Equador, Palmira - De Quito a Palmira. Onde Estao os vulcoes?

Onde estão os vulcões?

- Como te chamas?
- Juana – respondeu-me uma vozinha tímida, e encolheu-se agarrando o braço do pai, escondeu a face redonda e pequena queimada pelo sol.
- Também me chamo Joana - respondi.
Juana retirou por breves momentos os seus olhos grandes e castanhos detrás do braço do pai e sorriu para logo voltar a esconder-se.
- O que fazes no Equador? - perguntou-me o pai.
- Sou de Portugal e estou a visitar o país na minha bicicleta.
- Que bonito, que le vaya bien! - respondeu-me sincero. Pedi se podia tirar uma fotografia e ao sinal afirmativo posicionei a minha máquina fotográfica e enquadrei aquele momento na esperança de imortalizar a cumplicidade entre pai e filha. Ali aos 4000 metros de altitude o silêncio era soberano, mas ali também, a 4000 metros, havia um último reduto de vida humana – uma pequena população formada por 22 famílias, algumas das suas casas feitas à maneira tradicional com telhados de colmo e com o corpo da casa escavado no chão como que a buscar o calor da terra mãe. As outras poucas casas eram de cimento, pareciam inacabadas, com paredes por construir, ou escadas que não iam dar lado nenhum. Vão-se fazendo à medida das possibilidades e à medida que a família vai crescendo. Parecem projecções mal concretizadas das casas dos sonhos que se vêem nas novelas. As crianças dessa pequena povoação ensaiavam na rua as danças típicas que no dia de Natal iriam dançar para os visitantes que ali se deslocariam, os seus sorrisos e movimentos coloridos davam vida e som à atmosfera que de outra forma era cinzenta, fria e silenciosa.

Depois de uma sopa quente e um chá de ervas medicinais seguimos caminho subindo até aos 4390 metros. O frio e o nevoeiro escondiam tudo à nossa volta, como se fosse uma experiência mística, ou como se não devêssemos estar ali – que aquelas altitudes estarão mais destinadas a seres celestiais do que a seres humanos. Mas não era sonho, o mapa indicava que nos encontrávamos ao lado do Chimborazo, o grande colosso branco que se ergue para cima dos 6000 metros e que nesta altura do ano se esconde constantemente.

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A vida pode ser feita de contrastes, caso o escolhamos, um dia estamos numa das maiores metrópoloes urbanas, como Londres e no outro, no mais completo silêncio, rodeados de neve e névoa, trepando montanhas distantes numa bicicleta.Quando o Nuno sonhava a sua ciclotravessia de Polo a Polo, o seu sonho foi tambem contagiando os meus sonhos de viagem…

Recordo-me que na escola era sempre a última a ser escolhida para as equipas de desportos. Nunca gostei de competir nem de expor o meu corpo ao confronto físico implícito no acto de practicar desporto, e nunca fui particularmente competente no que a desporto diz respeito. Mas aprendi que o esforço físico feito apenas entre ti e a natureza para vencer a altitude e os elementos ganha outro sentido, porque o esforço acaba por ser apenas o meio, o meio de te levar em viagem, de sentires a realidade mais próxima, e por isso aos poucos o meu corpo vai-se habituando à dureza física implícita na subida destas montanhas Andinas.E não deixo de agradecer ao Nuno por ter acreditado em mim (mais do que eu provavelmente acreditei), de me ter escolhido sem hesitar para fazer parte da sua equipa, para o acompanhar em algumas etapas do seu sonho, e aos poucos cá vou eu conquistando as minhas montanhas físicas e mentais na minha burra –a Marina (Marin Muirhoods).

Faço também uma homenagem ao meio de transporte porventura mais democrático e revolucionário de todos – a bicicleta, que em 1880 se tornou num meio de transporte largamente acessível à maioria. A bicicleta foi tambem um meio de emancipação para as mulheres. A bicicleta permite ir-se onde se quer, quando se quer, porque se quer – e este é o maior encanto do cicloturismo!

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Será a estrada Nacional Número Um? – Não é a Panamericana!

