arrogante. Pretendo aprender, dar, receber e mais uma vez quebrar as redomas que se vão formando à medida que nos vamos acomodando!<br /><br />Mas como dizia em cima, a felicidade que agora sinto teria porventura um gosto diferente se não a pudesse partilhar e sobretudo se não reconhecesse que houve pessoas sem as quais esta minha nova etapa nao teria sido possível:<br /><br />À minha Mãe, que provavelmente preferia que eu estivesse por terras Lusas a produzir um clã de Oliveirinhas para poder dar vazão ao seu desejo de ser avó, e que me apoia incondicionalmente, nao só em força e energias enviadas como financeiramente, mesmo quando os meus sonhos me levam para longe dela, e talvez por caminhos menos convencionais.<br /><br />Ao Ian, meu companheiro e amigo neste último ano de vida, que apesar de não me acompanhar nesta viagem, foi parte integrante do sonho por todo o seu apoio, paciência, ajuda nos treinos, mais ninguém me faria correr 5 quilómetros sem parar!<br /><br />Ao Nuno que me vai aturar mais uma vez e com quem vou ter o prazer de partilhar mais uma viagem.<br /><br />Á minha familia, por todo o seu apoio e palavras de encorajamento (Nuno, Rita e família, Teresa Guarda, Tia Isabel, Tio Orlando, Tia Gabriela, Tio Diamantino, Xanicas, Ana, Luís, André, Tio Cristovão, Primo João Santos, Tchuguinha, Anicas, Pai, Avó, pequenitos…). Aos amigos (Martinha, Pitufo, Dan, Elisabete, Anicas, Giovanna, Isabel, Miguel, Hugo) e todos aqueles que através do Hi5, Facebook, me deram apoio e incentivo e que querem fazer parte desta viagem!<br /><br />E agora que só falta arrumar as trouxas, levar mais umas vacinas, trabalhar mais uns dias e fazer uma festa de despedida. Assim vos deixo com a promessa de regressar em breve, desta vez do Quito no Equador, com notícias.<br /><br />Um beijo muito grande para todos e muito obrigado por existirem e fazerem parte das minhas viagens, dos meus Movimentos-Constantes!<br /><br />Reino Unido, Londres 27 de Novembro 2007<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-41949041235273121132007-11-04T09:13:00.000-08:002008-08-07T09:15:10.513-07:00Reino Unido, Londres - Um pouco sobre mimO Começo<br /><br />O principio das minhas viagens deu-se a 22 de Julho de 1978, algures entre as 5 e as 6 da tarde, entre o interior do corpo da minha mãe, que me albergou durante 9 meses, e o exterior do resto do mundo que me albergara até ao final. Tive vários nomes durante a minha existência aquática dentro do útero: Filipa, Sancha, Sofia, Sara, mas quando eu nasci a minha mãe achou que eu tinha cara de Joana, Joana Sara. Os sobrenomes são os carimbos que contestam a minha herança genética: Santos, da minha mãe e avô paterno que nunca cheguei a conhecer, mas de quem desconfio herdar mais do que o sobrenome (a alma de viajante ?), e Prestes de um Governador das Índias ou do Brasil do tempo das Descobertas (assim gosto de pensar, também porque e um sobrenome menos comum) que ramificações mais tarde deu os frutos que compõem a àrvore familiar paterna. Oliveira, também apelido paterno. Joana Sara Santos Prestes de Oliveira, eis o meu nome e nomes são nomes, quer se goste ou não deles. Importantes por conterem os sonhos projectados em ti por quem tos atribuiu e porque permitem que saibas que se dirigem a ti quando te chamam.