Depois de ter passado a noite a excluir coisas à minha bagagem consegui finalmente, não sem ter sido alvo das gargalhadas do Nuno que achou piada à quantidade de objectos que eu julgava conseguir carregar nas minhas malas, reduzir a bagagem a um peso possível de carregar com as minhas pedaladas. Saímos do Quito já tarde e o tráfico pesado tornou a saída da cidade pouco memorável. A cidade e os seus subúrbios estenderam-se por quilómetros intermináveis e desinteressantes. A meio da tarde chegámos finalmente à Panamericana e ao ver a estrada larga, nova com bermas generosas e pouco tráfico, fiquei a sonhar nas pedaladas relaxadas que me aguardavam daí em diante. O sonho durou pouco: cedo a estrada se transformou numa via de tráfico pesado, cheia de camiões e autocarros que sonorizavam a sua superioridade ao toque das suas buzinas ruidosas e das nuvens de fumo pretas, maiores do que as libertadas pelas dos vulcões do Equador e que éramos obrigados a respirar. Por momentos cheguei mesmo a pensar que tinha pedalado demasiado e estava de regresso a Portugal, fazendo cicloturismo na estrada Nacional Número 1.

Os primeiros dois dias de ciclismo testaram a minha vontade de continuar a aventura – a paisagem não tinha qualquer interesse, chovia frequentemente, o tráfico era intenso e só me apetecia pôr a burra num autocarro que me levasse a paragens mais interesantes. Nesta nuvem de aborrecimento e preoucupação os diálogos imaginários com o meu avô José estendiam-se por quilómetros. Ia-lhe pedindo ajuda quando passava um camião e a bicicleta abanava por todos os lados, quando via as subidas que me aguardavam e sobretudo, nas descidas, que como ele, são a parte que gosto menos quando as tenho que fazer ao lado de camiões e autocarros. Ia eu nestes diálogos, numa descida a toque de chuva, quando se fura um pneu. Disse para o meu avô: - Então distraiste-te? A resposta veio mais tarde, de uma forma que só as pessoas que estão noutros planos podem responder. Tivemos que parar para arranjar o furo, a câmara de ar estava completamente inutilizada, e no sítio onde o furo se deu, do outro lado da estrada, estava um caminho de terra batida onde parámos para arranjar o furo e que se revelou ser o caminho alternativo para onde queríamos ir, longe do tráfico panamericano. E esta heim!????

Nessa noite acampámos perto de uma aldeia onde supostamente deveríamos ter vistas privilegiadas do Vulcão Cotopaxi – o vulcão de cone perfeito. As nuvens que o envolviam, essas sim eram perfeitas: perfeitamente brancas e espessas. Desmontámos o acampamento no dia seguinte, rumando a sul e olhando no espelho retrovisor das bikes na esperança que o sol houvesse dissipado as nuvens para que finalmente pudéssemos ver o fotogénico vulcão – mas assim não estava destinado. Infelizmente havíamos também esgotado a rota alternativa e tivemos que voltar à Panamericana e ao fim do dia chegámos a Ambato. Os meu braços elevaram-se no ar tal ciclista que atravessa a meta de chegada ao sinal de “Bienvenidos a Amabato”, mas a minha feliciadade foi precoce porque me esperava uma longa e sinuosa descida regada com boa chuva andina e surpresa, surpresa: uma subida que levou das minhas pernas as últimas energias. Pensei que com tanto esforço deveria ser Ambato uma cidade de beleza única, só acessível aos poucos que ousavam trepar as suas enconstas, mas nesse domingo chuvoso, era apenas uma cidade caótica de edifícios desordenados e feios. Na manhã seguinte, a cidade despertou com outras cores: as cores de dia de Mercado onde a vida social e económica das populações Andinas circundantes se desenrola, onde toda a gente parece estar entretida a vender ou a comprar. E Mercado adentro entrámos, de máquina fotográfica fazendo de treceiro olho, congelando fracções de segundos de cores e acções que compõem as imagens coloridas que extraímos ao Mercado. Saímos dali felizes, eu mais pesada, pois havia comprado ervas medicinais, frutas, especiarias e umas alpargatas (sapatos típicos) a pretexto de meter conversa com os vendedores, e claro, de aumentar a minha colecção de calçado, afinal ainda não constavam na minha dita colecção, sapatos do Equador. O Nuno ria-se mais uma vez!