<br /><br />Qualquer pessoa que me conheça sabe que eu me questiono frequentemente. A minha mãe, comprou-me um livro quando eu tinha três anos com respostas a 500 porquês desde o porquê das trovoadas ao porquê das ondas do mar, mas eu estava mais interessada em passar ao próximo porquê do que na resposta em si. Parece-me mais interessante o processo de descoberta do que as respostas conclusivas, as respostas que encerram as questões, como quando uma folha cai da àrvore e não lhe pertence mais, ou quando se dá um presente. As acções não terminam pelo simples facto de se terminarem as tarefas que as induziram, as coisas tem continuidade, assim como quando se obtem uma resposta a uma questão, outras questões nascem, quando uma folha de àrvore cai no chão um processo de decomposição começa, ou quando se dá um presente, a satisfação de quem o recebe e a continuidade da amizade. E dentro do amaranhado precioso que é o meu cérebro (ou o único lugar a que eu posso verdadeiramente chamar casa – como disse um dia Bob Marley) vao-se formando os porquês sobre quem eu sou, o que quero, para onde vou, que nunca terão resposta, mas a procura das mesmas fazem parte do conjunto de movimentos que formam as minhas viagens. <br /><br />Uma viagem geográfica que me obrigou a sair da redoma em que vivi durante 23 anos foi a minha vinda para Inglaterra há 6 anos atrás, consequência do panorama desertico da paisagem laboral Portuguesa, ao qual ironicamente agradeço agora. Tenho a sensação de que teria sido muito mais difícil (nao impossível) ter viajado tudo aquilo que já viajei, mas sobretudo sonhar as minhas viagens para serem mais do que meras férias em destinos exóticos. Inglaterra permitiu-me, entre muitas coisas a distância necessária para conseguir escutar a voz interior que me chama para o Mundo. Permitiu-me conhecer pessoas como eu que fazem das viagens uma forma de vida, permitiu-me ver uma amostra concentrada de Mundo na sua diversidade humana - já experiementaram andar num autocarro Londrino e contar as nacionalidades dos seus viajantes? E sobretudo, e mais importante, abriu uma caixa cheia de novos porquês. O porquê da injsutiça, da globalização, da pobreza, do modo de vida do mundo ocidental…ah, tantos e tantos porquês que brotam a cada dia que passa. E tantos livros para ler, tantas música para ouvir, tanta gente para conhecer, tanto mundo para viajar, TANTA COISA PARA SENTIR!!!!!<br /><br />Reino Unido, Londres, 4 de Novembro 2007<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-36240299683837824282007-10-12T09:08:00.000-07:002008-08-07T11:22:01.093-07:00Reino Unido, Londres - O porque dos meus movimentos constantesA vida é uma viagem. Estamos em movimento constante interagindo com tudo o que nos rodeia.