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Conquistámos a estrada que nos levou à base do Vulcão Chimborazo, em dois dias. À medida que subíamos, a manta de retalhos verdes que atapetava a cordilheira Andina era calcorreada por um ou outro campesino que interrompia a ordem dos verdes com os seu trajes de cores garridas e logo despareciam, montanha acima, para a sua parte do “retalho” onde cultivam o seu sustento em inclinações impossíveis que desafiam a própria gravidade. O cultivo é feito por meio de sistemas de irrigação engenhosos que serpenteiam a montanha e aproveitam a água – o ouro azul.Quando pensávamos que nao podíamos ser mais recompensados em termos de paisagem, a descida ao fim de dois dias revelou um vale profundo com “cannyons” coloridos e aldeias pequeninas cheias de gente simpática, cheias tambem, infelizmente, de gente acostumada a turistas, que por ignorância, ou por negligência vão dando às crianças caramelos ou dinheiro, não compreendendo o real impacto das suas acções. Estas crianças aprendem desde cedo a mendigar, para quê passar tempo nos campos a cultivar ou a pastar o gado se o gringo lhe dá dinheiro sem que para isso tenham que se esforçar? Chocou-me ainda mais quando fizemos o percurso de comboio a “La nariz del Diablo” - um percurso de comboio para turistas, onde se podem apreciar vistas vertiginosas das montanhas andinas na parte de cima de um comboio muito antigo, que percorre uma linha férrea com necesidades de reparação que saltam a olho vivo. Este passeio reconfirmou o meu desejo de me manter o mais afastada possível do trilho turístico. Alguns dos turistas atiravam rebuçados às criancas que se assomavam à beira da linha do comboio, tal como se atiram amendoins para um macaco no Jardim Zoológico. É uma troca desfavorável, parece-me: em troca da sensação de bem estar que o falso altruísmo provoca a estes turistas, estas crianças recebem o doce amargo visível nas cáries por tratar que têm nos dentes. À noite o seu prato continuará vazio dos verdadeiros nutrientes que necessitam para crescer saudáveis, e seguramente que a imagen que têm dos “gringos” como pessoas ricas a distribuir dinheiro e rebuçados, lhes fará querer ser o que não são.

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Depois do percurso turístico ficámos em Riobamba a descansar, a actualizar websites e a disfrutar os divertidos desfiles de Natal – autênticos desfiles de Carnaval – homens vestidos de mulheres, gente vestida de macaco, polícias, gente vestida com os trajes típicos, ou do que lhes dava vontade, bailando alegremente ao alto da música repetitiva que se escuta um pouco por todo lado no Equador.Com uns meros 20 dólares comprámos a nossa ceia de Natal que consistiu numa garrafa de vinho tinto, massa, feijões, alho francês, queijo fresco, cogumelos e mais umas mercearias que nos faltavam. O dia 24 foi passado a subir um monte através de estrada em terra batida a pensar que para lá da próxima curva estaria o fim da subida, logo se revelavam mais curvas e mais subida. Acampámos já ao nascer da noite, esgotados e sem grandes escolhas de espaço para acamparmos porque toda a área, mesmo com grandes inclinações estava oucupada com áreas de cultivo. Ali à beira da estrada tivemos que ficar. As vistas para o vale que havíamos conquistado estavam ali aos nossos pés, mas estavámos também expostos aos olhos curiosos dos locais que por ali passavam e infelizmente um deles meio zarolho, já alterado pelo álcool não achou que devêssemos estar ali e ameaçou vir queimar-nos a tenda à uma da manhã. Cozinhámos a nossa ceia de cicloturistas, replecta de massa como pede o corpo, trocámos presentes, bebemos o nosso vinho, falámos sobre política da América Latina, olhámos a lua redonda que estava ali à distância de uma braço e quando a neblina desceu ao monte e nos entrou nos ossos lá fomos para a tenda para dormir. Acordámos com a tenda húmida do orvalho e não em chamas como eu temi que acontecesse, na manhã do dia 25. Curiosamente, o homem zarolho passou monte abaixo sem dizer mais dos que uns cabisbaixos “buenos dias”. A manhã de Natal foi passada a subir a montanha que parecia interminável, e mais uma vez ao fim da árdua subida, fomos recompensados com uma descida colorida com aldeias e crianças que seguiam a correr atrás das nossas burras.