<br />O universo está em movimento como um organismo vivo, o planeta Terra e todos os outros planetas do sistema solar na sua orbita à volta do Sol, em rotação suspensos no infinito das galáxias. Estamos em movimento quando vamos de férias e entramos num avião cheio de outros viajantes. Quando nos levantamos de manhã e percorremos o trajecto de casa para o trabalho. Quando movimentamos as nossas mãos para escrevermos cartas de amor. Quando o espermatozóide que se encontra no corpo do nosso pai percorre a trajectória que o levará ao útero da nossa mãe, quando o oxigénio viaja do ar que nos rodeia para os pulmões e volta a sair, quando o sangue percorre as veias e as artérias escondidas pela nossa pele, quando deixamos fluir os pensamentos.<br /><br />Tudo dentro e fora de nós está em constante movimento…e por isso a vida é uma viagem – uma viagem constante, um movimento constante!<br /><br />Este blogue é um registo das minhas viagens, dos meus movimentos. É um registo de banalidades e de coisas especiais – um diário, que se regista não ao ritmo de cada dia, mas ao ritmo de cada viagem que desejo partilhar com outros viajantes.<br /><br />E as minhas viagens não são menos ou mais especiais, mas são as minhas viagens, os meus movimentos, que me reflectem como ser. Reflectem as minhas esperanças, as minhas falhas e fraquezas, as minha idiossincrasias, os meus desejos, projectos concretizados e reflectem sobretudo a forma de como os meus pensamentos viajam até à minha mão que movimenta a caneta com que escrevo.<br /><br />Viajem comigo, participem e deixem as vossas ideias…<br /><br />E boas viagens!<br /><br />Reino Unido, Londres, 12 de Otubro 2007<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-22067661334424346362007-01-10T09:36:00.000-08:002009-01-19T16:27:43.820-08:00EVENTO PARA ANGARIAÇÃO DE FUNDOS CASA HOGAR LOS GORRIONES, AYACUCHO, PERU<p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEGpLPSCMcXJRzZFi7w5ggf26XMHj-jSAqBnrcZE01WEXpvsN0PlqLH5HObKBh5KIpjUNuNe62xi0M8XblwQdEj42JPuzVPG1JXR-0ZUfj8OaLdH_ck41KQ3SV8I1x1vGeSiF8lO-h-hr9/s1600-h/IMG_0902.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279335105000248066" style="WIDTH: 272px; CURSOR: hand; HEIGHT: 189px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEGpLPSCMcXJRzZFi7w5ggf26XMHj-jSAqBnrcZE01WEXpvsN0PlqLH5HObKBh5KIpjUNuNe62xi0M8XblwQdEj42JPuzVPG1JXR-0ZUfj8OaLdH_ck41KQ3SV8I1x1vGeSiF8lO-h-hr9/s200/IMG_0902.JPG" border="0" /></a></p><p align="right">18 Dezembro Quinta Feira, a partir das 21.30 hrs
<br /><strong><span style="font-size:180%;">Orfeão Velho de Leiria</span></strong>
<br />Tertúlia e projecção de imagens sobre a viagem de bicicleta na América do Sul
<br />
<br />
<br /></p>…quero chegar ao <span style="font-size:130%;"><strong>Coração dos Meninos dos Andes</strong></span>, quero que Portugal chegue ao seu coração também e para isso decidi partilhar alguns dos melhores momentos do último ano que passou, depois de percorrer a América do Sul em bicicleta, através de imagens e palavras. Pretendo angariar fundos neste Natal para uma organização muito especial que trabalha com crianças também muito especiais em Ayacucho no Peru, onde fui voluntária – a Casa Hogar Los Gorriones. Fica então o convite feito. Joana Oliveira
<br />
<br /><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj37WCf9ou5w4x9tDZKxQjodjJCR361GRHyE6hX5UTBQM4_DCgNcjQ_yIYdq5ZYgJFXpzJskJq9VczkcaijX29z6BOMeFAF5Kq1pA20rBRc16yyzsGP7gazBj88IJI7TH6pic5Ri_zUpsAd/s1600-h/IMG_0879.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279335099740931842" style="WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj37WCf9ou5w4x9tDZKxQjodjJCR361GRHyE6hX5UTBQM4_DCgNcjQ_yIYdq5ZYgJFXpzJskJq9VczkcaijX29z6BOMeFAF5Kq1pA20rBRc16yyzsGP7gazBj88IJI7TH6pic5Ri_zUpsAd/s200/IMG_0879.JPG" border="0" /></a>
<br />
<br /></p><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6jwGSzuAJle7NEj5WU0DwuqQRrC9AdGTLz1-6SI0sbFzSAI-Sc9m0wTdTwuRIJTP1p9i6PtwbebqEjE5-OT2OrnoJQ8j_TwDJzTyxkTWUQYCG2PfRo0PAdvVF3h02EvtpygJIMDxJvGzu/s1600-h/IMG_0779.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279335093048766594" style="WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6jwGSzuAJle7NEj5WU0DwuqQRrC9AdGTLz1-6SI0sbFzSAI-Sc9m0wTdTwuRIJTP1p9i6PtwbebqEjE5-OT2OrnoJQ8j_TwDJzTyxkTWUQYCG2PfRo0PAdvVF3h02EvtpygJIMDxJvGzu/s200/IMG_0779.JPG" border="0" /></a></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWZkBKiukHRbEL_tnLrNK1orH0id0oMM5Afnd4jgY3AwLviacUbHon6nPEjbnUmN-keWDovqQQMudZI7fhkMFM6tKL-jG7P06QpMzCa8Cgb8KJUhZwYDuflKZGuD3kIi0tMh_UQSXk-zlt/s1600-h/IMG_0822.JPG">
<br />
<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWZkBKiukHRbEL_tnLrNK1orH0id0oMM5Afnd4jgY3AwLviacUbHon6nPEjbnUmN-keWDovqQQMudZI7fhkMFM6tKL-jG7P06QpMzCa8Cgb8KJUhZwYDuflKZGuD3kIi0tMh_UQSXk-zlt/s1600-h/IMG_0822.JPG"><p align="left"></a>19 Dezembro Sexta Feira
<br /><strong><span style="font-size:130%;">Anúbis</span>
<br /></strong>Projecção de imagens sobre a viagem de bicicleta na América do Sul
<br />
<br />20 Dezembro Sábado
<br /><strong><span style="font-size:130%;">Chico Lobo
<br /></span></strong>Projecção de imagens sobre a viagem de bicicleta na América do Sul
<br />Música Moonrise
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<br />Entrada livre. As donações angariadas nestes eventos reverterão a favor da Casa Hogar Los Gorriones (<a href="http://www.casahogarlosgorriones.org/">http://www.casahogarlosgorriones.org/</a>)</p>
<br /><p align="center"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279335090535595602" style="WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWZkBKiukHRbEL_tnLrNK1orH0id0oMM5Afnd4jgY3AwLviacUbHon6nPEjbnUmN-keWDovqQQMudZI7fhkMFM6tKL-jG7P06QpMzCa8Cgb8KJUhZwYDuflKZGuD3kIi0tMh_UQSXk-zlt/s200/IMG_0822.JPG" border="0" /></p><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO_LTZLLrIU2ZrLtQejTSMl_ChbmdH_jkVPr8LX1pldd2Kye-hXgDRFDp7o9SFKkecoMZFbt14zzjzRKPZHicicKOsbETVet1O5nG_fxGhRy7t6uifCk5DgT14IVj-bOJoHE5Kf7fJJDXB/s1600-h/IMG_0853.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279335097514946754" style="WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO_LTZLLrIU2ZrLtQejTSMl_ChbmdH_jkVPr8LX1pldd2Kye-hXgDRFDp7o9SFKkecoMZFbt14zzjzRKPZHicicKOsbETVet1O5nG_fxGhRy7t6uifCk5DgT14IVj-bOJoHE5Kf7fJJDXB/s200/IMG_0853.JPG" border="0" /></a></p>Se não são de Leiria mas desejam vir a algum destes eventos ou necessitam informação adiccional de como chegar e sitío para ficar em Leiria, contactem-me no 93 165 86 88 ou contactem-me pelo e-mail <a href="mailto:joanaoliveira73@gmail.com">joanaoliveira73@gmail.com</a>, alternativamente se não podem atender, façam a vossa donação online através do site da Casa Hogar Los Gorriones.