Apanhámos a estrada principal ao início da tarde num sobe e desce relativamente fácil, e quando o nevoeiro espesso se abateu metemo-nos por uma estrada que nos levou até Palmira, uma pequena vila que viria a ser o nosso verdadeiro presente de Natal. Aí nos ofereceram alojamento num convento em desuso e quando nos instalámos já se aí encontrava uma família composta por uma série de crianças e adultos dos quais era difícil discernir os laços familiares que os ligavam. Receberam-nos de braços abertos, uma das senhoras tinha tido uma desventura por terras de Espanha e como a tinham ajudado ela sentiu que deveria retribuir a ajuda que lhe havia sido dada, a nós cicloturistas portugueses. Ofereceram-nos comida, brincámos com as suas crianças e fomos convidados da gala anual da vila. Esta gala consitia entre outros entertenimentos de um concurso para eleger a “Reina de Palmira 2007-2008”, discursos de agradecimentos infidáveis onde nos incluíram a nós também e a actuação de diversos artistas que em vez de cantarem uma ou duas músicas, como seria suportável, nos presenteram cada um deles, com o que nos pareceu ser o seu repertório completo. O dito concurso de beleza é digno de mencionar porque estavam apenas três candidatas a concurso e duas delas eram fisicamente desagradáveis à vista – a vitória foi previsivelmente para a única que era bonita, no que ao físico diz respeito.De manhã acordámos e mais uma vez nos ofereceram o pequeno almoço. Depois despedimo-nos, eu com um nó na garganta, sentindo-me ligada àquela família como se fossem eles também da minha família.

O cicloturismo é feito destas aventuras, aventuras humanas e aventuras físicas. Cada pedalada te leva mais próximo de algo – mais próximo de ti, dos outros e do mundo! Acompanhem as minhas aventuras através dos olhos do

Nuno em http://www.ontheroad.eu.com/

Equador, Palmira, 30 de Dezembro 2007
Joana Oliveira

Equador, Quito - Mitad del mundo, mitad de la vida

Metade do Mundo – Metade da Vida

Existe uma linha imaginária que define o mundo em duas partes (o hemisfério Norte e o hemisfério Sul) – a linha do Equador. É aqui estou, no meio do Mundo, com metade do meu corpo a Norte e a outra metade a Sul. Imagino por momentos que esta linha me divide também: a Norte está a minha vida urbana, o meu trabalho, a minha rotina ocidental, a Sul o inesperado, os sonhos de viagem, a busca de mim e das verdades do mundo. Dou um salto e estou no Sul, todo o meu corpo está a Sul e para aí caminharei nestes próximos meses.

Quito

Acordei de manha cedo e saí pela porta do prédio onde vivem os meus amigos Equatorianos que me acolheram na primeira noite (havia chegado de noite depois de 16 horas de viagem e à noite a cidade confundia-se num emaranhado de luzes que resgatavam a cidade da escuridão) incapaz de desfrutar a cidade devolvida à luz, havia deixado o meu passaporte no táxi na noite anterior e se não o conseguisse recuperar a viagem poderia tomar um rumo indesejado: rumo ao Norte ou o regresso. O caminho do Sul revelou-se mais uma vez, o Taxista guardou o saco que eu tinha esquecido e devolveu-mo.Os primeiros dias, que se transformaram em quase duas semanas, foram passados no Quito, capital do Equador. O Quito Quito é uma cidade caoticamente bonita, enterrada nas encostas vertiginosas do vulcão Pichincha que de vez em quando acorda libertando nuvens de fumo e cinza. Os colonizadores espanhóis colonizaram a cidade que era uma cidade Inca, e substituíram os antigos locais de culto Incas por Igrejas Católicas. Existem igrejas obscenamente decoradas de dourado por toda a cidade, como se a fé só por si não fosse suficiente para convencer os indígenas a abraçar a nova religião, e de facto, observando as pinturas mórbidas presentes em algumas das igrejas que visitei, a nova fé parece ter sido incutida através do medo.