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<br />Joana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8329891019234481505.post-57370293888599531322006-03-12T14:20:00.000-08:002008-08-07T11:23:48.974-07:00México, Yucatan - A primeira aventura de bicicleta<strong>03.07 - A primeira viagem de bicicleta (Yucatan - Mexico)</strong><br /><br /><strong>Cancun, Aeroporto de 7 de Marco 2007 – o regresso<br /></strong><br />Dei um beijo e um abraço demorado no meu companheiro de viagem e melhor amigo, disse-lhe até breve e não me voltei para trás, avancei para as portas de embarque com um vórtice esvaziante que me empurrava na direcção do avião embora tudo no meu corpo se tentasse ancorar ao país e ao amigo que agora deixava. Atravessei a noite e de manhã acordei em Gatwick com um sol frio de um grau.- o sorriso irónico desenhou-se na minha face.Aeroporto de Cancun 27 de Fevereiro 2007 – o reencontroEstavam ainda os meus poros a experienciar o êxtase provocado pelo calor tropical Mexicano quando senti, na minha pele branca da ausência de sol, o abraço quente apertado, e a voz suave do Nuno ‘bem-vinda’. As pontes do tempo desapareceram, os meses de ausência desmoronaram-se e a distância de um oceano e muitos mil quilómetros afundaram-se por um ralo que duraria 14 dias antes de voltar a encher.<br />O destino Cancun foi determinado pelo vôo barato. Cancun e quase toda a costa da Península do Yucatan que adquiriu o nome pomposo - cortesia do Marketing Turístico - de Riviera Maia, é para mim igual a qualquer outra estância de resorts em qualquer parte do mundo e nem as águas cristalinas me deixaram muito impressionada. Vejo tudo isto como um acto de prostituição consentida, as selvas virgens e as praias imaculadas foram vendidas em troca de luxuosos conjuntos de arquitectura cimentosa que escondem dentro das suas paredes milhares de quartos cheios de camas uniformizadas, salas de massagens para corpos de turistas, restaurantes com comidas híbridas mundiais. Fora destas paredes a realidade é feita de casas de palha, que a noite invade com redes onde se descansa o corpo depois do dia de trabalho a limpar o resort, a cortar a relva do resort, a servir comida no resort.Que sentirão estas pessoas quando à noite chegam a casa? Compararão confortos? Questionarão diferenças? O constante som grave e alto que esvoaça dos rádios que ouvem respondem-me que quaisquer que sejam as suas questões existenciais o calor existente em suas almas aquece tanto ou mais que o sol caribenho, e por mais um dia a vida continuará a ser como sempre foi.<br /><br /><strong>A saga do bacalhau<br /></strong><br />Ser Português. Quantas e quantas linhas foram escritas sobre o ser Português? Eu acrescentarei mais algumas. De como atravessei cerca de 70 quilómetros deste país húmido cheio de selvas e ruínas Maias com um garrafão de 5 litros de água a demolhar umas postas de bacalhau salgado importadas do Reino Unido, a cavalo na minha ‘burra mexicana’. O esforço resultou num belo Bacalhau à Bráz cozinhado numas bancadas de um campo de futebol com erva a dar pelos joelhos e um delicioso Bacalhau à Espanhola saboreado ao pequeno-almoço no nosso acampamento numa pedreira abandonada. Os locais olhavam estupefactos pensando que carregávamos uma cobra ou um bicho malcheiroso qualquer, seguramente para alguma feitiçaria ou coisa semelhante. Recordo a cara de uma rapariga, empregada num restaurante deserto de beira de estrada em que parámos, quando o Nuno lhe entregou o garrafão e pediu que lhe mudasse a água que com os solavancos da burra e o sol tinha já um cheiro bastante acentuado.O Nuno conta-me de como cada ciclista tem as suas peculiaridades relativamente a comida. Análise feita, parece-me que como Portugueses o valor que damos à alimentação e a determinados ingredientes é levado a um expoente máximo sobretudo quando se está longe a viajar sem grandes confortos. A existência durante estas cavalgadas passa a determinar-se tão simples e complexamente pelo menu que se vai preparar para as refeições do dia bem como toda a sua logística, sabendo-se de antemão que o sucesso da jornada depende em parte do quão satisfeito se está com aquilo que se come.<br />Nas malas da burra do Nuno cavalgaram também umas chouriças que perfumaram ‘irresistivelmente’ as suas roupas e foram a base para um arroz de feijão e chouriço, que eu modestamente descreveria como fenomenal acompanhado por umas tequillas com limas, estávamos na cidade colonial de Valladolid onde nos demos ao luxo de pernoitar numa pensão com cozinha para confeccionarmos os nossos últimos ingredientes Portugueses com a devida pompa e circunstância.Ode ao meu corpoDecidir ir ao encontro do Nuno e pedalar uma burra foi só a consequência de esta ser a forma de transporte escolhida por ele, mas a cavalo numa burra real ou numa burra puxada com a força das minhas pernas a minha percepção geral é que o importante é ir. Realmente não me ocorreu que não só havia muitos anos que não andava de bicicleta, e que sou uma pessoa muito pouco dada a extremos físicos de esforço, mas que raio, estava determinada a não sofrer por antecipação e a ver quanto o meu corpo estava preparado a surpreender-me. A surpresa foi grande.Os Deuses Maias abençoaram a minha viagem com estradas planas, aldeias fora das rotas turísticas onde os descendentes Maias ainda ilustram o quotidiano Mexicano nos seus vestidos coroados de flores, os seus sorrisos pueris, a sua língua exótica que te abraça os ouvidos mesmo quando não os entendes, as grutas misteriosas conhecidas localmente como Cenotes que se presentearam durante a nossa pedalada como turquesas e topázios refrescantes de águas cristalinas – a todo este manjar dos sentidos o meu corpo presenteou-me com uma energia desconhecida e uma vontade imparável de pedalar mais e mais, ver mais e mais. Tinha descoberto uma nova paixão – a paixão pelo ciclismo!<br /><br /><strong>Dos sorrisos aos sabores – uma viagem pela minha infância</strong><br /><br />Proust tornou cliché a lembrança da infância com o associar do cheiro das madalenas. Para mim o México foi uma ‘madalena’ constante que a cada contacto a cada experiência me transportava à minha infância. Saudosismo? Claro, afinal sou Portuguesa. Na simplicidade da escolha ao entrar numa mercearia onde tudo o que necessitas para sobreviver se encontra nas prateleiras poeirentas e na curiosidade e amabilidade das pessoas que te servem. A vida assim feita de poucas escolhas de consumo tem um equilíbrio inesperado. Ali longe dos longos corredores de hipermercado que te dão ansiedade só por teres de escolher entre 10 marcas diferentes de arroz, 3 pelo menos com vitaminas adicionadas e outras 5 que demoram menos de 3 minutos a cozer. Ali onde não és ignorado e as pessoas te olham com curiosidade e te perguntam de onde vens e para onde vais. Ali onde os produtos ainda sabem ao que devem saber sem meias calorias ou zero de gorduras insaturadas. As velhas marcas de Nestum, Nescafé, o chocolate Abuelita a versão mexicana do chocolate Todi, umas bolachas de canela que me transportaram aos meus dias de parque de campismo. As contas feitas no canto do papel de embrulho, as batatas pesadas numa balança ferrugenta, uma porta aberta nos fundos onde se antevê a intimidade de um lar.<br /><br />Quando recordo as grandes pirâmides que visitei, silenciosas de vida real, ou a praias de postal sinto que a beleza se encontra em todo o lado não só nas grandes criações humanas e naturais de milénios como também na beleza do quotidiano e de como cada um se adapta àquilo que a vida lhe vai atirando construindo o arco-irís humano que dá cor a este mundo que vou tendo a sorte de calcorrear.Mensagem na garrafaNum dos últimos dias paramos para almoçar numa praia deserta com todos os requisitos de paradisíaca não fosse o lixo lhe atapetava as areias aveludadas. Este lixo é uma constante nas praias desertas do México, o mar devolve às aureolas de pureza, o lixo que lhe é derramado…No meio de todo este lixo estava uma garrafa vazia com rolha, o Nuno agarrou na garrafa, numa caneta e papel e deu-me para escrever uma mensagem. Pois seja essa mensagem feita desejo, um facto tornado realidade – que carregue essa garrafa a porta para as muitas mais viagens que sei que ainda tenho para fazer e que algumas delas possam ser na companhia do homem que me mostrou que os únicos impossíveis que existem são os que te impões a ti mesmo!<br /><br />México, Península do Yucatan, 12 de Março 2006<br />Joana OliveiraJoana Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/02557447860906459071noreply@blogger.com0