Quito revelou mais do que a sua bonita, preservada e colorida arquitectura colonialista que centra este formigueiro humano estendido numa faixa que parece infinita à vista que o olhar alcança.

A paisagem humana que tive o privilégio de desvendar foi tão ou mais surpreendente. Fui recebida pela família Paredes: Leonardo pai, Leonardo filho, Gloria mãe e Daniela filha, e nos 5 dias que estive em sua casa pude descobrir um Quito, um Equador e uma América Latina um pouco diferentes das imagens que tinha originalmente construído. Leonardo pai, filho de Nela Martinez 1912 – 2004 escritora e revolucionária, foi a primeira mulher deputada do pais, dirigente do partido Comunista do Equador que lutou pelos direitos das mulheres e do povo Equatoriano. Leoardo estudou medicina na Rússia nos anos 60, no auge da Guerra fria, trabalhou como médico, como assistente de ministros, foi reitor de universidade e dá aulas actualmente de Botânica numa das universidades do Quito. Mas títulos e profissões à parte, o Sr. Leonardo Paredes revelou-se um ser muito carinhoso com uma verdadeira paixão pela história do seu país e da América Latina, pela natureza e com o qual foi um verdadeiro prazer descobrir, partilhar e aprender uma América Latina diferente. Gloria trabalha numa instituição que atribui crédito às comunidades desfavorecidas equatorianas, ao exemplo de Muhammad Yunus Prémio Nobel da Paz pioneiro do micro crédito, para que estas possam desenvolver projectos e empreendimentos sustentáveis e que ajudem a erradicar a pobreza. Daniela estuda música e o som da sua flauta inundava os fins de tarde quentes no lar dos Paredes. Finalmente, mas não por ultimo, Leonardo filho, um jovem brilhante, com um conhecimento geral e interesse pelas coisas surpreendente, que foi meu cicerone, com o qual tive interessantes tertúlias, e para o qual antevejo um futuro brilhante, quem sabe tomando as rédeas do seu país que parece ser tão carente de líderes competentes e honestos!

A Capela do Homem

A subida íngreme foi compensada pela chegada a um edifício de arquitectura moderna com vistas soberanas sobre as montanhas Este do Quito chamado a Capela do Homem. A Capela do Homem é um museu e centro cultural projectado por um dos maiores artistas contemporâneos do Equador – Guaysamin. Aos olhos de Guaysamin os rostos do Equador pintam-se de cores fortes, revelando no entanto o sofrimento com que este povo tem endurecido as mãos na pobreza. Pinta-se em tons de branco, cinzento e negro, os corpos esqueléticos da fome e da opressão política. Pinta-se em simbolismo geométrico reminiscente da herança cultural Inca. Neste edifício de simplicidade objectiva onde se mantém uma chama constante para que a alma do artista possa ser iluminada nas suas deambulações por planos terrenos, ficou-me marcado um grande mural onde se vê um Condor, símbolo Andino, a dominar um Touro, a analogia é inevitável: a utopia de que os povos da América Latina possam um dia derrotar o animal velho, consumidor e opressor simbolizado pelo Touro, e que possa o Condor voar um voo livre em direcção a uma existência mais independente, longe das manipulações dos povos que sempre o exploraram e nunca retribuíram, uma existência longe da pobreza, do sofrimento, em equilíbrio com a natureza, uma existência digna e merecida!

Quito, Equador, 12 de Dezembro 2007
Joana Oliveira